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13 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Declaração Internacional de Associações do Livre Pensamento, laicas, humanistas, racionalistas e ateias dos cinco continentes

Por iniciativa da Associação Internacional do Livre Pensamento

Os dinheiros públicos não devem financiar as Igrejas e as religiões !

Somos Associações de todos os continentes agindo pela Separação das Igrejas e Religiões, dos Estados, pela laicização das instituições em linha com a secularização crescente das sociedades.

O lema das nossas acções é trabalhar no sentido do respeito da liberdade de consciência de cada uma e de cada um, de todos os seres humanos que vivem no nosso planeta. Quer dizer: a liberdade de ser crente ou de o não ser. Não opomos a liberdade de consciência à liberdade de religião, porque a última é somente uma componente da primeira e não sua equivalente.

Rejeitamos a ideia de que a religião seria uma categoria separada da gama de convicções da Humanidade. E que seria necessário conferir-lhe um estatuto particular que a impediria de ser submetida à crítica racional e humana. E que seria necessário, além disso, que fosse financiada pelo Erário público, produzido pelo conjunto das contribuições dos cidadãos sujeitos aos impostos.

É por isso que nos opomos a todas as formas de repressão civil e penal daquilo que é designado como “delito de blasfémia”. O direito à livre crítica é um direito democrático fundamental. O seu corolário obrigatório é a liberdade total de expressão. Só serão visados então os factos e as opiniões, nunca os indivíduos enquanto tais.

É por isso que também rejeitamos e condenamos o privilégio das Igrejas e das religiões – que são somente a expressão de alguns homens – a serem financiadas por Fundos públicos, que são o produto das contribuições de todos.

Depois dos EUA (1791), do México (1857), da França (1905), de Portugal (1911), da Rússia (1918), do Uruguai (1918), da Espanha (1931) e da Turquia (1937), a reivindicação democrática da necessária Separação das Igrejas e das religiões em relação aos Estados não parou de mobilizar a Humanidade consciente. Desde então, muitos outros países, todos los continentes, a estabeleceram. Essa Separação está em marcha desde há muito tempo.

Desde James Madison, Pai da Constituição norte-americana e 4° Presidente dos EUA – constatando que, em 1819, “a quantidade, as competências e a moralidade do clero, assim como a devoção dos cidadãos, aumentaram manifestamente com a Separação total entre as Igrejas e o Estado”, a História da emancipação humana tem mostrado que, quaisquer que sejam as culturas religiosas dominantes nas sociedades, o princípio da Separação entre a esfera das Instituições públicas e a esfera religiosa não somente é possível e realizável, como é muito desejável para estabelecer e aumentar a Democracia.

Em todos os países, em todos os continentes, em todas as instituições nacionais e internacionais, há que actuar para fazer avançar a Separação das Igrejas e das religiões em relação aos Estados.

Actuemos juntos pela laicidade !

Apelo lançado por iniciativa da Associação Internacional do Livre Pensamento no Congresso Internacional de Montevideu (Uruguai), de 19 e 20 Setembro de 2015.

12 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Vítor Julião em Movimento Ateísta Português

Os Físicos na história e deus.

É verdade que, por vezes, os cientistas são religiosos, ou pelo menos supersticiosos. Sir Isaac Newton, por exemplo, foi um espiritualista e alquimista bastante ridículo. Fred Hoyle, um ex-agnóstico que se apaixonou pela ideia do “desígnio”, foi um astrónomo de Cambridge que inventou o termo Big Bang. Steven Hawking não é um crente, e quando foi convidado para ir a Roma conhecer o papa João Paulo II pediu que lhe mostrassem os registos do julgamento de Galilei. E fala sem embaraço da hipótese de a Física “conhecer a mente de Deus”, o que parece agora tão inofensivo como uma metáfora, como por exemplo quando os Beach Boys cantam, ou eu digo, “só Deus sabe…”.

