20 de Março, 2019 Carlos Esperança
Ciência, Ética e Religião
Por
ONOFRE VARELA
Hubert Reeves, especialista em astrofísica e autor do livro Um Pouco Mais de Azul, distingue o domínio da Ciência de quaisquer outros domínios de entre os que regem as sociedades que os homens construíram à sua própria medida. Neste contexto a Ciência explica como as coisas são ou funcionam, sem imiscuir-se nos valores sociais. O domínio desses valores pertence a outros campos, como a Política e a Economia. Depois, há a Filosofia, a Religião, e mais um ramo filosófico denominado Ética, transversal a todos os outros campos. Há (ou deveria haver!…) Ética na Economia, na Política e na Religião.
Como todos sabemos, quanto à Ética na Economia e na Política… estamos conversados!… As experiências que vivemos são piores que más. Sentimo-nos como vítimas de quadrilheiros que nos assaltam na estrada à mão armada. Não se cumprem promessas, os reformados sentem-se roubados, e os trabalhadores no activo… também.
Sobram a Filosofia e a Religião. Filosofias há muitas (tal como chapéus) e são tão velhas quanto o raciocínio humano (tal como as religiões). Destaco Baruch Espinoza (1632-1677), filósofo holandês de origem portuguesa, autor do livro “Ética”, e que foi acusado de ser ateu… mesmo tendo definido Deus como “o ente absolutamente infinito, isto é, a substância que consta de infinitos atributos”… o que talvez queira dizer que Ética e Religião podem conflituar entre si!
É comum misturar-se a Ética com a Moral. Não são a mesma coisa. Podemos dizer que a Ética estuda os valores morais que orientam o comportamento humano, e que a Moral é constituída pelos costumes, pelas regras e pelos tabus das convenções instituídas por cada sociedade. Logo, a Ética é mais universalista, enquanto que a Moral é uma herança emocional e colectiva transmitida por cada sociedade aos seus membros.
Fico com a certeza de haver esse conflito entre Ética e Religião, quando assisto (porque me odeio!…) a um programa execrável que passa no canal brasileiro TV Record, em horário nocturno, mostrando patranhas da IURD, alegadamente com base no Evangelho, lançadas como isco a cidadãos intelectualmente indefesos para lhes extorquir dinheiro dos seus magros salários.
(Deixem-me deixar aqui este desabafo: É pena que os crentes na IURD [e noutras confissões exploradoras do sentimento da religiosidade] não leiam Filosofia e Ensaio por troca com jornais desportivos… talvez se impedisse essa extorsão…)
A Ética tem, no Cristianismo, o seu expoente máximo na célebre frase “Amarás o próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39), que é cópia do Velho Testamento (Levítico 19:18). É uma frase que traduz um conceito universalista, ultrapassando a Moral Católica que defende a vida uterina quando ainda não há ser humano formado, por isso condena o aborto; mas também condena o divórcio e as relações homossexuais, que a Ética Laica defende como liberdades individuais lícitas.
A Ética (e a Moral) religiosa difere de religião para religião. No Islamismo extremado, por exemplo, defende-se a condenação à morte da mulher que se apaixona por um homem que professe outra religião que não seja aquela que é seguida por toda a sua família!…
Também há Ética na publicidade. (Há?!…). Sim!… No próximo artigo falarei da minha experiência.
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)