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29 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Mais alguns dados sobre a Igreja católica e os judeus

Pio XII excomungou todos os comunistas do mundo em 1949 e nem um único nazi, nem o próprio Hitler que nasceu católico. Em Agosto de 1943 ainda Pio XII exortava as autoridades italianas para manterem as leis raciais, leis que na Eslováquia serviram para deportar judeus para Auschwitz com a cumplicidade da igreja católica autóctone.

Daniel Golhagen cita Guenter Levy: «A partir do momento em que Hitler subiu ao poder, todos os bispos alemães começaram a afirmar a sua apreciação pelos valores naturais importantes de raça e pureza racial».

O racismo dos alemães foi responsável pelos massacres em que, juntamente com croatas, lituanos, eslovacos e outros católicos se esmeraram. E a ICAR, que tanto se alheou da sorte dos judeus, não se esqueceu, no fim da guerra, de ajudar a fugir à justiça os carrascos. Até Eichmann, que era protestante, resolveu inscrever-se como católico, no seu recente passaporte, para agradecer aos padres que lhe facilitaram a fuga, em segurança, para a Argentina.

Na Alemanha o bispo militar católico Franz Justus Rarkovski, líder espiritual dos padres incorporados na Wehrmacht era profundamente nazi. Em compensação os crucifixos eram autorizados nas escolas nazis. Os bispos e padres católicos (e também protestantes) mandaram fazer a investigação genealógica, sem protestos ou hesitação, para servir de orientação para a solução final idealizada por Hitler.

A Eslováquia e a Croácia foram os países onde os bispos e padres católicos mais se empenharam a apoiar os assassínios em massa de judeus. Na Eslováquia, os bispos católicos emitiram uma carta pastoral dirigida a toda a nação justificando a deportação de todos os judeus para a morte. Ninguém repreendeu o presidente – padre Josef Tiso, que pregava aos eslovacos que constituía «um acto cristão expulsar os Judeus de modo a que a Eslováquia pudesse libertar-se das “sua pragas”». Acabou executado, pelos crimes cometidos, em 1947. O cardeal August Hlond, o chefe da ICAR polaca, em Fevereiro de 1936, emitiu uma carta pastoral «Sobre os princípios da moral católica» onde se lia que, «Enquanto os judeus continuarem a ser judeus, existe e continuará a existir um problema judaico…»

Os chefes da ICAR lituana «proibiram os padres de ajudar os Judeus fosse de que forma fosse». Pio XII nunca repreendeu padres-carrascos e apoiou Mussolini, que cometeu assassínios em massa. Os bispos eslovacos esperaram até 1943, quase um ano após as deportações dos judeus, com as brutalidades a serem bem conhecidas para emitir uma carta pastoral contra a deportação e isto porque a guerra estava a correr mal aos alemães. Mesmo assim, mandaram que fosse lida em latim.

Nos primeiros dias de Maio de 1945, o cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte de Hitler, não quis abandoná-lo, ordenando que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem em lembrança do Führer».

28 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos,

ou pudessem desenhar com as mãos e fazer obras como as dos homens,

representariam os deuses, o cavalo semelhante aos cavalos,

o boi aos bois, e fariam corpos

como os seus próprios


Xenófanes, in “Fragmentos”

28 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Milagres originais são cada vez mais raros

A rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis, apesar de nascida em terras de Espanha, é sobrinha da também Isabel (e igualmente rainha) da Hungria, santa muito antes dela e provável pioneira do bonito milagre que a sobrinha obrou (transformar pão em rosas) – lê-se no Diário de Notícias de hoje.

Talvez ignorasse o pio edil de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, o plágio do milagre quando atribuiu à ponte Europa o nome da rainha que se limitou a fazer um truque de família. De qualquer modo um milagre assim produz sempre belos efeitos e justifica uma canonização.

Os mais atentos sabem que os milagres são geralmente plagiados. As Senhoras chorosas, por exemplo, começaram por ser uma especialidade italiana que se adaptou bem nos países onde a ICAR se expandiu, quiçá, desiludidas com as pessoas que dormem de costas, quando deviam dormir de lado para não acicatar a luxúria que, como é sabido, é obra do demo e conduz à perdição da alma.

Hoje poucos as levam a sério, apesar de terem variado as lágrimas da cera ao óleo de lubrificação automóvel, do sangue de pomba ao de origem desconhecida.

