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28 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Os monoteísmos e a violência

As religiões provaram ao longo dos séculos a sua nocividade e falsidade, sobrevivendo através dos interesses instalados e de constrangimentos provocados. Os sistemas criados mantêm os povos na sujeição do clero e a intoxicação começa à nascença.

Os monoteísmos distinguiram-se pela sua intolerância e inquinaram as sociedades onde se consolidaram. Nem a modernidade os conseguiu implodir. De um livro da Idade do Bronze, o Antigo Testamento, de matriz hebraica, surgiu o judaísmo cujos seguidores residuais (cerca de 18 milhões) ainda creem na Conservatória do Registo Celeste, onde estará guardada a escritura que lhes garante direitos imprescritíveis sobre a Palestina.

Paulo de Tarso fez a única cisão bem conseguida do judaísmo, criando a primeira seita de vocação global, que o Imperador Constantino imporia com inaudita violência como a religião do Império Romano, a que serviu de cimento.

O catolicismo romano só viria a reconhecer a liberdade religiosa na década de sessenta do século XX, durante o Concílio Vaticano II. Nem o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa o conseguiram vergar.

No entanto, o mais implacável dos monoteísmos, o Islamismo, fez da cópia grosseira do cristianismo com laivos de judaísmo, um inflexível é totalitário código de conduta que se agrava com a decadência da civilização árabe mas mantém, no seu primarismo dos 5 pilares, um poder de sedução a que não são alheios radicalismos em certas idades e em várias fases da adolescência de indivíduos que vivem à margem dos valores humanistas que a Europa herdou do Iluminismo e da Revolução Francesa.

Se as democracias continuarem a abdicar da laicidade, única forma de conter o carácter prosélito dos dois últimos monoteísmos, em especial o Islão, ficam desarmadas contra os surtos terroristas de superstições à escala global, que se reclamam da vontade divina para imporem aos outros o que só têm direito de usar como crença doméstica.

O proselitismo é a mais nefasta nódoa das crenças e a laicidade o único antídoto para o conter.

26 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Ateu, graças a Deus

Há quem por graciosidade ou provocação goste de dizer aos que elegem a consciência como única fonte de valores, que são «ateus, graças a Deus».

E não é que têm razão? Deus é uma explicação por defeito para todas as dúvidas, uma boia para todos os naufrágios, um arrimo para todos os medos – especialmente, para a mãe de todos os medos –, o medo da morte.

Não fora a invenção desse ser imaginário, à semelhança dos homens que o criaram, não haveria necessidade do contraditório. Não há antítese sem tese, nem síntese sem ambas.

Os ateus não têm o direito de perseguir os crentes, tal como a estes não assiste o direito de molestar aqueles. Diferente é o combate de ideias, batalha que cabe aos crentes travar entre crenças ou contra o ateísmo e aos ateus contra as crenças.

É preciso ser destituído do mais leve resquício de humanismo para deixar sem combate a crença nas virgens que aguardam terroristas, os pregadores do ódio e os divulgadores da vontade divina que impõe normas de vestuário, tipos de alimentação e decapitações, por heresia, blasfémia ou apostasia.

A apostasia é um direito inalienável, seja em relação a um partido político, a uma crença religiosa ou a uma doutrina filosófica. Com que direito poderia um ateu perseguir quem, depois de o ter sido, optasse por ir a pé a Fátima, andar de rastos à volta de um ícone, ou intoxicar-se com incenso?

A blasfémia, que permanece no Código Penal português, é um anacronismo sem sentido. Um islamita não tolera uma caricatura de Maomé, um trecho de música ou o desprezo de Alá? Conforme-se, tal como os ateus quando escutam um cardeal a considerar o ateísmo como a maior tragédia da Humanidade.

Idiota, tolice grossa, é animar uma maratona pia, a peregrinação a Fátima “contra o ateísmo”, peregrinação de 13 de maio de 2008, chefiada pelo cardeal Saraiva Martins. Tinha esse direito, porque a peregrinação não foi contra os ateus, que são pessoas, foi contra uma ideia – o ateísmo –, mas revela um carácter belicista a lembrar as Cruzadas.

O livre-pensamento e a liberdade de expressão são mais importantes do que as crenças particulares. Ao Estado, cuja neutralidade é uma exigência democrática, cabe apenas defender a livre expressão de todas as crenças, por mais idiotas que sejam, desde vacas sagradas à transubstanciação das hóstias em corpo e sangue de um judeu defunto, sob o efeito de sinais cabalísticos executados por um clérigo ungido e com alvará.

Mais importante do que qualquer crença é a confiança na Humanidade e na capacidade desta para se transformar e melhorar. Nessa tarefa podem ateus e crentes dar-se as mãos.

