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Galileu e a Igreja (II)

O cardeal Bellarmine (1542 -1621), S. Roberto Belarmino para os católicos, tornou-se um homem poderoso ao recusar a sua elegibilidade para papa, dando assim a oportunidade a Camillo Borghese de se tornar Paulo V em 1605, exercendo depois a sua influência nos bastidores. Bellarmine conhecia pessoalmente Galileu e apesar de não serem propriamente amigos mantinham uma relação amigável. Bellarmine iniciou os seus estudos teológicos em Pádua, em 1567. Os professores de Bellarmine eram tomistas e ele viria a tornar-se o primeiro jesuíta a ensinar na universidade de Pádua.


Roberto Bellarmine foi canonizado em 1930, mas em 1889 já havia sido erigido em Itália um monumento em memória de Giordano Bruno, que Bellarmine levou à fogueira.

Dedicou-se ao ensino da Summa Theologica de Tomás de Aquino, opondo-se ao jansenismo, que defendia maior fidelidade à linha original de Agostinho de Hipona. Tornou-se famoso pelas controvérsias geradas em torno do protestantismo, ao qual se opunham também os jansenistas (de facto todas estas oposições religiosas, mesmo entre protestantes, espalhavam a confusão na Europa e deram muitas dores de cabeça também a Johannes Kepler, um homem de uma religiosidade sui generis, apesar de profunda, que ora benificiava da benevolência de príncipes tolerantes ora lhe via recusada a eucaristia por pensar de forma diferente).Bellarmine ocupou-se, na década de 1590, da perseguição de Giordano Bruno. Depois de ter estado fugido de Itália Bruno voltou à procura de um lugar vago na universidade de Pádua. Bruno acabou por ser detido pela Inquisição, ficando preso muitos anos. Finalmente o inquisidor Bellarmine apresenta-lhe uma escolha: ou renega todas as suas crenças ou arde na fogueira. Bruno, que havia procurado uma renegação parcial sem sucesso recusou-se à abjuração e foi queimado vivo em 1600 por arianismo (docetismo noutras versões) e prática de magia. Um ano antes Clemente VIII tinha elevado Bellarmine a cardeal. Mas não é senão 10 anos depois da morte de Giordano Bruno que os problemas começam para Galileu.


«Reconheço o estilo da Cúria Romana», terá dito Sarpi quando um médico lhe descreveu as feridas deixadas pelos seus falhados assassinos.

Frei Paolo Sarpi (1552 – 1623) era um amigo pessoal de Galileu. As suas visões teológicas pouco ortodoxas e também muito mais provavelmente os seus conhecimentos de matemática obtidos em Mântua certamente contribuiram para essa amizade. Os problemas de Sarpi começaram aquando de uma nomeação do estado de Veneza para uma cobiçada diocese que terminou com a acusação de que ele não acreditava na imortalidade da alma, questionando assim Aristóteles. De facto Sarpi correspondia-se com diversas pessoas, muitas das quais hereges aos olhos da Igreja. O facto de Sarpi trabalhar ao serviço do estado de Veneza só piorava as coisas já que há muito que Roma pretendia impôr ordem nestas paragens. Se bem que Roma não dispunha de um exército suficientemente poderoso, o empenho de Paulo V em restaurar a autoridade da Igreja fazia-se notar cada vez mais ao longo do seu pontificado e Veneza era uma pedra no sapato. Como resposta à exigência de submissão incondicional dos venezianos, Sarpi defendeu os interesses da república o que fez com que fosse eleito conselheiro teológico. Os atritos entre Roma e Veneza acabam com a excomunhão do Doge e de todos os venezianos. Em resposta ao ataque (que foi generalizadamente ignorado pelos venezianos) Sarpi publica um livro em que se revela estar contra o direito divino de reis e papas, livro esse que foi instantaneamente adicionado ao Index. Veneza expulsou todos os jesuítas. A crise foi subindo de tensão até que arrefeceu depois de algum tempo – Sarpi foi então convidado a visitar Roma para discutir o assunto com Bellarmine. Sabendo o que o esperava, Sarpi recusou e o senado veneziano proibiu-o mesmo de deixar a república. Em Roma, os livros de Sarpi arderam. E em Veneza, o seu salário duplicou. Até que numa noite um grupo de assassinos o esfaqueou deixando-o moribundo na rua. Sarpi, surpreendentemente, sobreviveu a 15 facadas e os perpetradores malogrados fugiram, não surpreendemente, para Roma. É Sarpi quem, em 1609, intercede por Galileu numa audiência com o Doge de Veneza, adiando as negociações com um estrangeiro que trazia uma estranha invenção – o telescópio. Galileu ganhou assim prioridade de apresentar o seu próprio telescópio, construído entretanto. Daí a poucos anos a Igreja não estaria mais indiferente às ideias de Galileu.

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