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17 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Ontem, há 13 anos

Carta escrita há 13 anos. Mudaram os governos e os autarcas e a situação mantém-se.

Sr. Ministro de Estado e da Administração Interna
Dr. António Costa – Lisboa

Excelência:

Carlos Esperança, residente em Coimbra, eleitor n.º 1675, vem expor e solicitar o seguinte:

1 – Grassa na cidade de Coimbra uma onda de tal santidade que levou o presidente da Câmara, Carlos Encarnação, a baptizar a Ponte Europa com o nome de Rainha Santa Isabel;

2 – Uma procissão católica recente (creio que do Corpo de Deus) contou com a presença e terminou com uma homilia do dito autarca, temendo eu que, de futuro, em vez da gestão do Concelho, que lhe cabe, passe o pio edil a dedicar-se a tarefas religiosas e à salvação da alma;

3 – Nada tenho contra a presença particular nos actos litúrgicos mas vejo a laicidade do Estado ameaçada quando o autarca participa na qualidade das funções que exerce;

4 – Agora, a Junta de Freguesia passou a exibir um imenso painel na ampla parede que dá para a via pública com uma enorme imagem de Santo António e encimada com os seguintes dizeres: «António, cidadão de Coimbra». Ao fundo destacam-se as letras
garrafais de «Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais».

Em face do exposto, venho solicitar a V. Excelência, senhor ministro, o seguinte:

a) Que peça à diocese de Coimbra para colocar numa das paredes da Igreja de Santo António, sita no lado oposto do largo que a separa da Junta de Freguesia, um painel de dimensões equivalentes onde se leia: «Afonso Costa, Lente da Universidade de Coimbra», com a foto de igual tamanho à do santo.

b) Na impossibilidade de se prestar homenagem ao antigo primeiro-ministro nas paredes da Igreja, que seja mandado retirar o painel do Santo, da Junta de Freguesia, para evitar a promiscuidade entre a autarquia e a sacristia.

Certo de que o País não deve menos ao estadista do que ao Santo, confio no ministério da Administração Interna para exigir o respeito pela laicidade do Estado e preservar o pudor republicano.

Apresento-lhe respeitosos cumprimentos e saudações laicas e republicanas.

a) F…, 16_06_2005

16 de Junho, 2018 Carlos Esperança

A ditadura e o clero português

Há folhetos que valem dezenas de páginas de um compêndio, panfletos que se tornam o libelo acusatório de um regime e da cumplicidade que o perpetuou, papéis que ficaram a atestar uma época, um regime e a Igreja de que o ditador foi o produto.

Para os que esqueceram as rezas das missas pela longevidade dos governantes e orações pias de agradecimento aos próceres do fascismo, aqui fica um documento para gáudio dos democratas e vergonha dos fascistas.

 

15 de Junho, 2018 Carlos Esperança

O comércio das almas

O Paraíso não é um bar de alterne nem um lugar particularmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com o divino mestre e a servir bebidas ao Padre Eterno. Até o papa Francisco continua a criar santos como os oleiros das Caldas a fazer recordações.

Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabia-se de ciência certa, com aquela honestidade que se reconhece ao clero, que os não batizados eram destinados ao Limbo, um sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades como os que o Deus de Abraão criou como destino dos bem-aventurados ou das almas penadas. No entanto, num ápice, Bento 16 extinguiu o local e não se voltou a falar no destino das almas que ali se tinham amontoado.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, encarregados de tratar das almas e olhar pelo negócio, andam estarrecidos com a possibilidade do fim da perseguição criminal ás mulheres que interrompam a gravidez. Na última quarta-feira, na Argentina, o Parlamento votou a legalização da IVG, com os padres a ameaçarem com labaredas as mulheres que comentam tal pecado.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e os louvores ao Deus da zona de residência.

14 de Junho, 2018 Luís Grave Rodrigues

A vida virginal



 

“A vida virginal é a imagem da felicidade que nos espera no mundo que virá”

– S  Gregório

 

14 de Junho, 2018 Carlos Esperança

AAP na comunicação social

AAP – Comunicado sobre o nome da nova Ponte sobre o Douro

Ref.ª – Manoel de Oliveira

Além de vários blogues e páginas de Faceboock

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/associacao-ateista-portuguesa-quer-que-nova-ponte-sobre-o-douro-homenageie-manoel-de-oliveira

https://www.lusa.pt/article/24329982/associa%C3%A7%C3%A3o-ate%C3%ADsta-portuguesa-quer-que-nova-ponte-sobre-o-douro-homenageie-manoel-de-oliveira

https://www.facebook.com/dnoticiaspt/posts/1964251243594520

http://www.dnoticias.pt/pais/associacao-ateista-portuguesa-quer-que-nova-ponte-sobre-o-douro-homenageie-manoel-de-oliveira-AE3273534

https://observador.pt/2018/06/11/nova-ponte-no-porto-associacao-propoe-manoel-de-oliveira-em-vez-do-nome-do-antigo-bispo/

https://www.mundolusiada.com.br/cultura/associacao-quer-que-nova-ponte-sobre-o-douro-homenageie-manoel-de-oliveira/

13 de Junho, 2018 Carlos Esperança

A menina do cartaz e a eutanásia

Vera Guedes de Sousa é uma aluna de medicina que se tornou conhecida por empunhar o cartaz onde se exonera a inteligência e se apela ao medo. Pode vir a ser uma razoável médica, mas será uma medíocre cidadã e excelente rata de sacristia.

Quando um assunto tão sério, em que se trata da morte, não é discutido, e apenas serve para assustar os incautos, como outrora se aterrorizavam os crentes com as labaredas do Inferno, não estamos no domínio do racional, entramos no terrorismo psicológico.

É tão legítimo defender uma posição como a sua contrária, embora, no que diz respeito à eutanásia, se confronte um direito individual, que não obriga ninguém, com a decisão de quem impõe a todos a sua própria convicção.

O chumbo legislativo, em que pesaram mais os cálculos eleitorais e as guerras internas do ainda maior partido parlamentar, do que as convicções individuais, não extinguiu o problema nem tornou irreversível a solução.

Raras matérias são tão transversais a todo o espetro político e tão diversas as posições dentro de cada partido, e não se pode honestamente dizer que a eutanásia não tenha sido amplamente discutida nos órgãos de comunicação social, nas missas e na sociedade.

Os que negam o direito que, repito, não obriga quem quer que seja, hão de sempre dizer que o assunto não está suficientemente discutido ou assimilado, e confundir o direito à vida com a proibição de escolher a morte quando aquela se torna de todo insuportável.

Há sempre uma Vera, uma Isabel e um Aníbal à espera de fazerem prova de vida e de intolerância, mas a sociedade, cujos costumes evoluem, deixará os moços de recados a falar sozinhos enquanto os legisladores acautelam abusos e aceitam os direitos de quem nunca pensou passar pelo desespero de escolher “antes a morte do que tal vida”.

É o ruído das sacristias contra a voz da laicidade.