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5 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Ziguezagueando sobre o Islão e a liberdade

Se perseguirmos os que divergem de nós abdicamos do respeito que exigimos. Temos o dever de proteger os islamitas da xenofobia que grassa na Europa onde a direita política começa a ter como única alternativa a extrema-direita, caucasiana, cristã e nacionalista.

A defesa dos crentes, de quaisquer crentes, não exige cumplicidade com as crenças que os intoxicam. Não faz parte da cultura humanista, que nos moldou, dar a face incólume à bofetada igual à que nos desfeiteou a outra.

Quando trocamos princípios por benefícios acabamos por perder uns e outros. Por mais que me esforce para entender uma religião que não se limita a impor normas aos crentes e quer impô-las aos outros, não o consigo.

A tradição, frequentemente invocada, remete-nos para usos erradicados pela civilização. Continuo a respeitar os crentes mas a ser intransigente para com todos os totalitarismos, seja qual for a sua natureza.

A libertação da mulher, o fim do esclavagismo, a abolição da tortura, a democracia, em suma, o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos não se pode submeter à vontade de Deus interpretada pelos funcionários de quaisquer religiões.

As teocracias que florescem no Islão não permitem a liberdade de culto de outra religião e exigem que as mesquitas sejam erigidas na Europa pluriétnica. Impõem o respeito que negam aos outros. Não há respeito mútuo sem reciprocidade.

A mais boçal caricatura de uma sociedade civilizada é o Estado Islâmico e a perversão mais ousada do proselitismo encontra eco na organização Daesh, a nova Al-qaeda cuja derrota ameaça espalhá-la em células terroristas à escala planetária.

Quando a religião se transforma num caso de polícia, na ameaça global, no proselitismo boçal, o combate na defesa da civilização é uma exigência dos que recusam submeter-se ao despotismo de um monoteísmo implacável e criminoso.

3 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A pagela n.º 71_2, capa e pág. 4 do desdobrável

Como disse no texto anterior, aqui fica a foto da capa e a da contracapa onde um bando de primatas espanhóis paramentados, com mitra, báculo e anelão, muitos com barrete cardinalício, teve direito à divulgação do decálogo de boas práticas da moral cristã, de 1957, sem se distraírem do entusiástico apoio ao fascismo e ao genocida Franco.

Aí ficam, em vernáculo, sábios princípios, divinos na forma e diabólicos na substância, dados à estampa pelo episcopado luso. Não darei a um bispo, português ou espanhol, o epíteto com que Camilo brindou Frei Gaspar da Encarnação, «uma santa besta», por ser o adjetivo injusto.   

2 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A pagela n.º 71_1

Em 22 de junho de 1956 os bispos portugueses, reunidos em Fátima, 39 anos depois do maior embuste encenado em Portugal contra a República, já a acomodarem os segredos contra o comunismo, e ainda longe, após a implosão da URSS, de os afinarem contra o ateísmo, publicaram a pagela n.º 71.

Aquela cáfila paramentada, com recalcamentos sexuais e uma misoginia fertilizada nas ‘manhãs submersas’ de que falava Vergílio Ferreira, depois de despachado o breviário, reuniram-se para refletir e mandar divulgar pelos padres das paróquias a sã doutrina da Igreja católica e os bons costumes que a moral de empedernidos celibatários exigia.

Tal como haviam feito os homólogos espanhóis, os bispos publicaram códigos morais, sobretudo para mulheres, no que respeitava à cobertura do corpo, essa fonte de pecado que Eva deixara em herança, a todas as mulheres, depois de comer a maçã.

Em 1953 já este escriba fora fustigado com 4 sacramentos e estava a menos de um ano de dispensar os serviços pios desse exército de funcionários de Deus que exigiam à mulher o pudor que, sob a mitra, tais cabeças geraram três anos depois.

A pagela n.º 71, de 22-08-57, que me foi oferecida, é a relíquia pia que sinto obrigação de divulgar.

Já imaginaram a leitura, em todas as igrejas, por um exército de tonsurados, a exibirem os paramentos, enquanto ameaçavam as mulheres com as penas do Inferno cuja pintura das cores e imaginação dos horrores lhes cabia?

O cardeal Cerejeira, defensor da guerra colonial que designou por «defesa da civilização cristã e ocidental», há de ter presidido ao conclave que o recalcamento da líbido levou a tão pudicos e cristãos ensinamentos.

O bando de devassos, que só pensava em sexo, foi o sustentáculo da ditadura que moldou a Igreja para perpetuar o regime e o sofrimento inútil da mulher.

Maldita misoginia clerical!

A imagem, tal como as ideias dos bispos, sai-me sempre ao contrário

Apostila – Pg. 2 e 3. Amanhã publico a capa e a pg. 4, com as recomendações dos bispos espanhóis.

2 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Milagre

Há milagres mais inverosímeis
30 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

B16 não tem sorte

O Papa emérito nunca foi um homem de sorte. Teve de resignar ao lugar mais apetecível e não foi a primeira vez que foi vítima das aves de rapina.

B16 condenado ao insucesso
29 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Estacionamento proibido

A polícia romana era implacável com os estacionamentos não permitidos como a gravura documenta.

27 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

A fé, a tirania e a violência

Quando o solípede Abraão quis sacrificar o filho para fazer a vontade ao seu deus criou um axioma que perdura: os tiranos têm sempre quem lhes obedeça.

