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16 de Abril, 2019 Carlos Esperança

Ética na Publicidade

Por

Onofre Varela

Como o prometido é devido, vou falar de “Ética na Publicidade” para concretizar a “ameaça” que fiz no último artigo.

Já abordei o caso no programa de televisão “A Falar é Que a Gente se Entende”, do Porto Canal, tendo por companheiros de conversa três religiosos de credos diversos. Reparei que o companheiro sacerdote católico arregalou os olhos de espanto por ver um ateu a falar de ética (!!!)… quem se espanta sou eu, por me aperceber da existência de quem possa pensar que a ética não habita a consciência de um ateu!

Em 1975 eu era criativo gráfico numa agência de publicidade em Lisboa, e coube-me desenvolver uma ideia para concorrermos a um concurso público promovido pela PRP (Prevenção Rodoviária Portuguesa). A peça que me coube era um cartaz que tinha por missão alertar os automobilistas para a proximidade de uma escola. Desenhei uma criança com sacola a atravessar uma passadeira de peões, sendo que o desenho era resolvido sem cor. Apenas preto com gama de cinzentos (como se fosse uma foto a preto e branco). O único toque de cor era um sinal de stop em tamanho grande, no centro do cartaz, substituindo a cabeça da criança. Apresentei o estudo feito a guache ao chefe de ateliê, e ele disse de imediato: “Não serve”. Admirei-me com aquela negativa para uma ideia que me parecia tão boa, e perguntei porquê. Ele explicou: “Quando substituis a cabeça de alguém, por uma coisa, estás a coisificar um ser humano. E os seres humanos não são coisificáveis… têm de ser tratados com a dignidade devida ao Homem”!

Foi a primeira lição de ética que recebi em publicidade, a qual retive na memória e sempre considerei no decorrer da carreira.

Agora vem o contrário disto, que aconteceu há cerca de uma trintena de anos.

Num MUPI (Mobiliário Urbano Para Informação) de uma paragem de autocarro no centro do Porto, vi um cartaz, também trabalhado a preto e branco, mostrando uma foto do modelo de um automóvel, e a frase forte que fazia o leitmotif da campanha publicitária: “Na Vida Há Prioridades. Primeiro Eu, e depois… Eu!”. Senti-me enojado. O apelo era dirigido ao pior sentimento de nós. Ao sentimento da hipotética superioridade e importância próprias, subestimando todos os semelhantes. Alás, para quem escolhesse aquele carro, nem havia semelhantes… só inferiores!

Não decorei a marca nem o modelo do automóvel publicitado. Aquilo era repelente.

Mas o criativo daquela mensagem soube muito bem o que fez!… Ela era dirigida aos Yuppies (Jovens Profissionais Urbanos), entre os quais há animais sem ética nem pingo de vergonha. Fazem de tudo para treparem aos postos mais altos das empresas, atropelando tudo e todos na sua corrida à ascenção do poder.

Fico a pensar se a Ética, enquanto filosofia comportamental, também muda de acordo com os tempos… parece que sim… e pelo exemplo dado, afigura-se-me ser pior do que mau.

(Artigo de Onofre Varela, inserido no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, edição de 4 de Abril de 2018)

14 de Abril, 2019 Carlos Esperança

A indústria dos milagres sobrevive

Na ânsia de fabricar milagres, JP2 convocou centenas de defuntos, sepultados em zonas afetas à ICAR, para curarem uma criança aqui, uma freira acolá, um médico noutro sítio, enfim, uma quantidade enorme de doentes que Deus sadicamente tinha estropiado.

A boa vontade dos defuntos, em péssimo estado de conservação, aliviou alguns cristãos das moléstias enviadas pela divina e infinitamente bondosa providência.

O exercício da medicina é o passatempo desses bem-aventurados, há muito falecidos, cristãos com pecados apagados pelo tempo e virtudes avivadas pelo Papa.

No laboratório do Vaticano certificam-se milagres e criam-se novos beatos e santos que povoam a folha oficial do bairro de 44 hectares. Os milagres, em doses industriais e a respetiva criação de santos foi um lucrativo empreendimento lançado pela Opus Dei.

Antigamente era o próprio Cristo que se deslocava à Terra para ajudar a ganhar batalhas aos clientes ou ensinava aos cristãos a tática para matarem os infiéis com mais eficácia.
Depois de alguns desaires, porque a idade e o reumático lhe limitaram as deslocações, Deus deixou ao Papa a tarefa de engendrar os milagres mais adequados à promoção da fé e à estupefação dos crentes. JP2 abandonou o método artesanal de fazer santos para se dedicar à industrialização. B16 seguiu-lhe as pisadas e o papa Francisco continua.

