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12 de Março, 2004 jvasco

Ditado Libanês

No Líbano existe um ditado que revela um certo “défice democrático” na cultura daqueles que o apregoam. Suponho que a religião Islâmica e a sua influência cultural não é alheia a isso. O ditado é:

“Quando chegares a casa, bate na tua mulher. Se não souberes porquê, ela sabe.”

Aprendi este ditado ontem, e ainda me impressiona quando o escrevo.

11 de Março, 2004 André Esteves

A Piada do dia…

Nas igrejas evangélicas Baptistas é habitual todos os domingos, antes do sermão, realizar-se a chamada Escola Bíblica Dominical.

Os crentes são separados por idade, para diferentes classes, cada uma com temas preparados para a ocasião. É escusado dizer, que a maior parte das crianças vêm cheias de sono…

Principalmente quem veio de longe.

Na classe dos meninos e meninas, a Raquel e o Daniel assistiam à aula.

A Raquel que tinha vindo de longe, adormecia na cadeira, enquanto a professora falava sobre a bíblia, e esta, de rompante fazia perguntas para testar a atenção dos míudos. O Daniel era filho do pastor, e estava sempre a prestar atenção, porque, afinal, tinha a reputação do pai a manter… O Daniel gostava sempre de se sentar atrás da Raquel. Tinha um fraquito por ela…

De repente, a professora vira-se para a Raquelita, que estava de olhos semicerrados a dormir e pergunta:

– Raquel! Diz-me quem é que criou o universo?!

O Daniel que estava por detrás da Raquel, vendo que ela não se apercebia que a pergunta lhe era dirigida, espeta-lhe uma agulha… Num salto, a Raquel levanta-se e exclama:

DEUS TODO PODEROSO!!!

– Muito Bem, Raquelita…

A professora continua a dissertação sobre Sodoma e Gomorra, e a pequena Raquel volta a adormecer, espraiando-se na cadeira e lentamente fechando os olhos…

Eis que, notando a pose da Raquel, a professora volta á carga:

– Raquel!! Quem é o nosso salvador?!!

O Daniel espeta-lhe outra vez a agulha. Raquel dá outro berro:

CRISTO!!!

A professora já não percebe o que se passa e resolve esperar e pôr a Raquel em sentido, e com uma pergunta impossível para verificar se ela esteve sempre a prestar atenção…

Quando a menina já está outra vez a adormecer, vira-se e exclama:

– Raquel!! Responda-me imediatamente: O que Eva disse a Adão, depois do seu vigésimo primeiro filho???

Daniel volta a espetar a Raquel, e eis que esta exclama:

Se voltas a espetar-me com essa coisa horrível, vais ver que te parto a cara!!!

A professora desmaiou redonda no chão…

11 de Março, 2004 André Esteves

A dança da evolução…

É cool ser primata!

Eu também o sou…

E tu?

Porque é que não sais do armário?

Afinal, quer queiramos, quer não…

Todos os dias fazemos a dança da evolução…

11 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Sangrento Dia

Hoje é dia de luto. Duas centenas de pessoas morreram e muitas mais ficaram feridas. Hoje é um dia sangrento.

Independentemente da validade das ideologias que defende a ETA ou qualquer outro grupo, morte é sempre morte. Não há desculpa, não há perdão possível para os responsáveis.



Este atentado põe em causa a Democracia e a Liberdade e os culpados devem ser trazidos perante a Justiça. Mas, em nome dos mesmos valores que hoje foram barbaramente atacados, não nos podemos esquecer, não nos devemos esquecer que há direitos a respeitar e que não podemos, a todo o custo, os autores de tais explosões. Os fins não justificam os meios, não nos tornemos no próprio monstro que pretendemos combater.

11 de Março, 2004 Carlos Esperança

O massacre de Madrid



A brutalidade do massacre hoje ocorrido remete-nos aos piores pesadelos com que a humanidade se defronta. A orgia de horror, na estação de Atocha, onde pereceram ou ficaram feridos centenas de estudantes e trabalhadores, só pode ser obra de fanáticos que encontram na barbárie a satisfação da demência.

