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Etiqueta: Biblia

30 de Dezembro, 2024 Ernesto Martins

Ama o teu próximo…

No artigo “Sobre a Igualdade”, aqui publicado a 22 de Dezembro, o seu autor e estimado colega de blog Onofre Varela refere-se à promoção da “igualdade entre os homens” como uma das grandes ideias que conduziu o Cristianismo ao triunfo histórico que lhe conhecemos. O conceito cristão de igualdade é aparentemente proposto, na sua origem, no Velho Testamento, em Levítico 19:18, onde se lê “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou Javé”. É um dos versículos mais apregoados da Bíblia que me trouxe de imediato à memória um controverso e muito citado artigo de John Hartung [1].

De acordo com este antropólogo norte-americano, a passagem bíblica não se refere, contudo, a todos os membros da espécie homo sapiens mas sim aos “filhos do teu povo”, ou seja, aos membros do mesmo grupo étnico – os judeus. Se costumamos admitir que o “próximo” é o ser humano em geral, isso deve-se apenas ao facto de termos interiorizado há muito os valores humanistas do Iluminismo.
A interpretação de Hartung torna-se clara se atendermos ao contexto em que surge. Segundo o relato bíblico [2], quando receberam a lei divina os Israelitas estavam isolados no deserto. Viviam em tendas, em famílias alargadas, isolados e sem contacto com povos amigáveis. Discórdias e lutas internas eram frequentes, resultando por vezes em baixas na casa dos milhares (Êxodo 32:26). Desesperados, alguns queriam voltar para o Egipto mas Moisés consegue manter a coesão e seguir em frente (Números 14:4). Num cenário como este, faz todo o sentido – particularmente do ponto de vista evolutivo – que a preocupação de todos se limitasse ao circulo restrito da comunidade. Alargar o decreto de “amar o próximo” a povos inimigos como os Medianitas, os Moabitas, Amoritas, Edomitas, Hititas e Jebuseus seria o mais insano dos suicídios e, por conseguinte, devia estar fora da cogitação de Moisés quando supostamente recebeu a directiva do seu deus.
No mesmo artigo Hartung conclui também que o primeiro dos 10 mandamentos (Deuteronómio 5:17-21), “Não matarás”, não tem o âmbito universal que normalmente se lhe atribui. Na sua origem refere-se estritamente e apenas a judeus, entendimento este que é atestado pelos tratados do judaísmo rabínico registados na Mishná, e confirmado pelos comentários do reverenciado Maimónides, usualmente aceites como autoritários nestas matérias.
Este carácter restrito da proibição “Não matarás”, aplicável apenas quando a vitima pertence ao “Povo de Deus”, é, na verdade, assumido na prática nas narrativas do Velho Testamento, a julgar pelas várias campanhas de limpeza étnica contra todos os povos que adoram outros deuses que não Javé.
Em “The Moral Arc” [3] Michael Shermer chama a atenção para outro caso semelhante. Desta vez a passagem bíblica em causa é um excerto da epístola de Paulo aos Gálatas: “Já não há diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vós sois um só em Jesus Cristo” (Gálatas, 3:8). Para alguns comentadores, e talvez na mente de muitos crentes, este versículo encerra uma declaração inequívoca da igualdade entre todos os seres humanos.
Mas uma leitura atenta de todo o capítulo 3 da carta mostra que, na verdade, segundo Paulo, o que tinha alcance universal era a salvação em Cristo. Ou seja, todos eram iguais em Cristo e, nomeadamente, os não judeus não tinham de se circuncidar para serem aceites no reino dos céus. Paulo garante, portanto, que todos serão iguais no reino que está para vir, ou seja, no outro mundo. Mas nada sugere que ele se referia à igualdade de direitos neste mundo. Os escravos continuariam escravos e as mulheres continuariam a ser vistas como propriedade. Quem quer que fosse teria um lugar guardado no Paraíso, mas até lá estaria à mercê dos abusos costumeiros da sua própria cultura e Paulo não parece incomodado com isso. Se esta passagem do Novo Testamento nos parece conter algum tipo de sentimento de igualdade humanista isso deve-se apenas à projecção que fazemos dos nossos próprios valores.
Em suma, a Bíblia é, na sua maior parte, um modelo de moralidade intra-grupo, e, na sua origem, o Cristianismo esteve sempre longe de incluir “todos, todos, todos”[4] no seu circulo de consideração moral. O que não é propriamente de surpreender dado que partilha, com várias outras religiões, uma essência tribal, funcionando com regras que visam a comunidade e não a humanidade em geral, e que vincam as diferenças entre os que estão dentro do grupo e os que estão fora do grupo (os pagãos, os hereges, os descrentes).
Na sua história de vinte séculos, a versão católica do cristianismo viu-se arrastada pelo Iluminismo no seu tortuoso caminho até à modernidade, mas sempre com as unhas cravadas no passado. A moderação que eventualmente operou em algumas das suas práticas e doutrinas foi lenta e penosa, e muitas vezes só aconteceu em resposta a pressões seculares.

