O Paraíso, o Papa e os outros animais
Para um ateu, o Paraíso e o Inferno não passam de crenças que perpetuam a superstição. Foram criados para premiar ou castigar o que em cada época e cultura se definiu como o Bem e o Mal, respetivamente. O primeiro é a cenoura com que o padre alicia os crentes, para a submissão, e o segundo, o pau com que os amedronta.
O catolicismo romano conservou o Purgatório, de origem judaica, uma rentável sala de espera, género prisão preventiva, discricionariamente prorrogável, a lembrar as medidas de segurança dos Tribunais Plenários da ditadura aalazarista. É uma espécie de Colónia Penal onde decorre o processo de castigo temporário, necessário à purificação das almas que morrem na graça de Deus e na sua amizade, mas ainda imperfeitas, e que precisam de ser purificadas para entrarem no Reino dos Céus. A pena pode ser reduzida com as orações dos vivos e, sobretudo, com 30 missas que sustentaram o clero durante séculos.
O Limbo, que Agostinho de Hipona, na peugada de Paulo de Tarso, destinou a quem não era batizado ou aos justos que viveram antes da vinda de Cristo, quando ainda não havia alvará para o batismo cristão, nunca foi rentável. É um armazém para almas que carregam o pecado original, essa raiva ao método reprodutivo engendrado por Adão e Eva, e onde estacionam “à margem” da presença de Deus, como as crianças que, depois de Cristo, morrem antes do batismo.
Agora é o Papa Francisco a garantir que todas as criaturas serão recebidas no Paraíso, perante a animosidade dos devotos, o sorriso dos ateus e o sobressalto dos crentes bem intencionados, com medo de encontrarem o Paulo Portas, o Cavaco, o bando do BPN e o Ricardo Espírito Santo, além dos pides e dos biltres das diversas ditaduras.
Mas o Papa Francisco, na sua infalibilidade, disse mais. Manifestou a intenção de abrir os portões do Paraíso a todas as criaturas terrestres, «sem excluir animais, muito menos os de estimação». Se é aliciante passar a eternidade com o Lulu e com o Tareco, já não se pode dizer que fiquem calmos com a presença da cascavel, do lacrau ou da carraça.
Os ateus resignam-se a ter um fim igual ao que os católicos mais antiquados reservam para as outras criaturas – o fim da existência sobre a terra –, no cumprimento do ciclo biológico inexorável, da caminhada de Eros a Tanatos, que é a vida, única e irrepetível.
Francisco de Assis chamava irmãos aos lobos, não porque considerasse a sua Igreja uma alcateia, porque tinha uma conceção teológica que o papa Francisco retomou com risco de vida e grave prejuízo para o negócio da fé.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
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- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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