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1 de Novembro, 2025 Carlos Silva

Dia de todos os santos

Imagem: Internet


Não há dia que não se recorde um santo
Todos os santos têm seu dia quem diria
São tantos os santos e os dias de pranto
Que todos os santos juntos têm um dia

Não há noite ou dia em que um santo
Não tenha feito milagre ou boa ação
Que não seja venerado em algum canto
Que não tenha exposto doente ou vilão

Não há dia que não se recorde um santo
Todos os dias são dias santos
Até um dia é dia de todos os santos


GORA ATEU (I), 2020-01-11 Carlos Silva

30 de Outubro, 2025 Onofre Varela

Humanismoe lei religiosa (3 e Fim)

Quando se fala em Humanismo, está-se a falar de quê?

Não há uma definição única amplamente aceite de Humanismo, tal como acontece noutros assuntos relacionados com o Pensamento. Pode haver versões paralelas em cada movimento desenvolvido por pensadores que fizeram as várias épocas que nos precederam, criando variações. Na Igreja essas “variações” são designadas por cisma.

Podemos dizer que os humanistas se opõem à imposição política de uma cultura e rejeitam ditaduras. Também não pertencem a uma igreja ou religião estabelecida, nem aceitam o uso da violência sob qualquer justificação.

Uma definição de Humanismopode ser esta: “Uma postura de vida democrática e ética na afirmação de que os seres humanos têm o direito e a responsabilidade de dar sentido e forma às suas próprias vidas. Representa a construção de uma sociedade mais humana através de uma ética baseada em valores humanos e naturais, no espírito da razão e na investigação livre. O Humanismo não é teísta nem aceita visões sobrenaturais da realidade”.

Em conformidade com esta definição, os humanistas apoiam a erradicação da fome, as melhorias na saúde, na habitação e na educação. O Humanismo é um conceito que pretende melhorar as condições sociais, aumentando a autonomia e a dignidade de todos os seres humanos, seja qual for a geografia de onde sejam naturais ou onde se encontrem. Rejeita qualquer forma de divindade e defende o bem-estar e a liberdade dos povos perante tudo e todos, com base no respeito da dignidade do Ser Humano.

O conceito humanista também pode ser referido por “Humanismo Renascentista” pelo facto de ter nascido num movimento intelectual e filosófico que floresceu na Europa entre os séculos XIV e XVI, com origem em Itália. Caracterizou-se pelo interesse renovado na antiguidade clássica, pelo antropocentrismo (o homem no centro do universo) e pela crença nas capacidades do ser humano, influenciando a arte, a ciência e a filosofia. Este movimento marcou a transição do pensamento medieval para o moderno, promovendo uma visão mais racional e individualista.

O termo Humanismo para designar esse resgate dos valores do período clássico, foi inicialmente usado pelo estudioso alemão Friedrich Niethammer, na sua obra de 1808: “A controvérsia entre filantropismo e humanismo na teoria da instrução educacional do nosso tempo”.

Friedrich Niethammer

No contexto histórico das transformações sociais que marcaram o tempo de Niethammer, o Humanismo surgiu como manifestação cultural de rupturas com a decadência da hegemonia da Igreja e o enfraquecimento do poder papal, a secularização da política, o surgimento das monarquias nacionais com o fim do feudalismo e a renovação da filosofia: portanto, uma atitude positiva para a Humanidade no seu todo.

O movimento trouxe uma renovação no estudo de Humanidades como algo essencial à formação do Ser Humano enquanto universalista.

Hoje vivemos um mau período para o Humanismo. Assistimos a práticas políticas anti-humanistas promovidas por uma extrema-direita que alastra como nódoa social, ajudada pela ganância pessoal de políticos, a qual é, sempre, alicerçada na ignorância e na falta de memória histórica. Com a sua retórica, os anti-humanistas convencem os eleitores menos atentos que são apanhados pela ganância própria do miserável que, destituído de moral humanista, quer ultrapassar o seu vizinho mas nunca deixando de ser, no pensamento, o miserável que é… por muito dinheiro que tenha… mas habitualmente é pobre. No bolso e no pensamento.

26 de Outubro, 2025 Onofre Varela

Humanismo e lei religiosa (2)

É sabido que as ditaduras oprimem os povos submetendo-os a uma pretensa “tradição a pedir respeito”. Tal tradição não passa de falácia pela qual se praticam maldades. As tradições sociais e religiosas não legalizam a maldade. 

Numa aldeia transmontana era tradição prender um gato no cimo de um poste, ao qual se ateava fogo! Numa outra localidade espanhola também era tradição lançar uma cabra viva, das ameias de um castelo, para um penhasco!

Dir-se-á que nas duas situações se dava vida a “tradições culturais” comunitárias… mas eram, principalmente, acções desumanas e cruéis que tiravam a vida aos animais (ou os feriam) para gáudio de uns tantos homens de comportamento moral duvidoso (muito mais imoral do que moral) que a “cultura” não pode tolerar e que a lei de um país moderno não pode outorgar; por isso se proibiram essas práticas “culturais”. As leis não podem ser desligadas do respeito devido a qualquer ser humano, ou animal, seja aqui ou na Cochinchina.