Que outra forma há para explicar as casmurrices papais que encontram sempre legiões de câmaras de eco que as propagandeiam urbi et orbi?

Que justifica a existência de carrascos para darem cumprimento à sharia ? Quem criou os frades que rezavam alegremente enquanto as bruxas e os hereges eram grelhados nas santas fogueiras da Inquisição ?

Faltam, acaso, médicos que atestem a veracidade das burlas dos milagres obrados por um sistema de cunhas que envolve uma virgem, um defunto e a associação de intrujões?

As religiões são as multinacionais que mais tempo se mantêm no mercado sem renovar o stock dos produtos e os métodos da cautela premiada. Prometem o paraíso sem terem uma escritura válida nem o número de registo na conservatória do registo predial celeste e ameaçam com o Inferno, sem o localizarem no mapa imaginário da fé.

O clero é uma classe de vendedores de ilusões que obedece cegamente a uma hierarquia pouco recomendável. Do budismo ao cristianismo, do judaísmo ao islamismo, da bruxaria à quiromancia, a superstição e o medo são os motivos que levam os clientes a alimentar as mentiras pias e o fausto dos patrões da fé.

24 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

A entrada da Irmã Lúcia no mundo da moda feminina

Em 24 de Fevereiro de 1971 a Irmã Lúcia, reclusa das Carmelitas Descalças em Coimbra, escrevia ao Presidente do Conselho, Dr. Marcelo Caetano, implorando medidas legislativas sobre as vestes femininas:

«…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras».

(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)

22 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Humor e Religião (2)

Por

Onofre Varela

Os religiosos que se sentem ofendidos com uma comédia quando ela brinca com elementos da sua crença, devem protestar nos locais próprios que os regimes democráticos têm para esse fim. 

No caso do atentado brasileiro duvido do sentimento cristão do grupo de criminosos-nacionalistas, cuja reacção foi atacar à bomba!… Este acto poderá estar relacionado com o actual regime político que permite a violência e tem gente da IURD sentada no Parlamento, sendo que o próprio presidente é afecto a essa seita dita evangélica, e por muitos apontada como criminosa. 

Os extremistas muçulmanos também reagiram com metralhadoras contra o jornal satírico Charlie Hebdo, em 2015, matando 12 jornalistas-cartunistas, só porque não gostaram de uma crítica a Maomé! Os extremistas religiosos e patrióticos não pensam para além do tabu sacramental de Deus e da Pátria. Não têm sentido de humor, nem nenhum outro sentimento que não seja o da vingança violenta. A interpretação que fazem dos textos religiosos é programada pelos gurus das seitas e dos credos, e não pela sua capacidade de entendimento. 

No caso da comédia brasileira, aludindo uma hipotética homossexualidade de Jesus, ressaltam alguns condicionamentos mentais dos crentes que os levam à irritação, à fúria e ao crime. Desde logo, temos a própria homossexualidade que é condenada por si só e que os crentes rotulam de “pecado”. E depois… não lêem a Bíblia! Dizem ser o seu livro sagrado, mas não têm a mínima ideia do seu conteúdo! 

No Novo Testamento (João: 13; 21-30) é narrada uma cena incluída no capítulo onde se encontra a célebre frase de Jesus: “Na verdade vos digo que um de vós me há-de trair”. Perante esta denúncia, os seus discípulos olharam-se, perplexos com o que o Mestre lhes dizia. A parte curiosa desta narrativa está nesta frase: “um dos seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus”. Quer dizer que Jesus só amava um dos discípulos (ou amava-o mais, ou de modo diferente, do que a todos os outros?), que por acaso era aquele que se encontrava ao seu colo, na posição de reclinado… isto é, deitado… o que presumia alguma intimidade para além da amizade. 

Simão Pedro fez sinal a esse jovem a quem Jesus amava, para que perguntasse ao Mestre quem era aquele que o haveria de trair. O jovem aproximou a sua boca do rosto de Jesus e perguntou: “Senhor, quem é?”. Segundo esta narrativa, aquele a quem Jesus amava e que se reclinava sobre o seu seio, era seu confidente e porta-voz. Através dele os outros discípulos dirigiam-lhe as questões e ouviam a resposta (pelo menos naqueles versículos). 

A interpretação desta passagem bíblica pode ser variada… e uma das variações, tão válida como qualquer outra, pode ser entendida como havendo uma relação íntima entre aqueles dois homens. Não é à toa que os autores teatrais tratam os assuntos históricos ou míticos. Eles lêem, estudam e investigam, para poderem fundamentar as suas estórias que passam em palco, na televisão ou no cinema. Ao contrário, os fundamentalistas bíblicos só têm uma interpretação – a radical – e baseados nela arrogam-se o direito de lançar bombas contra aqueles que, dando cumprimento ao seu trabalho de criar rábulas teatrais (ou cartunes), atingem um nível de raciocínio que está vedado aos agressores. Por isso se radicalizam… e o governo brasileiro de Jaír Bolsonaro alimenta essa radicalização e parece apoiar os seus actos!… E se estes terroristas não forem apanhados e julgados… não parece que os apoia… apoia-os mesmo! 

Termino transcrevendo uma frase do meu camarada cartunista Zé Oliveira: “Produzir humor é um acto de inteligência. Produzir terror é um acto de estupidez bárbara”. (Fim)

(A sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, na edição de 23 de Janeiro de 2020)