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13 de Março, 2019 Carlos Esperança

Francisco – o Papa que a propaganda esperava

O 6.º aniversário do pontificado do papa Francisco é o pretexto para acelerar a máquina de propaganda que, há um ano, ganhou novo fôlego, quando Bento XVI preferiu manter a cabeça e abdicar da tiara, do anel e do alvará pontifícios.

Hoje, seis anos depois de lhe ter sido conferido o diploma para criação de cardeais, beatos e santos, recorda-se que os autóctones o quiseram em em Fátima no 1.º centenário das aparições que, em 1917, ajudaram a combater a República e, mais tarde, o comunismo, como se não houvesse portugueses indiferentes à agenda católica e às celebrações litúrgicas.

Francisco era o Papa de que a Igreja de Roma precisava para o transformar numa estrela pop, à semelhança do que havia feito com João Paulo II. Adoram-no, porque se chama Francisco, como o venerariam se tivesse escolhido o nome de Roberto; exultam quando diz a palavra ‘homossexual’, como sucederia de dissesse ‘valha-me deus’, em calão, à semelhança do soldador a quem cai um pingo de solda num olho; arfam beatos, quando fala, como palpitariam se ficasse calado.

Cria cardeais e não interrompeu a indústria da santidade. Defuntos antigos continuam a fazer milagres prodigiosos e a ser elevados aos altares. Pecadores endemoninhados são curados por imposição das mãos papais. Os exorcismos continuam a ser uma terapêutica pia, para os males da alma, como o chá de cidreira para as moléstias do corpo, em meios rurais, onde minguam drogas mais elaboradas.

O obscurantismo e a superstição permanecem, embalados em sorrisos, divulgados pela máquina de propaganda, enquanto os crentes veem, nas vestes talares, o sinal divino dos negócios pios.

Pouco há a esperar de um mundo misógino onde os celibatários são guardiões da moral e juízes dos valores sociais. A igualdade de género terá de esperar neste estranho mundo onde são femininas as vestes, masculinos os atores e coloridas as vaidades.

Este Papa apenas tem mais alguma preocupação social e muitos mais escândalos para gerir.

12 de Março, 2019 Carlos Esperança

Religiões

Por pior que seja o cristianismo há sempre uma religião pior.

Até a dúvida metódica cheira a madraça.

11 de Março, 2019 Carlos Esperança

Quinze anos volvidos sobre o massacre islâmico de Madrid

A galáxia terrorista denominada al-Qaeda, não é uma mera associação criminosa de gosto mórbido pela morte, é a nebulosa de fanáticos que creem no Paraíso e nas virgens que os aguardam no estado miserável em que chegam.

Não têm uma ideologia, uma lógica ou um objetivo claro, pretendem apenas agradar a um Deus de virtude duvidosa e ao profeta que é cadáver desde o ano 632, da era vulgar.

A demência ganhou ímpeto em 11 de setembro de 2001, nos ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque e ao Pentágono, em 11 de março de 2004, na estação ferroviária de Atocha, em Madrid, nas explosões em estâncias de veraneio, nas embaixadas dos EUA, no Metro de Londres, em 7 de julho de 2005, e posteriormente por todo o mundo.

Dos EUA à Europa; em África, desde a zona do Sahel ao litoral mediterrânico; na Ásia, das ex-repúblicas soviéticas ao Iraque, da Rússia à Índia, por todo o lado, a fanatização no madraçal islâmico leva o sangue e o sofrimento a toda a parte.

Não vale a pena iludirmo-nos com a bondade do Islão quando os clérigos pregam o ódio e apelam ao martírio. Os países democráticos não se libertam da culpa das cruzadas e da evangelização e tratam o terrorismo religioso com a brandura que não merece.

Um templo onde se prega o ódio é um campo de treino terrorista. Um clérigo que apela à violência é um criminoso à solta.

