28 de Março, 2004 Mariana de Oliveira
Citação do Dia
Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa.
Sigmund Freud
Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa.
Sigmund Freud
Os Estados Unidos da América orgulham-se de ser o farol mais brilhante da Liberdade e da Democracia. No entanto, entre muitos outros atropelos a direitos e garantias fundamentais, encontra-se o pledge of allegiance ou juramento de lealdade. Em todo o país, as crianças da escola primária começam o dia a recitar este juramento.
Criado no séc. XIX pelo jornalista Francis Bellamy – indivíduo anti-clerical -, o texto, curiosamente, não incluía qualquer referência religiosa. Foi na década de 50 que o Congresso americano votou para acrescentar Deus ao juramento. Assim, actualmente, milhares de crianças juram fidelidade à bandeira e a uma nação indivisível, sob Deus.
Em 2002, Michael Newdow, ateu californiano, resolveu acabar com esta violação do princípio da separação entre religião e Estado e abriu um processo judicial para abolir o uso do juramento nas escolas públicas americanas. Newdow ganhou, mas o processo seguiu, de instância em instância, até chegar ao Supremo Tribunal. Esta semana, o autor do processo foi explicar a sua oposição àquele tribunal.
Newdow diz que o juramento divide a sociedade, que aponta o dedo aos ateus. O juiz-presidente do Supremo Tribunal, William Rehnquist, fez notar que quando a adição de sob Deus foi votada no Congresso, há meio século, a votação foi unânime e, portanto, não haveria sinal de divisão. A isto Newdow retorquiu afirmando que o voto só foi unânime porque nenhum ateu poderia ser eleito para um cargo público.
Os apologistas do juramento defendem-se ainda dizendo que a referência a Deus é tão vaga que apenas tem contornos cívicos e não religiosos e que, para além disso, as crianças não são obrigadas a pronunciar as polémicas palavras. Newdow contra-argumenta que a pressão social a que os alunos são submetidos é incompatível com a protecção da sua liberdade religiosa. O Estado tem de ficar totalmente fora [da religião].
O problema da separação da Igreja do Estado não se coloca apenas neste pledge of allegiance. É bem sabido que os dólares ostentam a frase In God We Trust e a sessão de abertura do Supremo Tribunal começa por God save the United States and this honorable court. Estes são reflexos de um sentimento religioso intensamente enraizado numa sociedade que vê com maus olhos o ateísmo e os movimentos humanistas seculares. Reflexos que encontram expressão em determinados sectores políticos, nomeadamente, no Presidente Bush. É assim que um país que foi pioneiro na defesa da Democracia e da Liberdade se torna num poço de contradições e hipocrisias.
Corre por aí que há um Islão benévolo e outro terrorista. O Islão benévolo é o que se baba de gozo nas madraças e aparece compungido em público e que, a cada acto de violência, reitera a bondade do Corão, execra o terrorismo e protesta desejos de paz. Esse Islão apenas quer oprimir as mulheres, evitar a modernidade e recusar a democracia. Só não aceita que lhe imponham o respeito pelos direitos do Homem, dispensando-o de cumprir a vontade de Alá, que exulta com a lapidação, folga com chibatadas e se entusiasma com amputações.
Não precisamos de olhar para o Islão terrorista, basta-nos o benévolo, aquele que há vários séculos impede, onde se instalou, que alguém não tenha religião ou tenha qualquer outra.
Não são os árabes que são dementes é o Islão que, à semelhança das outras religiões, contém em si o germe do crime. O terrorismo é a aplicação prática dos preceitos do livro sagrado contra os infiéis e a crueldade o destino macabro que lhes reserva.
Seria uma tragédia que se abrisse a caça ao árabe numa explosão de xenofobia baseada em sentimentos religiosos concorrentes. Esse é o desejo dos facínoras do Islão que põem o terror ao serviço do proselitismo. O racismo é o sentimento piedoso do crente, a tolerância é a atitude de quem se emancipou da religião. É por isso que o combate não deve ser dirigido aos crentes mas contra o proselitismo troglodita dos seus próceres e o carácter retrógrado do Corão.
As armas nas mãos dos homens são um perigo, nas de Deus uma tragédia. O clero não pretende a felicidade dos homens mas apenas satisfazer a crueldade de Deus. Não podemos transigir com quem desrespeita os direitos do homem. Há um combate cultural a travar em defesa da liberdade que não pode deter-se nos véus e nos turbantes.
O Corão não é apenas o baluarte inexpugnável dos preconceitos islâmicos é a fonte que legitima toda a iniquidade.
