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9 de Março, 2019 Carlos Esperança

UMA INSTITUIÇÃO UNIVERSAL CONFRONTADA COM OS SEUS SEGREDOS…

Por

J-m Nobre-Correia – Professor da Universidade Livre de Bruxelas

O desmoronamento do poder moral, cultural e social da Igreja Católica avança a passos largos…

Dois cardeais atacam publicamente o papa.

Frédéric Martel publica, “simultaneamente em oito línguas e vinte países”, um livro extremamente documentado, mas demasiado diluído (“No Armário do Vaticano”, Sextante Editora, 646 páginas), sobre a homossexualidade reinante nas altas esferas da Igreja Católica e do Vaticano em particular.

A televisão cultural franco-alemã Arte difundiu anteontem um extraordinário documentário (“Religieuses abusées, l’autre scandale de l’Église”) sobre as agressões sexuais cometida por padres sobre freiras e mesmo sobre a prostituição praticada em conventos, na Europa como em África, por exemplo.

O cardeal de Lião [Lyon] é agora condenado em França pelo tribunal civil por ter encoberto abusos de crianças por um padre.

E recordemos que o Seminário Menor do Fundão foi fechado por práticas homossexuais do seu vice-reitor com seminaristas…

Como sobreviverá a Igreja Católica a uma crise sem igual na sua história ?…

É certo que ela resistiu a tanto e tanto escândalos durante tantos e tantos séculos (pluralidade de papas, nomeação de cardeais não-clérigos, orgias dos Borgia no Vaticano, a Inquisição e as suas condenações à tortura e a fogueira,…), graças ao segredo, à sua aliança com os poderes dominantes e a uma autoridade dificilmente contestada.

Mas, nos tempos que vivemos, o segredo passou a ser uma prática difícil perante a proliferações dos média e a laicização cada vez mais evidente das nossas sociedades…

8 de Março, 2019 Carlos Esperança

Dia Internacional da Mulher

Nutro pelos dias do calendário, que a sociedade de consumo reverencia, saudável horror e o desprezo mais visceral.

No dia da mulher vacilo e soçobro. Evoco mãe e irmãs e esmoreço; lembro a companheira e amiga e descoroçoo. Lembro as mulheres, vítimas de todas as épocas, e enterneço-me.

Recordo a oração matinal dos judeus que convida os homens a bendizer Deus por tê-lo feito judeu e não escravo…nem mulher. Recordo a Tora que decidiu a inelegibilidade [da mulher] para funções administrativas e judiciárias e a incapacidade de administrar os próprios bens.

Lembro a submissão que o islão impõe, a burka que lhe cobre o corpo e oprime a alma, a lapidação, as vergastadas e a excisão. Os machos são superiores às fêmeas, «porque Deus prefere os homens às mulheres (IV, 34)».

A cultura judaico-cristã é misógina, submete e explora a mulher. Destina-lhe a cozinha e a procriação, a obediência e a servidão. É a herança que Abraão lhe deixou.

Quando a mulher irrompeu com a força contida por séculos de opressão, avançou nas artes, na ciência e na cultura, com o furor do vulcão que estoirou os preconceitos.

Antes do 25 de Abril, em Portugal, a mulher carecia de autorização do marido para transpor a fronteira, não tinha acesso à carreira diplomática ou à magistratura, nem à administração de bens próprios.

Não há países livres sem igualdade entre os sexos.

A libertação da mulher é uma tarefa por concluir, contra o peso da tradição, a violência dos homens, o abuso das Igrejas e os preconceitos da sociedade.

Hoje, dia internacional da mulher, é dia para homens e mulheres afirmarem que somos iguais e proceder em coerência Todos os dias. Em qualquer lugar. Sempre.

7 de Março, 2019 Carlos Esperança

A ICAR*, a liturgia e os bispos

Os bispos queixam-se da falta de vocações e dedicam-se à defesa dos colégios particulares e à reflexão sobre a abstinência sexual dos casais.

Um bispo que abdique do Palácio Episcopal, dispa a mitra e a capa de asperges, pendure o báculo, aliene o anelão com ametista, dispense os fâmulos, reverências e beija-mãos, venda a custódia e ponha no prego a cruz de diamantes, pode tornar-se um cidadão.

Se o clero desistir do processo alquímico que transforma a água normal em benta, o pão ázimo em corpo e sangue de Jesus e as orações em moeda de pagamento de assoalhadas no Paraíso, pode recuperar a honestidade que o charlatanismo comprometeu.