24 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Desejo a tod@s um Feliz Solstício de Inverno

Quando os deuses e deusas eram criados à medida das necessidades humanas, eram bem mais diversificados na forma e na substância com que eram idealizados, e diferentes as latitudes e culturas da sua criação.

Foi na Idade de Bronze que patriarcas de tribos nómadas inventaram o deus único, para todas as angústias e medos, sonhos e pesadelos, amores e ódios, criado à sua imagem e semelhança, a exigir imolações bárbaras, para acabar resignado a orações e aos óbolos necessários para alimentar a multidão de funcionários que lhe preservaram a memória e a moldaram ao longo da História, ao sabor dos tempos.

Há dois mil e vinte e tal anos, em data ignorada e local diferente do que lhe atribuíram, foi registado na Palestina o único deus verdadeiro, à semelhança de deuses mais antigos, parido de mãe virgem, no solstício de inverno, judeu circuncidado, desembaraçado em pregações e milagres.

Quem diria que, da primeira cisão triunfante do judaísmo, do golpe de génio de Paulo de Tarso e da necessidade de Constantino unificar o Império Romano, nasceria um deus universal, o mais benigno ícone monoteísta dos dias atuais! São irrelevantes a genealogia do novo deus, os milagres que obrou e as parábolas que lhe atribuem.

Hoje, dia que lhe deram para nascer, é noite de esquecer tragédias e lembrar, no milagre do nascimento, o prodígio da vida, e fazer da alegria de um ágape a festa da família, e do primeiro dia do ano, no calendário gregoriano, o dia da Fraternidade Universal.

Feliz Solstício de Inverno e Bom Ano Novo, car@s amig@s, e exonerem a santidade da ceia de todos os pecados.

P. S. – Façam como eu, não agradeçam, vão para dentro e agasalhem-se, está um frio de rachar. E, por cada solstício de inverno, há outro, de verão, no hemisfério oposto.

23 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

O Natal de um ateu

Por

ONOFRE VARELA

Tenho sentido haver curiosidade, por parte de quem é religioso, em saber como é o Natal de um ateu. É uma curiosidade motivada pela ideia generalizada de que a sociedade está dividida emsegmentos. Há o segmento religioso, o segmento político e o segmento futebolístico… e pensa-se que em cada segmento as pessoas que os constituem funcionarão de modo diverso das outras…

Para satisfazer os curiosos vou, aqui, dizer tudo. Então, é assim: 

Como se sabe, religiosamente, sou ateu. Politicamente sou de Esquerda, e futebolisticamente… sou contra! Não gosto de futebol. Nunca joguei a bola nem entrei num campo de jogos, e não sigo campeonatos, nem pelos jornais, nem pela rádio ou televisão. 

O futebol que nos servem não é Desporto: é indústria alienante. É um coio que alimenta interesses económicos e financeiros, e quem permite que um jogador de futebol ganhe mais do que umoperário especializado, devia estar preso. 

Ronaldo ganha num mês (enquanto jogador, não como industrial de hotelaria) mais do que um operário português ganha em toda a sua vida de 50 anos de trabalho! Isto é pornográfico, é vergonhoso e devia constituir crime! 

Quanto ao Natal… é uma festa religiosa das sociedades cristãs. Cada cidadão é o resultado do meio social em que cresce, embora também seja dotado (felizmente) de um raciocínio próprio e único. A história política e religiosa do país que o acolhe, faz os alicerces da sua educação. 

Por isso eu sou ateu de origem cristã (se tivesse nascido no Afeganistão e continuasse ateu, sê-lo-ia de um modo diferente por ser islâmico… ou, se calhar, já teria sido executado!…).

Ninguém foge à sua História e às suas origens. O Natal e a Páscoa são festas religiosas do meio em que me insiro. Para mim a Páscoa nunca teve significado especial. No meu meio familiar sempre foi um Domingo como qualquer outro.

Já o Natal é a Festa da Família. É um dia em que se reúnem os familiares mais chegados, habitualmente separados por motivos profissionais, num jantar comunitário (designado por Consoada, palavra derivada do latim Consolata que quer dizer “refeição partilhada”) onde se sacrifica um bacalhau salgado, já sacrificado no Mar do Norte, regado com azeite de Trás-os-Montes e acompanhado de um bom vinho. Há sobremesas doces da época e distribuição de prendas por todos, especialmente pelas crianças. Findo o serão vou dormir até tarde, porque no dia seguinte é feriado e não tenho que levar a neta à escola.

Portanto, retirando o presépio, mais as missas e as orações dos Católicos (que nem todos as cumprem), o Natal de um ateu é igual ao Natal de um religioso!…

As datas religiosas da Igreja Católica, como Páscoa e Natal, têm a ver com a vida de Jesus Cristo enquanto ícone deífico dos cristãos… (não como personagem da História), e são ligadas à Natureza, aos Equinócios da Primavera e do Inverno. A vertente histórica de Jesus, faz parte de um outro livro, que não dos contos dos Evangelhos que são, apenas, registos de fé.

