Criacionistas vs Universidade da Califórnia
Há um ano escrevi sobre uma acção interposta contra a Universidade da Califórnia, UC, uma rede pública compreendida por 10 universidades que incluem a Universidade pública mais bem classificada no ranking das Universidades americanas, UCBerkeley, a UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e a UCSD (Universidade da Califórnia, San Diego) por uma uma associação de escolas secundárias cristãs e a Escola Cristã do Calvário que acusaram a Universidade da Califórnia de discriminação contra as escolas que ensinam criacionismo, que consideram integrante da liberdade de expressão e religião.
A acção, interposta pela Association of Christian Schools International, (uma organização que à data integrava 800 escolas cristãs e hoje mais de 4000) e a Escola Cristã do Calvário em Murrieta, é defendida por Robert H. Tyler, pertencente a uma organização anti-ACLU, o oxímero Advogados para a Fé e Liberdade, e Wendell R. Bird, um ex-membro de outro oxímero, o Institute for Creation Research.
Os queixosos pretendem acabar com os ateus critérios de admissão da UC, isto é, com a política «ateísta» da Universidade em rejeitar disciplinas de biologia que sejam «inconsistentes com o conhecimento aceite universalmente na comunidade científica». Nomeadamente disciplinas que assentem nos livros de (pseudo)biologia publicados pela Bob Jones University Press e A Beka Books. Segundo a acção, esta política viola os direitos dos queixosos de «liberdade de expressão, liberdade de discriminação com base em opiniões, liberdade de religião e associação, liberdade de discriminação arbitrária, igual protecção das leis e liberdade de hostilidade contra a religião».
Nunca pensei que o caso tivesse pernas para andar mas aparentemente essa não foi a opinião do juíz S. James Otero, que embora descartando parte das alegações permitiu, numa decisão provisória, que a acção prosseguisse com base na liberdade de expressão, associação e religião. De facto, o juíz demonstrou preocupação por apenas uma escola evangélica integrar o processo, enquanto escolas católicas, judaicas e islâmicas não têm problemas com os critérios de admissão da UC.
Esperemos que antes da decisão definitiva o juíz possa apreciar que a razão do que considerou discriminação contra os evangélicos não tem nada a ver com religião mas sim com os curricula anti-científicos das escolas evangélicas. Se não vejamos alguns exemplos:
Logo na introdução de um dos livros em questão os autores avisam que:
«As pessoas que prepararam este livro tentaram consistentemente pôr em primeiro lugar a palavra de Deus e a ciência em segundo»
Continuando desancando os ateus cientistas que ignoram a palavra de deus e se arrogam a
«afirmar que o gafanhoto evoluiu há 300 milhões de anos. E pode-se encontrar a descrição de um qualquer insecto a partir do qual supostamente o gafanhoto evoluiu e uma descrição dos insectos que os cientistas dizem ter evoluído do gafanhoto. Pode mesmo encontrar-se uma explicação ‘científica’ da praga bíblica de gafanhotos no Egipto. Estas afirmações são conclusões baseadas em ‘ciência suposta’. Se as conclusões vão contra a palavra de Deus, então as conclusões estão erradas, não importa quantos factos científicos parecem suportá-las».
A minha favorita continua a ser a definição de falácia encontrada no livro:
«Falácia: tudo o que contradiz a verdade revelada de Deus, não importa quão científico, quão estabelecido ou quão aparentemente consistente e lógico pareça».