É precisa demasiada fé para tamanha crueldade.

Quer sejam os suspeitos do costume, a ETA, o bando islâmico Alqaeda ou quaisquer outros, os autores do covarde atentado, não pode ser frouxa a condenação nem débil a resposta – estão em causa a democracia e a liberdade, que não podem ficar reféns do medo e da violência.

Dito isto, espero que espanhóis se não deixem influenciar pelo ruído de fundo com que os facínoras quiseram interferir nas próximas eleições.

10 de Março, 2004 Carlos Esperança

Coimbra e a ponte Europa



A intenção do pio edil de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, de crismar a ponte Europa com o nome de Rainha Santa Isabel (Diário As Beiras, 09/03/04) não pode deixar de estupefazer. O Mondego, o rio Mondego, não é um charco de água benta.

A Europa está condenada ao rapto. Zeus, transformado em touro, levou-a para Creta e fez-lhe três filhos, mas amava-a. Minos, Sarpédon e Radamanto nasceram desse amor. Carlos Encarnação detesta-a e afadiga-se a apagar-lhe o nome.

Assim, em vez de Europa, filha de Argenor, rei da Fenícia e irmã de Cadmo, teremos a filha de D. Pedro III, rei de Aragão, esposa de D. Dinis, a dar nome à ponte.

Talvez a Rainha, que esperou mais de três séculos para ser promovida a santa, repita agora o milagre que obrou com os operários do convento de Santa Clara. Com o desemprego que grassa na região, são precisas muitas moedas de ouro para levar algum conforto aos desempregados que todos os dias crescem em Coimbra.

Mas, convenhamos, a ideia de crismar a ponte Europa com o nome de «Rainha Santa Isabel» é um insulto à cidade que aspira à modernidade e um tributo ao beatério que exulta na paróquia.

A ideia, digna de um mordomo das festas da Rainha, não dignifica o edil a quem falta um projecto para a cidade substituído por um nome para a ponte.

Sabemos que a devoção autóctone é exacerbada como o prova a estátua que se apossou do Largo dos Arcos do Jardim mas o exagero tem limites.

A quem mora numa Praceta com nome de santo, na freguesia de Santo António dos Olivais e já dispõe da ponte de Santa Clara para atravessar o Mondego, perante a onda de santidade que nos ameaça, apetece emigrar antes que a água do Mondego se torne benta e a cidade universitária se converta em paróquia rural.

9 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Pensamento do dia

Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus. O Homem inventou Deus para poder viver sem se matar.

Fiodor Dostoievsky, in “O Idiota”

9 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Se Deus existe, tudo é permitido

Aqui está um texto cuja autoria é de Ricardo Alves.

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O que mais me impressionou no recente incidente com os folhetos distribuídos nas escolas pela associação católica “SOS Vida” foi o desprezo pelos sentimentos das crianças e pela própria verdade factual, e penso que devemos reflectir sobre como é possível defender, como o faz o padre Jerónimo Gomes, que “(…) estas imagens não são chocantes. Tudo se pode dizer às crianças desde que seja científico e de maneira simples” (Público, 6/3/2004).

Qualquer pessoa minimamente sensata considera o panfleto primário, terrorista e objectivamente nocivo para a tranquilidade de qualquer criança, católica ou não. Isto será felizmente consensual na nossa sociedade, mas existe uma associação formada com o apoio do bispo do Algarve que distribui o folheto considerando-o normal. Como é possível existir uma contradição tão grande entre as referências éticas destes católicos e a da maioria da sociedade?