No Irão e no Afeganistão praticam-se leis que não são modelo de respeito em lugar nenhum do mundo… começando por não o ser nos próprios países que as praticam. No Irão, em Outubro de 2024 foi publicada uma lei sobre o uso do “hijab” (lenço de cabeça) que castiga com até cinco anos de cadeia as mulheres que não o usem. 

Num comunicado da organização “Human Rights Watch” (Observatório dos Direitos Humanos – uma organização não governamental) faz-se saber que a nova lei, intitulada “Protecção da família através da promoção da cultura do hijab e da castidade”, apresentada no Parlamento iraniano a 20 de Setembro de 2023, foi aprovada pelo Conselho dos Guardiões, o órgão religioso que faz a aprovação final das leis do país. 

Tal lei consolida medidas que já vigoravam para impor o véu islâmico, e adiciona sanções mais severas, como multas e penas de prisão mais longas, bem como restrições ao emprego e às oportunidades de educação para os infractores. (No Ocidente os governos extremistas de Direita vão atrás dos mentores islâmicos e proíbem o uso de trajes regionais. Por cá, a proibição acontece para imigrantes quando usam trajes folclóricos quando não são minhotos, escalabitanos ou algarvios!…).

A morte da jovem de 22 anos Mahsa Amini, às mãos da polícia em Setembro de 2022 por não usar o hijab conforme a lei manda, desencadeou uma onda de protestos durante vários meses com motins nas ruas e a polícia a matar e a prender manifestantes. 

Fonte: Britannica

O governo autocrático e religioso, em vez de responder ao movimento “Mulher, Vida, Liberdade” com as reformas fundamentais reivindicadas, “silenciou as mulheres com leis de vestuário ainda mais repressivas, o que só pode gerar uma resistência e um desafio feroz entre as mulheres dentro e fora do Irão”, disse Nahid Naghsh Bandi, investigadora da Human Rights Watch no Irão. 

A nova lei, que pode castigar com cinco anos de prisão a falta de uso do véu, é composta por 71 artigos que reforçam o controle sobre a vida das mulheres e das instituições que não aplicam estas medidas. No século XXI, o Irão – que tem a carga histórica de se localizar na região geográfica da Mesopotâmia onde nasceu a civilização há cerca de seis mil anos – em termos de evolução do pensamento ainda não passou da mais profunda Idade Média!

(Continua)

24 de Outubro, 2025 Carlos Silva

Projeto de lei da Burca

Imagem: Internet

A Assembleia da República aprovou hoje um projeto de lei que prevê a “proibição do uso de roupas que impeçam a exibição do rosto em locais públicos” e a “proibição de forçar alguém a cobrir o rosto por motivos religiosos ou de género”.
A proposta foi apresentada pelo Chega e tem como objetivo primordial a interdição do uso de burca em espaços públicos usando como pretexto a “segurança e a defesa da dignidade da mulher”.
O projeto invoca os princípios da igualdade e laicidade do Estado estabelecidos na Constituição e na Lei de Liberdade Religiosa… “nenhum símbolo religioso deve ser privilegiado ou permitido em instituições públicas…”, argumenta que “esconder o rosto é violar os requisitos mínimos da vida em sociedade” e “permitir o uso da burca ou o niqab é incompatível com os princípios de liberdade e dignidade humana”.
O próprio líder, André Ventura, dirigindo-se especificamente aos imigrantes, afirmaria categoricamente no Parlamento que “o objetivo do projeto é proibir o uso da burca em Portugal”. “Quem chega a Portugal, independentemente da sua origem, costumes ou religião, deve antes de tudo cumprir e respeitar os valores e tradições do país”. “Uma mulher forçada a usar burca deixa de ser livre e independente, tornando-se um objeto”.

Logo após a apresentação, algumas vozes críticas se levantaram alegando que trata de “ódio contra a comunidade muçulmana” … que “o debate promovido pelo Chega apenas pretende atacar os estrangeiros” e que “negar a burca constitui um ataque à liberdade de culto e consciência…”
Vozes mais sonantes optaram pela discrição ou pelo politicamente correto… “é preciso preservar a igualdade de género, defender valores, cultura e tradições do povo português…”; “são valores comportamentais que estão em confronto…”

Mas, afinal, quais são os valores que realmente importa defender?
Os valores do Islamismo… do Cristianismo… as leis do Estado… ou os direitos da mulher?

Perante a conjetura atual, é evidente que andar de cara tapada em espaços públicos pode suscitar algumas questões de segurança… mas, a questão fundamental será realmente o perigo do uso da burca em espaços públicos ou a violação de direitos fundamentais da mulher?
Pode uma mulher ser impedida de vestir o que quer ou forçada a vestir o que não quer apenas porque um homem o diz, uma religião o exige ou um Estado o impõe através de lei?
Pode um Estado que se diz laico, livre e democrático, sobre determinado pretexto político, atropelar a sua Constituição ou a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e proibir o uso de determinada peça de vestuário?
Não será a liberdade de escolha um direito inalienável da mulher… e de toda a humanidade?