Se renunciar às novenas, missas e procissões, ao lausperene e ao te deum, pode reservar as energias para o bem público.

Se a confissão, a terrível arma que viola a intimidade dos casais, a honra dos crentes e a confiança da sociedade, for abolida, deixando ao deus que dizem omnisciente a devassa dos pecados e o sigilo, o mundo fica mais tranquilo.

As religiões são especialistas em idolatrar o passado e mitificá-lo. Fazem piedosas falsificações, inventam documentos e fazem relíquias para embevecer os carentes do divino em busca de uma assoalhada no Paraíso.

O incenso e os sinais cabalísticos prejudicam a reflexão e o livre-pensamento.

ICAR* – Igreja Católica Apostólica Romana

5 de Março, 2019 Carlos Esperança

Perplexidade

1 – O cardeal George Pell, n.º 3 do Vaticano, acusado de pedofilia defendeu-se, tendo o advogado alegado que foi “simples penetração”, com duração de “menos de seis minutos”. (Expresso, Revista E, pág. E|10. Não sei o que provoca maior náusea, se o crime ou a defesa.

2 de Março, 2019 Carlos Esperança

Demência islâmica

Aconteceu em 2 de março de 2001

Há 18 anos, um país assolado pela miséria, minado pela fanatismo, lacerado pela fome, onde as mulheres foram proibidas de acesso à educação e à saúde, teve de observar os rigorosos preceitos islâmicos e renunciar aos mais elementares direitos, com frequência à própria vida.

Poderia ter acontecido em diversos locais do planeta, mas aconteceu num país com uma cultura antiquíssima cujo poder foi assaltado pelos tristemente célebres estudantes de teologia, vulgo talibãs, quando dois budas gigantes esculpidos em pedra nos séc. II e V foram destruídos com mísseis e espingardas automáticas para não serem adorados falsos ídolos que “insultam o islamismo”. Aconteceu no Afeganistão.

Em todos os tempos e em várias religiões houve bárbaros que entenderam que os livros ou diziam o mesmo que o livro sagrado, e eram inúteis, ou diziam coisas diferentes, e eram prejudiciais.

A inteligência, a sensatez e a sensibilidade não são apanágio de uma só cultura, mas são contrárias à mais funesta de todas as misturas: a fé, a ignorância e o proselitismo. É esta mistura perversa que faz a infelicidade dos povos, a miséria das nações e a tragédia das sociedades que se desfazem em asfixiante submissão.

Destroem progressivamente o património cultural, da mesma forma selvagem com que suprimem as liberdades cívicas. E, enquanto a fome, a doença e a miséria devastaram a população, bloqueada pelo terror, o mundo urbanizado assistiu, impotente na sua raiva, a ver postergados os mais elementares valores que são o traço comum da civilização.

Os povos não são donos absolutos do património que detêm e são obrigados a responder pela sua guarda. Os déspotas, que exercem o poder de forma antidemocrática, terão de responder pelos dislates e crimes que cometem. E serão homens a julgá-los, sobretudo àqueles que se julgam com mandato divino.

Provavelmente o direito de ingerência encontraria então plena justificação. Perante as hordas de selvagens que um pouco por todo o lado conquistam o poder com armas que as grandes potências nunca deixaram de fornecer, exige-se uma nova ordem que liberte do caos e do crime organizado multidões que tiveram a desdita de nascer no sítio errado sob o jugo de tenebrosos trogloditas.

Este crime foi perpetrado em 2 de março de 2001. Há 18 anos. Hoje, o Afeganistão continua vítima da demência islâmica.

1 de Março, 2019 Carlos Esperança

O Islão e a teologia do cabotinismo

Pegue-se numa cópia grosseira do cristianismo, com laivos de judaísmo, e faça-se um manual terrorista ao gosto de um beduíno boçal de há 14 séculos. Intoxiquem-se nele os povos e constranjam-se, torturem-se os réprobos e aliciem-se os devotos com rios de mel e virgens ansiosas. Produzem-se dementes fanáticos, embrutecidos pela fé.

Algures, no que resta do Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, onde nasceu a escrita e a civilização teve berço, despertaram selvagens em estado místico, primatas adestrados no uso de utensílios e armas sofisticadas, aptos a recriarem o habitat da Idade do Bronze.