O santo prepúcio, produto da circuncisão de Jesus Cristo ao 8.º dia, segundo a lei, que a velha judia que praticou a operação guardou num vaso de alabastro, em óleo de nardo, fez excelentes milagres durante séculos. Foi das relíquias mais prestigiadas e promotora de grandes devoções. Um dia veio a ser declarado falso e impróprio para novos milagres porque enquanto uns exegetas admitiam que JC ressuscitou com outro, naturalmente ressarcido pela alimentação, ganharam os que entenderam que ressuscitou com o prepúcio original.

Conclusão: Não há prepúcio que resista nas mãos do clero e as relíquias e os milagres têm prazos de validade.

28 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Alguns dados sobre a mercearia dos milagres

Pio XI bateu todos os antecessores ao criar 27 santos e 41 beatos. Pio XII acabou por suplantá-lo no que se refere aos santos, mas foi com JP2 que a ICAR se lançou na criação em série, dando início a uma indústria moderna. Nem os honorários dos médicos, avençados para autenticarem milagres, o tolheram. No dia 25 de Abril último ia em 477 santos e 1337 beatos a produção, dos quais só 3 couberam a Portugal.

28 santos e 56 beatos é o número total de portugueses habilitados a intercederem junto de Deus na obtenção de favores a troco de orações, géneros ou dinheiro. No entanto os próximos milagres vão ser obrados pelos 31 candidatos que se encontram em lista de espera.

Os negócios da fé vão bem. Soem florescer nos períodos de depressão e Portugal está a importar mão de obra especializada para obstar à falta de vocações autóctones. A criação de santos e beatos insere-se numa política de captação de recursos humanos.

As preces para conversão da Rússia são hoje orientadas para despertar vocações e já pouco se usam para prevenir tremores de terra ou, sequer, trovoadas – uma especialidade outrora exercida por Santa Bárbara. Há imensas vagas no sector terciário (o dos terços) à espera de jovens do sexo masculino, de preferência castos, para se estabelecerem por conta própria em paróquias vagas.

27 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Deus morreu. Não digas que isso é absurdo e ininteligível, só porque as seitas religiosas enxameiam hoje o mundo. Porque é quando uma doença é incurável que há mais abundância de remédios para a curar. Como a proliferação de religiões no fim do império romano era o sinal de que a religião de Roma estava a acabar.

Vergílio Ferreira, in “Escrever”

27 de Abril, 2004 jvasco

Ateísmo e Ética

Embora exista um consenso geral em relação à correlação positiva entre educação e Ateísmo (documentada nas referências do meu artigo anterior), a maior parte das pessoas desconhece que os dados também demonstram uma correlação positiva entre Ateísmo e comportamento ético.

Eu já sabia que havia menor percentagem de Ateus nas cadeias que na sociedade (embora isso também se pudesse dever ao factor educação que referi no meu artigo anterior), e também sabia que nos EUA um estudo verificou que a percentagem de Ateus entre as pessoas apanhadas a fugir aos impostos é menor que a do resto da sociedade (vi isto num documentário no BBC prime), além de que já tinha essa ideia intuitiva.

Mas NESTA referência (a mesma do meu artigo anterior), cheia de estudos científicos devidamente referenciados, as conclusões são muito claras e esse respeito, e desfazem todas as dúvidas. Vou traduzir parte:

“De acordo com a revista Skeptic vol.6 #2 1998, em vários estudos, há uma correlação negativa entre teísmo e moralidade. De acordo com o estudo de 1934 de Franzblau, há uma correlação negativa entre religiosidade e honestidade. O estudo de 18950 de Ross 50 mostra que ateus e agnósticos mais facilmente mostram a sua vontade de ajudar os pobres que os profundamente religiosos. Em 1969, Hirschi e Stark não encontraram relação entre a probabilidade de uma criança desrespeitar uma lei e o facto de frequentar ou não a igreja.”

Creio que esta correlação entre comportamento ético e Ateísmo se deve principalmente à correlação entre educação e comportamento ético. Devido à correlação exposta no meu artigo anterior entre Ateísmo e educação, estabelece-se assim uma correlação entre ateísmo e comportamento ético. Creio que esta é a razão principal, mas duvido que seja a única.

26 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Beata Alexandrina de Balazar, rogai por Portugal

Em 25 de Abril a Pátria fez-se representar pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Teresa Gouveia, o embaixador de Portugal no Vaticano, Ribeiro de Menezes, e o chefe de gabinete da ministra, que se deslocaram ao Vaticano onde o papa certificou os milagres de que é acusada a falecida Alexandrina Costa, de Balasar. Com as autenticações milagreiras do dia, JP2 elevou para 477 o número de santos e 1377 o de beatos que lhe devem a distinção.