No mundo islâmico os mullahs procuram ocupar os devotos nos intervalos das cinco rezas diárias com o assassínio de alguns infiéis. É preciso retirar-lhes o poder.
A laicidade é uma condição de paz e apanágio da democracia.
Aqui está mais um daqueles e-mails em cadeia que enchem as nossas caixas de correio.
Pergunto-me: será que há alguém que acredita realmente que terá uma vida miserável ou morrerá de maneira idiota se não enviar a missiva para mais de dez pessoas?
Esta foto foi tirada no Bosque Brown aonde aparece uma senhora com seu marido. No canto superior direito aparece a imagem de uma pessoa os cientistas não encontraram uma explicação lógica para isso. Nunca mais se viu o casal da foto, desapareceram inexplicavelmente e crê-se que estão mortos. Não fiz esta mensagem, mas a recebi de alguém que conheço. Diz-se que todos que vêem esta foto terão uma terrível notícia 7 dias após tê-la visto. E isto só pode ser evitado enviando a foto a 15 pessoas. Um rapaz de 19 anos não enviou a foto às 15 pessoas e no sétimo dia após ter visto esta foto foi atropelado e morto.
É melhor enviar, que ter que esperar 7 dias para ver o que acontece.
Lembre-se que amanhã começa o dia 1.
Uhhh…
Dos Sonetos de Antero de Quental.
HINO À RAZÃO
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Hoje, o PSOE, através das palavras de Zapatero, o novo primeiro ministro espanhol prometeu modernizar o estado espanhol, dando-lhe um cariz laico, eliminando o ensino da religião (que o PP tinha tratado de recolocar nas escolas públicas, sob o nome hipócrita de história das religiões) e institucionalizar a igualdade do casamento para as pessoas com diferentes opções sexuais…
Se não prestarmos atenção ao que se passa em Espanha, um dia destes arriscamo-nos a atravessar a fronteira para “comprar bacalhau” e encontrarmo-nos na Dinamarca ou outro lugar irreconhecível qualquer…
Sabem por que é que isto não vai para a frente?
Eu sei.. mas não digo… Tenho que manter a minha católica tolerância…
Na sequência do texto da Mariana senti ser minha obrigação recordar o cónego Eduardo Melo, uma «pedra chave» das movimentações de então. Deixo aqui o texto publicado no Diário de Notícias de 08-11-2002 que mantém actualidade pois a estátua que lhe fizeram continua a aguardar local para ser despejada.
Eis o texto:
A cidade de Braga junta à glória dos seus arcebispos o brilho dos cónegos que exornam o cabido da vetusta arquidiocese.
Eduardo Melo, esforçado servo de Deus, pode passar (ainda) despercebido à sagrada Congregação para a causa dos Santos, mas não foi esquecido das almas do seu rebanho, a quem soube avisar que o 25 de Abril “foi uma mancha negra na História de Portugal”, e dos portugueses, em geral, a quem lembrou que “o Dr. Salazar foi um estadista insigne, com um grande sentido de Estado e uma inigualável noção de autoridade”, defendendo a necessidade renovada de “um pulso forte como foi o dele” (entrevista ao Diabo em 2001).
À espera desse “pulso forte” quiseram os admiradores erigir-lhe uma estátua de 8 metros que os inimigos pretendem remeter à clandestinidade sem que a bênção do Presidente da Câmara, autarca do PS, dissuada os réprobos de recalcitrar.
O ditoso membro do cabido da Sé de Braga foi um homem de acção no verão quente de 1975 – “uma pedra chave de toda a movimentação” – nas palavras enlevadas de Alpoim Calvão. Tem provas dadas na prevenção do vício e promoção da virtude, sem hesitar no martírio para defender a fé e a tradição.
Pode, pois, faltar-lhe a confirmação de milagres operados mas não pode negar-se ao bem-aventurado a qualidade de mártir, que o isenta, para ascender aos altares.
É por isso que a estátua de 8 metros, se não for colocada numa praça, há-de encontrar como peanha um andor com que os fiéis percorram em procissão as escadas do Bom Jesus.
Não faltarão devotos que o carreguem.
Nem ímpios a desejar que escorreguem.
Nos tempos que correm e com o constante atropelo do princípio fundamental da laicidade do Estado perpretado não só por membros de grupos ligados à religião, mas também por elementos do Governo, talvez tenhamos, um dia, um ressurgimento de um movimento semelhante.
