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9 de Junho, 2018 Luís Grave Rodrigues

A tradição judaico-cristã

A Tradição Judaico-Cristã

Foi à procura do verdadeiro significado dessa tal tradição tão portuguesa que é a «judaico-cristã», que fui descobrir (in «Diário da História de Portugal», de José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra) alguns relatos de acusações e prisões feitas pela Santa Inquisição em Portugal, entre os anos de 1553 a 1557, tudo devidamente registado.

As acusações e o clima de terror e de medo que deixam adivinhar na sociedade portuguesa da época, revelarão também, certamente, essa mesma «tradição judaico-cristã».
Eis alguns desses relatos:

– 20 de Setembro de 1553: António Correia denunciou Duarte Fernandes por não comer toucinho:
– 12 de Janeiro de 1554: Diogo Antunes, estudante dos jesuítas, disse que foi a casa de um calceteiro e que este tinha na parede uma estampa com um santinho com teias de aranha;
– 23 de Janeiro de 1554: Compareceu Gomes de Leão, que denunciou o licenciado António Gonçalves, que disse que gostava mais de forcas que de crucifixos;
– 6 de Junho de 1554: Compareceu Paula Gomes que denunciou o marido Pedro Gonçalves, que disse que não sabia se havia Cristo;
– 18 de Junho de 1554: Compareceu o ourives Pedro Rodrigues por ter dito que certas mulheres iam à romaria da Senhora da Luz menos por devoção do que por poucas vergonhas;
– 31 de Janeiro de 1555: Compareceu Baltazar Gomes, ourives, que denunciou um flamengo que não tirou o barrete quando passava diante da cruz;
– 9 de Março de 1555: O padre Luís Neto, capelão da Sé, acusou um inglês chamado Ricardo, que disse que o Papa canonizava os santos por dinheiro;
– 9 de Setembro de 1555: João de Paris, relojoeiro francês, denunciou o inglês Marcos, mestre da Nau, que disse que não era preciso rezar aos santos, bastava fazê-lo a Deus;
– 17 de Setembro de 1556: Graça Dória denunciou Mécia Vaz por dizer que no mundo só há nascer e morrer;
– 21 de Janeiro de 1556: André Pires, padre de Sarzedas, denunciou António Rodrigues por ter dito que Nossa Senhora era judia;
– 16 de Fevereiro de 1556: O jesuíta João Dício acusou o flamengo Reiner, lapidador de pedras, por ter dito que era mais virtuosa a vida dos casados que a dos religiosos;
– 26 de Março de 1556: Ascenso Fernandes, denunciou Pedro de Loreto, carpinteiro francês, por comer carne à sexta-feira;
– 22 e Abril de 1556: Francisco Gonçalves denunciou Rodrigues Álvares, escrivão, por vestir aos sábados pelote, calça preta, boas botas e roupão esverdeado, com pesponto de seda e alamares, ao passo que nos dias santos traz só gabão de mangas curtas;
– 10 de Julho de 1556: Fernando Afonso denunciou dois hereges de Ponte de Lima, que disseram que a hóstia era apenas pão;
– 4 de Agosto de 1556: Francisco Dias denunciou a mulher, dizendo que era judia;
– 11 de Janeiro de 1557: Gonçalo Pereira denunciou o mouro Cosme, de Sesimbra, por ter dito que Nossa Senhora não era virgem;
– 30 de Abril de 1557: Manuel Borges denunciou António Gonçalves por ter dito que dormir com uma mulher não era mal nenhum;
– 4 de Agosto de 1557: O licenciado Garcia Mendes de Abreu acusou um cristão-novo de dizer sobre a virgindade de Nossa Senhora o seguinte: «como é que se pode tirar a gema ao ovo sem o quebrar?»;
– 29 de Setembro de 1557: Compareceu Gomes de Abreu e disse o seguinte: «quando há dois anos a nau S. Bento vinha da Índia e naufragou, deram à costa do Natal e o denunciante disse “preze a Deus que me leve a terra de cristão para eu morrer lá”. E isto foi ouvido por Garcia de Cáceres, mercador de pedreiras, que respondeu: “para morrer, tanto faz cá como lá”».

Não há dúvida: a tradição é uma coisa muito bonita.
A tradição «judaico-cristã» principalmente…

8 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Duvido da bondade da medida

El Gobierno austriaco lanza una ofensiva contra el “islamismo político” y cerrará siete mezquitas

La coalición de conservadores y ultraderechistas amenaza con expulsar a decenas de imanes financiados por Turquía.
Madrid / Viena El Gobierno austriaco ha lanzado este viernes una ofensiva contra el “islamismo político” y ha anunciado el cierre de siete mezquitas acusadas de difundir ideas extremistas. El Ejecutivo se plantea, además, la deportación de hasta 60 imanes que reciben salarios desde Turquía, una decisión calificada por Ankara de “islamófoba” y “racista”.
8 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Coimbra – 2018 — A bênção das pastas

Não há evidência estatística que prove que a bênção das pastas traga benefícios aos estudantes ou abra a porta ao primeiro emprego.