Referem algumas vozes que a burca é apenas uma “simples peça de vestuário, um mero símbolo de cultura ou tradição…”; outras que a burca é “um símbolo de machismo tóxico, de humilhação da mulher e de extremismo religioso…”
A burca é realmente um símbolo de opressão, submissão e aniquilação da entidade da mulher, sobretudo quando usada num contexto de extremismo religioso! Por isso o que importa realmente proibir/combater é o extremismo religioso que a impõe… o extremismo religioso que humilha, mata e viola a liberdade da mulher!
Nenhuma mulher pode ser precocemente mutilada ou violada… doutrinada ou privada da personalidade… nenhuma!
Nenhuma mulher nasce submissa a mandamentos religiosas absolutamente bárbaros e machistas, seja de que religião for… nenhuma!
Todas, sem exceção, têm direito a uma vida com dignidade, segurança e em plena liberdade.

Um projeto de lei que, sob o pretexto de defesa do laicismo do Estado, da liberdade e da segurança, impõe restrições a direitos fundamentais previstos na Constituição, nunca pode ser Lei. Nunca será demais recordar que tal como a laicidade do Estado, também a liberdade de escolha e a liberdade religiosa são valores fundamentais da democracia!
É, pois um projeto de lei ferido de inconstitucionalidade… uma espécie de nado-morto condenado à nascença.
O único objetivo é o ruido… o tal ruido que confere votos!

AGORA ATEU (II), 2025-10-17 Carlos Silva

20 de Outubro, 2025 Onofre Varela

Humanismo e lei religiosa (1)

O tema em que pego para escrever esta crónica, obriga-me a ocupar um espaço maior do que aquele que o jornal me concede. Vou, por isso, dividi-lo em três partes, publicando hoje a primeira parte.

Cada país rege-se pelas leis aprovadas no seu Parlamento, o qual tem duas formas de existência: ou foi formado pelo voto popular e vive em Democracia, ou foi imposto por um qualquer sistema ditatorial.

Retirando a segunda hipótese que todos nós rejeitamos (espero eu… exceptuando quem não o rejeita, até o deseja, e que hoje até tem assento no nosso Parlamento), é comum, por respeito à liberdade dos povos, não nos imiscuirmos na política interna de outros países, nem “ditarmos leis” na casa dos nossos vizinhos. Mas podemos (e, sobretudo, devemos) criticá-los porque a Democracia também existe para isso mesmo… e no caso de os nossos vizinhos serem dirigidos por ditadores, podemos (e também, sobretudo, devemos) ajudá-los a combater a ditadura que os oprime, em nome da decência, da ética e da Humanidade.

As leis não caem do céu como as folhas outonais caem das árvores.

Há uma “História das Leis” ligada ao desenvolvimento da Civilização. No Egipto Antigo, há 5.000 anos, já havia uma lei escrita para governar o país, baseada na tradição e na igualdade social.

Há 3.800 anos, o Código Hamurábi regia a lei na Babilónia, ficando conhecido como o primeiro código de leis da civilização Suméria (o berço da civilização).

Fonte: The Paris Review

O Antigo Testamento tem mais de 3.300 anos e assume a forma de imperativos morais (alegadamente ditados por um deus) como recomendações para uma boa gestão da sociedade.

Há cerca de 2.900 anos, Atenas foi a primeira sociedade a basear-se na ampla inclusão dos seus cidadãos, mas excluindo mulheres e escravos.

A lei romana foi influenciada pela filosofia grega e impôs-se na Europa Medieval após a queda do Império Romano, a qual foi retocada com preceitos religiosos católicos.

Depois surgiu a necessidade de redigir leis internacionais para regular o comércio em toda a Europa e no mundo.

Toda esta retórica me serviu para chegar ao momento de dizer que, embora cada país tenha a autoridade legal e inalienável de ditar leis aos seus povos, é igualmente verdade que a liberdade de cada pessoa em qualquer parte do mundo é, também ela, inalienável à luz do Humanismo, do conceito da igualdade e do respeito devido ao próximo. Por isso as ditaduras são repudiadas.

Podemos dizer que cada sociedade tem a sua sensibilidade, e esta está na base das leis que a rege. Porém, o Humanismo não está presente nas leis de muitos países… e o Ser Humano é igual em qualquer parte do mundo. Cada mulher, cada homem, cada criança, tem o mesmo sistema nervoso que lhes permite sentir alegria e tristeza perante a mesma experiência de vida, e não precisamos de estudar Direito para sabermos – e sentirmos – o que é justo e o que é injusto. Aqui ou nos antípodas.

O Humanismo, com todas as particularidades que o constroem, é o único modo político e económico de governar (bem) os povos, em qualquer parte do mundo.

PARTE 2

18 de Outubro, 2025 Eva Monteiro

Soltem as Ideias

O Vice-Presidente da Associação Ateísta Portuguesa, Onofre Varela, em conversa sobre a sua vida:

5 de Outubro, 2025 Eva Monteiro

Carta a um Crente

(Quase) todas as quartas-feiras sou anfitriã de um debate online em que convido crentes a discutirem temas que me parecem relevantes à luz das suas crenças. Faço-o através da plataforma TikTok e vou lá deixando também, em formato de vídeo, algum conteúdo. Foi com alguma surpresa que encontrei na minha caixa de entrada desta plataforma uma mensagem mais educada e razoável que as do costume (normalmente são insultos). Sou detalhada nas minhas respostas, pelo que no fim, achei que o texto poderia ser útil e decidi publicá-lo aqui. O que se segue é a mensagem inicial desta pessoa:

