Momento de poesia
A boa e descansada vida que levam os nossos frades-pios, digna de inveja por todas as considerações
Desde que nasce o sol até que é posto
Governa o lavrador o curvo arado,
E de anos o soldado carregado
Peleja, quer por força, quer por gosto:
Cristalino suor alaga o rosto
Do barqueiro, do remo calejado;
Do cascavel ao dente envenenado
Anda o rude algodista sempre exposto:
Trabalha o pobre desde a tenra idade;
O destro pescador lanços sacode
Para escapar da fome à atrocidade;
Todos trabalham, pois que ninguém pode
Comer sem trabalhar; somente o frade
Come, bebe, descansa e depois fode.
Antologia poética de António Lobo de Carvalho, poeta satírico vimaranense do séc. XVIII.
[via Torre dos Cães, há muito inactivo, para mal dos nossos pecados]
Perfil de Autor
- Sócio-fundador da Associação Ateísta Portuguesa