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18 de Maio, 2017 Carlos Esperança

A laicidade é uma exigência democrática

A palavra francesa (laïcité) entrou no dicionário Littré, em 1871, no ano da Comuna de Paris, que desejava a separação da Igreja católica do Estado. A violência de então, com fuzilamento de vários membros do clero, associou injustificadamente a ‘laicidade’ ao anticlericalismo, que combatia a permanência do clero nos corredores do poder.

Talvez se encontre na autonomia do poder político face às Igrejas e destas em relação ao poder político, a animosidade dos parlamentares católicos que se opuseram à lei de 9 de dezembro de 1905 que, ainda hoje, vigora, enquanto os protestantes não a combateram. Estavam vivas as recordações da monarquia católica de direito divino que, ainda hoje, despertam a nostalgia da monarquia de crentes contra a República de cidadãos eleitores.

O reconhecimento de uma ou de várias Igrejas pelos Estados democráticos, bem como a separação de qualquer confissão, não refletem maior ou menor liberdade religiosa, dado que as democracias liberais respeitam as crenças, descrenças e anti-crenças de cada um, enquanto as religiões, só obrigadas, se conformam com crenças alheias.

A laicidade dos espaços públicos e a não discriminação são uma garantia da liberdade e da igualdade das diversas confissões religiosas. O exemplo da Igreja ortodoxa, sempre presente nas cerimónias do Estado e com vasto ascendente nas instituições políticas, ou o caso extremo do Islão, em que todos os poderes do Estado, as regras de alimentação e vestuário e a obrigatoriedade da fé estão contidas no Corão, deviam servir de vacina aos países onde predominam as práticas cristãs e serem as Igrejas a exigir o cordão sanitário que as separe da política.

A Igreja católica está, hoje, longe de ser a mais ligada ao poder político, apesar da gula com que parasita os Estados com quem assina Concordatas. Além do caso patológico do Islão, existe a Igreja ortodoxa sempre ligada ao poder político (Rússia e Grécia) e no caso da Grécia, com a Constituição ainda promulgada em nome da Santíssima Trindade.

No Brasil as Igrejas evangélicas já dominam os meios de comunicação e o aparelho de Estado e, até nos EUA conseguiu o domínio do Partido Republicano, apesar do Estado não poder subsidiar qualquer culto.

No mundo globalizado, onde a diversidade religiosa passou a ser uma constante, não há outra forma de conter a vocação totalitária das religiões maioritárias, nem o proselitismo das minoritárias, sem reforço da laicidade, posição que desconhecem os oportunistas de vários partidos, na caça ao voto, e os devotos ensandecidos pela fé.

Se o nazismo quiser gozar de imunidade e impunidade basta transformar-se em religião. Em vez de líder use nomes como mulá, bispo, mufti, aiatola, cónego ou rabino e dê aos livros com que intoxica os devotos a santidade com que as religiões sacralizam os seus, apresentando-o como palavra revelada que conduz à salvação. E os antifascistas serão acusados de racismo e nazifobia.

«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser cético, ou melhor dizendo indiferentista» Sampaio Bruno, in «A Questão religiosa» (1907).

17 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Afinal há milagres

Depois do massacre do Papa que ameaçava continuar por vários dias, apareceu a vitória no campeonato nacional do mais popular clube nacional.

Quando estava em marcha um novo massacre mediático valeu-nos o Salvador [Sobral] com a vitória merecida no festival da canção da Euro-visão.

Só faltavam as boas notícias sobre o desempenho da economia nacional.

Fátima foi um embuste a que nem o CEO do Vaticano resistiu a dar a bênção, sabendo do desprestígio que lhe acarretou. Finalmente vamos gozar de algum descanso.

16 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Humor no Inimigo Público

Associação Ateísta Portuguesa também não acredita nas vitórias do Benfica e do Salvador Sobral

Vítor Elias 15 DE MAIO DE 2017

Associação Ateísta Portuguesa multiplicou-se em declarações contra o 13 de Maio em Fátima e hoje mesmo, em declarações ao IP, garantiu que o tetra do Benfica e a vitória do Salvador Sobral também são fabricações do Estado Novo para enganar papalvos. “A suposta Nossa Senhora nunca apareceu em cima de uma azinheira, o suposto Luís Filipe Vieira nunca apareceu em cima de um palanque no Marquês do Pombal e o suposto Salvador Sobral nunca apareceu em cima de um palco em Kiev. Só o Francisco Louçã é que aparece no Conselho de Estado”, anunciou a AAP.