Antes de Charles Darwin ter revolucionado todo o conceito das nossas origens, e Albert Einstein ter feito o mesmo em relação ao começo do Cosmos, muitos cientistas, filósofos e matemáticos adoptavam o que podia ser considerada a posição de ausência e professavam uma ou outra versão do “deísmo”, que defendia que a ordem e a previsibilidade do universo pareciam, de facto, sugerir um criador, se bem que não necessariamente um criador com um papel activo nos assuntos humanos. Este compromisso era lógico e racional para o seu tempo, …
 
Laplace (1749-1827) foi o brilhante cientista francês que levou o trabalho de Newton ainda mais longe e demonstrou, através de cálculos matemáticos, como as operações do sistema solar eram as de corpos a girar sistematicamente num vácuo. Mais tarde, quando começou a estudar as estrelas e as nebulosas, postulou a ideia do colapso e implosão gravitacionais, ou o que agora chamamos alegremente o “buraco negro”. Num livro em cinco volumes intitulado Celestial Mechanics, ele expôs tudo isto e, como muitos homens da sua época, também estava intrigado com o planetário, um modelo articulado do sistema solar visto, pela primeira ver, de fora. Estes modelos são agora lugares-comuns, mas na época foram revolucionários e o imperador pediu para conhecer Laplace e para receber um conjunto dos livros ou (os relatos diferem) uma versão do planetário.
Pessoalmente, desconfio que o coveiro da Revolução Francesa preferiu o brinquedo aos livros: era um homem com pressa e tinha conseguido que a igreja batizasse a sua ditadura com uma coroa. De qualquer modo, e ao seu estilo infantil, exigente e imperioso, quis saber porque é que a figura de deus não aparecia nos cálculos inovadores de Laplace. E aqui têm a resposta fantástica, sublime e ponderada. “Je n’ai pas besoin de cette hypothèse“. (*) Laplace ia tornar-se marquês e talvez pudesse ter dito de forma mais modesta, “Resulta bastante bem sem essa ideia, Majestade“.
Mas declarou simplesmente que não precisava dela.
(*) “Não preciso dessa hipótese.”
Christopher Hitchens in “deus não é grande”.
11 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Coimbra, Igreja de Santa Cruz, 11-4-2017

Antes das 11 horas da manhã, uma numerosa comitiva de polícias, militares da GNR, e alguns outros do Exército, tomaram posições em frente à Igreja de Santa Cruz.

Bem ataviados esperavam a hora de deixarem a posição de pé e mergulharem de joelhos no interior do templo do mosteiro beneditino cuja reconstrução e redecoração por D. Manuel lhe deu uma incomparável beleza. Não era a beleza arquitetónica que os movia, era a organização preparada de um golpe de fé definido pelo calendário litúrgico da Igreja católica e decidido pelas hierarquias policiais e castrenses.

Não foi uma homenagem a Marte que já foi o deus da guerra, foi um ato pio ao deus católico que também aprecia a exibição de uniformes e a devoção policial.

No salazarismo, durante a guerra colonial, quando as pátrias dos outros eram também nossas, não havia batalhão que não levasse padre. Podia lá morrer-se sem um último sacramento!? Éramos o país onde os alimentos podiam chegar estragados, mas a alma teria de seguir limpa de pecados com os óleos que só o capelão tinha alvará para ungir?

Na ditadura havia capelães nas Forças Armadas, na democracia foram também contempladas as forças policiais. Sem eles a missa não teria o mesmo colorido nem D. Afonso Henriques e D. Sancho teriam de assistir indiferentes à comunhão pascal paga pelo Estado.

Sem a organização militar e a reserva de horários para a fé, muitos polícias e militares haviam de preferir o ócio às orações e a gula à eucaristia.

É uma delícia ver a fé de uniforme e em formatura.

10 de Abril, 2017 Carlos Esperança

O ateísmo e o ódio religioso

O ateísmo e o ódio sectário

A perseguição aos cristãos coptas do Egito é um lento e metódico processo genocida que tem por objetivo eliminar 10% da população deste país (Percentagem estimada de cristãos).

Os ateus não podem ficar indiferentes perante as perseguições religiosas. O direito às crenças, descrenças e anti-crenças é um princípio que os Estados democráticos não podem deixar de defender.
A defesa do pluralismo, a recusa de verdades únicas e a solidariedade para com aqueles cujas superstições combatemos, é apanágio dos democratas.

A ausência de proselitismo distingue os ateus, mas é na solidariedade para com as vítimas do ódio sectário que o humanismo ateu se manifesta.

O repúdio pelo terrorismo religioso só é comparável à solidariedade para com as suas vítimas, sejam quais forem a s suas convicções ou a ausência delas.