Os japoneses viam Deus no Imperador, imolavam-se em seu nome, mas, perdidas as fontes de financiamento e desarticuladas as redes de propaganda, desistiram do suicídio, da imolação e dos aviões e torpedos que dirigiam contra alvos inimigos.

É tempo de conter a ameaça que paira sobre a civilização e a democracia, sem abdicar do Estado de direito e das liberdades e garantias que são a matriz da nossa cultura.

Não podemos vacilar na luta contra o financiamento e o proselitismo que grassa entre fanáticos de várias religiões. Não são famintos em desespero, são médicos, pilotos e académicos em busca do passaporte para o Paraíso, através de crimes contra os infiéis.

Hoje, 11 de março de 2019, quinze anos passados sobre o massacre de Atocha, as vítimas e o povo espanhol merecem a solidariedade empenhada e a denúncia de todas as formas de terrorismo, sobretudo quando agravado pela demência de uma crença anacrónica.

É preciso conter a mancha de óleo sectário que alastra contra a democracia e o livre-pensamento, seja qual for a crença, quaisquer que sejam os trogloditas que a perfilhem.

10 de Março, 2019 Carlos Esperança

A ICAR* e os escândalos sexuais

Os Tribunais chegaram finalmente aos mais altos dignitários da ICAR. A presença do cardeal Barbarin, arcebispo de Lyon, no banco dos réus de um país católico é, por si só, sinal da perda da imunidade que a tradição conferia, mas a sua pena de prisão, embora suspensa, por não denunciar os casos de pedofilia que conhecia, é o fim da impunidade de qualquer bispo francês. No banco dos réus teve a companhia do arcebispo de Auch, do bispo de Nevers, e de um pároco, além de leigos com relevantes funções diocesanas, que foram absolvidos.

Curiosamente, para além de se fazer justiça e da pedagogia do veredicto, o que é motivo de júbilo, fica alguma preocupação. A ausência das vocações sacerdotais e a debandada dos fiéis da ICAR não engrossa as fileiras dos livres-pensadores, aumenta a conversão a um monoteísmo mais implacável ou a seitas que nascem da avidez do saque ao dízimo e da síndrome de privação de quem precisa de um ser imaginário e da crença de uma vida para além da morte, para se sentir confortado.

Por pior que seja o clero católico, não voltará a ser tão violento e jurássico como o mais benigno mullah ou aiatola, tão ganancioso e embusteiro como qualquer bispo da IURD ou das numerosas Igrejas que surgem. E é para aí que desertam numerosos católicos.

A pedofilia, além da náusea do crime, é especialmente chocante nos clérigos católicos, obcecados a execrar a sexualidade, e é um direito que o Corão consagra, praticado por homens contra meninas de nove anos, vendidas pelos pais a maridos que as violam e, a seguir, se podem divorciar.

A repressão sexual e a predisposição mórbida são causas da sexualidade desregulada do clero, com especial violência contra as mulheres. A moral da Idade do Bronze e a patologia individual atingem uma dimensão intolerável. É improvável que seja a ICAR, apesar do celibato idiota, obrigatório no seu clero, a atingir maior patologia.

Admira a sanha com que se ridiculariza uma Igreja, quando tem um Papa que procura a erradicação da pedofilia, e se faz silêncio sobre os Papas dominados pelo lóbi gay, que criaram bispos e cardeais do referido lóbi.

O afastamento do atual Papa da plutocracia mundial virou-se contra a ICAR, e quando, sob pressão de sucessivos escândalos, os crentes questionam a virtude do clero, acabam a pôr em dúvida o martírio do seu Deus.

No vazio deixado pela Igreja católica não se vislumbram melhores alternativas**.

  • ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana.

** O autor é solidamente ateu.

9 de Março, 2019 Carlos Esperança

UMA INSTITUIÇÃO UNIVERSAL CONFRONTADA COM OS SEUS SEGREDOS…

Por

J-m Nobre-Correia – Professor da Universidade Livre de Bruxelas

O desmoronamento do poder moral, cultural e social da Igreja Católica avança a passos largos…

Dois cardeais atacam publicamente o papa.