O padre Jerónimo Gomes ajudou-nos a compreender quando declarou, perante as câmaras de televisão, que “não precisa de ver para acreditar”. Referia-se à imagem (comprovadamente falsa) do “taiuanês comendo um feto comprado a 50 euros no hospital local”. Mas a sua frase ecoa o mito do Tomé cristão, o tal a quem o JC da mitologia cristã teria dito que não se deveriam exigir provas tangíveis para crer. Jerónimo Gomes situa-se portanto num sistema de análise da realidade em que a verdade factual é relativizável pela fé, e que permite toda e qualquer operação de redefinição da realidade de acordo com a fé, os dogmas da hierarquia, ou as necessidades evangélico-políticas do dia-a-dia. Este princípio aplica-se igualmente a todas as noções éticas habitualmente aceites. Mentir ou aterrorizar crianças é normalmente considerado errado, mas não o é necessariamente para quem acredita ter “Deus” e os seus representantes terrenos do seu lado. Para os católicos fanáticos (o que felizmente não inclui, longe disso, todos os católicos portugueses nossos contemporâneos) mentir ou causar pesadelos a crianças é éticamente aceitável, desde que feito em nome de “Deus” e com a bênção da sua hierarquia terrena.

Na mente dos fanáticos, se “Deus” existe tudo (lhes) é permitido.

Ricardo Alves, 9/3/2004

9 de Março, 2004 Carlos Esperança

A Conferência Episcopal Portuguesa e o aborto

Recentemente um bando de bispos portugueses, reunidos sob os auspícios da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), lançou um ultimato à Assembleia da República para que definisse «um conceito de vida em termos jurídicos». Desta vez as vozes dos bispos não passaram do céu.

É verdade que o aborto é uma das poucas bandeiras que resta a estes veneráveis anciões a quem a idade e o múnus tornaram castos e atenuaram o cio sem lhes domar o ressentimento para com a sociedade que progressivamente os ignora.

Os bispos gostariam de renovar o Código de 1886 mas isso já nem os deputados mais beatos e boçais da actual maioria estão dispostos a patrocinar. Nem os trogloditas que ainda em 1984 queriam obrigar as mulheres violadas a conceber e as que tivessem fetos mal formados a completar a gravidez, nem esses se atrevem já a contestar a lei que está em vigor, contra a qual votaram então.

Hoje só o Prof. João César das Neves, na aflição de salvar a alma, se presta ao ridículo de ser o porta-voz das aspirações de João Paulo II.

Esta gente sonha ainda com o miguelismo trauliteiro do séc. XIX, que tinha como húmus a ruralidade e defendia a cartilha de Pio IX, papa que JP2 se apressou a beatificar.

Tal como o adultério – igualmente um mal –, que já não leva ninguém a tribunal ou à cadeia, também o aborto vai deixar de ser crime. A sua legalização (daqui a dois anos) não o torna virtuoso, mas resolve um grave problema de saúde pública.

Se os castos machos da CEP, que dirigem a ICAR em Portugal, representam a vontade de Deus, é razão para dizer que Deus chega sempre atrasado.

8 de Março, 2004 Carlos Esperança

Homenagem à Mulher no Dia Internacional. Sobre duas mulheres e dois gestos de heroísmo silencioso

A brutalidade da violência contra mulheres, perpetrada por tribunais islâmicos, de que a condenação à morte por lapidação, em caso de adultério, é apenas a ponta do icebergue da crueldade atávica, aparece com medonha regularidade referida na comunicação social.

Entre a indignação e a revolta vêm-me à memória, vá-se lá saber porquê, dois transplantes de órgãos ocorridos nos Hospitais da Universidade de Coimbra, ambos no ano de 2001.

1 – Num qualquer dia de Abril os médicos removeram uma fracção de fígado de uma mulher saudável. Não foi divulgado o nome nem a idade. Foi apenas uma mulher com muito amor, autora de um gesto nobre, paradigma encantador a dar conteúdo à palavra Mãe. Sem hesitações. Sem medo. Determinada. Serena. Abnegada.

Muito perto, noutra cama, esperava o pedaço de fígado da dádiva uma criança para quem a porção de víscera era condição de sobrevivência.

No sofrimento foi possível a generosidade da mãe, na angústia a esperança da filha, na agonia a vida de uma criança.