EVM


Notas:
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[1] Hartung, John; “Love Thy Neighbor”: The Evolution of In-Group Morality”, Skeptic, 3, nº4, pp. 86-99, 1995. Também disponível no site do autor, num texto em permanente actualização:
http://www.strugglesforexistence.com/politics/love-thy-neighbor-the-evolution-of-in-group-morality/#to_2
[2] Aqui faço a concessão de considerar o relato bíblico como histórico, embora as evidências nesse sentido sejam virtualmente inexistentes.
[3] Shermer, Michael; “The Moral Arc”, Henry Holt, 2015.
[4] As célebres palavras do Papa Francisco proferidas durante a JMJ 2024, em Lisboa.

19 de Dezembro, 2024 Ernesto Martins

Equívocos natalícios, Parte 2/2

O nascimento virginal é, provavelmente, o aspecto crucial da natividade de Jesus Cristo.
Estranhamente, é também um conceito sem paralelo na Bíblia Hebraica e na literatura judaica pós bíblica, onde os nascimentos extraordinários ou ocorrem com mulheres que já ultrapassaram a idade reprodutiva, ou são fruto de uniões entre anjos e mulheres humanas, semelhantes às dos mitos greco-romanos. No entanto, estes nascimentos nunca implicam a conservação do estado de virgindade.
A história da antiguidade é rica em figuras com suposta origem divina. Considerando apenas as celebridades que viveram perto do tempo de Jesus, podemos citar, por exemplo, Platão, o gigante da filosofia que se acreditava ser filho de uma mulher e do deus Apolo; Alexandre o Grande, que tinha fama de ser o produto de uma aventura entre a sua mãe e Zeus; Apolónio de Tiana, profeta venerado pelas suas curas milagrosas e ressurreições de mortos, também ele resultado de uma investida de Zeus sobre uma donzela mortal; e César Augusto, que também teve créditos de paternidade divina. No fundo, trata-se de lendas que nos dão uma ideia do contexto mental dos gentios helénicos da época e que são, portanto, importantes para a compreensão histórica dos evangelhos.


