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Universo em expansão; religião em contracção

Com um certo atraso, começo com este o primeiro de uma série de posts destinados às cosmogonias religiosas, com especial ênfase nos mitos cristãos sobre a origem do Universo.

Como referi em posts precedentes, o Vaticano tenta recuperar a hegemonia perdida e a ciência é actualmente a principal inimiga da fé. Por enquanto os delírios criacionistas do Vaticano reduzem-se às declarações do arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, advogando o desenho inteligente. Tanto quanto me apercebi, as tentativas oficiais de reconciliar o conhecimento científico com os mitos bíblicos reduzem-se a um texto que reitera que os homens foram feitos à imagem de Deus (Imago Dei), sem explicar como entra a evolução na história. Mas para a manutenção da Igreja e das suas verdades «absolutas» reveladas é óbvio que é necessário recuperar a credibilidade seriamente abalada das «revelações divinas» sobre a origem do Universo, à luz do conhecimento actual um mito interessante, tão longe da verdade como a Teogonia de Hesíodo ou os «sopros» de Lao-Tsé.

Mas nos Estados Unidos, onde o fundamentalismo e a IDiotia cristãs prosperam, os mitos cristãos da Criação são aceites como verdade por uma percentagem assustadora da população. Nomeadamente acreditam que a Terra e o Universo foram criados em seis dias há menos de 10 000 anos, que todos os animais existentes (incluindo os extintos) foram criados simultaneamente e passaram por uma temporada na arca de Noé, enfim aceitam como verdade absoluta os absurdos mitos bíblicos.

E tentam refutar os dados científicos com argumentos completamente cretinos. Por exemplo, pretendem que os métodos de datação que indicam muitos milhões de anos para a idade da Terra são todos falíveis e assentes em pressupostos errados (excepto as Escrituras, claro), que o desvio para o vermelho é um «efeito quântico»* e logo não prova que o Universo está em expansão. Queixando-se amargamente dos ateus cientistas que estão sempre a alterar (para mais velho) a idade do Universo só para contrariar a palavra de Deus e a «verdade absoluta» das Escrituras!

Considerando que os primeiros ataques do Vaticano ao «criacionismo» ateu já começaram e que certamente se seguirão mais investidas para instalar o «santo» obscurantismo medieval, tão louvado pelo anterior Papa, no próximo post continuo com a análise do mito cristão da Criação!

* Na realidade a mecânica quântica diz-nos que os electrões de uma determinada espécie química só podem assumir valores discretos de energia, quantificados. O chamado estado fundamental electrónico dessa espécie corresponde ao estado de menor energia ao qual ela regressa quando excitada para estados de maior energia. A relaxação para o estado fundamental pode ser acompanhada por emissão de luz de energia igual à diferença de energia entre os estados envolvidos.

Assim, o espectro de emissão de um átomo ou uma molécula, os comprimentos de onda, λ, emitidos pela espécie, é uma espécie de código de barras que a identifica inequivocamente, como este esquema indica. Tal como o som de um carro que se aproxima é mais agudo (menor λ) que quando se afasta (maior λ), o espectro da luz recebida de uma fonte apresenta um desvio para o vermelho quando esta se afasta (maior λ) ou desvio para o azul (quando se aproxima, menor λ) como esquematizado aqui. Como a luz recebida das estrelas apresenta um desvio para o vermelho concluiu-se que o Universo está em expansão!

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