16 de Maio, 2017 Carlos Esperança

O MILAGRE DO “VISCONDE DE MONTELO”

– por ALFREDO BARROSO (no «i» de 12 de Maio)

Segundo estimativas publicadas na Imprensa, nomeadamente na edição portuguesa da revista Forbes, as receitas do Santuário de Fátima (que se mantiveram «estáveis nos últimos 11 anos») terão ultrapassado os 19 milhões de euros em 2016, embora estejam longe de constituir a maior fonte de receita da Igreja em Portugal. «Se multiplicássemos, de uma forma simplista, as receitas da diocese de Lisboa por 21 (é este o número das dioceses em Portugal, que agregam 4378 paróquias) estaríamos a falar de receitas de quase 40 milhões de euros», escreve a Forbes.

«Acredita-se, no entanto, que este número seja mais elevado». E aquela revista acrescenta: «A equação dos milhões da Igreja é muito ampla. Tem várias ramificações, diferentes origens e “donos” distintos» – desde, por exemplo, o dinheiro que é gerado pelas ordens religiosas até aos valores recebidos pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social.

No entanto, pode a hierarquia da Igreja portuguesa ficar descansada, que o Papa Francisco, por mais bondoso e “revolucionário” que seja, não vem ao Santuário de Fátima fazer como Jesus Cristo e expulsar os vendilhões do templo. Aliás, de dois templos: a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que levou 25 anos a construir (entre 1928 e 1953); e a moderníssima Basílica da Santíssima Trindade, inaugurada em 2007, e que terá custado cerca de 80 milhões de euros, ou seja, dez vezes mais do que o Centro Espiritual do Turcifal, na região Oeste.

O Papa Francisco, que se apresentará como «bispo vestido de branco», vem recordar o exemplo dos «bem-aventurados Francisco e Jacinta», que ele vai canonizar, e vem evocar a «Senhora da veste branca», no local onde há cem anos mostrou «os desígnios da misericórdia do nosso Deus» – conforme consta da oração já disponível no Missal da viagem, da responsabilidade do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice (na Santa Sé).

Podia ocorrer ao Santo Padre citar Jesus Cristo – «Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e ganharás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me» (Mateus 19:21); «Vendam o que têm e dêem aos necessitados, e assim encherão o vosso cofre no céu! Ali os vossos tesouros jamais desaparecerão: nenhum ladrão os poderá roubar, nem nenhuma calamidade os destruirá» (Lucas 12:33); «Nem vocês nem ninguém pode servir dois senhores. Ou odiarão um e serão fiéis ao outro, ou, ao invés, terão entusiasmo por um e desprezarão o outro.

Não se pode servir Deus e o dinheiro» (Lucas 16:13) – mas é óbvio que não o fará! O Papa Francisco, nascido Jorge Bergoglio, tem a noção dos limites do seu poder e não quererá que lhe suceda o mesmo que ao Papa João Paulo I, nascido Albino Luciani, morto (envenenado?) ao fim de 33 dias de pontificado (Agosto e Setembro de 1978). Ninguém lhe perdoaria que afrontasse a memória dos dois grandes «construtores» das «aparições» de Fátima.

Um deles, o padre Manuel Couto, até foi «construtor» sem o saber, ao descrever, na sua sinistra «Missão Abreviada» (1859) a «aparição de Nossa Senhora a dois pastorinhos no Monte Salette, em França, aos 19 de Setembro de 1846». A mãe de Lúcia leu várias vezes diante desta «o caso de La Salette», mas Lúcia, que se orgulhava de memorizar logo à primeira as histórias contadas pela mãe, «nunca deu notícia» deste caso, por mais que lhe perguntassem. E são espantosas as semelhanças entre a descrição feita pela pastorinha Melania da «aparição» no Monte Salette, e a descrição feita pela pastorinha Lúcia da «aparição» ocorrida na Cova da Iria. A «aparição» de Fátima é quase cópia fiel da «aparição» em La Salette. Et pour cause…

O outro grande «construtor» do «milagre», sem dúvida o maior e mais importante, foi o “Visconde de Montelo”, pseudónimo do cónego Manuel Nunes Formigão, mais conhecido e citado como o «dr. Formigão», laureado em Teologia e Direito Canónico, devoto do «milagre» de Lourdes, onde se comprometeu, «aos pés da Virgem, a divulgar a devoção mariana em Portugal». Considerado «uma trombeta de Deus» pelo Arcebispo D. Manuel Mendes da Conceição, era tratado como o «apóstolo de Fátima», e mesmo, imagine-se, como o «quarto “pastorinho” de Fátima». Sob o pseudónimo de “Visconde de Montelo”, o dr. Formigão escreveu vários livros para edificação dos milagres da Cova da Iria, nomeadamente: «As grandes maravilhas de Fátima» (1927); «Fátima, o Paraíso na Terra» (para ajudar na construção da primeira Basílica); «A Pérola de Portugal» (1931); «Fé e Pátria» (1936). É significativo o que sobre ele escreveu o segundo bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio: «Através da sua acção e da sua pena ao serviço da Igreja e dos acontecimentos de Fátima, o cónego Formigão antecipou-se à Igreja que bem serviu. Depois dos Pastorinhos, o Sr. Formigão foi o instrumento escolhido por Nossa Senhora para garantir a autenticidade de tais acontecimentos». Isto é: sem ele, não haveria «milagre».

