Texto da autoria de Vítor Oliveira.
“A pergunta que hoje tenho para vos fazer, para começar, hum, é a seguinte… vocês conhecem alguém, muito chato, que se porte assim muito mal, rebelde e que não queira saber nada nada nada de Deus? Há pessoas assim, meias tortas, não é?”
Assim abria o programa “A fé dos Homens”, num segmento de responsabilidade por parte da Aliança Evangélica Portuguesa, passado dia 31 de julho.
Sendo a RTP2 um espaço de informação e entretenimento do Estado, entendo a necessidade da existência de espaços informativos na transmissão que sirvam parte da população que possui fé religiosa, seja ela qual for. É serviço público, a população tem o direito de ver representada a sua fé neste programa a si dedicado. No entanto o direito à liberdade religiosa, afirmado tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos (artigo 18), assim como na Constituição da República Portuguesa (Artigo 41.º), traz consigo também deveres que considero terem sido violados no infeliz conteúdo produzido.
Quem viu o programa e não tomou ofensa no que foi dito, possivelmente não está a entender a profundidade do problema que aqui se criou. O programa é direcionado a um público infantil e as crianças são suscetíveis a repetir, através do exemplo, aquilo que aprendem com os adultos. Neste caso, que outra coisa estarão elas a aprender se não a intolerância face aos outros que não seguem a mesma religião? As palavras estão lá, são claras. Quem não quer saber do deus (cristão) é apontado como sendo um indivíduo chato, que se porta mal, rebelde e “torto”. Inclui ateus, judeus, muçulmanos, seguidores de religiões de matriz africana, hindus, budistas… e sendo que quem criou o conteúdo pertence a uma vertente religiosa protestante, até os católicos são incluídos no pacote. Essa ideia é uma semente, lançada na cabeça da criança, que pode germinar, crescer e ganhar raízes que podem afetar a mesma na idade adulta, e tornar a mesma intolerante face a outros que não possuam a mesma fé que a sua. Compreendo que estou a dramatizar, mas o potencial existe. Se é isto que nos chega através do canal televisivo, imagine-se o que se poderá passar dentro de portas no culto, assim como em casa.
O que foi ensinado às crianças, neste programa, foi que quem não é protestante é, potencialmente, um mau exemplo para a sociedade. Um preconceito fundamentado por ideologia religiosa foi disseminado, usando para isso um serviço do Estado, pago por todos nós. Que isto não seja precedente para muitos outros maus exemplos no futuro. O Estado é laico e assim deve permanecer, pela liberdade de expressão e liberdade religiosa, razão pela qual não pode deixar de intervir quando as liberdades ignoram os deveres e atropelam, assim, os direitos de outros.
Aguardamos, atentos, para ver se este erro não se repete.
Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas mitómano, a gabar-se de ter feito o Mundo em 6 dias, quatro mil e quatro anos antes da era vulgar, nem mais, nem menos, e descansado ao sétimo.
Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde matava o ócio na olaria. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do homem.
Mandou que se afastassem da árvore do conhecimento, ordem que Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por lá andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e condoído do tonto que se deixou tentar, enquanto o Demónio, igualmente expulso, foi viver num condomínio privativo – o Inferno.
Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.Deus era bastante sedentário, mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de alcoviteiros hierarquizados, decidiram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio ameaçar os homens e exigir-lhes obediência e submissão.
Algum tempo depois, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro –, lançando o boato de que o velho, tolhido do reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade nas tribos de Israel que alguns logo vislumbraram, no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré, o Messias anunciado.Com falta de empregos, algum pó e líquidos capitosos à mistura, criaram a inverosímil história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas. Puseram a correr que Maria fora avisada pelo Arcanjo Gabriel – o alcoviteiro de Deus –, de que, na permanente castidade, ficara prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.
Nascido o menino que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, foi discreto na adolescência e dedicou-se cedo aos milagres e à pregação. Falava no pai e na obrigação espalharem todos as coisas que dizia. Acabou crucificado e culparam os judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC era judeu, mas isso foi e é irrelevante.Admite-se que foi circuncidado e era exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que apenas sabia latim, sem necessidade de intérprete.
Depois de crucificado, demorou-se três dias, provisoriamente morto, antes de ascender ao Céu com o prepúcio recuperado, o que desencadearia muitas discussões teológicas.
Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram, mas há exegetas que admitem que foi calúnia dos que criaram a nova religião e quiseram eliminar a antiga. Ódio de trânsfugas!
O papa Francisco defendeu a “laicidade do Estado”. O papa Francisco surpreendeu claramente ao defender o Estado secular: “a coexistência pacífica entre as diferentes religiões fica beneficiada pelo estado secular, que, sem assumir como própria, nenhuma posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade “.Como se conciliam tais palavras, que admito sinceras, com o que se passa em Portugal:
– Isenções de impostos de que beneficia a Igreja católica Apostólica Romana (ICAR);
– Pagamento pelo Estado dos capelães militares, hospitalares e prisionais;- Existência de uma disciplina de EMRC;
– Contratação de professores da EMRC, livremente nomeados e exonerados por bispos;- Presença de cavalos, músicos e militares nas procissões e em outros espetáculos pios;
– Profusão da iconografia católica nas paredes dos edifícios públicos;- Presença de sotainas em cerimónias do Estado;
– Designação pia de hospitais quando não há uma só Igreja com nome de políticos;
– Com dificuldades orçamentais, uma embaixada exclusiva para o bairro do Vaticano, havendo outra em Roma;
– Etc., etc., etc..
Um membro do Comité para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício (CPVPV), antigo Comité para a Propagação da Virtude e Eliminação do Pecado, (CPVEP) a orientar um pintor.
Uma vez que chegámos ao final da semana e preparamo-nos para descontrair, partilhamos hoje o documentário Hell’s Angel, que retrata a vida de Madre Teresa de Calcutá, narrado pelo ateu Christopher Hitchens (1949-2011).
Este documentário, que é um clássico do movimento ateísta, pretendeu apresentar uma outra perspetiva, mais negra, mas também mais real e menos romanceada, da Madre Teresa, apresentando-a como uma mulher que incitava os pobres a aceitarem a sua condição social e negando-lhes cuidados de saúde essenciais, ao mesmo tempo que angariava quantias avultadas de dinheiro, por vezes junto de pessoas com percursos menos éticos. Este documentário antecedeu o livro “The missionary position: Mother Theresa in theory and practice” (1995).
Boa sessão!
Texto da autoria de Vítor Oliveira.
Liguei à enfermeira chefe do meu serviço, a tremer de excitação, assim que recebi a notícia.
“Boa noite, chefe. Soube que vamos receber doentes de COVID-19. É verdade?”
“É verdade, sim.”
Desde o início da pandemia, dizia aos meus colegas: “quero ir para a linha da frente”. A ideia era estimulante, o desejo dessa experiência altamente apetecível. Para um auxiliar de ação médica, como eu, os dias são bastante rotineiros e os novos desafios são escassos, especialmente depois de mais 10 anos no mesmo serviço. Não me interpretem mal, eu adoro o meu trabalho e, aliás, não me vejo a fazer outra coisa que não seja aquilo que faço. A desgraça que nos assolou a todos trouxe a perspectiva da possibilidade de me colocar à prova num novo ambiente, numa nova realidade que nunca havia experimentado. Estava ansioso por poder fazer parte da linha da frente e a voz do outro lado da linha dizia que o desafio havia sido lançado e eu havia sido chamado. Aceitei, mesmo sabendo os riscos que me esperavam e não estou arrependido. Tive (e ainda tenho) a oportunidade de assistir a extraordinários exemplos de superação humana.
Hoje, depois de quase 3 meses de batalha, o meu sangue ferveu quando me deparei com a notícia que me levou a escrever estas palavras.
Segundo o jornal Agência Ecclesia, realizou-se no Hospital de Gaia, dia 17 de julho, uma celebração de ação de graças pelos recuperados de COVID-19, onde as palavras do bispo auxiliar do Porto, D. Armando Esteves, foram de que o Serviço de Assistência Espiritual pretende “proporcionar um momento de manifestação de fé, renovando a esperança e reafirmando a confiança em Deus, agradecendo-lhe pela dedicação e pela coragem daquelas e daqueles que servem a nobre tarefa do cuidado dos doentes infetados”.
