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Etiqueta: Filosofia

11 de Março, 2024 Onofre Varela

Acreditar em Deus

Um dia perguntaram a Agostinho da Silva, sem mais nem para quê… assim à “queima-roupa”: “Acredita em Deus?”. O filósofo respondeu: “Depende. Se você me disser o que é Deus, pode ser que eu lhe diga se acredito ou não”.

Não conheço resposta mais concreta e acertada para tal pergunta! Na verdade não se pode negar a existência de Deus assim, tão simplesmente, porque logo a seguir a essa negativa se colocaria a questão: se Deus não existe, porque é que estás a falar dele? Se não existia até aqui, passa a existir a partir deste momento, caso contrário não se entenderia porque estás a nomeá-lo!

Só se pode negar ou afirmar aquilo que se conhece. E aquilo que eu conheço do conceito de Deus (o conceito, sim, existe) não merece crédito de existência real fora do conceito que é, nem fora da mente de quem o afirma. O deus apregoado pelas religiões é definido como um ser espiritual, mas tem personalidade e forma, produz milagres e orienta os homens, castiga e premeia, dá e tira, e reina num universo paralelo onde nos espera depois de morrermos para nos premiar com felicidade eterna, ou nos condenar também eternamente.

Este deus, pintado assim, desta maneira tão infantil para o raciocínio de um adulto saudável, definitivamente, não pode existir. As leis da física e da química não permitem a existência de uma coisa com tais poderes!

Imagem de Michelangelo Buonarroti no Freepik

As opiniões que contrariam a fé dos crentes costumam incitá-los à recusa imediata da opinião do outro, sem qualquer raciocínio crítico que os levasse a comparar ideias antes de negarem o “incrédulo demoníaco”. Seria mais razoável enfrentarem os factos contrários à sua fé, analisá-los com isenção, e concluírem depois. Se assim fizessem, as crenças religiosas perderiam a maioria dos seus adeptos por terem adquirido conhecimento ou se encontrarem com a dúvida.

A ignorância produz fé religiosa, e a informação, elimina-a. A fé que hoje habita o pensamento da maioria dos crentes, tem características da medievalidade do pensamento e não é compatível com a nossa época. As Ciências Humanas e Naturais arruinaram definitivamente as premissas dos dogmas religiosos que pertencem, cada vez com mais consciência, ao reino da fábula, ou da fantasia.

Na crença entregámo-nos ao sonho mais inconcretizável e à simulação, e somos vítimas de alucinações! Para o princípio da causa das coisas, há religiosos que defendem o Génesis contra a Ciência, convictos de estarem com a verdade!… Para uma mudança de atitude, bastaria que se entendesse uma coisa tão simples como isto: Para produzir um petisco tão comum e rotineiro, como é um ovo estrelado, é necessário, no mínimo, a existência de cinco elementos prévios. A saber: 1 – O ovo; 2 – Uma gordura; 3 – Um recipiente resistente ao calor; 4 – Uma fonte de calor capaz de fazer ferver a gordura; 5 – O cozinheiro, que prepara o cenário e parte o ovo sobre a gordura, esperando o momento certo para o retirar e servir. Sem estes cinco elementos podemos ter muita vontade de comer um ovo estrelado, e por mais que rezemos na esperança de que o ovo apareça estrelado à nossa frente… nunca mais saciaremos a nossa vontade, e morreremos ougados por um ovo!… Tal como morremos “ougados por saber”, quando tudo o que pensamos tem a marca de uma qualquer religião deísta.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

17 de Abril, 2012 João Vasco Gama

Desconversão – em português

aqui partilhei uma excelente série de vídeos sobre uma experiência de desconversão. Pela forma séria, sofisticada e apelativa como está construída e pela clareza e pertinência dos argumentos apresentados, sugeri vivamente o seu visionamento completo.

Recentemente descobri que essa série foi legendada em português. Agradecendo a quem fez a tradução, aproveito para divulgar a série de novo neste espaço.

