12 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança
Quando formos grandes…
Quando se levanta uma voz que contraria a tradição e a ordem estabelecida, originam-se reacções que vão desde o escândalo dos resistentes a novas ideias, até ao fascínio dos que aderem ao que é novo. Em todos os tempos as vanguardas começaram por ser repudiadas, depois toleradas, acabando por serem aceites. Lembremos Galileu Galilei e Giordano Bruno.
Galileu (1564-1642), astrónomo, construiu o primeiro telescópio e observou os astros. Concluiu que a Lua girava à volta da Terra, e esta rodava à volta do Sol. O conhecimento da sua época não era científico, mas religioso, e a Igreja garantia que o nosso planeta era o centro do mundo e que o Sol e a Lua rodavam à volta da Terra para nosso puro deleite, pois Deus assim quis e fez! Galileu foi condenado pela Santa Inquisição, e fingiu retratar-se, evitando ser morto na fogueira diabólica onde a Igreja adorava queimar aqueles que não diziam amen consigo. No tribunal, terá dito: “eppur si muove” (no entanto ela [a Lua, a Terra] move-se).
Giordano Bruno (1548-1600) foi monge e estudioso do Universo. Concluiu poder ser falsa a ideia (defendida pela Igreja) que só a Terra era habitada por vida inteligente, defendendo a hipótese da existência de muitos outros mundos habitados por gente como nós. Ao contrário de Galileu, não aceitou fazer uma retratação negando as suas ideias, e por isso foi condenado a morrer na fogueira. Os seus algozes foram mais longe. Depois de o amarrarem no poste, e antes de lançarem fogo à lenha que o rodeava, com um alicate puxaram-lhe a língua, pregando-a numa tábua para que não blasfemasse!…
Charles Darwin teve o mesmo problema com a Igreja quando concluiu aTeoria da Evolução, contrariando a Criação Divina. E embora já passassem cerca de 160 anos após a publicação do seu livro Origem das Espécies, ainda há quem defenda o conceito religioso da Criação contra a evidência científica da Evolução! E isto acontece assim porque oraciocínio da maioria do povo é amarrado ao ensino religioso desde criança, impedindo, ou dificultando, o entendimento científico. A sociedade é maioritariamente constituída por interesses supérfluos e serôdios, levando ao desinteresse pelas Ciências e pela Filosofia. Considerou-se ser mais importante jogar à bola do que ler um livro; exercitar a musculatura do corpo do que treinar o músculo do cérebro.Ter músculos esculpindo o corpo é a primeira escolha, porque se vê por fora. Vivemos a cultura do corpo esquecendo o espírito.
No campo destas considerações encontramos o Ateísmo que já faz um quarto da população mundial. Não é muito, mas está a crescer. Quando formos grandes… a maioria de nós dispensará a redutora ideia da fábula de Deus e dos santinhos.
(Onofre Varela in Gazeta de Paços de Ferreira, edição de 13 de Dezembro de 2018)