Ponderei bastante antes de enviar mensagem. Era bem mais fácil não dizer nada e pronto, vida que segue. Mas não consigo concordar contigo em relação às religiões. As religiões têm um papel fundamental na sociedade e esta é somente a minha opinião. E esta é a minha verdade. Tu tens a tua e outra pessoa qualquer poderá ter a dela e está tudo certo. Sem julgamentos, até porque a meu ver cada um tem o seu caminho e trajeto a seguir. Que me digas que houve e há uma instrumentalização por parte dos homens em relação a essas mesmas religiões, sem dúvida alguma, 100% de acordo. No entanto, as religiões na sua essência são apenas e só uma maneira de mostrar valores e distinguir o certo do errado. Percebo que me digas que isso faz parte da educação de cada ser, mas na minha opinião não é a mesma coisa. Pois uma coisa é o pai, ou a mãe, ou mesmo a professora, outra é supostamente uma entidade superior a demonstrar o bem ou o mal.

Atenção que à medida que crescemos todos nós optamos por diversos caminhos e começamos a questionar esses mesmos ensinamentos. O que é normal pois são apenas histórias que passaram de pessoas para pessoas e que quem as passa age como se fossem verdades absolutas.

Como é lógico, devemos questionar sempre e não acreditarmos em algo só porque sim. Devemos tirar as nossas próprias conclusões, pelas nossas próprias experiências e também pelas nossas pesquisas se assim o desejarmos e quisermos saber mais. Por exemplo, se me perguntares se eu acredito em Deus, eu vou responder o que respondo sempre. Eu não acredito, eu sei que Existe.

Não me identifico com nenhuma religião. Fui educado sim na igreja católica cristã (é cultural) e tive passagens pelo budismo. No entanto, desde os meus 5 anos de idade que tenho contato com outros planos, que não aquele que estamos no momento presente. Estudo o espiritismo segundo Allan Kardec, sempre baseado no método científico.

Como eu costumo dizer, o espiritismo não é uma religião, é um modo de vida. É apenas a maneira como vemos o mundo e que não há certos nem errados, há apenas experiências e modos de fazer e ver as coisas de maneira diferente. Lá porque dizes que algo é assim e eu digo que é assado é tudo uma questão de perspectivas. Estamos sempre a aprender e a evoluir.

Peço desculpa pela intromissão e pelo testamento. Bom fim de semana.

A minha resposta:

É a tua vez de me perdoares a extensão da resposta. Quando acabei de a escrever dei conta que talvez tenha sido detalhada demais. Ainda assim, acho que devo escrever o que tenho a dizer e tu decidirás se tens o tempo e a paciência de fazeres a leitura e até, se eu tiver alguma sorte, responderes aos pontos em que discordo contigo.

Prometi que te respondia mal pudesse dar atenção completa à tua mensagem e tive algum tempo para ponderar. É sempre um sinal de integridade intelectual quando alguém que me manda mensagem privada numa rede social se dispõe a refletir, questionar e dialogar, mesmo quando o tema é sensível; e poucas coisas o são mais do que as crenças religiosas. Por isso, antes de mais, quero agradecer-te novamente pela mensagem.

O facto de não concordares comigo quanto às religiões é válido, temos direito a portar diferentes opiniões e a defendermos diferentes posições. Contudo, eu acredito em fundamentar as minhas posições e a questionar o fundamento das posições contrárias à minha. Desta forma, posso entender se a minha posição está afinal, errada. Hoje não foi o dia. Parece-me que confundes, antes de mais, opinião com verdade. Esta ideia de que dada coisa é “a minha verdade” é completamente descabida. É a tua opinião, faz parte da tua mundividência, é o que tu achas. A verdade é outra coisa. Não depende da opinião nem da perspectiva de quem afirma que algo é verdadeiro, mas da coerência entre a afirmação e a realidade. Isto é, uma afirmação é verdadeira se corresponder aos factos ou ao estado de coisas que a pessoa afirma.

Quanto a opiniões, cada um tem a sua, é verdade. Por outro lado, não devo aceitar tudo o que me dizem só porque as pessoas têm direito a terem opiniões. Podemos certamente concordar que nem todas as opiniões fazem sentido. Há quem acredite que a terra é plana. Têm direito a acreditar numa coisa falsa, mas eu não tenho que aceitar que a terra é plana só porque essa é a opinião de uma pessoa que está muito claramente errada mas que decidiu ser essa “a sua verdade”. Há opiniões sobre tudo e para todos os gostos. Algumas opiniões são inócuas, outras têm consequências. Quando a consequência só atinge o próprio, está tudo bem. Quanto a consequência atinge outros ou a sociedade em geral, creio que opor-me é imperativo.

Do ponto de vista histórico, é verdade que as religiões moldaram civilizações, inspiraram arte, música e literatura, e serviram de estrutura moral e social durante séculos. Mas a questão crucial é: a que custo e com que fundamentos. A religião, de uma forma geral, foi a primeira explicação que a humanidade conseguiu dar a grandes questões, mas não foi a última nem foi a melhor. Pelo contrário, é a mais imperfeita das explicações do mundo e a que provocou piores danos. Contudo, ainda que não tivesse provocado danos e não fosse hoje uma visão obsoleta, o facto de em tempos ter tido utilidade não significa que seja verdade. São dois conceitos diferentes. Um vidente pode ser útil a um cliente que lá vai desabafar, mas não deixa de ser charlatanice. Naturalmente, não concordo contigo que as religiões ainda têm esse papel social, pelo menos no ocidente secularizado em que as leis, feitas por pessoas para pessoas, moldam a nossa vida diária. Por outro lado, a religião mantém esse poder em países onde a teocracia é a regra. Acho que basta olhar para os países que não fazem a separação entre o estado e as organizações religiosas para vermos o quanto a religião corrompe e destrói sociedades inteiras.