Para sustentar a ideia do nascimento em estado virgem, Mateus cita a profecia de Isaías (7:14). Contudo, já há muito que se sabe que o original desta passagem não se refere a uma virgem, nem a qualquer tipo de concepção miraculosa. O equívoco acontece, porque o autor de Mateus cita a profecia de Isaías segundo a versão grega da Bíblia Hebraica (a Septuaginta), que contém vários erros de tradução. Um desses erros ocorre exactamente neste versículo de Isaías: enquanto o original hebraico refere uma ‘mulher jovem’ que irá conceber, a tradução grega refere uma ‘virgem’.
Baseando-se portanto em Isaías (7:14), o autor de Mateus pretende demonstrar que Jesus é o Messias previsto pelas escrituras. O equívoco fornecido pelo erro de tradução motiva-lhe a criação da história do nascimento virginal, uma fórmula que permite colocar Jesus acima de todas as figuras divinas do paganismo. A mensagem de Mateus é clara: Jesus não nasceu meramente de um deus, como Platão ou Apolónio de Tiana; Jesus é ainda mais divino – o seu nascimento foi ainda mais miraculoso: foi virginal.
O aspecto curioso a reter aqui é que a ideia da concepção virginal resulta de uma extrapolação da Septuaginta. Se, por acaso, Mateus tivesse usado a Bíblia Hebraica e não a sua versão (errada) em grego, é muito provável que a ideia da concepção e nascimento virginal – um dos mais importantes dogmas da Igreja Católica – nunca tivesse surgido no seu evangelho. Eis a frágil natureza do alicerce dogmático.
Estranhamente, apesar de ser consensual entre os especialistas que o original de Isaías (7:14) não fala em ‘virgem’, o Catecismo oficial da Igreja insiste em citar, no seu artigo §497, essa passagem do Antigo Testamento com a palavra ‘virgem’. O artigo §498 “rejeita que a concepção virginal seja uma lenda ou apenas uma construção teológica sem pretensão histórica”. Isto quando a mais básica das avaliações históricas parece indicar exactamente o contrário, ou seja, que estamos perante um caso de pura invenção. Mas é assim mesmo que funciona a crença baseada na fé, esse substituto pobre da razão, que tem precedência sempre que as evidências e o pensamento crítico teimam em não corroborar as doutrinas desejadas.
A história da natividade relatada por Mateus assenta como uma luva no imaginário dos gentios e judeus helenizados do Cristianismo primitivo, a quem este evangelho foi inicialmente transmitido.
Segundo Geza Vermes [1], os elementos sobre o nascimento virginal fazem mais sentido se entendidos como um desenvolvimento posterior, uma espécie de prólogo propagandista para consumo de pagãos, que surge só na fase em que a história é transmitida em grego. Antes desta fase, ou seja na tradição pré-evangélica, Jesus seria identificado como o Messias davídico a quem era reconhecida uma relação especial com Deus, mas é pouco provável que se considerasse que era filho de mãe virgem.
Essa é também a opinião de Bart Ehrman [2]: nas tradições anteriores ao Novo Testamento, Jesus era visto pelos seus seguidores como um ser humano (não divino) que tinha sido adoptado por Deus como seu filho. A ideia da concepção virginal não fazia parte do quadro de crenças e era mesmo activamente rejeitada pelos Ebionitas, um dos grupos cristãos primitivos de que há registo, que partilhavam este ponto de vista que os académicos designam por adopcionismo. O facto do evangelho mais antigo (o de Marcos) não fazer qualquer referência à concepção virginal de Jesus reforça esta perspectiva.
A perspectiva adopcionista está em perfeita sintonia com aquilo que sabemos da antiga Mesopotâmia e da Babilónia, em que a divindade titular adoptava o rei como seu filho, conferindo-lhe poder. Este mito encontra reflexo em algumas passagens do Antigo Testamento e era com base neste tipo de filiação simbólica que os primeiros cristãos judeus atribuíam a Jesus o título de Filho de Deus. Segundo Randal Helmes[3], esta filiação nunca foi verdadeiramente compreendida pelos cristãos gentios, os quais, vindos de um ambiente pagão, conheciam unicamente a concepção divina de heróis, em que a divindade era literalmente o pai dessa figura. É, pois, com a transmissão do evangelho junto destes cristãos não judeus que surge, fruto dum processo de sincretismo, a história da concepção divina de Jesus. O erro na tradução grega do Antigo Testamento fornece o motivo adicional para a criação do mistério da concepção e nascimento em estado virgem, reforçando-se assim a imagem de um Jesus literalmente filho de Deus e literalmente divino. Negar a influência do pensamento pagão na génese dos mitos cristãos, como o faz reiteradamente a Igreja no seu Catecismo, é não só intelectualmente desonesto, como um sinal claro da irracionalidade da fé.
A terminar, uma última questão que não se relaciona com a Natividade, mas que vem no seguimento do tema anterior: a virgindade perpétua de Maria.
Na opinião de muitos académicos, é um engano supor que os evangelhos sustentam a ideia de que Maria se tenha mantido virgem até à morte. Trata-se de mais uma invenção da Igreja. Segundo Vermes e James Tabor [4], o dogma da virgindade perpétua não é detectável em passo algum do Novo Testamento, nem faz parte de nenhuma das crenças mais antigas dos primeiros cristãos. A maior parte dos escritos cristãos datados de antes do final do séc. IV EC, aceitavam sem reservas a ideia de que os irmãos e irmãs de Jesus eram filhos nascidos de modo natural de José e Maria. A noção da “virgindade real e perpétua”, referida no artigo §499 do Catecismo da Igreja, não passa pois de um produto da imaginação fértil dos pensadores cristãos, obcecados com a ideia do sexo como veículo primordial de transmissão do pecado original.
EVM