Aqui está um dos melhores vídeos da série, o momento da desconversão, desta feita legendado em português:

PS- Não esquecer de activar as legendas, para quem não tem essa opção por omissão.

11 de Março, 2012 João Vasco Gama

Desconversão: o fim

Uma excelente série de vídeos no youtube partilha a experiência de desconversão do seu autor. A série de vídeos começa por uma introdução, pela explicação de como era a vida de cristão no início, para então explicar detalhadamente porque é que é tão difícil abandonar a crença em Deus apesar de tantos indícios fortes («evidences», daí o pseudónimo do autor) que apontam para a sua existência. A série não termina com a desconversão do autor: a partir daí continua a seguir diferentes descobertas e elaborações até uma sistematização final e epistemologicamente coerente de como apreender a realidade.
Nota-se um enorme esforço na elaboração dos vídeos, que estão muito bem conseguidos, e conseguem transmitir ideias bem articuladas e razoáveis de forma profunda, mas fácil.

Muito apropriadamente, parece-me que o melhor vídeo da série é precisamente aquele que relata o momento da desconversão. Este vídeo é melhor compreendido se for visto depois de todos os que o precedem na lista, mas também pode ser visto isoladamente, e continua a ser muito bom. Aconselho-o vivamente a crentes e descrentes, e a qualquer pessoa interessada por estes assuntos:

23 de Fevereiro, 2012 João Vasco Gama

Ricardo Araújo Pereira e a questão de Deus

Por serem divagações divertidas, mas também interessantes e profundas, partilho com os leitores estas palavras de Ricardo Araújo Pereira sobre religião, morte e humor:

Não concordo com tudo, mas aconselho sem reservas.

29 de Julho, 2011 João Vasco Gama

A moralidade e o cristianismo

Sou da opinião que as crenças religiosas cristãs têm uma influência perniciosa na moralidade.
Este vídeo explica de forma muito clara e adequada algumas das principais razões pelas quais isso acontece:

10 de Julho, 2011 João Vasco Gama

Milagres – I

Há dois tipos de crenças em relação aos milagres. Existe quem acredita que podem envolver uma violação das leis naturais, e existe quem não acredita em tal coisa.

Quando se justifica acreditar na ocorrência de um determinado milagre? David Hume dá uma excelente resposta a essa questão:

«Nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre, a menos que o testemunho seja de tal tipo que sua falsidade seria mais miraculosa que o fato que ele tenta estabelecer»

Por outras palavras, devemos sempre acreditar na hipótese mais plausível. Podemos olhar para esta máxima do ponto de vista do conhecimento que temos hoje sobre probabilidades. Sejam A e B dois acontecimentos, a probabilidade de A dado B é dada por:


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Assim, se A for o milagre, e B for a existência do conjunto de evidências que temos para esse milagre (testemunhos, etc.) podemos encarar B como a união do conjunto dos diferentes acontecimentos possíveis que poderiam dar origem a essas evidências – a autenticidade do milagre (A), a falsidade dos testemunhos, equívoco, ou outras, a que chamaremos C. Tendo em conta que são conjuntos disjuntos, e que a intersecção de dois conjuntos não pode ser superior a qualquer deles, a expressão anterior implica:


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Aqui temos: se a falsidade das evidências for mais miraculosa que o milagre que se pretende estabelecer (P(C) < P(A)), é razoável acreditar que o milagre ocorreu (P(A|B) > 0.5). Mas se acontece o contrário, não faz sentido acreditar que o milagre tenha ocorrido (P(~A|B)>0.5).

Um exemplo ilustrativo: o Gustavo, grande amigo meu, diz que morreu e passados dois dias ressuscitou, e descreve a experiência em grande detalhe, com enorme seriedade. O acontecimento A é a ressurreição do Gustavo, o acontecimento B é o seu testemunho. Para simplificar, vamos supor neste caso que não existe nenhuma outra explicação para o seu testemunho além da autenticidade do milagre e da mentira deliberada (não é possível que seja um equívoco, etc..). Como o Gustavo é extremamente honesto, eu diria que a probabilidade dele mentir é uma num milhão (P(C)=0.000001). Ninguém discordará que a probabilidade de alguém ressuscitar passados dois dias é muito inferior a um em mil milhões (P(A)<0.000000001). Assim, qual é a probabilidade de que o milagre descrito pelo Gustavo seja autêntico? É inferior a um em 1000 - aquilo que é muito mais plausível é que Gustavo, apesar da sua honestidade, esteja a mentir deliberadamente (P(C|B)>0.999).

