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18 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Ateísmo, religiões e liberdade

O ateísmo, ao contrário das religiões, não cria pessoas boas ou más enquanto as últimas moldam o seu carácter e as levam a praticar atos da mais sublime bondade ou da mais degradante abjeção.

O Estado Islâmico assassina e tortura segundo a vontade de um ser imaginário, tal como outrora o fez o cristianismo nas Cruzadas, Evangelização e Inquisição e, ainda hoje, o faz o sionismo judaico.

Há crentes e ateus entre os maiores criminosos da História recente. Dos primeiros, sem necessidade de recorrer ao fascismo islâmico, destacam-se Mussolini, Franco, Pinochet, Videla, Somoza e o padre Tiso, sendo Hitler designado por crente ou ateu, conforme as conveniências. Nos ateus sobressaem Estaline, Enver Hoxha, Ceauşescu, Mao, Pol Pot e Kim Il-sung. Estão bem uns para os outros.

O ateísmo dos democratas tem na Declaração Universal dos Direitos Humanos o padrão para definir a bondade do ateísmo e da crença de cada um. São correligionários os que a respeitam e adversários os que a renegam ou não a subscrevem. O mundo não se divide entre crentes e ateus mas entre os que partilham os valores civilizacionais herdados do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Francesa e os que se lhes opõem.

Há ateus nazis, xenófobos, racistas e misóginos à semelhança do pior que nos legaram os monoteísmos. Não deixa de ser ateia essa gente desumana tal como não deixaram de ser cristãos os nazis e os fascistas e os que se lhe opuseram na Resistência.

Há boas razões para se combaterem as religiões, sem as confundir com os crentes, a sua falsidade e a sua nocividade, mas usar nesse combate as mesmas armas dos combatentes do Estado Islâmico, por exemplo, é repudiar a civilização de que nos reclamamos.

17 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Crime sexual na Igreja, outra vez.

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Escrevi na Gazeta (edição de 15 de Novembro de 2018) que o jornal espanhol El País criou um canal para recolher testemunhos de crimes sexuais cometidos no interior da Igreja ou colégios religiosos, para memória futura mas também com a esperança de haver tempo para julgar em tribunal alguns dos casos narrados. Um desses casos foi noticiado na edição do mesmo jornal no último dia 7 de Setembro. Aí se dá conta dos actos de um clérigo “predador sexual”, praticados há 30 anos. Trata-se do monge Andreu Soler (já falecido, pelo que viveu incólume durante toda a sua vida). Segundo o jornal, foi “um predador sexual e um pederasta que abusou de um número indeterminado de menores no Mosteiro de Monserrat, com total impunidade, durante quase três décadas”.

Durante 40 anos o monge dirigiu o agrupamento católico El Nois de Servei, naquele mosteiro tradicionalmente considerado como o centro espiritual da Catalunha. A investigação dos actos do monge Soler, que o próprio mosteiro promoveu, concluiu terem sido diversos os actos sexuais criminosos, muitos dos quais ainda permaneciam na sombra, e cujo autor não foi, apenas, o frade Soler. Refere ainda um outro clérigo, identificado pelas iniciaias V. M. T. que “foi o responsável pelo grupo de meninos cantores mais antigo da Europa, e cometeu abusos sexuais em 1968”. A comissão investigadora diz que, na época, “se informou, com transparência, as famílias [das crianças cantoras] e o monge foi retirado de imediato, deixando o mosteiro em 1980 para contrair matrimónio”. O documento refere as atitudes diferenciadas dos dois pederastas nele tratados. Enquanto que V. M. T. foi capaz de “mudar de conduta”, Andreu Soler “fez do abuso um modo de vida, um padrão de conduta sem arrependimento nem propósito de mudança ou admissão de culpa”.

