O regresso dos efes
A pulga atrás da orelha comecei eu a sentir quando tudo quando era comunicação social desatou a proclamar a elevação do Fado a património da humanidade. Tá bem, prontes. Antes isso do que evidentemente.
Dias depois, o Futebol fazia a sua entrada em cena. De manhã, à tarde, à noite e sempre que desse jeito, o mundo ficava a saber que Eusébio tinha dado entrada no hospital. E a coisa prolongou-se, com o regresso a casa e o regresso ao hospital. Estimei as melhoras e adormeci, pensando que…
Pensei mal. O terceiro efe, que se encontrava alerta mas encoberto, fez a sua entrada em pleno com os pescadores de Vila do Conde, milagrosamente salvos por “nossa senhora”. Ainda não sei o que andaram por lá a fazer a Marinha e a Força Aérea – se a memória não me atraiçoa, mas isso nem vem ao caso.
As pessoas têm direito às fés respectivas, e cada uma é livre de acreditar no que quiser. Se os pescadores acham que foi a senhora de Fátima, e não outra qualquer, que os salvou, estão no seu mais sagrado direito, embora não haja evidências de que não tenha sido, por exemplo, a senhora da Conceição ou, até, o S. Pedro que, como toda a gente sabe, é o protector dos pescadores, actividade que desenvolve em perfeita parceria com o respectivo Sindicato. Estão, também, no direito de acreditar que foi mais fácil, para a “nossa” senhora, salvá-los do que evitar o afundamento do barco. E que, ao salvá-los in extremis quando podia tê-lo feito logo no primeiro momento, mais não quis do que pô-los à prova – como é apanágio de tudo quanto é divindade, não esquecendo que essa coisa de pôr as pessoas à prova nem sequer é original, uma vez que há notícia de tentativas com Adão e Abraão, pelo menos. Todas estas crendices são legítimas, como legítima é a peregrinação que os pescadores vão fazer ao terceiro efe. Como dizem os franceses, chaqun sabe de si. Mas já duvido é do direito de as televisões todas, durante a última semana, nos terem andado a atazanar a vista e os ouvidos com a notícia da bendita peregrinação. Com tanta gente a peregrinar, por que razão hão-de, os pescadores, ter o direito a notícia destacada? Por que razão insistem em obscurecer as mentes? Para que não nos lembremos dos escândalos ao nível da política e do governo? Para que nos esqueçamos das maçonarias encobertas e dos fretes jurídico-financeiros?
Ou é o regresso ao passado, agora sem máscara?
Já agora: quantas horas vamos ter, em directo, a peregrinação?
Em simultâneo no “À Moda do Porto“