15 de Dezembro, 2019 Carlos Esperança
Religiões e terrorismo
Pode dizer-se que sob a capa das religiões se abrigam interesses económicos e políticos, mas isso não absolve os crimes que praticam. Aliás, a separação das Igrejas do Estado nunca foi vontade das religiões, mas imposta pelos Estados através da repressão política do seu clero.
A laicidade ainda hoje é acolhida com azedume pelas religiões obrigadas a aceitá-la, e é um conceito alheio ao Islão, dificilmente assimilável pelo cristianismo ortodoxo e cada vez mais desprezado pelas Igrejas evangélicas.
A globalização trouxe às crenças, há séculos delimitadas geograficamente, o desafio de se tornarem globais (totalitárias) e o medo de se diluírem ou, mesmo, de desaparecerem.
O proselitismo de que algumas se encontram imbuídas transmite aos crentes a ânsia do apostolado, com a febre do martírio a corroê-los e a violência a empolgá-los.
A falência da civilização árabe, a que não é alheia a islamização, leva ao desespero dos muçulmanos, que veem no Paraíso a única oportunidade coletiva de fruírem ‘rios de mel doce’, prados verdejantes, sombras e virgens em abundância para crentes a quem tudo é interdito pela versão mais implacável dos monoteísmos, ainda que tenham de assassinar todos os crentes da concorrência e, sobretudo, os não crentes.
O fundamentalismo que caracteriza importantes comunidades islamitas não é exclusivo do Islão nem este a primeira religião contaminada. Aliás, a palavra ‘fundamentalismo’, surgiu no início do século XX para designar o protestantismo evangélico que não parou de o fortalecer.
A falta de etapas que moldaram o cristianismo, o Renascimento, a Reforma protestante, o Iluminismo e a Revolução francesa, deixaram o islamismo a perpetuar as sociedades tribais e patriarcais, onde nasceram os monoteísmos, tornando-se um fascismo religioso onde a laicidade é inaceitável e a emancipação da mulher ainda mais intolerável.
Os constrangimentos sociais em sociedades tribais e/ou tribalizadas tornam improvável a mínima evolução pacífica. As retumbantes vitórias do despotismo sobre a democracia, em eleições democráticas, explicam o paradoxo de serem as ditaduras laicas a garantir o pluralismo religioso e alguns direitos cívicos, e os governos eleitos democraticamente a consolidarem o totalitarismo religioso.
Os sucessivos acontecimentos violentos, terrorismo, lapidações e torturas, são a ilustração daquilo em que se converteu o Islão, o sistema totalitário onde a conversão ou a morte são as alternativas. O terrorismo atual contra os cristãos da Nigéria ou o atentado à bomba contra a catedral São Marco, no Cairo, há 3 anos com pelo menos 25 mortes e meia centena de feridos, de cristãos coptas (10% da população do país), são uma metáfora da alegada misericórdia do Profeta cuja inspiração vai erradicando qualquer ‘heresia’ dos países onde não se concebe um Estado que não se funde na religião e não se confunda com ela.