8 de Novembro, 2020 Carlos Esperança
O Papa e as uniões gay
Por
ONOFRE VARELA
No último dia 21 de Outubro o Papa Francisco reforçou a sua atitude humanista lançando a ideia da legalização pelo seu credo (porque legal já é civilmente em muitos países, incluindo Portugal) das uniões matrimoniais de homossexuais. Esta sua atitude tem a coragem de colidir, frontalmente, com a posição tradicional da Igreja Católica a que preside, e que alberga no seu seio quem o reprove liminarmente na defesa da milenar doutrina oficial de uma Igreja homófoba que, no sínodo de Outubro de 2014, votou desfavoravelmente o documento preparatório em defesa de uma maior integração dos gays na Igreja Católica, o qual defendia a ideia de os homossexuais terem “qualidades a oferecer à comunidade cristã”.
O Papa Francisco afirmou, num documentário intitulado “Francesco” estreado no Festival de Cinema de Roma em 21 de Outubro, que “os homossexuais são criaturas de Deus e têm direito a viver em família”. A ala mais radical e extremista da Igreja, na defesa de um comportamento medieval da instituição, “divorcia-se totalmente do mundo que quer doutrinar”, como disse a jornalista Ana Sá Lopes no editorial do jornal Público de 22 de Outubro. A defesa dos homossexuais “que têm direito a fazer parte de uma família” já era dita por Francisco, enquanto arcebispo de Buenos Aires, o que, na altura, lhe causou dissabores pela oposição dos seus pares.
Não apelidando a união homossexual de “casamento”, Francisco I defende a salvaguarda das pessoas, em tal situação, terem acesso a direitos que lhes são negados. Não se trata de alterar a doutrina católica, mas, ao contrário, de aplicar, com legalidade civil, o respeito pelas opções pessoais dos crentes que sempre foram repudiados pela escolha sexual que fazem de acordo com as suas próprias naturezas. É tanto mais incrível a atitude tradicional da Igreja no desrespeito pelos homossexuais e lésbicas, quando se sabe que no seu seio a homossexualidade existe e tem cada vez mais força de lobby… numa instituição que se pretende modelo de comportamento social, que apregoa o amor, mas que, ao mesmo tempo, dificulta a concretização do seu pregão, negando e boicotando a legalização da prática do amor na sua plenitude aos homossexuais que existem para lá das paredes do Vaticano. A legalização das uniões gay são socialmente importantes, nomeadamente nas questões de heranças e acompanhamento na doença, problemas que seriam resolvidos através de uma lei de união civil que o Papa defende, mas que a maioria dos bispos da sua Igreja não aceitam, embora apregoem o amor… o que não se entende!…
“Quem sou eu para julgar?” é uma frase de Francisco I sobre a condenação da homossexualidade, e que não é ideia seguida por mais de dois terços dos bispos que se arrogam a esse julgamento, que hipocritamente apregoam o “Deus do amor”… mas negam a sua concretização!…
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)