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2 de Abril, 2019 Carlos Esperança

As religiões, os crentes e os anacronismos

Sou contra todas as crenças sem deixar de respeitar os crentes. Abomino a violência e as verdades absolutas, compreendendo quem acredita porque se habituou desde criança.

Dos três monoteísmos aprecio o judaísmo por não querer converter ninguém. Querem o Paraíso só para eles e, nisso, têm uma enorme superioridade sobre os outros dois. Pena é que também queiram a faixa de Gaza e não abdiquem do sionismo, essa demência que o mito bíblico estimula. Nesse ponto é o mais detestável.

As três religiões do livro, abraâmicas, foram criadas pelos homens na Idade do Bronze. Não admira que o Deus comum tenha todos os defeitos dos homens de então: vingança, crueldade, misoginia, violência, homofobia, com o carácter tribal e patriarcal hebraico.

Há judeus que são árabes conversos e islamitas que não passam de judeus islamizados. As etnias provêm mais das circunstâncias políticas e administrativas do que do ADN e nada é tão facilmente absorvido nem tão visceralmente como uma crença.

O cristianismo foi uma cisão do judaísmo em cujo ódio se expandiu até passar a religião pelo imperador Constantino, que usou a seita para alicerçar o Império. O antissemitismo foi o cimento interno da nova religião.

Só faltava a cópia grosseira desta última, ditada entre Medina e Meca pelo anjo Gabriel, durante 20 anos – Maomé era analfabeto – para surgir o mais primário e implacável dos monoteísmos. Esta ideologia rudimentar, que o terror e a vocação belicista alimentam, é a mais difícil de reformar.

1 de Abril, 2019 Carlos Esperança

Há 40 anos – Proclamada a República Islâmica do Irão


Aiatola Khomeini

A monarquia laica sucumbiu à denominada Revolução Iraniana, em 11 de fevereiro de 1979, no auge da luta pelo poder entre clérigos xiitas liderados pelo aiatola Khomeini, e o xá Mohammad Reza Pahlavi, com os primeiros a serem apoiados por amplos sectores sociais, liberais, estudantes, intelectuais de esquerda e o próprio Partido Comunista, e o ditador laico pelos EUA e a inevitável CIA.

Foi o início da grande tragédia civilizacional, que começou no coração da antiga Pérsia, onde, no dia de hoje, há 40 anos, foi proclamada a República Islâmica, para o tenebroso imã, Ruhollah Khomeini, ‘inspirado por Deus’, se tornar o líder de uma teocracia que havia de exportar para outros países muçulmanos.

As mulheres tinham, desde 1963, direito a votar e ser eleitas para o Parlamento. Até no Senado havia duas, designadas pelo próprio xá, o que o “guia supremo da Revolução” considerou como prostituição, direito que, a bem da moral, logo suprimiu.

Em outubro de 1978, por pressão do xá, Khomeini fora obrigado a deixar o Iraque e foi ruminar os versículos do Corão para a cidade de Neauphle-le-Chatêau, nos arredores de Paris, de onde prosseguiu a luta contra o regime do xá. Há de tê-lo perturbado a beleza de jovens francesas, corpos cuja harmonia a moda fazia realçar, a ascensão social das mulheres e a liberalização dos costumes que o clérigo, medieval e misógino, execrava.

Voltaria em 1 de fevereiro de 1979, recebido em êxtase, no aeroporto, por uma multidão de cerca de cinco milhões de pessoas, para impor a transformação do xiismo que, até aí, exigia ao Estado aceitar uma orientação religiosa, impondo como alternativa um Estado clerical e a sharia. Às mulheres proibiu os cabelos soltos e nadar ou tomar banhos de sol junto de homens. Proibiu os filmes ocidentais, a transmissão de música não militar ou religiosa e as bebidas alcoólicas, enquanto um feroz programa curricular educacional foi levado à prática para islamizar todos os sectores iranianos, das Universidades às Forças Armadas, das famílias à sociedade.

Não cabe num artigo do Faceboock referir as posições geoestratégicas internacionais, a cobiça do petróleo e o posicionamento do Ocidente e da URSS, em momentos diversos, para tornar possível o êxito da demencial ditadura teocrática que se perpetuou.

Quando Alá foi servido de o chamar, para possuir as 72 virgens e rios de mel doce que o esperavam, dez milhões de iranianos, intoxicados pelo Corão e alienados pelas orações e jejuns, cantaram e autoflagelaram-se, em manifestações de dor e desespero. Morreram 8, e 500 ficaram feridos.