E se considerarmos que é possível que Gustavo esteja equivocado? Como a sua descrição parece detalhada, e a sua convicção inabalável, parece difícil imaginar que tal equívoco seja possível, mas isso é ignorância sobre a natureza humana, equívocos deste tipo acontecem a pessoas saudáveis com mais frequência do que imaginaríamos. Suponhamos que a probabilidade de equívoco a priori é de um em dez mil (P(D)=0.0001). Neste caso, temos que a probabilidade de que Gustavo esteja equivocado (P(D|B)) é cerca de 99%. Neste caso a probabilidade de mentira deliberada (P(C|B)) passa a ser próxima de 1%. Por fim, considerando a possibilidade de equívoco nestes moldes, a probabilidade do milagre ser autêntico (P(A|B)) passa a ser ainda menor (inferior a um em cem mil).

Como é natural, no que diz respeito a milagres que implicam violação das leis naturais, a sua probabilidade a priori é extremamente reduzida, pois de outra forma tais leis não teriam sido estabelecidas. Assim, para que fosse razoável acreditar neles face às evidências disponíveis seria necessário que a autenticidade destas merecesse mais crédito que as próprias leis naturais que teriam sido violadas – o que é manifestamente difícil…

Já no que diz respeito a milagres que não implicam violação das leis naturais, creio que o próprio conceito é absurdo. No próximo texto sobre este assunto procurarei explicar porquê.

22 de Junho, 2011 João Vasco Gama

Razões para não acreditar

Alguns deístas apresentam Deus como uma abstracção infalsificável.
No que diz respeito a tal abstracção, tenho boas razões para nela não acreditar, com esta exposta por Bertrand Russel:

«Da minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá de porcelana girando em torno do Sol numa órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, sendo que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos.
Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com toda a razão pensariam que estou a dizer tolices.
»

Não obstante, no que diz respeito a várias religiões teístas, em particular o cristianismo, tenho razões muito mais fortes não acreditar nas alegações feitas – a sua própria inconsistência interna, a incoerência entre as várias alegações associadas a cada uma destas religiões.

O video que se segue explica de forma muito clara e competente algumas das principais.
Tive muito prazer em vê-lo e quero por isso partilha-lo com todos:

Texto também publicado no Esquerda Republicana.

4 de Janeiro, 2011 João Vasco Gama

Mudar de opinião

Uma pessoa de mente aberta deve condicionar a sua opinião às evidências e aos factos.

Quando acreditamos que um facto é verdadeiro sabemos que essa crença poderia ser alterada perante evidências em contrário.

Este princípio deve aplicar-se a tudo, e eu aplico-o também à minha crença de que Deus não existe. Existem várias coisas que, a acontecerem, fariam mudar a minha opinião a respeito da existência de Deus. Mesmo do Deus cristão.

Jesus podia aparecer, como teria aparecido aos discípulos, mostrar as chagas e tudo o mais. Ou poderia aparecer na ONU e fazer milagres que seriam escrutinados por todo o mundo. A oração poderia ser capaz de fazer crescer braços e pernas naqueles que as perderam, ou pelo menos nos mais devotos entre eles. Ou numa mesma noite toda a gente, em todo o mundo, poderia ser visitada por um anjo que esclarecesse qual a forma mais correcta de interpretar a Bíblia, evitando assim tantos equívocos entre aqueles que querem seguir o caminho de Jesus. Enfim, as possibilidades são imensas.

E um cristão? E outro crente religioso não cristão? Que factos ou acontecimentos o fariam concluir que afinal Deus não existe?
Se não existirem nenhuns, então a pessoa não tem a mente aberta em relação a esta crença.