Não há ensaios duplo-cegos que provem a correlação positiva entre a fé e a preparação académica, entre a eucaristia e o conhecimento científico, entre as orações e o domínio das sebentas.

Tirando o colorido fotográfico de um bispo paramentado a rigor e estudantes com vestes talares, não há nos borrifos de água benzida, arremessados a golpes de hissope, a mais leve suspeita de que a benta humidade conserve o coiro da pasta ou do portador.

Há, todavia, no circo da fé, genuína alegria, uma absoluta demissão do sentido crítico, a força poderosa do «porque sim», que impele os universitários de Coimbra para a missa na Sé Nova a pedir a bênção da pasta e a prometer que vão espalhar a felicidade.

Vão ao confesso dizer os «pecados» para que se preparam, segue-se a eucaristia antes da cerveja, despacham umas ave-marias e mergulham na estúrdia da semana de todos os excessos.

Deus é um aperitivo que a tradição manda, a festa é o ritual que o corpo e os sentidos exigem. O bispo leva Deus para o Paço episcopal enquanto os estudantes vão fazer a digestão da hóstia em hectolitros de cerveja ou acabar no banco do Hospital em coma, espécie de êxtase místico provocado por excesso alcoólico.

Até à data não há registo de qualquer lavagem gástrica por excesso de hóstias. Talvez a eucaristia tenha lugar no início dos festejos porque, no fim, não há estômago que ainda aguente.

Neste ano de 2018, houve um aumento da fé e vieram mais famílias do que era costume, a seguir a cerimónia fora do templo, através de um ecrã gigante. Os alunos começaram a festejar o fim do curso, de joelhos. Podem acabar de rastos.

5 de Junho, 2018 Luís Grave Rodrigues

Ironia

ironia | s. f.
i·ro·ni·a
(latim ironia, -ae, do grego eironeía, -as, dissimulação, ignorância)

5 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Sobre a eutanásia e as religiões

Por

Alfredo Barroso*

2) E as religiões, ai as religiões?! Juntaram-se uma porção delas numa “santa aliança” em defesa da vida, contra a morte assistida, afirmando que todos os que a praticam são criminosos e devem ser punidos. Todavia, quantas guerras santas, quantas carnificinas, quantos massacres, quantos banhos de sangue, quantos genocídios têm sido praticados por elas ou em nome delas ao longo da história da humanidade (HH, como Heinrich Himmler) e se prolongam, desgraçadamente, até aos nossos dias, sempre em nome duma verdade absoluta que querem fazer-nos crer que é a única, mas que difere conforme a religião que a reivindica?!

Por exemplo, há a verdade dos católicos de rito romano, assim como a dos católicos de rito bizantino, e a dos ortodoxos, e a dos protestantes, e a dos judeus, e a dos muçulmanos (e é óbvio que estou a esquecer-me de várias outras verdades), que a proclamam – como diria Camilo – com um grande “charivari de trompões fortes” e armas assassinas. Sabem o que disse o cristão renascido George W. Bush a propósito das invasões do Afeganistão e do Iraque? Eu cito: “Deus disse-me para ir para a guerra contra o Afeganistão e contra o Iraque!” E sabem o que disse Tony Blair, cristão subitamente fervoroso?

Eu cito: “Rezei a Deus quando tive de decidir se devia ou não enviar tropas do Reino Unido para invadir o Iraque!” Digo-lhes que fizeram os dois um lindo serviço, aparentemente decidido na cimeira-fantoche dos Açores, sob os auspícios da vergonhosa aliança política ibérica entre Durão Barroso e José María Aznar. Tudo gente que é contra a eutanásia, a interrupção voluntária da gravidez, a fornicação fora do casamento, o adultério da mulher mas não o do marido, e outros “sacrilégios” previstos, por exemplo, no catecismo da Igreja Católica – mas não hesitam em massacrar com bombas de “último modelo” milhares de civis inocentes (velhos, mulheres e crianças, como se costuma dizer) e em humilhar e torturar prisioneiros em prisões clandestinas situadas em países aliados, regra geral submetidos a regimes ditatoriais.

E já nem falo, por exemplo, das decapitações que se praticam na Arábia Saudita e pelo Daesh.