As curas de cancros foram, em regra, as preferidas da Cúria romana. Problemas de ossos, moléstias da pele, diabetes, paralisias e outras doenças fazem parte do cardápio da santidade. Mas, com tanta clientela para elevar aos altares, o Vaticano já chegou ao ponto de deixar para um imperador (Carlos I da Áustria) a cura de varizes a uma freira.

Foi uma ofensa aos quatro filhos vivos que assistiram à beatificação. Se a um imperador reserva como milagre a cura de varizes, os papas, quando forem sólidos defuntos, terão de curar furúnculos ou verrugas, para chegarem a beatos.

Os medicamentos estragaram os milagres de grande efeito como a cura da lepra, por exemplo. E há milagres que o Vaticano não arrisca: hemorroidas e herpes vaginal por causa do sítio, sífilis, blenorragias e SIDA pela associação ao pecado.

Mas há erros que a ICAR há muito não comete: canonizar, por engano, um cão que julgava mártir ou uma parelha de mulas que morreram exaustas e que a ICAR pensou tratar-se de santas mulheres que sacrificaram a vida pelo divino mestre.

Os milagres são cada vez mais rascas, mas a biografia dos bem-aventurados que os obram é progressivamente melhor escrutinada.

11 de Abril, 2019 Carlos Esperança

Todos somos ateus

Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que Deus exista, nem qualquer sinal de vida da parte dele. No entanto, o ónus da prova cabe a quem afirma a sua existência e, sobretudo, a quem vive disso.

Cada religião considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas, afirmação em que certamente todas têm razão. Os ateus só consideram falsa uma religião mais e mais um deus, o que, no fundo, faz de todos ateus. E não é no sentido grego, em que ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, é no sentido comum da negação de Deus [com maiúscula para o deus abraâmico] ou de qualquer outro.

Todos somos hoje ateus em relação a Zeus, Osíris ou ao Boi Ápis, como amanhã outros serão em relação a Vishnu, Shiva e Brahma ou ao Pai, Filho e Espírito Santo da trindade cristã. Os deuses de hoje serão os mitos do futuro. Outros serão criados, por necessidade psicológica, para servirem de explicação, por defeito, a todas as dúvidas, e de lenitivo a todos os medos.

A morte, a angústia que desperta, o fim biológico de todos os seres vivos, é o maior dos medos. Deus é o mito bebido no berço, a esperança de outra vida para além da morte, a boia dos náufragos que se habituaram a acreditar desde crianças e se conformaram com a pueril explicação da catequese e se intimidaram com a dúvida. Os constrangimentos sociais ou/e a repressão violenta ao livre-pensamento tem perpetuado mitos milenares.

A crença, em si, não é um perigo nem ameaça, perigoso é o proselitismo, essa demência de quem não se contenta em ter um deus para si e exige que os outros também o adotem e o adorem. A vontade evangelizadora transforma as religiões em detonadoras do ódio e a competição entre elas em rastilho da violência.

A fé, vivida por cada um, é inócua; transformada em veículo coletivo de conquista ou aglutinação de povos, torna-se um instrumento de violência. É por isso que os Estados devem ser neutros, em matéria religiosa, para poderem garantir a liberdade de todos.

10 de Abril, 2019 Carlos Esperança

Espanha – a perda da fé

Fonte: Fundación Ferrer i Guàrdia a partir de INE y Barómetro del CIS. EL PAÍS

9 de Abril, 2019 Carlos Esperança

Há 4 anos

A Europa não pode virar-se para Meca nem pôr-se de joelhos

A suspensão das emissões da TV5 Monde, por terroristas informáticos, não é apenas um crime contra uma televisão, é um crime contra a liberdade de informação. Ontem, contra a TV5, há tempos, contra o Charlie Hebdo, com banho de sangue, os crimes sectários do fascismo islâmico incitam à repressão e convidam ao martírio que garante aos autores uma assoalhada no Paraíso, 72 virgens e rios de mel doce. No Quénia ou na Nigéria, no Iémen ou em França, onde quer que seja, a Al-Qaeda, Boko Haram ou Estado Islâmico, são heterónimos das metástases do mesmo cancro – O Corão.

