Novo destino: Balazar
Na última edição do semanário Expresso, foi publicada, na Única, uma reportagem sobre a mundialmente famosa VIP de Balazar: Alexandrina.
A pequena freguesia poveira, aos fins-de-semana, cresce uns 200% e as filas (ou bichas, se quiserem ser mais tradicionalistas) de trânsito começam a mais de três quilómetros da vila. Os carros, como diz o jornal, têm um típico terço pendurado no retrovisor. Não são fornecidos dados acerca da panóplia de outros objectos comuns nas viaturas devotas: uma placa gravada com o nome e morada do proprietário adornada por uma santinha, uma Sua Senhora de Fátima fluorescente/que muda de cor de acordo com as condições atmosféricas (depois de se verificarem, claro), um CD – para evitar radares da polícia – e uma fita vermelha – para afastar o mau olhado – concorrendo com o terço no retrovisor, capas de assentos com bolinhas de madeira massajantes e duas almofadas de renda/clube de futebol e a colecção de K7’s dos maiores êxitos do Roberto Leal.
O sucesso deste novo destino religioso, ao que parece, faz sonhar a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e a Junta de Freguesia de Balazar com um santuário e novas acessibilidades. Mais uma vez, Igreja e Estado numa relação de promiscuidade.
Quem já beneficiou com este corrupio de fiéis são os donos dos cafés e a igreja onde está sepultada a venerável Alexandrina – as caixas registadoras… e as de esmolas não param de trabalhar.
Na recepção do templo, vende-se um pouco de tudo: pés, mãos, braços, fígados, pulmões, rins, ovelhas, vacas e cabritos, mas tudo feito de cera. Parece que é uma forma paga (duvido que com a aplicação da respectiva taxa de IVA) de agradecer à Santa. Para além disso, há também um serviço de aluguer de terços a que se pode recorrer no caso de esquecimento do dito no retrovisor do carro.
A casa de Alexandrina também faz parte do itinerário. O seu quarto, intacto desde a sua morte, com excepção para uma capa de plástico por cima da colcha da cama (que as pessoas beijam com esperança de serem abençoadas, apesar de não saberem se foi comunicada à cobertura alguma santidade) e uma fotografia em vez da santa, é palco para as mais variadas manifestações de devoção sendo a mais comum a saída com lágrimas nos olhos.
No fim da visita, à porta, está uma caixa de esmolas. Os santos não se auto-sustentam.