Frédéric Martel publica, “simultaneamente em oito línguas e vinte países”, um livro extremamente documentado, mas demasiado diluído (“No Armário do Vaticano”, Sextante Editora, 646 páginas), sobre a homossexualidade reinante nas altas esferas da Igreja Católica e do Vaticano em particular.

A televisão cultural franco-alemã Arte difundiu anteontem um extraordinário documentário (“Religieuses abusées, l’autre scandale de l’Église”) sobre as agressões sexuais cometida por padres sobre freiras e mesmo sobre a prostituição praticada em conventos, na Europa como em África, por exemplo.

O cardeal de Lião [Lyon] é agora condenado em França pelo tribunal civil por ter encoberto abusos de crianças por um padre.

E recordemos que o Seminário Menor do Fundão foi fechado por práticas homossexuais do seu vice-reitor com seminaristas…

Como sobreviverá a Igreja Católica a uma crise sem igual na sua história ?…

É certo que ela resistiu a tanto e tanto escândalos durante tantos e tantos séculos (pluralidade de papas, nomeação de cardeais não-clérigos, orgias dos Borgia no Vaticano, a Inquisição e as suas condenações à tortura e a fogueira,…), graças ao segredo, à sua aliança com os poderes dominantes e a uma autoridade dificilmente contestada.

Mas, nos tempos que vivemos, o segredo passou a ser uma prática difícil perante a proliferações dos média e a laicização cada vez mais evidente das nossas sociedades…

8 de Março, 2019 Carlos Esperança

Dia Internacional da Mulher

Nutro pelos dias do calendário, que a sociedade de consumo reverencia, saudável horror e o desprezo mais visceral.

No dia da mulher vacilo e soçobro. Evoco mãe e irmãs e esmoreço; lembro a companheira e amiga e descoroçoo. Lembro as mulheres, vítimas de todas as épocas, e enterneço-me.

Recordo a oração matinal dos judeus que convida os homens a bendizer Deus por tê-lo feito judeu e não escravo…nem mulher. Recordo a Tora que decidiu a inelegibilidade [da mulher] para funções administrativas e judiciárias e a incapacidade de administrar os próprios bens.

Lembro a submissão que o islão impõe, a burka que lhe cobre o corpo e oprime a alma, a lapidação, as vergastadas e a excisão. Os machos são superiores às fêmeas, «porque Deus prefere os homens às mulheres (IV, 34)».

A cultura judaico-cristã é misógina, submete e explora a mulher. Destina-lhe a cozinha e a procriação, a obediência e a servidão. É a herança que Abraão lhe deixou.

Quando a mulher irrompeu com a força contida por séculos de opressão, avançou nas artes, na ciência e na cultura, com o furor do vulcão que estoirou os preconceitos.

Antes do 25 de Abril, em Portugal, a mulher carecia de autorização do marido para transpor a fronteira, não tinha acesso à carreira diplomática ou à magistratura, nem à administração de bens próprios.

Não há países livres sem igualdade entre os sexos.

A libertação da mulher é uma tarefa por concluir, contra o peso da tradição, a violência dos homens, o abuso das Igrejas e os preconceitos da sociedade.

Hoje, dia internacional da mulher, é dia para homens e mulheres afirmarem que somos iguais e proceder em coerência Todos os dias. Em qualquer lugar. Sempre.

7 de Março, 2019 Carlos Esperança

A ICAR*, a liturgia e os bispos

Os bispos queixam-se da falta de vocações e dedicam-se à defesa dos colégios particulares e à reflexão sobre a abstinência sexual dos casais.

Um bispo que abdique do Palácio Episcopal, dispa a mitra e a capa de asperges, pendure o báculo, aliene o anelão com ametista, dispense os fâmulos, reverências e beija-mãos, venda a custódia e ponha no prego a cruz de diamantes, pode tornar-se um cidadão.