Quando alguém me diz que as pessoas é que instrumentalizam a religião, sinto que estamos a cair numa tautologia. A religião não é petróleo. Não é uma coisa que a humanidade descobriu e que não soube usar corretamente. A religião é uma construção humana cujo objetivo é o controlo. Parece-me por isso evidente que um instrumento seja… instrumentalizado. Basta olharmos para as sociedades para entendermos que tipo de deuses é que as pessoas criam. Uma sociedade de pequenas tribos, onde toda a gente se conhece e em que a violência e o crime são situações pontuais e aberrantes tende a ser animista. Já uma sociedade que desenvolve grandes cidades tende a criar deuses que vigiam, que estão em todo o lado, que castigam pecados. A religião é o que as pessoas criam antes de desenvolverem sistemas legais e modos mais seculares de regulação social.

Na sua essência, as religiões não te dão um sistema de valores. Pelo contrário, és tu que imprimes moralidade à religião que professas. Por isso é que tantos cristãos não são racistas, misóginos e violentos, apesar de o seu livro sagrado estabelecer um sistema de “valores” absurdo e impensável. Se decidisses agora seguir à letra o sistema de valores que o cristianismo, o judaísmo ou o islamismo oferecem nos seus escritos sagrados, só não ias parar à cadeia se te rebentasses juntamente com uma bomba, ou te suicidasses após desatares a matar infiéis, pecadores, bruxas, ateus e outros. Se seguisses à letra esse sistema de “valores”, não distinguirias o certo do errado. É porque consegues distinguir o certo do errado que tens a capacidade de ignorar as partes imorais de uma religião e selecionar ou reinterpretar as partes que se coadunam com o teu sistema moral.

Para mim, distinguir o que é bom e o que é mau também não faz inteiramente parte da educação de cada pessoa. Faz também parte do processo de seleção e da sobrevivência da espécie. Somos uma espécie cooperativa e se não tivéssemos a capacidade de coexistir, de saber que não se faz mal aos outros, que devemos ser bons uns para os outros, não sobreviveríamos enquanto espécie. Com todos os defeitos que temos, temos tendência a não sermos violentos, a não sermos destruidores da nossa própria espécie. É coisa comum a muitas espécies, especialmente entre os mamíferos e especificamente entre os primatas que nos são, do ponto de vista da evolução, mais próximos. A mãe e o pai, ou a mãe e a mãe, ou o pai e o pai, ou a avó, o avô, o tio, a tia, ou seja quem for que educa uma criança tem um papel essencial na sua vida através da educação e isso eu não nego. Uma criança bem educada terá um futuro mais feliz e útil, para si e para os outros. Contudo, falas de uma entidade superior que demonstra o bem e o mal. Suponho no entanto que o teu deus, seja ele qual for, nunca te respondeu às preces de forma audível e verificável. Não temos quaisquer provas de que uma entidade sobrenatural alguma vez tenha falado ou aparecido a alguém. Temos é padres, pastores, bispos, apóstolos, profetas, gurus e restantes líderes espirituais que dizem saber o que está certo e o que está errado, e que afirmam o que é ou deixa de ser a vontade do respetivo deus. Ora, cada líder religioso tem a sua opinião sobre o que está certo ou errado, pelo que não existe nessa suposta comunicação divina objetividade suficiente, nem nos dias de hoje nem ao longo da História, para suportar a tua afirmação. Eu creio que entendes isto, pela forma como escreves, mas não me parece que entendas que o que dizes num parágrafo contradiz o que dizes no parágrafo anterior.

Concordo que devemos questionar, tirar as nossas próprias conclusões, como dizes. Mas então em que momento desse processo é que entra deus?

Dizes uma frase que já ouvi centenas se não milhares de vezes em debates, especialmente com cristãos e muçulmanos: “Eu não acredito, eu sei que Existe.” Na verdade é o oposto, tu não sabes, tu acreditas. É matéria de fé e não de facto. Se soubesses efetivamente que o teu deus existe, terias como prová-lo. Se fosse esse o caso, não estaríamos a debater via mensagem no TikTok, terias mostrado esse facto à humanidade, não existiriam ateus e terias ganho meia dúzia de prémios Nobel e pelo menos uma beatificação. É apenas, e lamento ter que to dizer de forma tão direta, uma frase feita daquelas que os padres e os pastores gostam de atirar ao ar mas que carecem de qualquer tipo de sentido. É aquela jogada de dizer “eu sei no meu coração que deus existe” – se sabes no teu coração, não sabes na tua cabeça. Estou interessada naquilo que é verificável, não em “verdades pessoais” que é uma forma de dizer crenças infundadas.