Depois da tragédia iraniana, que fez regredir o Islão xiita, ocorreu a invasão do Iraque, em 2003, perpetrada por 4 cruzados belicistas, com o petróleo a correr-lhes nas veias e dólares na cabeça, para o Médio Oriente e o Mundo se tornarem ainda mais instáveis.

Quando se julgava que já nada podia ser pior, Trump rasga o acordo nuclear com o Irão, protege o cruel príncipe-herdeiro saudita e reconhece a posse dos Montes Golã a Israel. Embora sem consequências, pode agora o Irão reconhecer ao México a posse do Texas!

Não foi o mundo que ensandeceu, foram os malucos perigosos que o confiscaram.

31 de Março, 2019 Carlos Esperança

A Inquisição em Portugal – 31-03-1821

Inquisição portuguesa

Faz hoje 198 anos que foi abolida oficialmente a Inquisição Portuguesa e há menos de 60 que a liberdade religiosa foi acolhida por João XXIII, durante o Concílio Vaticano II, com o posterior ranger de dentes de João Paulo II e Bento XVI.

Não era só a apostasia, a que raros se atreviam, que era objeto da crueldade eclesiástica. Judeus, bruxas e todos os que descressem na única religião verdadeira – ICAR –, eram as vítimas que zelosos delatores levavam ao Santo ofício.

Entre 1536 e 1821, cerca de mil e quinhentas pessoas foram queimadas vivas e 25.000 condenadas a diversas penas. O apogeu da demência verificava-se nos julgamentos dos mortos que, depois de exumados, eram queimados em autos-de fé, um número indeterminado bem como o dos que morreram nos cárceres da sinistra instituição.

Foi depois do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Francesa (1821) que findou o êxtase pio da violência clerical e o divertimento da corte a assistir aos autos-de-fé.

A violência é uma tara sedutora que se transmite geneticamente e através das sacristias e madraças, incubadoras onde germinam devotos e prosélitos de verdades únicas.

Perante novas inquisições de desvairados credos, que não desistem de nos impor as suas verdades únicas, urge defender, de forma intransigente, os valores republicanos, laicos e democráticos.

29 de Março, 2019 Carlos Esperança

O antissemitismo cristão

Surpreende o vigor com que o cristianismo e, em particular, o catolicismo nega quase vinte séculos de antissemitismo militante, hoje menos virulento do que o islâmico.

Martinho Lutero que conhecia a Bíblia tão profundamente quanto a corrupção papal, dizia dos judeus: «são para nós um pesado fardo, a calamidade do nosso ser; são uma praga no meio das nossas terras». (1543)

Quanto à ICAR não é preciso recordar o tribunal do Santo Ofício, basta relembrar as declarações papais ou citar as abundantes e descabeladas manifestações de ódio que o Novo Testamento destila.

Eloquente, chocante e demente foi a atitude do cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte do seu idolatrado führer Adolfo Hitler. Já nos primeiros dias de maio de 1945, com a derrota consumada (a rendição foi no dia 8), ordenou que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem, em lembrança do Führer». Entretanto o católico Salazar decretou três dias de luto pelo facínora.

Para alguns católicos e, sobretudo, para ateus, agnósticos e fregueses de outras religiões, é preciso dizer-lhes que, de acordo com a liturgia do requiem, uma missa solene de requiem se destina a que os devotos possam suplicar a Deus, Todo-Poderoso, a admissão no Paraíso do bem-aventurado em lembrança de quem a missa é celebrada.

Os quatro Evangelhos (Marcos, Lucas, Mateus e João) e os Atos dos Apóstolos são uma fonte de ódio antijudaico cristão, tal como o Corão para os muçulmanos. Felizmente, os cristãos, sobretudo os católicos, leem pouco a Bíblia e creem vagamente no conteúdo.

Em períodos de crise, há o risco de se agarrarem ao livro sagrado como os alcoólicos à bebida e, tal como estes, sem discernimento ou força anímica para renunciarem à droga, inibem-se pela habituação e dependência que os escraviza.

O livre-pensamento é uma tentativa séria para promover uma cura de desintoxicação, absolutamente necessária nesta Europa onde o antissemitismo desponta em numerosas manifestações de matriz nazi.

28 de Março, 2019 Carlos Esperança

O bispo de Córdova e Erdogan

A laicidade é uma exigência democrática

À semelhança do bispo de Córdova que, em 2006, registou a imponente mesquita do séc. 8.º, património da Humanidade, como Catedral de Córdova, em nome da Santa Sé, pela módica quantia de 30 euros, isentos de impostos, também o muçulmano Erdogan se prepara para transformar a igreja de Santa Sofia, em Istambul, séc. 6.º, agora museu e igualmente património da Humanidade, em… Mesquita de Santa Sofia.

