6 de Março, 2004 Carlos Esperança
O padre Jerónimo Gomes – um talibã da ICAR
Os folhetos anti-aborto que estão a provocar enorme repúdio inserem-se na habitual política de terrorismo ideológico da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).
Só quem já esqueceu o catecismo do Ensino Primário, durante a ditadura, pode agora surpreender-se. Os horrores que, segundo os padres, Deus reservava aos pecadores – choro, ranger de dentes, noite perpétua, caldeirões de azeite fervente onde o diabo mergulhava as almas dos pecadores com garfos de três dentes – faziam parte do inferno que povoava as noites das crianças.
Durante séculos foi o medo de Deus, e o pavor ainda maior dos seus funcionários, que serviu de caldo de cultura para o autoritarismo do Estado com a cumplicidade do clero.
Com a democracia, a ICAR tem procurado adaptar-se e aceitar a modernidade mas, de vez em quando, o terrorismo beato dos seus próceres vem à tona. Não resiste a querer transformar cidadãos num bando de beatos, tímidos e idiotas genuflectidos à vontade dos seus padres.
Foi o que aconteceu agora com a distribuição de panfletos pela Associação S.O.S. – Vida, um direito que lhe assiste mas que a boçalidade do Padre Jerónimo Gomes levou às últimas consequências ao entregá-los a crianças dos 6 aos 9 anos.
Imagine-se o que se diria – e bem – se as Associações que defendem a descriminalização do aborto abordassem crianças dessa idade para defenderem os seus pontos de vista!
As preocupações com os traumas que podem causar às crianças não interessam aos padres. Eles sabem que a fé é um trauma de infância que, às vezes, dura a vida inteira.
O terrorismo ideológico, crueldade visual e péssimo gosto que agora se execram não são fruto de um acto infeliz, é uma acto deliberado inserido na metodologia habitual.
Aliás, há três pecados que a ICAR combate com inusitada violência, talvez porque são os únicos que os seus padres e bispos não podem cometer: o aborto, o adultério e o divórcio – o primeiro porque as mulheres estão excluídas do sacerdócio e os dois últimos porque este se encontra condenado ao celibato.