22/1/1884 – Nasceu em Vila Nova de Ourém,
Artur de Oliveira Santos,operário funileiro, escritor, jornalista e político republicano, propagandista fundador do Centro Republicano Dr. António José de Almeida, anticlerical militante, combateu a mistificação de Fátima e foi ele quem inquiriu os pastorinhos, enquanto pres. da C. M. de Ourém, sendo acusado pela igreja de ter raptado os pastorinhos e de os ter ameaçado de os “fritar em azeite a ferver” se não dissessem a verdade.
Viveu exilado em Espanha, iniciado maçon em 1907 no Triângulo de Vila Nova de Ourém, com o nome simbólico de Xavier, em 1924 passou a fazer parte da Loja Acácia, de Lisboa.
27/6/1955 – Morreu em Lisboa, Artur de Oliveira Santos, maçon.
“O professor não era grande coisa… era republicano. E só ensinava a ler, não ensinava a escrever.”
– irmã Lúcia
E o mais certo era também ser maçónico, que horror!
A insuspeita revista “Sábado” publica, no seu último número, um artigo acerca da próxima vinda do papa de serviço a Fátima. Adianta que não se trata de uma visita de estado, mas de uma peregrinação, pelo que não se percebe muito bem por que raios vai ter um encontro com o presidente da República e com o primeiro-ministro. Ou será, apenas, com os cidadãos Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa? Bom, adiante.
A folhas tantas, aparece uma entrevista com a freira-médica (ou será médica-freira? De qualquer modo, cheira-me a oxímoro) Ângela Coelho que acumula, também o cargo de “postuladora da causa dos pastorinhos”. Bom, deixemos de lado o blá-blá, e situemo-nos naquilo que, no fim de contas, acaba por se verificar serem, os milagres: a mais monumental fraude religiosa. Digamos, também, que a freira não aprendeu nada com a ciência. A certa altura,o entrevistador pergunta: “Como se define um milagre? É um acontecimento não explicável pela ciência?” ao que a freira responde: “Sim, ou pelas leis da natureza. 90% são casos médicos. Uma cura rápida e duradoura não explicável pela arte médica actual”. O jornalista volta à carga, e a ingénua feira cai na esparrela. Jornalista: “Então um milagre no século XVI hoje não seria?” E a freira: “Poderia não ser.” Mas vale a pena continuar a ler, pois a nova pergunta, a médica acaba por referir que não levou um caso à Congregação da Causa dos Santos. Tratava-se de uma criança com diabetes tipo I com uma bomba difusora de insulina. “No fim da missa da beatificação a mãe pede aos pastorinhos que curem o seu menino e logo naquele dia começa a achar que a bomba não está a funcionar. Foi ao hospital e a criança não tinha nada. Mas foi chumbado: há um tipo de diabetes na infância que tem uma cura assim”. Ou seja: a freiramédica acabou por, sem querer, prestar um mau serviço à causa religiosa. Disse, claramente, que não há milagres; apenas factos que a ciência não sabe explicar. Porque a ciência, ao contrário da religião, não é arrogante. E eu pergunto: os “milagres” que ocorreram tempos passados e que, agora, já são explicados pela ciência, continuam “milagres”? E os “santos” respectivos, continuam “santos”?
– Eu gosto muito do menino Jesus.
– E por que? perguntou a professora.
-É que quando ele nasce eu ganho prendas. Quando ele morre eu ganho chocolates.
É difícil a defesa da laicidade, a exigência da neutralidade do Estado, a reivindicação de conduta igual para todas as religiões. Os cálculos eleitorais superam a salubridade cívica e um módico de pudor republicano.
Os hospitais portugueses enchem-se de imagens de Senhoras de Fátima e crucifixos que os doentes oferecem, alheios aos médicos, enfermeiros e medicamentos que os curaram, para imporem os símbolos da sua religião particular, que o laxismo e a cumplicidade de direções pusilânimes favorecem.
As escolas são já, através da autonomia que o ministério lhes confere, um instrumento de proselitismo religioso, com missas, terços e excursões pias, onde a laicidade a que a Constituição obriga é profundamente desprezada e espezinhada.
Nas autarquias, onde o fervor pio medra em anos eleitorais, organizam-se peregrinações a santuários, com transporte, seguro e farnel, para angariar os votos em lares de idosos sensíveis à salvação da alma e, sobretudo, à atenção aceite por quem enfrenta a solidão.
A Europa, cuja democracia se estabeleceu com a repressão política sobre o clero, cedeu a tradição laica aos interesses partidários e às negociações com minorias religiosas que a ameaçam. A cobarde cedência ao clero de que se libertou obriga-a a proteger ideologias que sob a capa de religião têm a obsessão de sujeitar o mundo às exigências tribais que as crenças perpetuam.
No entanto, a Espanha franquista cuja transição impediu a votação sobre a natureza do regime (as sondagens apontavam regularmente a vitória da República), manteve-se fiel à vontade do genocida Franco e ao paradigma da velha aliança do trono e do altar.
A apoteose do ridículo é a aplicação de um Decreto Real que manda colocar a bandeira a meia haste pela morte de “militares em serviço, rei, herdeiro, consorte ou em dias de luto nacional”, ter sido estendida à morte de Jesus Cristo. Assim, o atual ministério da Defesa ordenou içar a bandeira a meia haste em todos os quartéis, pela morte de Cristo.
Uma ordem interna estabelece que “desde as 14:00 horas de Quinta-feira Santa até às 00:01 horas de Domingo de Ressurreição, a insígnia nacional ondeará a meia haste em todas las unidades, bases, centros e aquartelamentos”. E, assim, segundo o Ministério, “respeita-se o exercício da liberdade religiosa”, convertendo os quartéis em sacristias.
O imperecível defunto voltará a morrer nos anos que vierem e ressuscitará de novo para arejar a bandeira.
A 30 dias do vendaval da fé, previsto para a Cova da Iria, com o bispo autóctone a pedir tolerância de ponto ao estado Laico, a prevenção de riscos pulmonares faz-se com doses homeopáticas do ar local, enlatado entre azinheiras circunvizinhas, e já à venda em lojas da especialidade.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.