A causa da beatificação do dr. Formigão conta com seis mil páginas, fechadas e lacradas em 20 caixas, no Vaticano. Mais dia menos dia, a Pátria terá o seu Santo Formigão!

15 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) – Lusa

Papa: Associação Ateísta critica “cumplicidade dos mais altos representantes” da República

Coimbra, 12 mai (Lusa) – A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) criticou a “cumplicidade dos mais altos representantes da República” com as celebrações religiosas que decorrem em Fátima, hoje e sábado, durante a visita do papa Francisco.

“A laicidade, imolada no altar da superstição pia, caricatura o Estado laico e desprestigia as instituições”, afirma a AAP numa nota enviada hoje à agência Lusa.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, vão estar às 16:00 a receber Francisco na Base Aérea de Monte Real, concelho de Leiria, e permanecem até sábado em Fátima, onde terão audiências separadas com o líder da Igreja de Roma e do estado do Vaticano.

“Em Portugal, vítima da superstição e da ignorância, a conferência de Antero de Quental sobre as ‘Causas da Decadência dos Povos Peninsulares’ precisa de ser divulgada”, defende a associação a que preside o investigador Carlos Esperança, de Coimbra.

A AAP reprova a tolerância de ponto, concedida hoje pelo Governo aos funcionários públicos, bem como “a presença de cadetes fardados no transporte do andor da Senhora de Fátima”, na procissão das velas desta noite.

“Quando a Igreja Católica distribui veneras a título póstumo, à semelhança dos estados, é uma decisão que não merece reparo e apenas diz respeito aos crentes, mas, quando o pretexto insiste no desafio à inteligência e ao bom senso, é uma boa razão para o combate ao obscurantismo e à superstição, implícitos nos milagres”, afirma na nota, intitulada “Fátima – o centenário de um embuste”.

Em 13 de maio de 1917, “foi ensaiado o circo contra a República, usando como fetiche o número 13 e o rosário como amuleto”, critica ainda a Associação Ateísta Portuguesa.

Há 100 anos, “numa zona rural recôndita, foi possível fanatizar três crianças analfabetas com o catecismo terrorista da época e usá-las na raiva contra o registo civil obrigatório, o divórcio e a lei da separação da Igreja e do Estado”, acentua.

Durante a visita a Fátima, o papa Francisco vai presidir à cerimónia de canonização dos pastorinhos Jacinta e Francisco Marto, considerados pela Igreja Católica, com Lúcia, as três testemunhas principais dos acontecimentos de 1917.

Os beatos Jacinta e Francisco são os mais jovens santos não-mártires. A cerimónia, a primeira realizada em Portugal, vai decorrer em Língua Portuguesa.

CSS
Lusa

14 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Na revista Sábado on line (FB)

O presidente da Associação Ateísta Portuguesa, Carlos Esperança, sujeitou-se à penitência, como o próprio a classificou, e assistiu à visita do papa Francisco a Fátima

Não veio como chefe do único Estado sem maternidade, veio, nas suas palavras, como peregrino, mas aguardavam-no as genuflexões pias e os beiços ávidos do beija-mão, de crentes ilustres movidos pela fé e pelos vídeos promocionais do PR e de Zita Seabra.

O avião papal percorreu o espaço aéreo nacional escoltado por dois caças da F.A., quiçá para provar aos incréus que o céu existe, porque nele circulam aves, insetos e aeronaves, mas não há registo da navegação aérea da Sr.ª de Fátima, criada pelo clero português, há um século, contra a República.