O obscurantismo, a demência pia e o desespero de quem encontra na fé o lenitivo para o falhanço da sua civilização, vai criando o caldo de cultura para a repressão que pretende e para a tentativa de destruição do mundo livre. A Europa não pode cair na armadilha de crentes desvairados que seguem o manual terrorista de um beduíno analfabeto e amoral, como Ataturk definiu Maomé. Não pode replicar fora das normas do Estado de Direito, mas pode, e deve, submeter às normas desse mesmo Estado todos os cidadãos.

Admite-se que as madraças e mesquitas sejam interditas a quem recusa a liberdade e a democracia. Há o dever de reciprocidade dos países islâmicos, o dever de aceitarem, nos países onde são maioritários, os crentes das outras religiões e respetivos locais de culto, bem como os que não professam qualquer religião ou as desprezam.

Os facínoras difundiram ainda no Facebook cartões de identidade e dados de supostos familiares de militares que participam nas operações contra o Daesh, num texto com a mensagem: «Soldados da França, fiquem longe do Estado Islâmico! Vocês têm a oportunidade de salvarem as vossas famílias, aproveitem-na» e acrescentaram que «O Cibercalifado continua a sua ciberjihad contra os inimigos do Estado Islâmico».

Independentemente do que cada um de nós pensa da política externa francesa, europeia ou americana, o repúdio pela barbárie e pela chantagem, que se repetem com monótona regularidade, deve ser manifestado de forma a conter a demência prosélita do Islão. Não é islamofobia, é o medo real de quem se deixa envenenar pelos versículos do Corão, um plágio medíocre do cristianismo com laivos de judaísmo, que urge conter.

A democracia está primeiro.

9 de Abril, 2019 Carlos Esperança

Há 4 anos

Escola Prof. Doutor Ferrer Correia – Debate com o padre Nuno Santos

Referida a impossibilidade teórica de o ateísmo ser uma crença, tal como não jogar futebol não ser desporto, o debate foi um exemplo de moderação e respeito mútuo, com o padre Nuno a manifestar a sua crença e eu, que não distingo a água benta da outra, a dizer que a descrença não depende de um ato da vontade.

É fácil num ambiente circunscrito concordar em objetivos comuns, com um único ponto de discórdia, o clérigo, doutorando em Teologia, a afirmar que se trata de uma ciência e o ateu a negar tal qualidade por lhe faltar o método e o objeto.

Foram duas horas cordiais, sem azedume ou ofensas, com a minguada plateia a aceitar opiniões divergentes. Sobrou em urbanidade o que faltou em picardia. O padre aceitou o facto de as religiões serem, ou terem sido, detonadoras de violências, tal como o ateu se referiu a violências de regimes ateus por razões políticas.

Ambos concordámos que a laicidade é um fator de liberdade, a única possibilidade de garantir a liberdade religiosa ou, mesmo, antirreligiosa.

Cumprimos o dever cívico de manifestar as convicções sem pretender conversões, com a benevolente moderação da Prof. Dr.ª Cristina Vieira.

8 de Abril, 2019 Carlos Esperança

As divergências entre a Irmã Lúcia e a estilista Mary Quant

Lúcia nasceu em 1907, Mary Quant em 1934. Ambas tiveram visões. Uma viu espíritos; a outra, corpos. A primeira dedicou-se à oração e à clausura, a segunda à criatividade e ao trabalho. Lúcia queria as mulheres com o corpo escondido, Mary com ele exposto. A primeira exaltou a fé, a segunda a alegria. No Carmelo usa-se o cilício para castigar o corpo; fora, o corpo busca a felicidade e rejeita interditos.

Não se sabe quantas almas Lúcia afastou do Inferno, onde viajou em vida, mas sabe-se que milhões de mulheres foram felizes, na apoteose da beleza, atraídas pela feliz criação da estilista, a minissaia.

De um lado a flagelação do corpo, para salvar a alma; do outro, a glorificação da vida.

A Senhora de Fátima disse à Lúcia para aprender a ler, talvez para a preparar para o magistério pio de que é exemplo a carta a Marcelo Caetano, que abaixo menciono. A vidente das Carmelitas Descalças, em Coimbra, crítica da moda feminina, escreveu, em 24 de fevereiro de 1971, ao Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, implorando medidas legislativas sobre as vestes femininas:

«…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras».

(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)

Até aprendeu o que era a clavícula, guiada pela Virgem nos caminhos da estética! Foi pena a estilista não ter sido solicitada para desenhar os hábitos das carmelitas. Quem sabe se não teria dado um contributo para atrair vocações, superior ao das orações.