Notas:
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[1] Vermes, Geza; “The Nativity: History and Legend”, London, Penguin 2006.
[2] Ehrman, Bart D.; “The Orthodox Corruption of Scripture: The Effect of Early Christological Controversies on the Text of the New Testament”, HarperCollins, 2011.
[3] Helmes, Randal; “Gospel Fictions”, Prometheus, 1989.
[4] Tabor, James; “The Jesus Dynasty: The Hidden History of Jesus, His Royal Family and the Birth of Christianity”, Simon & Schuster, 2007.

15 de Dezembro, 2024 Ernesto Martins

Equívocos natalícios, Parte 1/2

O Natal já não é como antigamente. Contudo, o motivo original da celebração – o nascimento do Messias da Cristandade – permanece ainda no subconsciente colectivo. Ainda temos presentes os traços gerais da narrativa da natividade de Jesus, que nos foi transmitida na infância, como um acontecimento bastante concreto e real, ocorrido há pouco mais de dois milénios, de onde derivam aspectos importantes do corpo doutrinal da Igreja Católica Apostólica Romana.
Mas, afinal, o que vem a ser esta história extraordinária, feita de anunciações angelicais, nascimento virginal, reis magos, perseguição e fuga para o Egipto? Será este um conto assim tão singular? Até que ponto é que o drama por detrás da festa natalícia corresponde à verdade histórica?
Segundo a visão defendida pela maioria dos historiadores do cristianismo primitivo, o mais provável é que tudo não passe de pura ficção – produto de imaginações férteis e esperanças religiosas a actuar na adaptação de mitos pagãos populares.