Quando alguém me diz que não se identifica com nenhuma religião chego sempre à conclusão que é porque não se querem comprometer à partida com determinados dogmas, com os quais podem não concordar ou não saber como sustentar. No entanto, quando faço perguntas a quem diz que não se identifica com nenhuma religião, chego sempre à conclusão que o deus em que acreditam é aquele que lhes foi imposto na infância e que as suas crenças religiosas vão de encontro às crenças da instituição religiosa correspondente, ainda que não na sua totalidade. Resumindo, posso dizer que apesar de tu não te identificares com nenhuma religião, bastariam 10 minutos de conversa honesta para eu fazer essa identificação por ti. Aliás, esse diálogo, a ser feito internamente e de forma honesta, provavelmente também faria com que te identificasses com alguma religião. Vou apostar, sem muita base, porque essa conversa não aconteceu, que acreditas no deus da Igreja Católica (omnisciente, omnipotente, omnipresente e bom), mas que gostas de práticas mais místicas pelo que em vez de ires à missa preferes meditar e que não te identificas com a Igreja Católica porque o Kardecismo te conferiu a crença de que o mundo dos espíritos está ao teu alcance, quando a Igreja o nega. Isto é, descaradamente, um pré-conceito da minha parte. Não o nego e até peço desculpas se estiver errada. No entanto, apostaria uns euros nesta opinião se fosse forçada a isso.

Quanto ao espiritismo e à ideia de contacto com outros planos, o que posso dizer é que a sinceridade da experiência não garante a veracidade da interpretação. As experiências subjetivas (visões, intuições, sentimentos de presença) são universais e explicáveis em termos neurológicos e psicológicos. A mente humana é extraordinariamente criativa, e o cérebro é capaz de gerar experiências intensamente reais que, no entanto, não têm correspondência objetiva. O método científico serve precisamente para proteger-nos dessas ilusões, inclusive das mais agradáveis.

Embora Allan Kardec afirmasse seguir o “método científico” na elaboração da doutrina espírita, na realidade ele nunca aplicou qualquer procedimento científico reconhecível. Não houve observação controlada, hipóteses testáveis, experimentação reproduzível nem revisão por pares. O que Kardec fez foi recolher relatos mediúnicos e interpretá-los à luz das suas próprias convicções, apresentando-os como factos. Esse processo pode ter sido feito com sinceridade, mas não é ciência, é especulação metafísica. A ciência baseia-se em evidências verificáveis e na possibilidade de refutação. Já o espiritismo baseia-se em testemunhos subjetivos e fenómenos não demonstráveis. Portanto, apesar de Kardec desejar dar ao espiritismo uma aparência racional, os seus escritos pertencem ao domínio da crença, não ao da investigação científica. Que seja esse o teu modo de vida é uma escolha pessoal que não tenho que questionar. Contudo, é só isso, uma escolha de vida que em nada demonstra a veracidade dos ensinamentos que escolheste seguir e que em nada se baseia no método científico.

Concordo inteiramente contigo num ponto essencial: devemos sempre questionar e continuar a aprender. O problema é que o verdadeiro questionamento exige que também coloquemos em dúvida as nossas certezas mais íntimas, inclusive as espirituais. E é aqui que a postura ateísta não é uma negação da espiritualidade humana, mas uma exigência de honestidade intelectual. Por fim, suspeito que o que te incomoda no meu conteúdo é sobretudo o anticlericalismo. Deixa-me só referir que o anticlericalismo não é ódio à religião, mas defesa da liberdade de consciência contra qualquer instituição que pretenda ter autoridade sobre o pensamento humano. É uma oposição ao poder clerical. As igrejas e demais instituições religiosas e espirituais, todas elas, devem ser submetidas ao mesmo escrutínio que qualquer outra forma de poder. Isso não é intolerância; é maturidade intelectual.

Ao ler e reler a tua mensagem fico na dúvida: seria uma forma de evangelização? Tens como objetivo arrancar-me do ateísmo herege e pecaminoso? Tiveste necessidade de partilhar as tuas crenças porque sentes que o meu conteúdo as invalida de alguma forma? Ou só quiseste iniciar um debate? Não sei, mas agradeço na mesma a tua mensagem. O diálogo é o que nos permite evoluir.

Evoluímos melhor quando a verdade, e não o conforto, é o nosso objetivo.

29 de Setembro, 2025 Onofre Varela

«ERA UMA VEZ NA AMÉRICA»…

Os Estados Unidos da América (EUA) pelas acções dos republicanos no poder comandados por Donald Trump, deram, de si mesmos, a habitual imagem degradante do que é a política na versão fundamentalista com muletas religiosas.

Charlie Kirk, militante republicano assassinado a tiro no dia 10 de Setembro último, foi homenageado num recinto que se mostrou pequeno para albergar a multidão que acorreu à homenagem, congregando cerca de 90.000 pessoas. Kirk foi honrado como “mártir da fé cristã”, nas palavras do vice-presidente dos EUA, J. D. Vance. E Donald Trump, por sua vez, referiu-o como um “evangelista da liberdade”!…

Esta do “evangelista” é a mais recente versão do Cristianismo no seu modelo de seita fundamentalista, conseguida na confusão do lema “A América Grande Outra Vez” inventado por Trump, que é o candidato ao lugar histórico de ditador dos EUA. Nesta aproximação da América actual ao figurino religioso islâmico-fundamentalista, o Secretário de Estado Marco Rubio comparou Charlie Kirk a Jesus Cristo!…

Por sua vez, a viúva de Kirk tomou parte do espectáculo debitando um discurso místico, perdoando ao “jovem que matou” o seu marido, porque foi o que Jesus fez na cruz, ao dizer “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. “Porque a resposta nunca é o ódio, mas sim o amor. Amor pelos nossos inimigos e por quem nos persegue”.