8 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Os fiéis defuntos e os cadernos eleitorais (Crónica)

Quando as doces catequistas da minha infância me iniciaram no ódio aos hereges, ateus, maçons, comunistas e judeus, ensinaram-me igualmente a rezar pelos fiéis defuntos.

Cedo me tornei o melhor aluno da catequese, qualidade a que não seriam alheias as três refeições diárias e o inevitável lanche de que não usufruíam os condiscípulos que iam descalços à catequese e referiam as barrigadas de fome dos dias piores.

Talvez por isso, eu era mais sensível aos horrores do Inferno, ao abandono das almas do Purgatório, às delícias do Paraíso e a outras lucubrações metafísicas. A fome e o frio de outros garotos tornavam-nos desinteressados. Não entendia a necessidade da missa para defuntos que já gozassem o Paraíso ou para quem penasse no Inferno, dada a ausência de circulação entre os dois destinos. Mas as catequistas diziam que, na dúvida, se devia rezar por todos. E todos rezávamos, eu e os que, descalços e com fome, tiritavam nas pedras da igreja, entre o altar e o transepto, nas noites frias de inverno.

Sempre pensei que fiéis defuntos, com direito a missa dedicada nos dias 2 de novembro, fossem os mortos irrecuperáveis, os que não trocavam a defunção por uma ressurreição. Salvo no dia de Juízo Final, quando no Vale de Josafat, regressado à Terra, viesse Cristo julgar os vivos e os mortos, como o credo romano ensinava. Descobriria que não era a fidelidade à defunção que os elegia, mas a anterior fidelidade à Igreja.

Mais tarde, quando acompanhava a minha mãe aos atos eleitorais, passei a ter uma outra interpretação dos fiéis defuntos, julgando que eram aqueles mortos que, sem abdicarem da defunção, eram convocados pelo presidente da mesa eleitoral para votarem na União Nacional quando, à leitura do nome, o presidente da mesa se benzia e o secretário metia o respetivo voto na urna. Eram, de facto, defuntos fiéis a Salazar. Nem a morte os impedia do cumprimento do dever cívico na única lista a sufrágio.

Depois dos catorze anos, perdido o medo do Inferno e o interesse pelo Paraíso, alheado da fé e da liturgia, deixei de pensar nos fiéis defuntos, mesmo quando a opção ateísta se impôs. Só voltei a pensar nos fiéis defuntos, há poucos anos, quando soube do interesse autárquico por eles.

Os fiéis defuntos adicionam 5% do ordenado do PR ao de vários edis e deles dependem as dotações orçamentais das autarquias e o nível do salário dos seus elementos. Sem a sua persistente permanência nos cadernos eleitorais, e nos censos populacionais, eram muitos os que perdiam e só beneficiava o erário público que, por ser público, serve para benefício privado.

Os fiéis defuntos merecem que as associações autárquicas lhes mandem rezar a missa.

Coimbra, 25-07-2013 (Publicado em Ponte Europa)

6 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Odivelas – Autarquia ou sacristia?

Junta Freguesia Odivelas

JORNADA DIOCESANA DA JUVENTUDE

A Jornada Diocesana da Juventude chega à cidade de Odivelas já este domingo!

A Junta de Freguesia de Odivelas associa-se a este evento do Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa com a cedência do espaço do Pavilhão Polivalente de Odivelas.

O programa em anexo destaca os momentos mais importantes, como o Encontro com o Patriarca D. Manuel Clemente no Pavilhão Multiusos, a Eucaristia ao final da tarde no mesmo local, ou o Terço no Jardim da Música, abertos a toda a população. Nesta oração do Terço, estará presente o Selecionador Nacional de Futebol, Fernando Santos.

Para mais pormenores e informações, está disponível para download uma aplicação da JDJ:

iOS > https://itunes.apple.com/pt/app/jdjlisboa/id1215124394?mt=8

Android > https://play.google.com/store/apps/details?id=pt.patriarcado.jdjlisboa

5 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Madraça ou escola pública?