Dos quatro evangelhos da Bíblia, apenas os de Mateus e Lucas mencionam as circunstâncias do nascimento de Jesus. Segundo Geza Vermes [1], a explicação para esta singularidade é que estes foram evangelhos particularmente dirigidos a uma audiência de pagãos, ou seja, gente para quem era importante não só a génese de Jesus, como a sua compreensão em termos identificáveis com a sua própria mitologia.
Mas o mais curioso é que as narrativas de Mateus e Lucas são incompatíveis em quase todos os aspectos. Sem exagero, pode mesmo dizer-se que os evangelistas relatam duas histórias completamente distintas. Se a história tradicional de Natal não nos é familiar no formato de duas versões independentes, isso deve-se à relutância que a Igreja sempre demonstrou em reconhecer abertamente discrepâncias nos seus textos sagrados.
Vejamos, então, em que diferem os relatos da natividade preservados nestes dois evangelhos. A perseguição de Herodes, a consequente fuga da família sagrada para o Egipto e o massacre das crianças em Belém só figuram na narrativa de Mateus. Apesar de todo o dramatismo deste episódio, Lucas nem se refere a ele. Em lugar disso, diz-nos que José e Maria se vêem forçados a viajar de Nazaré para Belém por causa de um censo, sendo por essa altura que nasce Jesus.
Além de discordantes, as duas narrativas levantam sérias dificuldades históricas. O massacre dos inocentes descrito em Mateus não é referido por nenhum historiador da época, como Nicolau de Damasco e Filo de Alexandria. Mesmo Flávio Josefo, que dedicou capítulos inteiros às muitas atrocidades perpetradas por Herodes, não nos diz nada sobre o assunto, pelo que o mais certo é que tal nunca tenha sucedido.
A efabulação da narrativa de Lucas ainda é mais fácil de detectar, uma vez que este situa o nascimento de Jesus por altura dum censo decretado por César Augusto e conduzido por Quirino. Ora, sabemos, por Josefo e outras fontes, que este censo teve lugar no ano 6 EC, isto é, 10 anos após a morte de Herodes. Portanto, se confiarmos em Lucas, concluímos que Jesus nasceu a 6 EC, o que contradiz a datação de Mateus de 4 AEC.
Além disso, segundo Lucas, José é obrigado a ir a Belém para se recensear, porque era descendente do rei David – que viveu cerca de mil anos antes. Ora, não é simplesmente credível que populações inteiras tivessem de se deslocar até ao local da sua linhagem ancestral de há um milénio. Certamente que a maior parte das pessoas não saberia para onde ir! Além disso, sabemos hoje que, naquele tempo, os censos não funcionavam assim.
Por que teria então Lucas inventado esta história? Porque, para Lucas, era de crucial importância colocar o nascimento de Jesus em Belém, indo assim de encontro à profecia de Miqueias (5:1), que apontava essa localidade como origem do Messias. Desta forma, os seus leitores não teriam dúvidas de que Jesus era o Messias, ficando ao mesmo tempo com a impressão de que uma antiga profecia se tinha confirmado. Mateus, por sua vez, não tem de recorrer a nenhum artifício para situar o nascimento do salvador em Belém, pois a sua narrativa já parte com o casal Maria e José a residir aí. Contudo, o argumento usado para desviar a família sagrada para Nazaré, após o regresso do Egipto, é também pouco convincente.
Mas há ainda mais diferenças relevantes a assinalar entre os dois evangelhos. Toda a narrativa de Lucas sugere um cenário simples e humilde. Jesus nasce num estábulo e é visitado apenas por um conjunto de pastores anónimos. E não há mais nada em Lucas. Pelo contrário, em Mateus, tudo é grandioso. Aqui o Messias nasce numa casa (e não num abrigo de animais), é anunciado por uma estrela e é visitado por magos do Oriente (que, já agora, nem são reis, nem são necessariamente três). Isto torna evidente que os dois evangelistas tinham de facto entendimentos muito diferentes sobre o Messias, razão pela qual não faz grande sentido misturar os elementos das duas narrativas, como é da tradição. Quando as duas histórias são combinadas, as mensagens individuais perdem-se irremediavelmente. Nas palavras do académico Bart Ehrman [2], o resultado que se obtém não é um quadro completo e mais detalhado dos acontecimentos, como quase sempre se julga, mas antes uma terceira versão da história.
A estrela é outro dos pormenores importantes na narrativa de Mateus. O sinal dos céus é algo recorrente na mitologia da Antiguidade como forma de assinalar o nascimento de alguém capaz de alterar o curso da humanidade. Uma nova estrela surgiu nos céus quando Abraão nasceu. O nascimento de Alexandre o Grande também foi marcado pela observação de uma nova estrela. O mesmo aconteceu quando nasceu César Augusto. Mateus não faz mais do que alimentar a tradição, inventando mais uma estrela e engrandecendo assim o nascimento do Messias à escala das figuras mais eminentes. O mesmo se passa com a homenagem prestada pelos magos, que também surge nas narrativas de outros autores relativas a diferentes personagens históricas. Plínio, por exemplo, menciona a homenagem de magos feita perante Nero. Suetónio faz referência a um mago que proclama o nascimento do Senhor do mundo, aquando do nascimento de Octávio.
O nascimento virginal é talvez o aspecto crucial da natividade de Jesus, mas esse é um tema que deixamos para a segunda parte deste artigo.

EVM

Notas:
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[1] Vermes, Geza; “The Nativity: History and Legend”, London, Penguin 2006.
[2] Ehrman, Bart D.; “Jesus, Interrupted: Revealing the Hidden Contradictions in the Bible (And Why We Don’t Know About Them)”, HarperCollins, 2009.