Carlos Esperança
Carlos Esperança

O Papa Francisco, enviado da Cúria, trouxe os diplomas de canonização de Francisco e Jacinta, que, depois de longa defunção, obraram em joint venture o milagre da D. Emília de Jesus, a entrevadinha que morreu totalmente curada, seis meses depois. Impondo a canonização dois milagres, não se furtaram os defuntos a curar uma criança com “perda de material cerebral” que, depois de transportada “ao hospital, em coma, foi operada”, no Brasil, e os médicos disseram que, “caso sobrevivesse, viveria em estado vegetativo ou, no máximo, com graves deficiências cognitivas”. Valeu-lhe o pai. Pediu à Sr.ª de Fátima e aos pastorinhos a cura do Lucas, caído de 7 metros de altura. Curou-se em três dias. É o troféu dos defuntos que, para as canonizações, careciam do milagre como os diabéticos de insulina para a doença.

Não havendo na Cova da Iria infraestruturas para aviões, requisito desnecessário para a Virgem, o CEO da multinacional da fé católica, aterrou no aeroporto de Monte Real, a 54 km da sucursal.

O Papa deixou uma mensagem à tripulação do avião que o trouxe: «Esta viagem é algo especial, uma viagem de oração de encontro com o Senhor e com a santa mãe de Deus», mas quem encontrou na Base Aérea de Monte Real foi o PR, incapaz de se conter no beija-mão, o presidente da AR e o PM.

Às 17H10, após cumprimentar a referida trindade e outros dignitários da República, fez uma visita à capela da Base Aérea e um curto rali de saudações e beijos. Esperava-o um helicóptero, para voar baixinho e surgir em Fátima, onde era aguardado por centenas de milhares de crentes em apoteose, alguns, com calos nos joelhos, outros, com bolhas nos pés, e todos em êxtase pio, com os olhos no céu, à espera do Papa.

A chegada de Francisco a Fátima foi a 5.ª aparição de um Papa, depois das de Paulo VI, há 50 anos, de João Paulo II (2), reincidente, e de Bento XVI, todas bem documentadas, ao contrário das que, em igual número, ocorreram numa azinheira local, para gáudio de três crianças, em que só uma via e ouvia, visões que, sucessivamente alteradas, revistas e aumentadas, se converteram em aparições.

Eram 17h40 quando os três helicópteros que levaram o Papa e a sua comitiva até Fátima sobrevoaram o céu do Santuário (o céu existe), antes de aterrarem no estádio da cidade. Depois, foi a viagem em papamóvel por entre a multidão ansiosa de o ver, como se na passagem do homem estivesse Deus a acenar aos crentes.

Às 18H30, entregou ao santuário a terceira Rosa de Ouro e dirigiu-se aos peregrinos na língua da Senhora de Fátima. Foi um deslumbramento.

O Papa rezou, abençoou os peregrinos e retirou-se do santuário cerca das 19 horas, para voltar duas horas depois e presidir à procissão das velas, um popular evento da liturgia, abrilhantado este ano pelo «hino do centenário das aparições». Rezou de novo e falou aos peregrinos de um santuário repleto de gente, fé e velas acesas.

Os crentes rezavam e cantavam, excitados pela presença do Papa, quando este se retirou às 23 horas, farto ou cansado, sem lhes falar de novo. Kitsch de Joana de Vasconcelos, o enorme e rutilante terço continuou a iluminar os peregrinos, abatidos com a ausência do Papa, e que rezavam na procissão que se prolongou mais um quarto de hora.

O cronista, considerando que ia longa a sua penitência, refugiou-se em leituras profanas. Escolheu Aquilino e releu algumas páginas de «Andam Faunos pelos Bosques», para se ressarcir do castigo que aceitou.

Voltou hoje, dia 13, antes das 10H00, para as canonizações de Francisco e Jacinta, um inédito privilégio de outorga ao domicílio, e corresponder ao amável convite da revista Sábado. E ia pensando no estranho sortilégio da bênção das velas normais que, ontem, graças aos sinais cabalísticos do Papa, se transformaram em velas benzidas.

Os pastorinhos, bem-aventurados a quem foram concedidos alvarás para obrar milagres, já eram beatos com a cura da D. Emília, e tinham direito a culto nacional. Foi a criança brasileira, em prejuízo de amputados da guerra colonial, que vão anualmente a Fátima e não recuperam os membros perdidos, quem lhes permitiu serem criados santos ou, em linguagem profana, obterem o diploma de canonização e poderem ser cultuados em todo o mundo católico. Que pena continuarem defuntos e não assistirem à grandiosidade da festa pia que lhes reservaram, eles que, em vida, apenas tiveram refeições decentes num dia 13 em que o administrador do concelho de Ourém os levou a almoçar com os filhos, a sua casa, e perderam uma aparição programada.

Às 10H00, teve início a eucaristia de celebração do que os créus e a comunicação social designam por Centenário das Aparições. Começou, aliás, com a canonização de Jacinta e Francisco Marto. Francisco, o Papa, começou por proclamá-los santos e anunciar a sua inscrição no catálogo dos santos da Igreja católica. Os crentes romperam em aplausos. Foi um orgulho para a Pátria e um deleite para os fiéis.