Seguiu-se um outro momento patriótico com a multidão a entoar a canção “América the Beautiful”, rematada com um discurso do conselheiro presidencial Stephen Miller, dizendo que os que estão contra o activista Kirk “não são conscientes do que despertaram. Vós acreditastes que pudestes matar Charlie Kirk? Só conseguistes torná-lo imortal… agora, milhões tomarão o seu lugar!”

Depois apelou à derrota “das forças das trevas e do mal”, concluindo: “Não podem parar-nos. Nós temos beleza, luz, virtude, força, determinação. Os nossos inimigos não percebem a nossa paixão. Nós construímos este mundo e vamos defendê-lo. Estamos do lado do bem, do lado de Deus”. A seguir, Jack Posobiec, comentador de extrema-Direita e apoiante fervoroso de Trump, na mesma senda de Miller, entrou em cena apelando “a uma guerra espiritual”!…

Chegou o momento de Trump brilhar em apoteose, encerrando o degradante espectáculo. Fez um comício onde enalteceu o ideal “republicano-americano”, defendendo as comissões “caça-dinheiro” que impôs aos países que querem negociar com os EUA; atacou Joe Biden (o seu inimigo de estimação já neutralizado desde as eleições); mais os imigrantes que quer ver expulsos do território; e mais a “esquerda radical” a quem culpa pelo assassinato de Kirk; e ainda os meios de informação independentes por não dizerem o que ele quer que se diga. Acabou em grande, garantindo que nos seus oito meses de governação converteu os EUA no “país mais sexy do mundo”!…

Se tudo isto não é uma súmula de discursos de loucos… então o que é?!…

Aquilo que seria o funeral de um activista político assassinado, foi transformado numa jornada “político-religiosa” com Deus na boca e o Diabo no coração de todos os intervenientes, ao estilo das ameaças extremistas islâmicas!

E tudo isto acontece, hoje, na América!…

28 de Setembro, 2025 Onofre Varela

Pode-se viver sem deuses, mas não sem Conhecimento

Roberto Calasso foi um escritor e editor italiano que morreu em Milão no dia 29 de Julho de 2021, com 80 anos de idade. Reconhecido pelos seus amigos como sendo dono de um carácter “muito difícil e complicado”, também se lhe reconhecia a sua extrema elegância, falando com a precisão dos sábios. E sabia manter o silêncio sobre qualquer pensamento do qual ainda não tivesse tomado consciência plena para se poder exprimir sobre ele.

O filósofo e ensaísta espanhol Juan Arnau, especialista em religiões orientais, escreveu sobre Roberto Calasso, começando por dizer que “da solidão surge o conhecimento, do conhecimento a arte e da arte o eterno, fechando-se o ciclo”. Calasso não encontrava diferença entre “o pensamento e a literatura”, convivendo com as duas matérias como se fosse uma só.

Numa das suas últimas entrevistas, o escritor e editor confessou que se pode viver sem os deuses, mas que “a experiência do divino muda tudo”, e é essencial saber reconhecê-lo. Calasso soube ler o mundo como se fosse um texto sagrado no qual estamos entrelaçados, mas, ao mesmo tempo, olhava com receio os êxitos da nossa civilização tecnológica, dizendo que “a tecnologia cria a ilusão do conhecimento”, e que “estamos perto de sabermos quase tudo do que não nos interessa saber”.

Sobre a Neurociência (disciplina da moda no século XXI), Calasso mostrou-se muito crítico da ideia de “a consciência ser uma propriedade da matéria”, concluindo que a antiga busca do divino, encetada pelos gregos, se transformou hoje na indagação sobre a Natureza e a consciência, mas que a nossa civilização não foi (ainda) capaz de distinguir “mente e consciência”.

Nem sequer Husserl, que foi o primeiro a fazer da consciência o tema central da filosofia contemporânea. (Gustav Hussel [1859-1938] foi um filósofo e matemático alemão, fundador da “escola da fenomenologia”, cujo pensamento influenciou profundamente todo o cenário intelectual do século XX, mais a parte do século XXI que já vivemos).

Ao contrário do que é aceite – de que a mente está no cérebro – Calasso defendeu o contrário: o cérebro é que está dentro da mente! A identificação entre mente e cérebro é um dos descalabros do pensamento moderno – dizia ele – para a seguir sentenciar que “na sociedade secular tudo é idolatria, e que toda a boa literatura é sagrada”. A mente deixou-se embrulhar na sua própria projecção “e a inteligência deixou-se absorver pelos algoritmos”, do que resultou esta fatalidade: “os verdadeiros problemas não têm solução”… ou não estamos nada interessados em procurá-la, encantados que nos sentimos na artificialidade com que decoramos a naturalidade, como se fosse uma árvore de Natal!…

22 de Setembro, 2025 João Monteiro

Oradores Congresso Livre-Pensamento

João Monteiro

Presidente da Associação Ateísta Portuguesa, é licenciado em Biologia, mestre em Biologia do Desenvolvimento e doutorado em História, Filosofia e Património da Ciência e Tecnologia. Tem trabalhado nas áreas da comunicação de ciência e da investigação académica. A sua investigação tem-se centrado em torno dos temas da História da Medicina Tropical, o papel das mulheres na ciência e coleções científicas. Vai falar da história recente do ateísmo em Portugal.