Um dia servem-nos decapitações; no outro, assassínios; depois, homens enjaulados a arder lentamente ao som de gritos selvagens: “Deus é grande e Maomé o seu Profeta”.

É fácil identificá-los pelo aspeto simiesco, desprezo das fêmeas, comprimento dos pelos nas trombas e, sobretudo, pelo desprezo da vida e ódio à modernidade.

Bandos ensandecidos, suspeitando da inspiração do demo na arte assíria, destroem, com marretas e martelos pneumáticos, obras únicas, três milénios de arte preservados no Museu de Mossul, com a sanha com que queimaram milhares de manuscritos e de livros raros na Biblioteca Municipal. Viram infiéis nos sumérios e assírios e quebraram tábuas de gesso com escrita cuneiforme, com mais de cinco mil anos; na cabeça esculpida, da época suméria, imaginaram o busto de Maomé com um turbante carregado de bombas e partiram-na; e, no boi alado com três mil anos, divindade assíria, adivinharam escárnio ao arcanjo Gabriel fabricado na rotativa do Charlie Hebdo, e reduziram-no a cacos.

Há, nesta tragédia cultural, na metáfora do mais perverso monoteísmo, um apelo à raiva, à revolta e ao repúdio civilizacional contra a barbárie.

27 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

Efeméride – Há seis anos

O dia de hoje foi o último em que Joseph Ratzinger manteve o direito a usar sapatinhos vermelhos e o alvará da infalibilidade, mantendo a Santidade, o pseudónimo de Bento XVI e o direito a qualquer outro tipo de calçado.

No helicóptero que o levou, no dia 28 do mês de fevereiro de 2013, para um estágio de ex-Papa, em Castel Gandolfo, seguiu um clérigo que trocou o poder pela longevidade.

Os caminhos de Deus são insondáveis, como se diz no jargão religioso, mas os do papa jazem no hermetismo da Cúria.

26 de Fevereiro, 2019 Carlos Esperança

A influência do Antigo Testamento

O juiz Neto de Moura tirou pulseira a homem condenado por agredir ex-mulher – lê-se hoje no JN –, de onde trago a foto do julgador e os factos.

Desta vez, apesar do cadastro, a jurisprudência pode dever-se a legislação ambígua, mas a suspeita não pode ignorar os antecedentes do venerando desembargador. A pulseira eletrónica, imposta ao delinquente pelo tribunal de primeira instância, face ao facto de, entre outras boçalidades, ter rebentado, a soco, o tímpano à mulher, era a única forma, em alternativa à prisão, de vigiar o energúmeno e permitir à vítima outra pulseira para pedir socorro, em caso de necessidade.

A lei exige autorização do condenado para imposição da pulseira, salvo se o juiz justificar a imprescindibilidade da sua utilização. Decerto o tribunal, que o puniu com o adereço, avaliou a relação conjugal “marcada pela violência e conflitos, especialmente nos últimos cinco anos, período em que o homem ameaçava constantemente de morte a mulher e repetidamente a agredia verbal e fisicamente”.

Julgado no ano passado, foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, por violência doméstica agravada, ao pagamento de 2500 euros à vítima e a frequentar um programa de controlo de agressores, além da proibição de se aproximar ou contactar a ex-mulher, ficando monitorizado à distância através de pulseira eletrónica.

O juiz Neto Moura, que estuda os processos recorridos, lembrou que o homem nunca mais incomodou a sua ex-mulher, cumprindo a ordem de afastamento decretada, e ao jornal Público acrescentou que a pulseira é um instrumento de cariz intrusivo.

Não há dúvida de que a pulseira é instrumento intrusivo, só não sei se os socos e outras agressões, inclusive as que provocam a rutura do tímpano de uma mulher também o são, no caso de serem mulheres as vítimas.

Acórdãos deste jaez, não sendo raros, são menos frequentes do que mulheres agredidas, humilhadas e mortas. As portuguesas gozam do privilégio, como muito bem já notou o desembargador Neto Moura, em outro acórdão, de terem direitos que a Bíblia considera crimes e, digo eu, da sorte de o Código Penal não ser da sua autoria.

Na Arábia Saudita, o venerando desembargador seria considerado demasiado brando para as mulheres, apesar de ter um código penal mais exigente, segundo a vontade divina, como a interpretou um beduíno analfabeto com mais de mil milhões de devotos.

É uma pena, à semelhança dos treinadores de futebol, não poder exercer o múnus nessas paragens.