Mustafa Kemal Atatürk, dessacralizou a igreja e transformou-a em museu para, segundo a lei ainda vigente na Turquia, “a oferecer à humanidade”, mas o que o laico fundador da Turquia moderna quis é o que o devoto e perigoso candidato a califa repudia.

O bispo de Córdova e o PR turco são primatas belicistas e prosélitos, movidos a rezas e genuflexões, desejosos de confiscarem o património da Humanidade. O bispo apropria-se de 10 euros a cada turista que visite a mesquita onde a sua Igreja meteu a catedral, e o segundo pensa tornar gratuita a entrada na basílica, designada mesquita, se for possível lá entrar com hordas de devotos em sessões de leitura de versículos do Corão e orações coletivas, no adro do monumento, e com as atividades ligadas ao Islão dentro de Santa Sofia, que se multiplicaram, desde a chegada de Erdogan ao poder, em 2003.

São almas simétricas de madraças rivais, primatas belicosos que acirram as suas crenças e promovem confrontos entre devotos de profetas concorrentes.

Há no desvario místico, na tragicomédia demencial de autocratas da fé, o enorme perigo do segundo. O bispo de Córdova tem um exército de beatos a disparar ave-marias sem entusiasmo nem regularidade; Erdogan tem legiões de fanáticos a genufletirem-se cinco vezes ao dia e as Forças Armadas mais numerosas da Nato, fora dos EUA.

O bispo é movido pela avidez que a herança de Franco, alargada por Aznar, lhe permite saciar, enquanto a incúria beata do Governo espanhol o não travar. O muçulmano turco é impelido pelo apetite de 72 virgens e rios de mel doce, depois de tentar exterminar os curdos e estimular a unificação do Islão num califado sob a sua égide.

Um, por ter maior poder, é mais perigoso do que o outro, mas ambos são santas bestas que só não são perfeitas porque ninguém é perfeito.

27 de Março, 2019 Carlos Esperança

Reflexão sobre questões de reciprocidade

Na vida como no amor o principal é a reciprocidade. A igualdade e a justiça dependem dela.

A plurigamia repugna-me, mas resigno-me se os homens e as mulheres tiverem o mesmo tratamento jurídico. O adultério é um ato de traição, mas se a anuência for mútua não o estigmatizarei.

Os deuses são falsos e as religiões fraudes organizadas, mas se as mulheres e os homens tiverem direitos iguais tornam-se toleráveis e passam a meras multinacionais para venda e divulgação de orações.

O direito de repúdio de uma mulher só é infame e infamante porque não é permitido à mulher o direito de repudiar o homem.

Sem casamento não há divórcio, mas, aceitando a legitimidade de um, tem de se aceitar o direito ao outro.

Se os símbolos religiosos entram nos edifícios públicos o busto da República deve estar presente nas igrejas. Se as paredes das escolas têm crucifixos as capelas devem ter fotos do Presidente da República. Se a imagem da Senhora de Fátima viaja pelas paredes dos hospitais a primeira-dama deve ter a fotografia nas paredes das sacristias.

A toponímia das nossas cidades está pejada de santos e referência religiosas. É altura de as paróquias começarem a denominar-se Afonso Costa, República e Joaquim António de Aguiar.

Um bispo dá nome a largos, Voltaire pode designar as novas igrejas. O Papa entra na toponímia de uma cidade, a Praça de S. Pedro pode passar a chamar-se Garibaldi.

Não é justo que o espaço público fique saturado de santos, beatos, bispos e papas e a ICAR ignore nomes que evocam a liberdade e a cultura, de Machado Santos a Salgueiro Maia, de Voltaire a Raul Rego, de Tomás da Fonseca a Saramago.

A basílica de Fátima devia ter sido consagrada ao livre-pensamento – um espaço de liberdade –, em vez da improvável Santíssima Trindade.

Se forem proibidos pagodes, igrejas, sinagogas, enfim, templos de qualquer religião e espaços antirreligiosos, não faz sentido que sejam consentidas mesquitas para quem não aceita outra religião e impõe violentamente a sua.

25 de Março, 2019 Carlos Esperança

Secularização*

A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz da Vestfália e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.

A libertação social e cultural do controle das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.

A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são apanágio da democracia. A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.

Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam. O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.

Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral com a crueza das épocas em que foram impressas.

Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.

Em 1979, a vitória do ayatollah Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio Oriente e sectores árabes e não árabes da Europa e dos EUA.