Reafirmar a confiança em Deus, agradecendo ao mesmo (Deus) a dedicação e a coragem dos que estiveram na linha da frente? Compreendi bem as suas desafortunadas palavras, caro D. Armando Esteves? Vossa Excelência não estará, acaso, a romantizar excessivamente os acontecimentos através de uma óptica que é favorável à sua fé naquilo que “está” no céu? Se esse é o caso, permita-me que eu, mísero mortal, o traga de volta à realidade na terra.
Dedicação e coragem vi eu, quando colegas meus deixaram de ver a família por semanas com medo de os infetar e mesmo assim, a enxugar lágrimas de receio e saudade, continuaram a trabalhar zelosamente, todos os dias, sem faltar ao trabalho. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando olhos atentos e mãos extremosas ajudavam na colocação dos fatos de proteção, tapando qualquer abertura nos mesmos de forma a manter protegidos os colegas que iam entrar. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando desgastados após horas a suar devido ao abafo dos fatos claustrofóbicos, com sede e fome e vontade de se aliviarem dos despojos das suas funções corporais, colegas meus continuavam a ser caridosos para com os utentes que estavam a cuidar. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando vários enfermeiros que ficaram com úlceras de pressão devido ao uso dos equipamentos de proteção, voltaram de novo a entrar quando chamados em situação de urgência, ignorando a ferida que lhes doía. Deus não vi, não compareceu para os ajudar.
Dedicação e coragem vi eu, quando imensos grupos de voluntários se uniram para, com o seu tempo e dinheiro, nos fazerem de raiz o material de protecção que não possuíamos. Foi-me impossível não ficar emocionado ao ver redes imensas de genuína empatia humana a expandirem-se pelo ciberespaço e a conseguir arrecadar milhares de euros para esta causa. Deus não vi, não compareceu para os ajudar. Vi uma tremenda força terrenal, todos os dias, a brotar de locais onde a esperança parecia perdida… no entanto, rejubilem-se os fiéis! Foi Deus! Deus, o maior interveniente nas acções fantásticas destes seres menores! É para ele que vai o agradecimento maior! Nunca as mãos humanas, nutridas apenas pela filantropia, conseguiriam materializar assim a esperança que parecia perdida! Aleluia! Aleluia! Manifestemos a nossa fé, renovemos a esperança! O Homem é secundário e a confiança está sempre em Deus!
Poderei perguntar que Deus é esse que, embora seja capaz de facilmente intervir e guiar a natureza humana, se demonstra ser incapaz de exterminar um pequeno vírus da mãe natureza? Que permite que esse mesmo vírus possa infectar e adoecer e matar e afectar a vida de milhões de pessoas? Onde lhe anda a pujante omnipotência, bíblica em proporções, nos dias de hoje? Será que a perdeu? Não existirá um fármaco celeste que lhe trate tal problema?
Eu tinha um preconceito que seguia a esta linha, “aquele que através da fé vislumbra a ilusão da bondade celeste, dificilmente deposita os olhos na verdadeira bondade humana”. Hoje, o preconceito desapareceu e tornou-se facto, ao perceber que os meus companheiros e companheiras ficaram desprovidos dos méritos que lhes são devidos, pois os louros acabaram predados a favor de um Deus ausente.
Descobriu-se finalmente quem ditou o Corão a Maomé.
1. Só teve uma publicação relevante;
2. Estava escrita em aramaico em vez de língua inglesa;
3. Não possuía referências;
4. Não foi publicada numa revista com revisão por pares;
5. Há dúvidas se foi Ele o autor;
6. Se assumirmos que foi Ele quem criou o mundo, o que é que fez para além disso?
7. Trabalho em equipa reduzido;
8. A comunidade científica tem tido dificuldade em replicar os seus resultados;
9. Praticou não só testes em animais como também em humanos, não seguindo as regras éticas estabelecidas;
10. Quando as experiências corriam mal, Ele tentava esconder o sucedido afogando os seus sujeitos de estudo;
11. Quando os sujeitos não se comportavam como previsto, Ele eliminava-os da amostra;
12. Raramente comparecia nas aulas, apenas mandava os Seus alunos lerem o livro;
13. Há quem diga que mandou o Seu filho dar as aulas;
14. Expulsou os seus primeiros dois alunos por obterem o conhecimento;
15. Apesar de só haver 10 objetivos, os seus alunos falharam o exame;
16. Passou a maior parte do tempo a fazer gazeta no topo da montanha.
Adaptado de: Atheist jokes
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.