6 de Abril, 2019 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e a criação de Fátima

De acordo com os interrogatórios feitos a Lúcia depois do «bailado do sol» de 13 de outubro de 1917, surgiu «Nossa Senhora vestida de branco» sobre a azinheira e, como de costume, depois de um relâmpago. Comunicou-lhe [Nossa Senhora] que deviam rezar o terço em sua homenagem e rogou-lhe que não a ofendessem mais, [quem?].

Entre o pedido de uma «capelinha» no local e informação sobre o regresso dos militares que combatiam na guerra, anunciou-lhes que a guerra acabava naquele dia, o que prova que era escassa a informação e de pouca confiança os informadores de ‘Nossa Senhora’.

Lúcia revelou ainda que, logo após o desaparecimento da visão, que a Igreja católica, ao longo dos anos, converteria em ‘aparição’, olhou para o sol e viu «S. José vestido de branco», o ‘Menino Jesus vestido d’encarnado’ e ‘Nosso Senhor da cintura para cima’.

Os dados referidos, que constam da pág. 49 do livro «O Sol Bailou ao Meio-Dia», do historiador Luís Filipe Torgal, deixam-nos perplexos. Isto de o Menino Jesus vestir de determinada cor e ‘Nosso Senhor da cintura para cima’, para além de não se saber se alguma nuvem vestiu Nosso Senhor da cintura para baixo ou se, perante as crianças, se esqueceu de cobrir as partes pudendas, leva-nos a concluir que Nosso Senhor apareceu em criança, como Menino Jesus, e em adulto, como Nosso Senhor.

Recordei a guia italiana a quem um turista perguntou de quem era o esqueleto pequeno, dependurado junto de outro, grande, de um santo de vasto prestígio, orgulho da cidade e do museu pio visitado, respondendo logo que era do mesmo santo, em criança.

3 de Abril, 2019 Carlos Esperança

O obscurantismo católico

Polónia – Um auto de fé atual


A Polónia, cujo Senado aprovou em 2018 a lei que pune com até três anos de prisão qualquer menção à responsabilidade direta de polacos no Holocausto – entre elas, a utilização da expressão “campos de concentração polacos” –, referida aos campos de extermínio criados pelos nazis, é o mesmo país que colaborou com entusiasmo na denúncia, captura, detenção e assassinato de judeus.


A Polónia convive mal com a democracia e com a memória. O massacre de Jedwabne não foi obra da Gestapo ou das tropas hitlerianas como, durante anos foi assinalado por uma placa. Foram os próprios polacos que, com zelo nazi, no dia 10 de julho de 1941, encerraram e queimaram num estábulo cerca de 1600 judeus, homens, mulheres e crianças, com quem conviviam em relativa harmonia. Não foi por acaso que a Igreja Católica polaca, em 27 de maio de 2001, se sentiu na obrigação de pedir “perdão a Deus pelos pecados e pelo mal causado pelos católicos durante a II Guerra Mundial”.


A Igreja católica polaca é profundamente reacionária e antissemita. Não pode ser ilibada das responsabilidades que lhe cabem na eleição dos políticos que a governam e das posições xenófobas da sua população. O próprio Papa João Paulo II era filho desse caldo de cultura, que não conseguiu ultrapassar.


Estamos em 2019, mas a Polónia de João Paulo II e dos irmãos gémeos Lech e Jaroslaw Kaczynski, este ainda vivo, mantém-se obscurantista e retrógrada, com atropelos aos direitos humanos e, em particular, à emancipação da mulher.


No último domingo, dia 31 de março deste Ano da Graça, um grupo de padres católicos realizou uma cerimónia onde queimaram livros que, segundo eles, promovem a feitiçaria. Até um livro da saga Harry Potter, escrito por J.K. Rowling, foi queimado.


A cerimónia convenientemente fotografada pela concorrência, um grupo evangélico, que a divulgou e ridicularizou, chegou ao jornal The Guardian.
Segundo o o prestigiado jornal, a cerimónia teve lugar na cidade de Koszalin, onde três padres foram fotografados a carregar um cesto de livros de dentro de uma igreja para um largo de pedras, do lado de fora, que serviu para fazer a fogueira. Enquanto os livros ardiam, foram feitas orações pelos padres, e um pequeno grupo de pessoas ficou a ver.
O obscurantismo religioso não é monopólio de uma religião, é apanágio de todas.

https://www.theguardian.com/world/2019/apr/01/harry-potter-among-books-burned-by-priests-in-poland