Islão Liberal
O Jaringan Islam Liberal (JIL) é um movimento islâmico indonésio que se propõe desenvolver interpretações liberais do Islão, coerentes com os seus princípios democráticos e humanistas, e disseminá-las para o público em geral, como forma de contrariar a crescente influência no país do islamismo radical, fundamentalista e militante.
A escolha do termo liberal para a designação deste movimento progressista, desenvolvido por jovens intelectuais indonésios no início de 2001, inicialmente através de uma mailing list, [email protected], reflecte a enfatização do JIL na liberdade individual de acordo com a doutrina Muta’zilah (ou Mu’tazilite) de liberdade humana e libertação da polis do domínio opressivo e anti-democrático do Islão tradicional. Assim, os objectivos do JIL são a promoção de um meio de diálogo, aberto e livre da pressão do conservadorismo, de forma a permitir o desenvolvimento de uma estrutura sócio-política humana e justa. Para o JIL a democracia é o melhor sistema para conseguir tal objectivo.
A descrição oficial do JIL é «uma comunidade que estuda e tenta implementar uma visão do islamismo que é tolerante, aberta e que apoia o fortalecimento da democratização da Indonésia». Mas aderir a esta comunidade é agora muito perigoso para os indonésios, fatalmente perigoso mesmo, uma vez que o principal conselho islâmico na Indonésia decidiu banir Julho último as interpretações liberais da fé, lançando uma fatwa sobre a JIL. Desde então inúmeras ameaças de morte têm pendido sobre os membros do grupo, tendo, inclusive, sido organizado por um grupo radical, Islam Defenders Front, um ataque (falhado) à sede do grupo em Utan Kayu, Jacarta.
Outras instituições sedeadas em Utan Kayu são alvo do ódio dos fundamentalistas indonésios, nomeadamente uma galeria de arte, a Galeri Lontar, a «incubadora» do JIL, o Institute for the Studies on Free Flow of Information (ISAI), e a estação de rádio privada Radio 68H, que foram avisadas que devem cessar as suas actividades até ao início do Ramadão por promoverem, horror dos horrores, o liberalismo, pluralismo e laicidade.
Os éditos que baniram o JIL e a subsequente campanha de ódio contra os seus membros coincidiram com o encerramento de igrejas cristãs não autorizadas e com a prisão de três mulheres que cometeram o «crime» atroz de convidarem crianças muçulmanas para eventos cristãos.
Aparentemente os fundamentalistas islâmicos tentam por estes movimentos de ódio conseguir o que não conseguiram nas urnas, a imposição da linha dura islâmica na Indonésia. De facto, nas últimas eleições os partidos fundamentalistas que advogam a imposição da Sharia e o fim do pluralismo obtiveram apenas 22% dos lugares no Parlamento da maior nação muçulmana do mundo, que, afronta das afrontas para os fanáticos, não é um estado islâmico.
Como já reiterámos inúmeras vezes no Diário Ateísta nada nos move contra as religiões, muito menos contra a esmagadora maioria dos seus crentes, mas opor-nos-emos sempre aos fundamentalistas intolerantes de todas as religiões que pretendem impôr as suas visões obscurantistas e os seus dogmas anacrónicos às respectivas sociedades. A religião para nós deve ser algo estritamente do foro pessoal que não deve ter qualquer lugar nas estruturas políticas das nações democráticas. Assim, faço votos, fervorosos, que esta visão progressista do Islão tenha sucesso e não apenas na Indonésia. Aliás, considero que movimentos como o JIL são a única forma eficaz de combate ao terrorismo fundamentalista islâmico que devia ser apoiada pelas instâncias internacionais.