Toda a vida dos Seres Humanos é baseada, em primeiro lugar, na Natureza, e depois na sociedade e no seu folclore próprio e sazonal, que pode ser laico ou religioso, mas que é, sempre, folclore inerente a cada grupo social, que a Antropologia, a Etnologia e a Sociologia, estudam e explicam.

(Texto a inserir na edição especial de Natal de 2018, do jornal regional Gazeta de Paços de Ferreira)

21 de Dezembro, 2018 Luís Grave Rodrigues

Solstício de Inverno

Solstício de Inverno 

Hoje, dia 21 de dezembro pelas 22,23 horas o Sol no hemisfério norte atinge a maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do Equador. 

Aí permanece três dias sem aparentemente se mover, para no dia 25 de dezembro novamente “nascer” e reiniciar a sua marcha para norte. 

A palavra solstício vem do latim (Sol) e sistere (que não se move).

Por esse motivo todos os deuses solares como Mitra, Dionísio, Hórus, Jesus Cristo, etc., morrem, normalmente crucificados, e ressuscitam três dias depois sempre a 25 de dezembro. 

20 de Dezembro, 2018 Luís Grave Rodrigues

Ingenuidade

20 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

A Igreja católica, o Estado e a Concordata

É-me indiferente o que cada religião decide com os seus crentes, mas não posso deixar de me interessar pelos reflexos decorrentes na estrutura legal do meu país.

Há dois anos, ao ver a notícia de 1.ª Página do JN, interroguei-me sobre as consequências civis da anulação de casamento pela Igreja católica. Podia estar enganado e, por isso, apelei aos juristas que visitam o D1A para nos esclarecerem sobre as consequências de uma anulação do casamento canónico.

Quanto às consequências nefastas da Concordata para a igualdade religiosa não existem dúvidas. Quanto às da anulação do casamento por um Estado estrangeiro (o Vaticano), penso que a razão que leva o Registo Civil a aceitar a validade do casamento canónico o obriga a registar a anulação que os tribunais portugueses serão obrigados a confirmar?

A dissolução do casamento pelo Vaticano obrigará o Estado português a aceitar uma decisão que os tribunais nacionais só têm de corroborar, tornando um Estado soberano num protetorado de uma teocracia?

Não obtive resposta, mas, a ser assim, o vexame do Estado deve envergonhar todos os portugueses e levá-los a exigir a revogação de um tratado que nunca devia ter celebrado. 

18 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Há 3 anos

Madre Teresa de Calcutá iniciou a marcha, continuando defunta, a caminho da canonização. Em 18 de dezembro de 2015, o Papa Francisco reconheceu a cura de um homem que sofria de tumores cerebrais, o que provocou imenso júbilo nos devotos do costume. O homem curado por Madre Teresa foi um brasileiro que esteve em fase terminal e recuperou, em 2008, na diocese de Santos, no litoral de São Paulo.

Segundo as notícias, «Parentes rezaram e pediram ajuda à Madre Teresa, e o homem recuperou, deixando os médicos sem explicações». Não se percebeu se foi o homem que abandonou os médicos, sem explicações, ou estes que não as souberam dar, mas, para o milagre, é igual.

É mais um milagre na área da medicina, vocação dos defuntos católicos que jamais entram no campo da economia, da física quântica ou da nanotecnologia.

Madre Teresa, adversária do preservativo e fervorosa auxiliar do Papa João Paulo II na teologia do látex, sabia que é na dor que os pecadores encontram a redenção e, por isso, contrariava o uso de analgésicos em doentes terminais.

Em recente defunção (F. 1997), aprovada nas provas para ‘beata’, em 2003, ascendeu à canonização em 4 de setembro de 2016, com tese já aceite e dispensada de comparência, 19 anos após a sua morte.

A beatificação tinha sido defendida com um milagre reconhecido em 2002, adjudicado a madre Teresa, cura de uma mulher de 30 anos, de Bangladesh, Monika Besra, que sofria de um tumor abdominal.

Apesar do êxito da defunta na área da oncologia, em dois continentes diferentes, não mais fez milagres. Os defuntos depois de obrarem os milagres obrigatórios para a canonização, dão-se ao eterno ócio e fazem como alguns catedráticos que, após a homologação do concurso, nunca mais apresentam qualquer trabalho.

O Deus de Madre Teresa podia ter evitado ao miraculado os vários tumores cerebrais, mas impediria que madre Teresa, a pedido, lhos removesse em sepulcral telecirurgia.