Anabela Pinto-Poulton

Anabela Pinto-Poulton é licenciada em Biologia Universidade Clássica de Lisboa, com Mestrados em Ecologia pela Universidade de Aarhus (DK) e Psicologia pela Universidade de Hertfordshire (UK). Doutorada em Evolução e Ecologia Comportamental pela Universidade de Aarhus.

Trabalhou como investigadora na Universidade de Cambridge nos departamentos de Veterinária, Antropologia Biológica e Psicologia e leccionou nas Universidades de Cambridge e outras instituições britânicas e internacionais em comportamento, bem-estar e ética animal, antropologia biológica, psicologia, métodos em investigação científica, escrita académica em inglês e pensamento crítico.

Em 2002 fundou a empresa Cambridge e-Learning Institute oferecendo os primeiros cursos on-line internacionais em bem-estar animal e pensamento crítico para universidades e empresas. Foi professora convidada para dar cursos em pensamento crítico em Chengdu na China e em várias Universidades no Brasil.

Palestrante internacional, tem dedicado os últimos 20 anos de sua carreira a promover o pensamento crítico. O seu interesse académico foca em psicologia evolutiva onde se debruça sobre a evolução da moralidade e psicologia da religião.

J. Xavier de Basto

J. Xavier de Basto pertence à Associação República e Laicidade desde 2004 e, actualmente, é membro da sua Direcção. É lisboeta, tem 60 anos e trabalha com sistemas informáticos de gestão (ERP) para as PMEs desde 1988. Xavier resume assim a sua apresentação: “Definição/ões da Laicidade.  Análise breve da situação da Laicidade em Portugal. Desafios para a Laicidade, no futuro próximo numa realidade globalizada.”

João Sequeira

Arqueólogo licenciado e mestre pela Univ. Nova de Lisboa, é doutorando em História – Património na Universidade do Minho, com o projeto “Humanizar a Arqueologia Industrial”, financiado pela FCT em 2021 e desenvolvido nos centros CICS NOVA e IHC. É autor e coautor de vários artigos e do livro Arqueologia Contemporânea em Portugal (séc. XIX e XX). Tem experiência em intervenções arqueológicas empresariais e participou em projetos como o IH4Future na Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços.

Joel Santos

Joel Santos licenciou-se em Arqueologia pela Universidade NOVA de Lisboa. Obteve posteriormente um mestrado em Arqueologia e Património na Universidade de Leicester, onde desenvolveu uma dissertação sobre a Arqueologia da Solidão. Apaixonado pela resolução de problemas, dedica-se principalmente à análise crítica e ao debate teórico em Arqueologia, aplicando também conhecimentos adquiridos numa licenciatura anterior em Engenharia Electrónica e de Computadores no Instituto Superior Técnico de Lisboa

Tânia Casimiro

Tânia Casimiro é investigadora da Universidade de Stirling, associada ao Centre for the Sciences of Place and Memory. Arqueóloga especializada em cultura material, marginalidade urbana e legados coloniais, a sua pesquisa explora memória, lugares e identidades por meio de diversos projetos, incluindo a arqueologia dos resíduos e descartes, espaços abandonados, cemitérios e comunidades urbanas informais. Liderou escavações e projectos interdisciplinares em diferentes lugares do mundo, investigando como objectos e espaços preservam histórias e relações.

Estes três oradores (João Sequeira, Joel Santos e Tânia Casimiro) irão falar de arqueologia do lixo religioso. Mas de que se trata esta área de estudo arqueológica? Os oradores apresentam o seu tema da seguinte maneira: “A Arqueologia do lixo religioso desmonta a ilusão da pureza espiritual associada a dois rituais católicos: a Procissão das Velas em Fátima e a Luminara de San Ranieri em Pisa. Milhões de fiéis produzem toneladas de plástico, que são ocultadas em tempo real para manter a aura do sagrado. A arqueologia que defendemos é ativista e, através de uma abordagem também em tempo real, pretende desmascarar o óbvio: devoção e destruição caminham juntas, e a fé acaba por ser um gatilho de indiferença na produção de lixo, a que chamamos religioso.”

Eva Monteiro

Formada em Filosofia pela Faculdade de Letras Universidade do Porto, produziu e apresentou o Podcast Portugal de Culto em que explorou temas controversos relacionados com seitas religiosas e outros grupos de alto controlo. Podcaster e dirigente da Associação Ateísta Portuguesa, promove o pensamento crítico e a laicidade. Apresenta e produz o Podcast Homo SemDeus, denunciando violações da laicidade em Portugal. Citada no livro O Universo das Seitas Destrutivas, participou na sua apresentação ao lado de Steven Hassan.

João Nascimento

Assistente técnico do SNS, poeta, filósofo, amante da palavra escrita e da ironia como força metafísica. Motivado por uma sede incessante por conhecimento e pelos mistérios do cosmos. Fascinado pelo estudo histórico das religiões. Escreveu o texto biográfico de homenagem a Tomás da Fonseca, personagem histórica que inspirou a organização deste Congresso.