A comissão de investigação, que desde a sua criação em Janeiro deste ano recebeu 12 denúncias por correio electrónico e entrevistou oito vítimas, dedica parte do seu estudo a analisar o papel dos responsáveis da abadia, e conclui que “durante os abusos aos meninos cantores, cometidos por Soler pelo menos entre 1972 e 1999, se omitiu qualquer tipo de actuação”. A primeira denúncia contra Soler data de 1998, mas quem a recolheu e analisou diz ter encontrado “contradições nos relatos” pelo que, ao que parece, não a considerou. No entanto há testemunhas que garantem ter havido, mesmo antes dessa denúncia, “rumores suficientes dentro das paredes do mosteiro para justificarem uma acção” contra o monge Andreu Soler e retirá-lo do convívio das crianças cantoras.

O monge, falecido em 2008 “utilizou a violência contra algumas das suas vítimas que jamais apagarão da memória as consequências emocionais e psicológicas”. A comissão propõe que o mosteiro de Montserrat celebre um acto público do reconhecimento dos factos, e peça perdão às vítimas e à comunidade.

(Texto de Onofre Varela, a sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira do dia 19 de Setembro de 2019)

15 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Não havia dever de reciprocidade?

O primeiro-ministro esloveno, o social-democrata Alenka Bratušek, lançou há seis anos a primeira pedra da primeira mesquita do país, em Liubliana, na presença de um ministro do Catar, país onde abandonar o islamismo é considerado apostasia e quem se converta ao cristianismo enfrenta perseguição severa.

Que a construção de uma mesquita é «uma vitória simbólica sobre todas as formas de intolerância religiosa» – como declarou o PM anfitrião –, é uma evidência irrefutável.

Mas seria legítimo erigir mesquitas em países democráticos se no Catar a plena liberdade religiosa, passados 6 anos, só existe para o totalitarismo islâmico?

Quando o Papa católico puder batizar um cristão na catedral do Bagdad, o grande rabino de Jerusalém orar na sinagoga de Cabul, o Patriarca da Igreja Ortodoxa Grega pregar em Rabat, o arcebispo de Cantuária oficiar no Bahrein, o bispo da IURD comprar um terreno no Azerbaijão, para expandir o negócio, e uma associação de ateus, céticos, agnósticos e racionalistas for legal no Iémen ou na Arábia Saudita, então poderão nascer mesquitas e madraças nos países onde o pluralismo religioso, político e filosófico são apanágio das democracias.

Que vitória sobre a intolerância seria ver um pagode em honra de Buda, em Omã, ou um templo hindu, dedicado a Vixnu, na Somália!

Até lá, encaro com apreensão a complacência com o multiculturalismo, sobretudo com o Islão, que promove a guerra aos infiéis, lapida mulheres adúlteras, decapita apóstatas e recusa respeitar a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

14 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Caçadores de insetos

Há quem se distraia com borboletas e quem queira capturar o Espírito Santo.

12 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Capelães e capelanias

A Constituição da República Portuguesa não determina que o Estado seja obrigado a prestar assistência religiosa aos portugueses nem diz que a mesma é tendencialmente gratuita, com ou sem taxa moderadora.

A sustentação do culto é um dever dos crentes, através do dízimo, da côngrua ou de qualquer outra forma de pagamento, por prestação de serviços, e nunca comparticipada a 100% por serviços do Estado, seja nas Forças Armadas, nos hospitais ou nas prisões.

Ao Estado incumbe o dever de assegurar a liberdade de culto a todos os crentes, em igualdade de circunstâncias e, ao mesmo tempo, defender o direito dos cidadãos a terem a religião que quiserem, enquanto entenderem, sem risco de mudança, de apostasia ou, mesmo, de serem hostis.

A promíscua ligação da ditadura salazarista à Igreja católica, através da Concordata, dava ao Governo o direito de recusar os bispos que a Igreja propusesse para as dioceses, mas legou ao país uma série de capelães pagos pelo erário. A democracia prescindiu do veto à nomeação de bispos mas a Igreja não prescindiu das capelanias e alargou-as às forças policiais.


Rui Valério, bispo das Forças Armadas e de Segurança é o comandante-chefe dos católicos fardados e o único general que é nomeado pelo chefe do Estado do Vaticano e não pelas autoridades portuguesas, uma perda de soberania absolutamente inaceitável.

O número de capelães aproxima-se de 200. Num estado laico estão todos a mais.