A Pátria ficou eufórica com a beatificação da venerável Alexandrina cuja intercessão foi decisiva na cura de uma portuguesa. Obrou um milagre magnífico, que não teme confronto com os que se fazem lá fora, realizado na área da neurologia, para benefício de uma emigrante residente em França.

A beata Alexandrina há muito que merecia a distinção. Dedicou-se à oração, com excelentes êxtases às sextas-feiras, defendeu a virgindade e passou os últimos treze anos e sete meses finais da vida em jejum total e anúria (apenas tomava a comunhão), facto igualmente confirmado por JP2. Deve-se-lhe o pedido ao papa para a consagração do mundo contra o comunismo, vontade satisfeita com resultados arrasadores.

Dos ataques violentos que a apoquentaram, devidos certamente a possessão demoníaca, foi convenientemente exorcizada várias vezes, até que o Maligno desistiu da peleja.

Foi, pois, com júbilo que a Pátria assistiu à elevação aos altares da primeira dos 32 candidatos nacionais que esperam os bons ofícios do cardeal D. José Saraiva Martins, ilustre filho dos Gagos, concelho da Guarda, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.

À dívida para com a Senhora de Fátima que, após o naufrágio de um petroleiro, preservou as costas portuguesas da maré negra, facto muito apreciado pelo ministro da Defesa, soma-se a alta distinção com que João Paulo II quis agraciar a santinha de Balazar.

Agora espera-se a rápida canonização de Nuno Álvares Pereira que não carece da adjudicação de qualquer milagre pois, segundo D. José Policarpo, Urbano VIII fez uma excepção para quem há mais de 200 anos era prestado culto e reconhecida, pelo povo, a santidade.

O país, com 200 mil portugueses com fome, 500 mil sem trabalho e mais de um milhão de pobres, merece estas auspiciosas notícias. É a retoma que aí vem.

26 de Abril, 2004 jvasco

Ateísmo e Educação

Quando fiz um comentário a um artigo qualquer, referi umas estatísticas acerca da relação entre o Ateísmo e uma melhor educação/formação e um superior comportamento moral.

I – As pessoas em geral não duvidam que, de facto, existe uma correlação positiva entre a educação e o Ateísmo. Lembramo-nos que nos períodos da história com maiores taxas de analfabetismo foi quando o Ateísmo era completamente desprezável e temos a consciência que o crescimento do Ateísmo acompanhou o crescimento das taxas de alfabetização. As pessoas também têm, em geral, a noção de que nos meios Académicos a percentagem de Ateus é superior à percentagem de Ateus na sociedade. Esta correlação não é, em geral, posta em questão nem por Crentes nem por Ateus, embora se possa questionar qual de dois motivos leva à existência de tal correlação:

a) Será que é uma “maior tendência para o Ateísmo” (consubstanciada numa personalidade com espírito crítico, gosto pela reflexão, curiosidade, etc…) que leva a que o indivíduo em questão adquira uma formação mais avançada?

b) Será que é a educação, treinando o espírito crítico, fazendo as pessoas encararem ideias diferentes, encorajando um debate livre e sério, fazendo entender o funcionamento do método científico, que encoraja o Ateísmo?

c) A correlação não prova nada, nem mostra que o Ateísmo é desejável. Também existe uma correlação entre a educação e a probabilidade de fumar canabis nas sociedades ocidentais, além da correlação existente entre educação e probabilidade de se suicidar.

—-

Em geral o debate parte de I e centra-se na discussão entre a), b) e c). Os Crentes costumam alertar para c) e os Ateus podem acreditar mais em a) ou b) consoante o indivíduo em questão. Eu acho que a) ou b) são igualmente verdadeiros.

Mas o “Atento” duvidou de I. E pediu-me estatísticas.

Como acredito no valor do espírito crítico, só podia respeitar o pedido dele, e prometi que só voltaria a escrever neste blog quando tivesse encontrado tais estatísticas. Nem sabia aquilo em que me estava a meter…

O que se passa é que eu já tinha visto as estatísticas. Mas não na Internet… em papel, e já nem sabia onde estava a maioria das minhas referências.

Eu queria encontrar várias coisas:

1-Uma distribuição actual das taxas de analfabetismo por país. Encontrei um relatório da UNESCO aqui.

2-Uma distribuição da percentagem de Ateus por país. Encontrei estes dados.

Com estes dados já poderíamos tirar algumas ilações e sustentar parte das conclusões que afirmei. Mas eu queria mais.

