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8 de Junho, 2020 Carlos Esperança

Violência contra as mulheres – os monoteísmos e a misoginia

A tara judaico-cristã, comum aos três monoteísmos, foi sendo atenuada pela civilização, mas permanece na matriz genética das religiões do livro e no espírito dos hierarcas que as divulgam, e delas vivem, bem como dos crentes que as seguem.

Paulo de Tarso, o autor da primeira cisão conseguida do judaísmo, preservou o horror à mulher, em perfeita consonância com a lei moisaica de que, aliás, só divergiu quando se convenceu de que o Messias anunciado era Jesus Cristo, um judeu que morreria sem se aperceber que originara uma nova seita, que o imperador Constantino, por necessidade de cimento para o Império Romano, havia de converter em religião, dando-lhe a liberdade de culto, em 313, o que seria fundamental para a futura conversão total do império. Teodósio, algumas décadas depois, em 380, tornaria obrigatório o cristianismo.

Todavia, o apogeu da demência misógina seria atingido com Maomé na cópia grosseira dos monoteísmos anteriores. E não vale a pena dizer que é a versão errada do islamismo que dá origem à violência. É isso que o Corão, manual terrorista elevado à categoria de livro sagrado, ensina. Foi assim que o «Profeta Maomé, o Misericordioso», alcunha do beduíno analfabeto e amoral, pensou.

O horror causado pela discriminação da mulher leva os crentes a desculpar as religiões o que, independentemente da crença ou descrença, não permite alhear-nos da influência no sofrimento secular imposto a metade da Humanidade, por discriminação sexual.

É verdade que o cristianismo se civilizou, graças à repressão política sobre o clero, e o judaísmo se reduz a menos de 20 milhões, a maior parte secularizados, o que não deixa de ter influência nefasta na violência sionista, mas existe a possibilidade de retrocesso.

Só o islamismo, no ocaso da fracassada civilização árabe, permanece virulento e não foi surpresa, para quem acompanha a sua deriva política, cunhada como fascismo islâmico, que o Estado Islâmico, à semelhança do que acontecera com os talibãs no Afeganistão, tenha ordenado às mulheres severas restrições à liberdade depois de, em junho de 2014, ter tomado Mossul. Foi assim que o uso do véu integral e a mutilação genital feminina [não sendo esta uma imposição de todo o Islão] foram exigidos, bem como a cobertura dos pés e mãos, sob pena de «castigos severos».

É difícil perceber que, sob o álibi do respeito pelas religiões, não se combatam no plano ideológico, à semelhança das doutrinas políticas consideradas perversas.

Deixo aqui a opinião de dois ‘santos doutores’ do cristianismo cuja censura me levaria à fogueira se não tivesse havido o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa.

“No que se refere à natureza do indivíduo, a mulher é defeituosa e malnascida, porque o poder ativo da semente masculina tende à produção de um perfeito parecido no sexo masculino, enquanto que a produção de uma mulher provém de uma falta do poder ativo.” (Tomás de Aquino, Summa Theologica)

“Nada rebaixa tanto a mente varonil de sua altura como acariciar mulheres e esses contactos corporais que pertencem ao estado do matrimónio.” (Santo Agostinho, “De Trinitate”)

5 de Junho, 2020 Carlos Esperança

Desenhos

4 de Junho, 2020 Carlos Esperança

Terrorismo

É um erro tão grave atribuir o terrorismo à emanação da luta de classes como tolerar as madrassas e mesquitas que o promovem e, sobretudo, o livro que inspira os seus agentes.

Não podemos ver em cada crente um terrorista, mas não podemos ignorar a falsidade e a nocividade da doutrina que os intoxica.

O terrorismo não é monopólio de uma religião, é a bomba detonada de qualquer religião não submetida ao secularismo democrático e à repressão do clero que o fomenta.

1 de Junho, 2020 Carlos Esperança

Escrito há 4 anos

A Europa, o véu islâmico e a liberdade

A advogada-geral do Tribunal Europeu de Justiça, Julianne Kokott, considerou que as empresas podem não aceitar símbolos religiosos no interior das suas unidades e, assim, proibir o véu islâmico, porque vulnerabiliza a neutralidade religiosa.

É a primeira vez que a justiça comunitária se pronuncia sobre o que, aparentemente, se afigura como interferência nas liberdades individuais. Não faltará, pois, quem considere abusiva a medida e perigoso o precedente que mais não pretende do que evitar o desafio à laicidade e ao carácter secular da civilização europeia.
É um facto que algumas muçulmanas, por hábito e tradição, se sentem confortáveis com o adereço, mas, por cada uma que o aprecia, há centenas obrigadas a conformar-se.

Os constrangimentos sociais de guetos, onde as mulheres são a mercadoria que cabe aos homens transacionar, deve levar uma sociedade civilizada a evitar que comportamentos misóginos se perpetuem. O véu é o símbolo de submissão onde alguns veem um direito e quase todos a perpetuação de uma humilhação em função do sexo.

