Apocalipse now – o papel de Israel
A proximidade de Ahmadinejad à Hojjatieh Society, para além das fontes iranianas, tem sido referida na imprensa internacional, do Washington Times ao Christian Science Monitor. Proximidade confirmada desde a sua eleição pelo discurso e acções de Ahmadinejad.
Assim, para além de um escalar da opressão dos baha’i e sunitas no Irão, do investimento de milhões de dólares na preparação da capital para a vinda do messias (em 2004, quando ainda era presidente da câmara de Teerão) Ahmadinejad financiou um Instituto dedicado a estudar e antecipar a chegada do Mahdi. «Este tipo de mentalidade é fortalecedor», observa Amir Mohebian, editor de política do jornal Resalat. «Se eu acredito que o Mahdi virá em dois, três ou quatro anos, por que deveria agir com moderação? Agora é o momento de ser firme, inflexível.»
Enquanto os apocaliptícos cristãos americanos debatem se é necessária a destruição de Damasco antes do Arrebatamento, o presidente iraniano não tem dúvidas: a destruição de Israel anunciará a vinda do Messias. Algo que ele espera acontecer num prazo de dois anos. E de facto praticamente desde que tomou posse Ahmadinejab clama pela erradicação de Israel.
Ontem, numa reunião de emergência da Organização da Conferência Islâmica em Kuala Lumpur, Malásia, Mahmoud Ahmadinejad afirmou que a solução para a crise seria limpar Israel do mapa.
Que o presidente do Irão aguarda ansiosamente a volta de Mahdi é evidenciado ainda pelo seu discurso na ONU em Setembro do ano passado, encerrado com uma prece pela antecipação do evento: «Oh Senhor Todo-Poderoso, eu vos peço que antecipeis a chegada do vosso último enviado, o Prometido, o ser humano puro e perfeito, o que trará justiça e paz a este mundo.»
Posteriormente Ahmadinejad recordou o efeito de seu discurso na ONU:
«alguém do nosso grupo contou-me que, quando comecei a dizer ‘em nome de Deus, o Todo-Poderoso e Clemente’, ele viu que uma luz me rodeava, e eu estava no meio dela. Eu também a senti. Senti a atmosfera mudar de repente e, por esses 27 ou 28 minutos, os líderes mundiais nem pestanejaram. (…) E eles ficaram extasiados. Foi como se uma mão os prendesse nos seus lugares e lhes mantivesse os olhos abertos para receberem a mensagem da República Islâmica».
Diria que o presidente iraniano confundiu choque com êxtase mas o que ressalta desta e outras intervenções de Ahmadinejad é a fixação apocalíptica que este denota. O que preocupa muitos iranianos que não apreciam que «o seu novo presidente não tenha receio de causar um tumulto internacional, que o considere simplesmente um sinal de Deus».
Em relação ao conflito sem fim anunciado entre Israel e o Líbano – em que muitos analistas vêem a mão do Irão – se por um lado temos um devoto cristão a apoiar Israel, por outro temos um igualmente devoto islâmico a apoiar o Hezbollah. Ambos convictos da iminência do Apocalipse e do papel fulcral de Israel na respectiva superstição mitológica!
Termino com uma citação de Ingersoll:
«Eu não quero a destruição da teologia. Eu quero evitar que a teologia destrua este mundo»