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O golpe de Estado na Turquia

Não imagino o que pretendiam os militares amotinados, nem faço juízos de valor sobre o golpe de Estado num país cuja democracia serviu a Erdogan para tomar o poder e não mais o largar.

Ele tem o hábito de prender jornalistas e calar os órgãos de comunicação social que lhe fazem oposição. Militares e juízes eram guardiões da laicidade, os primeiros de forma democraticamente inaceitável, mas os segundos legitimados pela separação de poderes e pela Constituição.

Agora passará a ter um exército dócil. O afastamento de 2745 juízes, que dificilmente pode implicar no golpe, revela a determinação de remover todos os obstáculos ao poder absoluto.

O golpe não terá sido inspirado por Erdogan, mas parece. Foi a «dádiva de Deus», que referiu, e dificilmente teria sido organizado sem conhecimento da rede islâmica que o apoia. A cínica frieza com que o aguardou nunca será provada, mas os objetivos dos revoltosos passarão a ser os que ele entender. Os motivos dos amotinados serão os que o sultão quiser. A Turquia estava condenada a um regime autoritário, laico ou confessional.

As liberdades vinham a ser sucessivamente limitadas, com a perseguição de jornalistas e juízes, com a restrição das liberdades individuais e a progressiva reislamização.

A forma rápida e segura como o Sultão chegou ao aeroporto de Istambul revela que os mecanismos do poder estavam controlados.

A UE tem mais um problema. A Turquia é a jangada que se afasta dos valores europeus a caminho das mesquitas, com o poderoso exército da Nato atrás.

Erdogan, permitiu uma rota jihadista de voluntários e armas para a Síria e a organização de células do Estado Islâmico no País. Agora, quando o EI estava a virar-se contra ele, em vez de ser um alvo, pode disputar à Arábia Saudita a sua inspiração e controlo.

O Sultão neo-otomano, liquidado o legado de Atatürk, reforçou condições para reprimir os curdos e os arménios, abolir as liberdades individuais e tentar reinventar o Califado, mas o mais provável é fazer deslizar o País para o caos que devasta o Médio-Oriente.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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