É a primeira vez que, perante um despedimento numa empresa que proíbe a exibição de símbolos políticos, religiosos ou filosóficos, se vai pronunciar o Tribunal Europeu de Justiça, que habitualmente acolhe a posição da sua advogada-geral. Se tal acontecer, faz jurisprudência que evitará a guerra dos símbolos religiosos que o proselitismo religioso gosta de travar.

A exibição de símbolos religiosos como manifestação pública de comunitarismo que se perpetua terá de dar lugar à cidadania integradora. A identidade que se preserva na luta contra a igualdade de género e na afronta às sociedades abertas e cosmopolitas não é um direito, é uma provocação.

Se o Tribunal Europeu produzir o acórdão que se espera, não é a liberdade que se limita, é o ataque que se previne, defendendo a laicidade.
http://internacional.elpais.com/…/ac…/1464685642_291140.html

30 de Maio, 2020 Carlos Esperança

O dia do Corpo de Deus

O dia do Corpo de Deus é, se a memória da catequese me não falha, a segunda quinta-feira depois do Pentecostes.

Em garoto achava graça a este acaso do calendário e não me admirava com a marcação litúrgica do dia santo que aceitava com a mesma tranquilidade com que aguardava o dia de mercado da Miuzela, este na 3.ª quinta-feira de cada mês, ritual que se mantém com menos gado e mais veículos motorizados.

A única coisa que sempre me surpreendeu no corpo de Deus, dada a sua dimensão, foi a quantidade de fazenda para um fato e a dificuldade do alfaiate em tirar-lhe as medidas.

Mas, nestas coisas do divino, o que pode saber um incréu?

Mas interrogo-me por não haver um dia para cada órgão do corpo divino, sobretudo para as vísceras.

28 de Maio, 2020 Carlos Esperança

A laicidade como condição de paz e sobrevivência

Repetir é didático. Reitero a minha determinação em defender todos os crentes de todas as religiões e em combater todas as crenças prosélitas, totalitárias, racistas, xenófobas e misóginas.

Os pregadores do ódio que nas mesquitas e madraças acirram os crentes contra os infiéis não fazem mais nem pior do que os cristãos, ao longo dos séculos, contra muçulmanos e judeus, ou estes contra os muçulmanos da Palestina.

Não podemos consentir que todos os crentes de uma ideologia totalitária vivam reféns do medo e da vingança tal como não podemos deixar-nos ficar à mercê dos que julgam ter o Paraíso à espera depois de nos liquidarem.

O primarismo islâmico, exacerbado pelo fracasso da civilização árabe, é terreno fértil para a conversão e espaço assassino para os apóstatas. O fanatismo dos convertidos é hoje tão ardente como o dos primatas que corriam ao apelo dos papas para as Cruzadas ou ao dos monges que ateavam as fogueiras da Inquisição.

É difícil convencer Governos democráticos a abstraírem-se dos votos, a pensarem nos deveres cívicos e de que é intolerável que as crianças cresçam sob a fanatização das crenças, tantas vezes patrocinadas por eles nas escolas públicas, mas é intolerável que qualquer religião goze de privilégios diferentes de outra associação cívica.

Não cabe aos Estados pronunciarem-se sobre as virtudes de um credo ou definir direitos em função do número de fiéis. Tal como acontece com os partidos políticos, que partem em igualdade de direitos para cada escrutínio, assim deve ocorrer com todas as crenças, em cada dia, e serem objeto de vigilância quando a sua perigosidade o justifique.

O racismo é execrável e o respeito pelas minorias uma exigência ética e democrática. Só não podemos conceder a nenhum Deus ou à sua ausência que o apelo à violência ou o direito de impor os preconceitos de uma religião se sobreponha ao Código Penal de um País laico e democrático.

Um incitamento ao crime é um crime em si mesmo, ainda que venha na Tora, Bíblia ou Corão, e não se vê que seja racional aceitar cultos de religiões que nos países onde são poder proíbem as que os consentem.

A paz e a liberdade não podem ser deixadas ao arbítrio de Deus, têm de ser a exigência de quem prefere morrer pela democracia a vegetar numa teocracia.

26 de Maio, 2020 Carlos Esperança

Igreja e Censura

Por

ONOFRE VARELA

Neste tempo de confinamento, preservando-me – e preservando os outros – de contágio do Covid-19, tenho ocupado o tempo a ler, a escrever, a pintar e a arquivar recortes de imprensa, alguns dos quais esperam arquivamento há cerca de 30 anos.

Um deles é uma folha do Jornal de Notícias da edição de 14 de Outubro de 1998, com ilustração minha, representando José Saramago tendo nas suas costas um bispo irritado. O texto dá conta da inquietação sentida pelo Parlamento Internacional dos Escritores (PIE) por ver a Igreja “a seguir os passos do islamismo radical”, relativamente ao modo como encarou a atribuição do Prémio Nobel da Literatura ao nosso escritor, alegadamente por ele ser um “comunista inveterado” e pela sua visão “ideologicamente orientada e anti-religiosa”. Em resposta à atitude da Igreja, Saramago aconselhou os bispos a “tratarem das suas orações e dos esqueletos escondidos nos armários da Igreja”.