11 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

A Europa, a laicidade e os imigrantes

A Europa, sob pena de renegar os valores, cultura e civilização que a definem, não pode deixar de socorrer e tentar integrar as multidões que fogem de países falhados, Estados terroristas e regiões que o tribalismo e a demência dominam.

A Europa, tantas vezes responsável por agressões devastadoras, cujas consequências ora a confrontam, não pode renunciar ao dever de solidariedade para com os acossados, não por expiação de culpas mas por imperativo ético.

Nunca a metáfora da bicicleta, caindo quando para, foi tão certeira como aplicada à UE, que não soube ou não quis federar as nações que a compõem com o aprofundamento da política comum, nas suas vertentes económica, social, fiscal, militar e diplomática, para quem, como eu, acredita num projeto europeu.

Mal dos europeus se o medo os paralisa e preferem abandonar os náufragos a assumir o risco de salvar um terrorista, mas, pior ainda, se descuram o perigo que a exigência ética comporta, se não souberem distinguir os crentes, que precisam de ajuda, das religiões que exigem combate.

A Europa civilizada morre se renunciar à solidariedade que deve e suicida-se se não se defender da perversão totalitária de culturas exógenas que vivem hoje o medievalismo cristão e o pendor teocrático do seu próprio passado que o Iluminismo erradicou.

A civilização europeia será laica ou perece. Não pode ceder a poderes antidemocráticos, permitir a confiscação de espaços públicos por quaisquer religiões que incitem ao crime, em nome de Deus ou do Diabo.

O Islão, na sua deriva sectária, é puro fascismo a exigir contenção. Enquanto não aceitar a igualdade de género, o livre-pensamento e as liberdades individuais não pode ser tratado como as religiões cujo clero se submeteu ao respeito pelas regras democráticas e à aceitação do Estado laico.

A laicidade, paradigma da cultura europeia, é a vacina que salva o pluralismo religioso, preserva a sua civilização e evita a xenofobia que alimenta a direita antidemocrática que pulula nas águas turvas do medo e da demagogia.

Não se exige mais a quem chega do que a quem já estava, a submissão às leis do Estado laico e democrático.

8 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

A superstição e a ICAR

«DIA DA VIRGEM MARIA –Concebida sem pecado original, nasceu neste dia em Nazaré, Galileia. Aos três anos foi oferecida ao serviço do templo, por seus pais, Joaquim e Ana, onde recebeu a dignidade de mãe de Deus, aos catorze anos de idade, por disposição divina, teve como esposo o castíssimo S. José, e pouco 

depois, o anjo S. Gabriel anunciou–lhe que conceberia, por obra e graça do Espírito Santo, tendo ido a Belém com S. José para se alistar seguindo a ordem do imperador Augusto, pariu num presépio o seu unigénito filho, Jesus, verdadeiro representante de Deus, viveu sempre com o seu Filho, acompanhando–o na jornada do Egito, nas pregações, na paixão e na morte, depois da ascensão do Senhor viveu ainda quinze anos na igreja, ausentou–se deste mundo num trânsito suavíssimo e três dias depois a sua alma voltou ao corpo, e com ele em triunfo, uniu–se ao bem. »

Ah! Ah! Ah! Que bela gargalhada!

6 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Pensando em meu pensamento

A Igreja católica tem quase 50 mil edifícios isentos de IMI. Não é crível que as 4376 paróquias tenham mais de dez edifícios por paróquia, destinados ao culto e a guardar andores. São demasiados edifícios para a devoção que sobra.

O facto de estarem isentas as casas onde moram os padres permite perguntar por que motivo não exigem os bispos que os automóveis do clero fiquem isentos de imposto de circulação e as refeições de IVA?

A Igreja ganha todas as batalhas contra o Estado, e já ganhou mais esta. Mas compreende-se melhor o aparecimento de figuras históricas como o Marquês de Pombal, Joaquim António de Aguiar e Afonso Costa.

A natureza tende para o equilíbrio.

5 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Negócios da fé

O irmão Bolsonaro foi abençoado por Edir Macedo, um bispo enviado por Deus para extorquir os devotos.