Por sua vez o judaísmo, numa atitude simétrica, viu os movimentos ultraortodoxos ganharem dinamismo, influência e armas, empenhando-se numa luta que tanto visa os palestinianos como os sectores sionistas laicos.

O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não parou de expandir-se e já contaminou o aparelho de Estado dos EUA.

O catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a secularização. O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II (JP2), que arrumou o concílio Vaticano II e recuperou o Vaticano I e o de Trento.

JP2 transformou a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI é herdeiro e protetor, se é que não esteve na sua génese.

A recente chegada ao poder de líderes políticos que explicitam publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas (EUA e Reino Unido), foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado, constituem um exemplo perverso para as populações saídas de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia), facilmente disponíveis para outras sujeições.

A interferência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias – uma forma de despotismo que urge erradicar.

A competição religiosa voltou à Europa. As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma questão de tempo a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade.

A ameaça de Deus paira de novo sobre a Europa. Os saprófitas da Providência vestem as sotainas e ensaiam o regresso ao poder. Os pregadores do ódio voltaram aos púlpitos.

* Artigo de opinião publicado no Expresso em 27 de agosto de 2005

22 de Março, 2019 Carlos Esperança

Erdogan – o Irmão Muçulmano que deseja ser califa

Erdogan e mulher

Não basta deplorar a conduta de um fascista australiano de 28 anos, ligado à extrema-direita, abertamente antimuçulmano e anti-imigração, que deixou 50 mortos e 48 feridos no ataque a duas mesquitas da Nova Zelândia.

Há um submundo de raiva e desespero que encontra protagonistas para atos de violência que surgem um pouco por todo o mundo. Há apenas duas décadas ainda era impensável a frequência e intensidade de ataques terroristas que ora surgem com inaudita crueldade, em contexto religioso.

Os governos europeus têm desprezado a laicidade, cedendo aos dignitários das religiões maioritárias, em troca de um punhado de votos. É difícil combater a pregação do ódio transmitido pelos livros sagrados quando o Estado abandona a neutralidade religiosa a que a democracia e a decência obrigam.

Erdogan, dissimulado e devoto, chegou ao poder com a bênção da Nato e dos países que viam no seu partido um homólogo das democracias-cristãs europeias. Fingiram ignorar o seu percurso político, assumindo reiteradamente as posições ideológicas e religiosas da ‘Irmandade Muçulmana’ e do Hamas.

A Europa ignorou que foi dos poucos líderes, mesmo entre os regimes muçulmanos da região, que apoiou Moahmed Morsi, ex-PR egípcio, oriundo das fileiras da ‘Irmandade Muçulmana’ que, depois de eleito, logo alterou o quadro legal, numa deriva teocrática que impunha a sharia.

O ditador que dispõe das maiores Forças Armadas de um país da Nato, fora dos EUA, e das segundas mais poderosas, depois do Reino Unido, e que alberga no seu território um enorme arsenal nuclear, depois de perseguir, prender, matar e demitir os defensores da laicidade nos Tribunais, nas Universidades, na função pública e nas Forças Armadas, está a seguir as pisadas de todos os ditadores islâmicos, com a herança de Atatürk já sepultada, ostentando o record mundial de jornalistas presos.

Quem não foi sensível ao genocídio dos curdos e aos atropelos aos direitos humanos, há de agora surpreender-se por Erdogan exibir, em comícios eleitorais, trechos do vídeo do atentado na Nova Zelândia enquanto induz o medo contra o “terrorismo cristão”.

Já houve terrorismo cristão nas Cruzadas, na evangelização e na Inquisição, mas há dois séculos que não existe, apesar das crueldades cometidas por cristãos, desde a invasão do Iraque e de numerosas guerras provocadas, até às atrocidades de Duterte e outros.

Há quem não distinga terrorismo religioso de terrorismo feito por crentes. Não há hoje, entre cristãos, organizações homólogas da al-Qaeda, do Hamas ou do Isis, que praticam terrorismo organizado em nome da fé e para a sua dilatação.

Erdogan pode estar em vias de ensaiar um novo califado, o que justificaria as posições dúbias face ao Daesh. A atitude turca quando do combate em Kobani (Síria) foi bastante reveladora das intenções de Erdogan.

Enquanto a Europa ameaça desunir-se, para gáudio de EUA, Rússia, China e Turquia, pode nascer um projeto turco (otomano). Erdogan esperará de que sejam superadas as divisões entre xiitas e sunitas para se afirmar como o muçulmano capaz de enfrentar a UE e os EUA e dominar o Médio Oriente onde a política ocidental tem sido incoerente, ineficaz e frequentemente criminosa.

Deus é grande! E perigoso.