3- Estatísticas sobre a evolução das taxas de analfabetismo. Procurei muito, muito muito. Não encontrei dados acerca das taxas de analfabetismo ou qualquer outro indicador da educação inferior a 1970…

4- Estatísticas sobre a evolução do ateísmo ao longo da história. Eu poderia recomendar as fontes onde tinha visto a evolução do Ateísmo mundial ao longo do último século, mas sem as hiperligações respectivas (o livro “A Guerra das Civilizações” vai buscar esses dados a uns artigos de jornais de referência que poderei referenciar se alguém estiver interessado). Mas na Internet, por mais que procurasse, não encontrei nada.

Os dados 3 e 4 não eram necessários para sustentar qualquer afirmação que já não pudesse ser sustentada pelos 1 e 2. Mas seriam um complemento muito útil. Lamento muito não ter encontrado. Se alguém encontrar, agradeço que coloque nos comentários deste artigo.

5- Estatísticas que mostrasem a relação entre a formação Académica de um indivíduo e a probabilidade de ser Ateu. Estava à espera que fosse impossível encontrar isso na internet, principalmente depois dos meus insucessos à procura de 3 e 4 (que esperaria serem muito fáceis de encontrar). No entanto, encontrei isso e muito mais. Ora vejam ISTO.

São estatísticas sobre “Inteligência e crenças Religiosas”. Todos referenciados, tem dezenas de estudos científicos sobre esta temática. E quais são as conclusões gerais? Vou citar (e traduzir) parte:

“Porque é que esta correlação [entre educação e ateísmo] existe? A primeira resposta que nos vem à cabeça é que as crenças religiosas tendem a ser menos lógicas ou incoerentes do que crenças laicas […]. Mas tal explicação será seguramente rejeitada por pessoas religiosas, que procurarão outras explicações e racionalizações.”

Confirmem. Vão lá à página e vejam por vocês.

Como bónus ficamos a saber que, enquanto entre a população em geral (cerca de) 10% das pessoas não acredita em Deus, entre os Cientistas essa percentagem é de 60%. Entre os Físicos essa percentagem é de 80% (estou espantado, diria que era maior!).

25 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

O Povo saiu à rua num dia assim

Daqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas – foi assim que o país ficou a conhecer a Liberdade.

Portugal vivia encoberto por um clima de terror que se vinha arrastando há décadas. A “Primavera Marcelista” foi curta e acabou com qualquer esperança de auto-renovação do regime. Descontentes com a política isolacionista do governo, com as perseguições levadas a cabo pela PIDE/DGS, com a censura dos meios culturais e de informação e com uma guerra colonial inconsequente, um grupo de capitães do exército decidiu por fim à ditadura.

Foi naquela manhã de 25 de Abril que o Povo acordou para a revolução e celebrou a nova democracia. Teria sido uma revolta sem sangue se não fosse a atitude infame tomada pela polícia política que disparou sobre manifestantes reunidos à frente da sua sede: morreram quatro pessoas e quarenta e cinco ficaram feridas.

Trinta anos depois, Abril deve ser lembrado não como mais um feriado, não como mais um dia em que a programação da RTP transmite paradas militares, mas como um despertar de consciências. Actualmente, o país vive num marasmo ideológico: o Povo soberano não quer saber da sua soberania. Isto não é evolução. Ter das mais altas taxas de abstenção da Europa não é evolução. Ver todos os dias um crescente desinteresse pelos desígnios do país não é evolução. Toda esta estagnação intelectual reflecte-se na nossa classe política, que nada mais é do que o espelho da sociedade que a elege.

Todos precisamos de acordar, de lutar pelos interesses que nos são caros, de lutar por uma República verdadeiramente livre e democrática. Não basta dizer mal, é preciso intervir. Para isso, é preciso que todos conheçamos o funcionamento das instituições democráticos e, desta forma, ter uma consciência cívica que compreenda um Estado de Direito Democrático. Porque não é só ter direitos, há que saber exercê-los de forma livre e esclarecida.

Não nos devemos esquecer igualmente que, por muito que se diga que a Democracia esteja em crise, não podemos cair na tentação de apoia ideologias que, embora disfarçadas, conduzam, uma vez mais à intolerância, à clausura e ao fascismo.

Pela República!

Pela Democracia!

Pela Liberdade!

Pela Laicidade!

25 de Abril Sempre, fascismo nunca mais!

25 de Abril, 2004 André Esteves

30 anos de 25 de Abril.

Sobre 30 anos de “democracia” só digo uma coisa:

Concordata