Santo Pereira
Eureka! D. Nuno Álvares Pereira entrou no ramo da oftalmologia e realizou um milagre – eis o último elo que permitirá a conclusão do processo canonização do beato.
De acordo com Francisco Rodrigues, vice-postulador para a Canonização do Beato Nuno de Santa Maria, falta apenas a autorização do Vaticano para a constituição de um tribunal eclesiástico que analisará a questão uma vez que os relatórios médicos da cura confirmam que não existe explicação científica para este caso.
O que catalizou o milagre? Uma senhora de 61 anos, residente em Ourém, cujo olho esquerdo (não sei se há algum significado político oculto) foi queimado com óleo que saltou de uma frigideira a ferver. Em Setembro de 2000, a vitimada submeteu-se à ciência médica que chegou à conclusão de que uma eventual recuperação da visão nesse olho demoraria sempre um mínimo de um ano. O olho deveria ficar tapado de forma a não ser sujeito à luminosidade do sol (será mais uma mensagem subliminar?) e o organismo submetido à toma diária de medicamentos. «Mas mesmo com esses tratamentos não havia garantia de cura e a solução poderia ser um transplante de córnea», disse o padre Francisco Rodrigues.
Depois de várias novenas – não há informações acerca do número exacto – a Nuno Álvares realizadas pelo pároco local e por familiares, na noite de 7 de Dezembro de 2000, a senhora «encheu-se de coragem», rezou de forma intensa ao beato e beijou uma imagem sua. «Logo então sentiu uma paz imensa. Foi sentar-se no sofá, ligou a televisão e apercebeu-se que via desse olho», disse o sacerdote. Milagre!
Segundo o vice-postulador, existem «várias graças divinas» que envolvem o Beato Nuno, nomeadamente na área da oncologia, mas os responsáveis do processo acharam por bem avançar apenas com este caso já que é mais «evidente» e «simples de provar». A existência de vários documentos médicos que confirmam a incapacidade e a posterior recuperação da visão esteve na base da decisão da Postulação para a Causa para a Canonização do Beato Nuno para avançar com o processo, que foi recebido com júbilo pelo Vaticano. Neste momento falta apenas a confirmação da Santa Sé para que o tratamento e acompanhamento desta cura seja feita pelo Patriarcado de Lisboa, que irá constituir um tribunal diocesano.
«O cardeal D. José Policarpo está muito empenhado, bem como o cardeal D. Saraiva Martins», prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, entidade que tutela os processos de santidade antes de chegarem ao Papa. De seguida, a Congregação dos Carmelitas terá de «propor a canonização do Beato Nuno», explicou Francisco Rodrigues.
Nuno Álvares Pereira foi beatificado em 1918 e já tinham tentado a sua canonização por duas vezes. O Papa Pio XII, em 1940, queria «canonizá-lo por decreto» como «exemplo do soldado cristão num tempo de guerra» mas rapidamente escolheu um processo normal, baseado em milagres ou graças divinas. A Ordem dos Carmelitas, nos anos 60, reiniciou o projecto, que foi abortado com o começo da guerra colonial com receio de que fosse mais valorizado o seu papel como soldado do que como religioso.
O vice-postulador entende «que agora é que é o momento certo para a sua canonização. Em que é mais importante o seu papel como frade do que como militar», contudo salientando que as virtudes pessoais já eram visíveis durante a crise de 1383-85. Que virtudes? Segundo o padre, D. Nuno Álvares Pereira nunca praticou «guerra ofensiva» e obrigava os seus soldados a confessar-se e a ir à missa com regularidade, proibindo-os ainda de perseguir os espanhóis derrotados após as batalhas.