JN há 25 anos Manifestação pró-Governo e Igreja
25/3/1979
Uma manifestação levada a efeito, em Braga, com o objectivo de “apoiar o Governo e a Igreja”, ficou marcada por incidentes de que resultaram alguns feridos. A iniciativa partiu de um grupo de bracarenses que se afirmavam como “portugueses e católicos” e os participantes, após concentração na Avenida Central, dirigiram-se em cortejo para o Governo Civil, a fim de fazerem entrega de um documento entretanto aprovado. Nele se dizia que “não temos medo, não somos bombistas, não somos antidemocracia, não somos fascistas, não somos comunistas, não somos marxistas; somos portugueses que damos a cara”. Assim, “gritamos em alta voz e defendemos: Deus, Pátria, Igreja e Família”. Declarou um orador, ao fazer a leitura daquele documento, que “recebemos Portugal dos nossos antepassados, temos de entregar Portugal livre e limpo aos nossos filhos”. Na extensa exposição, perguntava-se “para onde vai Portugal com centenas de milhões de contos de dívidas” e que “Assembleia da República é esta, que em vez de defender sabota os interesses do povo”. Pretendia-se, assim, uma Assembleia que “defenda a vontade do povo, uma maioria não marxista”, e apelava-se à “defesa do Governo Mota Pinto ou de outro que seja participadopor portugueses de boa-vontade”. Feita a leitura do manifesto, organizou-se um cortejo em direcção ao Governo Civil, mas à sua passagem na Praça do Comércio verificou-se o rebentamento de três petardos que causaram ferimentos em quatro pessoas. A PSP deteve um indivíduo que tinha na sua posse uma arma branca e duas dezenas de munições.
O papa JP2 pediu perdão por erros e pecados que outros papas, igualmente santos e não menos infalíveis, acabaram por cometer.
A infalibilidade papal já existia antes de Pio IX erigi-la em dogma.
Calculo, pois, a perplexidade dos crentes. Em quem acreditar? Em quem, pedindo perdão, reconhece erros e pecados nos antecessores ou em quem, vendo neles virtudes e santidade, cometeu ou estimulou os actos que agora se condenam?
Foi corajoso João Paulo II embora incompreendido por muitos. Mas não deixa de ser profético o perdão ora pedido, a abrir caminho para que sobre o actual silenciamento de teólogos, a discriminação das mulheres, os anátemas sexuais, a expulsão de bispos e padres por delitos de opinião, etc. etc., os seus sucessores não se acanhem de pedir também perdão.
Um pequeno reparo apenas. O perdão pedido é irrelevante para as vítimas e demolidor para a infalibilidade e a santidade, dois atributos sem os quais um papa fica reduzido ao brilho dos paramentos e ao prestígio que a correlação de forças do momento lhe emprestar.
A ICAR deve rezar hoje com a mesma convicção com que outrora rezava pela conversão da Rússia, pelos nossos governantes e contra os judeus, para evitar que a erosão da Santa madre Igreja católica, apostólica, romana seja a porta aberta para outras religiões que não pedem perdão e, muito menos, perdoam.
Hoje, uma colega da faculdade contou-me uma divertida história que se passou com um amigo dela.
No início desta semana, o rapaz H estava a ter problemas com a namorada: o regresso do seu (dela) antigo amor fê-la pensar, as indecisões começaram a surgir, o tempo para partilhar com os dois pretendentes e com as aulas escasseava… Nada de novo na vida de um jovem adulto. H desesperava, o que devia fazer? Devia inventar estratagemas para saber o paradeiro da sua amada? Devia segui-la e apanhá-la em flagrante delito com o opositor? Devia armar-se em vítima e tentar conquistá-la através da compaixão? H, recorrendo a toda a sua maturidade, fez tudo isso. Mas antes… consultou uma cartomante que lhe disse que ele estava com problemas sentimentais, que havia um outro homem no caminho da sua felicidade e que, um dia, a rapariga iria ver a realidade: H era o homem ideal. Para além disso, também previu muito dinheiro e sorte na vida do jovem.
Tudo o que a senhora viu nas cartas tem uma explicação lógica: indicações que o paciente vai dando ao longo da consulta, comentários generalistas que se aplicam a todas as pessoas independentemente das especificidades das suas vidas e previsões favoráveis que todos gostam de ouvir.
Agora, a cereja no bolo. A irmã de H pegou numa bíblia e abriu-a… e a mão de deus levou-a a um trecho que falava em adultério, traição, sexo desregrado, homens falsos, mulheres devassas, enfim, o pitoresco a que já estamos habituados. Qual foi a interpretação dada ao incidente? Aquilo era um presságio de que o temível adversário era um homem mau e vil, que a rapariga era uma rameira e que, no fim, ela voltaria para o guardião da virtude e da felicidade!
Bem aventurados os pobres de espírito, já dizia o outro.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.