Se o clero desistir do processo alquímico que transforma a água normal em benta, o pão ázimo em corpo e sangue de Jesus e as orações em moeda de pagamento de assoalhadas no Paraíso, pode recuperar a honestidade que o charlatanismo comprometeu.

Se renunciar às novenas, missas e procissões, ao lausperene e ao te deum, pode reservar as energias para o bem público.

Se a confissão, a terrível arma que viola a intimidade dos casais, a honra dos crentes e a confiança da sociedade, for abolida, deixando ao deus que dizem omnisciente a devassa dos pecados e o sigilo, o mundo fica mais tranquilo.

As religiões são especialistas em idolatrar o passado e mitificá-lo. Fazem piedosas falsificações, inventam documentos e fazem relíquias para embevecer os carentes do divino em busca de uma assoalhada no Paraíso.

O incenso e os sinais cabalísticos prejudicam a reflexão e o livre-pensamento.

ICAR* – Igreja Católica Apostólica Romana

5 de Março, 2019 Carlos Esperança

Perplexidade

1 – O cardeal George Pell, n.º 3 do Vaticano, acusado de pedofilia defendeu-se, tendo o advogado alegado que foi “simples penetração”, com duração de “menos de seis minutos”. (Expresso, Revista E, pág. E|10. Não sei o que provoca maior náusea, se o crime ou a defesa.

2 de Março, 2019 Carlos Esperança

Demência islâmica

Aconteceu em 2 de março de 2001

Há 18 anos, um país assolado pela miséria, minado pela fanatismo, lacerado pela fome, onde as mulheres foram proibidas de acesso à educação e à saúde, teve de observar os rigorosos preceitos islâmicos e renunciar aos mais elementares direitos, com frequência à própria vida.

Poderia ter acontecido em diversos locais do planeta, mas aconteceu num país com uma cultura antiquíssima cujo poder foi assaltado pelos tristemente célebres estudantes de teologia, vulgo talibãs, quando dois budas gigantes esculpidos em pedra nos séc. II e V foram destruídos com mísseis e espingardas automáticas para não serem adorados falsos ídolos que “insultam o islamismo”. Aconteceu no Afeganistão.

Em todos os tempos e em várias religiões houve bárbaros que entenderam que os livros ou diziam o mesmo que o livro sagrado, e eram inúteis, ou diziam coisas diferentes, e eram prejudiciais.

A inteligência, a sensatez e a sensibilidade não são apanágio de uma só cultura, mas são contrárias à mais funesta de todas as misturas: a fé, a ignorância e o proselitismo. É esta mistura perversa que faz a infelicidade dos povos, a miséria das nações e a tragédia das sociedades que se desfazem em asfixiante submissão.

Destroem progressivamente o património cultural, da mesma forma selvagem com que suprimem as liberdades cívicas. E, enquanto a fome, a doença e a miséria devastaram a população, bloqueada pelo terror, o mundo urbanizado assistiu, impotente na sua raiva, a ver postergados os mais elementares valores que são o traço comum da civilização.

Os povos não são donos absolutos do património que detêm e são obrigados a responder pela sua guarda. Os déspotas, que exercem o poder de forma antidemocrática, terão de responder pelos dislates e crimes que cometem. E serão homens a julgá-los, sobretudo àqueles que se julgam com mandato divino.

Provavelmente o direito de ingerência encontraria então plena justificação. Perante as hordas de selvagens que um pouco por todo o lado conquistam o poder com armas que as grandes potências nunca deixaram de fornecer, exige-se uma nova ordem que liberte do caos e do crime organizado multidões que tiveram a desdita de nascer no sítio errado sob o jugo de tenebrosos trogloditas.

Este crime foi perpetrado em 2 de março de 2001. Há 18 anos. Hoje, o Afeganistão continua vítima da demência islâmica.