Depois da missa, a bordo do papamóvel, o Papa fez um novo rali de beijos e saudações, desceu do veículo para beijar uma deficiente e dirigiu-se à Casa de Nossa Senhora do Carmo para almoçar com os bispos. O Papa é santo por profissão e estado civil, mas não é como Alexandrina Maria da Costa, a santinha de Balasar, que passou os últimos treze anos e sete meses finais da vida em jejum total e anúria (apenas tomava a comunhão).

Findo o almoço, o Papa Francisco começou a repetir a viagem em sentido inverso com a coreografia prevista. Lá fora, o mundo quase não deu pela visita do Papa a Portugal.

Falta agora enriquecer o catálogo dos santos com Lúcia e Alexandrina cujos milagres já estão encomendados.


13 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Aconteceu

13 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Podia ter acontecido

Antes isto do que aquele  do que o ósculo ao Papa que humilhou a República e comprometeu o seu carácter laico.

13 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Aconteceu

– Vais a Fátima?

– Não, não preciso

– ?????

– Não sou pecador.

12 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) – Comunicado

Fátima: o centenário de um embuste

Quando a Igreja católica distribui veneras a título póstumo, à semelhança dos Estados, é uma decisão que não merece reparo e apenas diz respeito aos crentes, mas quando o pretexto insiste no desafio à inteligência e ao bom senso, é uma boa razão para o combate ao obscurantismo e à superstição, implícitos nos milagres.

No início do século XX houve várias tentativas para encenar um espetáculo, copiado de Lourdes, contra a República. Em 1917, numa zona rural recôndita, foi possível fanatizar três crianças analfabetas com o catecismo terrorista da época e usá-las na raiva contra o Registo Civil obrigatório, o divórcio e a lei da Separação da Igreja e do Estado.

Em 13 de maio de 1917 foi ensaiado o circo contra a República, usando como fetiche o número 13 e o rosário como amuleto. Em cada dia 13 repetiu-se o teatrinho até ao mês de outubro. Bailou o Sol, saltitou nas azinheiras a Senhora de Fátima, o avatar lusófono da de Lourdes, poisou na Cova da Iria o Anjo de Portugal e as crianças foram repetindo o que o padre doutrinava, enquanto a Igreja comprava os terrenos para o negócio pio.

Em 1930, quando a ditadura clerical-fascista estava em marcha e a Lúcia levava quase uma década de cativeiro, com a Jacinta e o Francisco mortos, a ‘mensagem’ de Fátima virou-se contra o comunismo e para a conversão da Rússia (URSS?). Os ‘segredos’ que alimentaram o medo das populações, embrutecidas pelo primarismo da fé, acabaram de forma pífia com o último a ser apropriado por João Paulo II, convencido de que era, ele próprio, o protagonista, e de que a Senhora de Fátima, em vez de o ter poupado ao tiro de pistola, lhe havia guiado a bala no trajeto através do corpo perfurado.

Implodido o comunismo, Fátima virou-se contra o ateísmo e em 2008 o cardeal Saraiva Martins, vindo do Vaticano, presidiu à peregrinação do 13 de maio, sob o lema “contra o ateísmo”. Foi o ano da criação da Associação Ateísta Portuguesa (AAP).

Depois do milagre da D. Emília dos Santos, agora em nova joint venture, já com a ajuda da defunta Lúcia, os pastorinhos obraram outro milagre: curaram uma criança brasileira com “perda de material cerebral” que, depois de transportada “ao hospital, em coma, foi operada” e os médicos disseram que, “caso sobrevivesse, viveria em estado vegetativo ou, no máximo, com graves deficiências cognitivas”.

Bastou o pai pedir a cura à Senhora de Fátima e aos pastorinhos para ficar sem sequelas, em três dias, e recuperada para vir a Fátima como troféu dos defuntos, que necessitavam do milagre para a santidade programada.

Em Portugal, vítima da superstição e da ignorância, a conferência de Antero de Quental sobre as ‘Causas da Decadência dos Povos Peninsulares’ precisa de ser divulgada.

A Associação Ateísta Portuguesa reprova a cumplicidade dos mais altos representantes da República, a tolerância de ponto aos funcionários públicos e a presença de cadetes fardados no transporte do andor da Senhora de Fátima, na procissão das velas.

A laicidade, imolada no altar da superstição pia, caricatura o Estado laico e desprestigia as instituições.

Odivelas, 12 de maio de 2017.