Foi inevitável a comparação da atitude do Vaticano com a condenação de Salman Rushdie feita pelas autoridades religiosas islâmicas do Irão quando da publicação do livro “Os Versículos Satânicos” (1991). O PIE, com sede em Estrasburgo, denunciou a “cada vez mais frequente tendência da Igreja Católica para condenar obras artísticas e literárias” e interrogou: “Por que espera o Vaticano para criar, ele próprio, um prémio literário para recompensar escritores cuja inclinação ideológica seja pró-religiosa e conforme ao seu modo de pensar, uma espécie de Prémio Estaline da Santa Sé: o Prémio Vaticano de Literatura?”.

Constatando o crescimento de tendências fundamentalistas, não só no Islão mas em todas as religiões monoteístas, o PIE pergunta : “Pretenderá o Vaticano imitar a Universidade de El Hazaar, do Cairo, que submete todas as produções literárias a autorização de publicação prévia e que emite fatwas contra os escritores? Pretende voltar aos tempos do Index e do Imprimatur? […] Todos os que defendem a liberdade de pensamento e de criação podem legitimamente inquietar-se por verem a Igreja Católica seguir os passos do islamismo radical”. Já quando da edição dos Versículos Satânicos, a Igreja católica defendeu o islamismo (talvez numa atitude corporativa, de bons colegas no negócio da fé), alegando a “defesa da dignidade dos crentes”, pretendendo estabelecer uma confusão estratégica no entendimento dos consumidores de missas, referindo a obra como uma “gratuíta distorção”. O PIE defendeu que a literatura é, na sua essência, uma distorção do real, e manifestou a sua inquietação porque “estes ataques não visam apenas, esta ou aquela significação, mas a própria possibilidade de representar a arte da ficção em si mesma, instaurando um crime inédito: o crime da literatura”. E concluiu: “A liberdade religiosa não pode afirmar-se contra a liberdade de pensar e de criar, sem a qual não há democracia possível”.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

25 de Maio, 2020 Carlos Esperança

O Vaticano, o Diabo e o exorcismo

A possessão demoníaca, uma moléstia que só ataca os crentes e cuja cura só pode ser efetuada por um sacerdote com alvará episcopal, sobreviveu à erradicação da varíola.

O diagnóstico diferencial não existe e é impossível ser estabelecido por médicos porque as moléstias da alma são males cuja cura resiste aos fármacos e só cede perante orações apropriadas, sob a ameaça do crucifixo e com o denodo de um presbítero encartado.

O número de endemoninhados recuou com a alfabetização, a alimentação equilibrada e a ciência, mas o Diabo, fonte de receita eclesiástica, nunca deixou de supliciar as almas pias e de exigir o recurso ao exorcismo, único demonífugo de efeitos comprovados.

Não admira, pois, que em épocas de desespero, com o presente negro e o futuro incerto, os demónios adormecidos venham desafiar a sanidade de um povo que ainda oferece a bilha de azeite a um santo pela cura de um parente ou o pé de porco pela de uma ovelha estropiada.

Há 7 anos, o bispo de Bragança, com cheiro para o negócio, disse que se tratava de um problema atual e que o bispo diocesano é quem tem habilitações para exorcizar. Na entrevista de hoje, ao DN, parece ter algumas dúvidas, que logo se transformam em certezas, quando os bruxos e ritos mágicos competem com a Igreja católica na clientela dos possessos.

O Papa fez então, no Vaticano, o número da imposição das mãos e os esgares do deficiente lançaram a superstição entre os fregueses que hesitam entre a fé e a ciência. O Vaticano confirmou que «o Papa rezou sobre o homem possesso», resumindo nesta curta frase o diagnóstico e a terapêutica.

Em Portugal, com exceção do padre Humberto Gama a quem a Igreja retirou o alvará, sem conseguir fechar-lhe os consultórios de Fátima e Mirandela, o mais experiente exorcista é o padre Duarte Lara, da diocese de Lamego, com cerca de 300 exorcismos e – segundo ele – com tendência para o aumento de casos de possessão demoníaca.

O exorcismo é uma celebração litúrgica, autorizada e praticada pela Igreja católica, com o objetivo de libertar as pessoas possuídas por forças demoníacas.

O número papal, já referido, foi considerado exorcismo pelo padre Gabriele Amorth, o exorcista oficial do Vaticano, considerado a maior autoridade mundial no ramo, diretor de cursos da especialidade no pontificado de Bento XVI. Nessa altura, já com o Papa Francisco, o porta-voz da Santa Sé, padre Lombardi, negou o exorcismo da Praça de S. Pedro, dizendo que o Papa se tinha limitado a «rezar sobre o homem possesso».

Independentemente da facilidade com que os dois sacerdotes fizeram o diagnóstico de «possesso», estamos perante duas escolas de exorcismo que se digladiam. E o Diabo, na sua imensa sabedoria, continuará a atacar os crentes e a temer os ateus.