Correspondência trocada entre um piedoso e pouco delicado diretor de uma escola pública e os pais de uma aluna:

 

Em 26 de março de 2017 21:39, os pais da aluna escreveram:

Sr. Professor Monteiro,

Director do Agrupamento de Escolas de Alfândega da Fé

Não tendo tido resposta sobre carta enviada pela minha esposa no dia 23 de março acerca da intenção da Escola de realizar uma missa no seu espaço institucional, durante o período de aulas, a 3 de Abril (das 10h às 12h) venho reforçar e levantar algumas questões críticas, tendo em conta que os direitos dos pais e das crianças não são respeitados, como é de lei numa escola pública de um estado que se afirma laico: 1) utilização de horários e programas de disciplinas extra-curriculares, escolhidas pelos encarregados de educação;

2) secundarização das disciplinas extra-curriculares em função de propostas da escola à data da inscrição das crianças no respectivo ano de escolaridade.

3) nenhum pedido de autorização aos encarregados de educação para a utilização dos horários dessas disciplinas

4) ignorância do horário escolar regular;

5) nenhuma informação, até à data aos encarregados, de educação;

6) nenhum respeito pelas opções dos pais/encarregados de educação quanto a opções religiosas ou laicas;

7) esta actividade não consta do plano de actividades da escola;

8) nenhuma informação quanto a actividades regulares (aulas) ou alternativas para os alunos que não participam na missa católica (sem alternativas laicas ou religiosas) a realizar nos espaços da Escola, nem em qualquer ensaio, regular ou geral previsto pelos professores; neste âmbito, sublinho que não serão estes alunos a estar em falta, mas a escola, por ausência de informação e de alternativas até à data.

Com os melhores cumprimentos

Fernando Antunes

***

Eis a resposta:

<[email protected]> —– Data: Mon, 27 Mar 2017 12:44:29 +0100 De: Monteiro zé <[email protected]>

Assunto: Re: Escola Laica Para: f.antunes.unip@(…) Cc: monteiroescola <[email protected]>, daealfandegafe <[email protected]>, etc.

Ex.mo Sr. Fernando Antunes,

Deu entrada dia 24 neste Agrupamento de Escolas um e-mail endereçado pelos pais e encarregado de educação da aluna Luana Rodrigues Antunes, recebido às 21 horas e 52 horas do dia 23, a solicitar esclarecimentos sobre o plano de atividades aprovado no início do ano letivo e em funcionamento desde então. Não me parece que um esclarecimento desta ordem seja prioritário a fim de ser exigida uma resposta entre sexta feira e domingo às 21 horas e 39 minutos e muito menos me parece existir bom senso em afirmar que não existiu resposta.

A resposta a todas as solicitações será dada em breve.

Cumprimentos,

José Monteiro

Cartaz à entrada da escola pública, em papel timbrado.

3 de Abril, 2017 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

Caros leitores,

Afinal, há milagres!

Francisco e Jacinta não aprenderam a ler em vida, mas aprenderam a obrar milagres em defunção. Já é o segundo milagre que obram em joint venture, situação rara, que os vai conduzir à santidade, em apoteose pia, no próximo dia 13 de maio, no 1.º centenário da estreia do mariódromo, no cocuruto de uma azinheira.

Atividades da AAP

1 – No dia 15 março a AAP participou, a convite do Grupo Bíblico Universitário, no Centro Cultural D. Dinis num dos 3 eventos subordinados ao título «Conversas sobre a (ir)relevância da fé cristã hoje:

uma conversa entre um cristão e um ateu – Manuel Rainho, autor e licenciado em Filosofia e Carlos Esperança, atual Presidente da Associação Ateísta Portuguesa.

(Esta sessão, com perguntas e respostas, começou às 21H00 e terminou cerca da meia-noite, tendo como assistência mais de 150 universitários entre os 18 e os 22 anos).

– Em homenagem a Tomás da Fonseca fui convidado, a título pessoal, pela Editorial Moura Pinto a enviar um texto (segue em anexo) que foi publicado num jornal oferecido a todos os participantes, jornal que incluiu textos do homenageado, Guerra Junqueiro, Presidente da Câmara e do historiador Luís Filipe Torgal.

– No próximo dia 28 de abril estou convidado para uma tertúlia em que serei orador e participarei num debate com o padre Anselmo Borges, promovido e moderado pelo Professor Luís Filipe Torgal, em Oliveira do Hospital.

– No Porto, no âmbito do curso de jornalismo, o Onofre Varela dará uma entrevista para um trabalho académico.

– Recentemente notícias do JN e um artigo de Fernanda Câncio tiveram origem na AAP.

C. A.