1 de Março, 2004 Mariana de Oliveira
Os crentes iluminados
Recentemente este blog tem tido contactos com uns quantos crentes iluminados. As provocações, em forma de comentários no Diário ou em posts em diversas publicações bloguísticas, são bastante interessantes e delas pode retirar-se um tipo característico de crente: o crente iluminado.
A arrogância e prepotência é a primeira característica que salta aos olhos do leitor. Estas personagens gostam de anunciar aos quatros ventos como somos ignaros, fúteis e inconsequentes e como eles, iluminados, são os detentores de uma holofote que deverá guiar a Humanidade pelas trevas em que actualmente se encontra.
Os seus recadinhos tresandam a um paternalismo mal disfarçado quando dizem que não percebemos nada do mundo, que temos todos os meios para conhecer a Verdade e, como ingratos que somos, escolhemos desobedecer conscientemente. Como diz um cantor, a liberdade é desprezada nos livres porque não conseguimos ver a beleza à nossa volta… beleza porque alguém o diz.
Estes condutores luz acusam-nos de venerar santos. Sim, porque se admiramos alguém e até concordamos com o seu pensamento, devemos adorar essa pessoa e vê-la como modelo de virtude. Nada mais errado! Lá por considerarmos que determinadas figuras da ciência e da filosofia são importantes não só para essas áreas mas também para as próprias relações sociais, não significa necessariamente que as adoremos. Como quaisquer pessoas, são passíveis de críticas e nem todos os seus ensinamentos são válidos.
Também dizem que não conhecemos a tradição. Gostava, primeiro, de saber de que tradição falam eles? Dos usos? Dos costumes? Daquilo a que os romanos chamavam moraes maiorum? E o que é boa tradição? Será que a boa tradição é aquela em que não há igualdade entre as pessoas; em que as mulheres ficavam em casa a cuidar dos filhos; em que só tinha acesso à educação quem era proveniente de boas famílias? Será que é boa tradição a existência de castas? Será que é boa tradição a pena de morte? Será que é boa tradição a Inquisição? Será que é boa tradição a caça às bruxas? Será que é boa tradição os sacrifícios humanos e de animais? Para além disto, quem é que decide quais são os comportamos conformes à tradição? Uma assembleia de iluminados no estilo da que existe no Islão?
Como se isto não bastasse, tais indivíduos estão convencidos que sabem aquilo que pensamos melhor do que nós mesmos. Por isso, confundem-nos com um bando de evangelizadores de uma qualquer causa ateia ou com uma elite que pretende subverter a actual ordem mundial e instituir uma ditadura anti-religiosa. Nada mais errado! A última coisa que queremos é impingir as nossas crenças a quem quer que seja. Queremos, isso sim, é que a população geral tenha mais e melhor acesso à informação para que possa formar as suas opiniões de forma esclarecida. Defendemos o princípio da laicidade como condição essencial para atingir a democracia, a liberdade e a tolerância num Estado de Direito Democrático. Assim, propugnamos que a religião esteja circunscrita ao foro privado e não tenha lugar na res publica, que, por ser de todos, não pode sucumbir a tentação de favorecer determinadas ideologias religiosas ou morais.