Eutanásia uma ova, Deus não quer! Assassínios, massacres, decapitações, isso sim, que se lixe Deus! E quantos não terão implorado o golpe de misericórdia nos campos de batalha ou nas cidades bombardeadas, conseguindo desse modo uma “morte assistida” praticada pelos soldados de Deus – tanto os das cruzadas cristãs como os da jihad islâmica. Meu Deus, meu Deus, porque os abandonaste? De facto, se Ele existe, parece que assiste a tudo isto impávido e sereno…

  • Político, escritor, jornalista, ex-governante, jurista.
4 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Laicidade

O niqab e da burka, proibidos em França desde 2010, em lei que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou não contrária à Convenção Europeia dos Direitos Humanos, foram agora, em 31 de maio, igualmente proibidos em locais públicos, pelo parlamento dinamarquês, por uma lei aprovada com 75 votos a favor e 30 contra.

A Dinamarca, que acaba de juntar-se a outros países europeus, teve a reação adversa da Amnistia Internacional à aprovação da proposta de lei, afirmando que a medida é uma violação ao direito das mulheres.

É difícil fugir das nossas próprias contradições e exonerar das tomadas de posição todos os preconceitos. Neste caso, agora, como no passado, apoio a posição dinamarquesa e discordo da AI, convencido de que a referida lei defende a liberdade.

Contrariamente a muitos dos meus amigos e leitores, não sou apenas contra a exibição dos adereços pios de natureza islâmica, sou igualmente contra a exposição das vestes de freiras, padres, bispos, frades, etc., em espaços públicos onde apenas as fardas militares, policiais ou de bombeiros devem ser as exceções e, eventualmente, músicos das bandas. Não aos médicos e enfermeiros de bata, advogados de toga ou juízes de beca.

Ignoram muitos, ao que parece a própria Amnistia Internacional, que, por cada mulher que deseja usar o niqab ou a burka, há dezenas constrangidas a fazê-lo, incitadas pelos maridos, muitas vezes com fins provocatórios. O vestuário religioso não é um adereço da moda, é apanágio de sociedades tribais que subjugam e humilham a mulher.

Discordo dos juramentos para cargos públicos sobre livros ditos sagrados, e defendo a liberdade de ordenação de padres ou a sagração de bispos, que os torna funcionários de um Estado estrangeiro, sem obrigação de jurarem a Constituição da República. Respeito a liberdade religiosa.

A razão por que as repartições públicas não devem ostentar símbolos religiosos é a que permite celebrar nos templos a liturgia, sem bandeira nacional ou foto do PR, e encerrar os ritos sem o hino nacional. É a separação do Estado e das Igrejas.

Enquanto os países não assimilarem que a laicidade é uma necessidade de sobrevivência civilizacional, a chantagem religiosa é uma espada de Dâmocles aguçada nas madrassas e sacristias.

Não tenho o monopólio da verdade, mas a necessidade da laicidade é a minha convicção mais profunda e consolidada. A neutralidade religiosa não permite chantagens pias nem subsídios do erário público às religiões.

Não venham com a limitação dos direitos das mulheres em países civilizados, perante as comunidades que os restringem. O Estado deve impor a vacinação e o ensino, e limitar o acesso à compra de armas, e o exercício desse direito não pode ser considerado como limitação das liberdades individuais.

Há quem invoque a liberdade para oprimir a mulher e esqueça que houve escravos que recusaram a liberdade, mas a abolição do esclavagismo foi um avanço civilizacional.

2 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Laicidade – Dar a César o que é de César

Pedro Sánchez tornou-se, neste sábado, primeiro-ministro de Espanha, numa cerimónia presidida pelo rei Felipe VI onde prescindiu da Bíblia e do crucifixo, num gesto inédito em 40 anos de Estado laico.

O que devia ser a regra de um Estado laico, foi um ato inédito carregado de simbolismo, três anos depois de, em 2 de junho de 2014, o primeiro-ministro Mariano Rajoy receber de Juan Carlos, rei de Espanha pela graça de Franco, a sua carta de abdicação.

Pode ser um ato que não frutifique ainda na Espanha que o genocida Franco legou com um rei que educou nas madrassas romanas do catolicismo, que abençoou os seus crimes, mas é um exemplo que fica a envergonhar quem se genuflita perante o clero ou oscule o anelão de um bispo.

Pedro Sánchez deu um exemplo de rara salubridade política transformando o Palácio da Zarzuela num símbolo do poder laico.

1 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Decisão dinamarquesa

Dinamarca proíbe uso de burqa ou niqab em locais públicos

A Amnistia Internacional já reagiu à aprovação da proposta de lei, afirmando que a medida é uma violação ao direito das mulheres.
Dinamarca proíbe uso de burqa ou niqab em locais públicos
Reuters

A Dinamarca juntou-se a vários países europeus e proibiu o uso de burqas ou niqabs (cobertura integral do corpo ou véu que tapa a cara, respectivamente) em locais públicos. Segundo a agência Reuters, citada pela Sábado, o parlamento dinamarquês aprovou esta quinta-feira uma proposta de lei com 75 votos a favor e 30 contra.

D1A – Só quem não sabe que, por cada mulher que deseja usar o símbolo religioso, há dez que são obrigadas, é que pode estar contra esta decisão.