É uma história de amor verdadeiramente visceral. É um grito de esperança a ressoar numa vida que não desistiu. É um hino de solidariedade escrito por uma mãe que repetiu o parto e renovou a vida, poema de sangue escrito a bisturi com versos feitos de carne cosida com linha.

O tempo não será mais a medida destas vidas. Cada minuto foi uma centelha de eternidade. É preciso que os deuses tenham ensandecido para não recompensarem o gesto.

E nós, embevecidos com o milagre da cirurgia, nem nos damos conta do milagre maior que é o amor, sentimento que julgávamos já perdido algures entre a livre circulação de mercadorias e a acumulação contínua do capital.

Ficámos a saber que na bolsa de valores da consciência humana ainda há acções que valem a pena, porque são imunes aos humores e rumores do mercado, porque resistem à cotação do dólar e ao preço dos combustíveis fósseis, porque não dependem de ciclos económicos nem de jogos de poder.

Foi há mais de dois anos. Que será feito das vidas de mãe e filha esquecidas no turbilhão de escândalos e intermináveis guerras? Exceptuando o arquivo da unidade de transplantes não é fácil que alguém as recorde. A memória regista mais facilmente o que há de pusilânime e fere a inteligência. E a maternidade é um ofício ancestral que se faz de graça e com naturalidade.

2 – Em Outubro outra mulher saudável e ainda jovem doou um rim. Um acto simples, apenas o risco assumido da própria vida na coragem de um gesto decidido. À espera, noutra cama, estava o filho.

Dentro de cada mãe há sempre uma mulher que emerge do estigma das milenárias burkas, qual águia presa ao chão sem poder voar, e que, libertando-se com um simples bater de asas, parte as grilhetas do medo e estilhaça a tradição.

Podem cobrir a cabeça de uma mulher com medo de que o pensamento a liberte, ocultar-lhe o corpo para lhe embotarem os sentidos, mas é a alma que alguns homens lhe querem aprisionada com receio de que desperte para o sortilégio da vida.

Quem é capaz de decidir do seu próprio sacrifício é porque encontrou o amor. Quem sabe do que é capaz o corpo, descobriu antes o que podia o espírito. Uma mãe que dá um rim ao filho doente é uma mulher corajosa.

Se a mulher foi criada a partir da costela de um homem ficou-lhe com a melhor. Quem lhe exige a submissão teme-lhe a inteligência ou duvida de si próprio. E nunca saberá amar.

Em Portugal, há apenas três décadas, a mulher precisava de autorização do marido para transpor a fronteira, a magistratura e a carreira diplomática eram-lhe inacessíveis, os direitos mais elementares eram-lhe recusados. Em nome da tradição e da moral.

Depois, foi uma longa e exaltante caminhada no país de Abril. De mãos dadas com os homens, seus irmãos. A caminho da libertação, homens e mulheres.

Hoje, um pouco por todo o mundo, subsistem sinistros guardiões de uma moral obsoleta, beatos implacáveis que sujeitam as mulheres à mais cruel e infamante das submissões. Quem lhes adivinha o rancor que os devora? Quem continuará a permitir-lhes a crueldade de que a mulher é a vítima predilecta? Só a sofreguidão mística do paraíso pode conduzir à louca ambição de erradicar os infiéis, todos os infiéis, num proselitismo demente que atinge o êxtase na embriaguez da morte.

Em tais sociedades nenhuma mulher doará um rim. Não pode decidir como vestir-se e não lhe é permitido despir-se. Nem para doar um rim. Nem para amar. Nesses lugares a mulher não tem rins. Nem filhos. Simplesmente não existe, acorrentada pela violência da tradição e anulada pela atrocidade dos preconceitos.

Mas se à mulher é negado o direito à vida o homem fica condenado à morte.

É por isso que precisamos de libertar-nos das burkas em que pretendem enclausurar-nos, da genuflexão a que querem submeter-nos, do livro único que querem impor-nos, dos lugares santos para que querem virar-nos. É a liberdade que é preciso conquistar e preservar. Para todos, homens e mulheres. Em todo o tempo. Em qualquer lugar.