Loading
12 de Maio, 2004 André Esteves

O rei e a sua coroa…

“É difícil encontrar no mundo outro lugar onde a mão de Deus e do homem tenham trabalhado em tanta sintonia…”

Dias Loureiro, presidente do Congresso Nacional do PSD

Só gostaria de fazer notar aos leitores do blog «Diário de uns Ateus», familiares com as acções da «mão de deus» na ilha da Madeira, que a legislação brasileira não permite a expatriação de nacionais para o cumprimento completo das suas penas, mas que em contrapartida, a lei brasileira permite, a pedido das autoridades do país onde o crime se deu, pôr o fugitivo em tribunal, para ser outra vez julgado pelos seus crimes e cumprir pena por eles no Brasil.

As autoridades relevantes neste caso, são as do governo regional da madeira, dos sucessivos governos da républica e do ministério público.

Estes são os factos, simples e concretos.

11 de Maio, 2004 Carlos Esperança

A bíblia será um livro recomendável?



O Evangelho de Marcos tem cerca de 40 versículos explicitamente anti-semitas, o de Lucas 60, o de Mateus cerca de 80 e o de João, cujo ódio aos judeus era particularmente intenso, 130, a que podem acrescentar-se cerca de 140 de Os Actos dos Apóstolos, o que dá cerca de 450 na contabilidade organizada por Daniel J. Goldhagen.

11 de Maio, 2004 André Esteves

O problema dos patos bravos islâmicos e alguma esquerda sem raízes

No passado dia 15 de Abril, foi difundido pelos meios de comunicação social europeus, uma cassete, alegadamente de Bin Laden, em que propunha uma «trégua» com os países europeus…

O interessante, é que a mensagem incluía, uma clássica análise de esquerda da luta dos países árabes com as multinacionais e falava da Europa como esses «nossos vizinhos a norte do mediterrâneo». Toda a mensagem foi deliberadamente calculada para seduzir uma certa população europeia de esquerda.

E que esquerda… Parte dela, politizada para uma potencial vitória da URSS, na guerra fria, e outra, jovem e ingénua, partidária de um multi-culturalismo básico. São estes os joguetes, com que o pretenso futuro sultão da grande nação muçulmana, Bin Laden conta ao despejar a sua propaganda maligna na fita magnética.

Desde que, em jovem, entrei em contacto, com os movimentos da esquerda tradicional, que tenho sentido um certo desapontamento. Desde as «massas» comunistas que cultuam o proletariado (por ironia, hoje os partidos comunistas, reduzem-se à militância das suas células intelectuais), ou da esquerda betinha, que entrando numa militância de moda (é as roupas Che Guevara, os lencinhos palestinianos), se preparam para quando acabarem o seu curso universitário, mergulharem anónimos nas maiorias socialistas e sociais democratas… Coisas da vida e do labirinto de ratos que está montado… mas, são esses a que Bin Laden apela, e não sem razão.. pois a demografia assim o exige.

Essa esquerda ingénua, esqueceu as suas profundas raízes. Esqueceu os valores do livre-pensamento, do ateísmo, da luta pela responsabilidade, independência e liberdade individual, de organização espontânea e militância universal.

De certa maneira, é fácil de compreender. Muito do que nós somos é em reacção a algo. Quem é que já enfrentou, vivo, uma ditadura religiosa sistemática na Europa? Quem é que já enfrentou pessoas, com uma educação cortesã de manipulação e engano? Juntem a isso uns MBA’s, umas fortunas obtidas pelo despotismo e corrupção, com uma ambição desmesurada e a prática sistemática de uma autoridade tribal e religiosa.

Não é algo a que estejamos habituados. Mas já o encontramos nas nossas raízes profundas.

Reencontra as raízes, junta-te a um ateísmo militante, espontâneo e anti-autoritário.

É na pluricidade de militâncias que reencontramos o nosso centro. Longe de visões monolíticas e ingénuas.

Reclama-te a ti próprio da manipulação dos outros.

11 de Maio, 2004 jvasco

Juramento Jesuíta

“Eu declaro e prometo que combaterei incansavelmente, secreta ou

abertamente, sempre que tiver oportunidade, todos os hereges,

protestantes e liberais, como é meu dever, para extirpá-los e

exterminá-los da face da terra, e que não pouparei nem sexo nem

idade nem condição, e que destruirei, enforcarei, ferverei,

estriparei, esfolarei e enterrarei vivos estes infames hereges;

rasgarei os estômagos e os ventres de suas mulheres e esmagarei a

cabeça de suas crianças contra a parede, para aniquilar sua

execrável raça” (do “Juramento dos Jesuítas”)

11 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Dicionário informático (em elaboração).

Computador – Animal que computa. Não pensa nem fala. Mas faz as coisas bem feitas

Copy paste – Método moderno de reprodução sem malícia. Por enquanto usa-se apenas para imagens e texto. Quando se lhe introduzir o prazer poderá ser alargado a outras utilizações.

Deus – A mais inútil das ferramentas para navegar na Internet.

E-mail – Carta que pode ser mandada a muita gente ao mesmo tempo, na certeza de que poucos a lêem e raros lhe dão importãncia. Não carece de envelope, selo, nexo ou ortografia canónica.

Excel – Senhor que descobriu uma folha enorme e que tornou a aprendizagem da aritmética obsoleta.

Hacker – Corredor de obstáculos que detesta o exercício físico.

Hardware – Nome genérico pelo qual são conhecidos os electrodomésticos da informação no seu conjunto.

Internet – Catedral do conhecimento onde os aprendizes não encontram o caminho de entrada e os viciados não descobrem o de saída.

Microsoft – Espécie de Modelo/Continente à escala planetária onde as mercearias, as hortaliças e os detergentes são substituídos pelo Windows, Explorer, Outlook, etc. e o Sr. Bill Gates é o Belmiro daquilo tudo.

NET – (Fam.) V/ Internet.

Online – Dom da ubiquidade; meio de transporte que permitiu a Santo António estar ao mesmo tempo em Pádua e em Lisboa (o que foi mentira), mas permite aos ateus conversarem através do MSN Messenger.

PowerPoint – Indivíduo que se dedicou a tornar agradáveis as palestras para disfarçar o conteúdo.

Rato – Animal de plástico com uma única pata esférica e duas asas, também chamadas botões, onde se encontra o cérebro.

Site – Lugar onde os que sabem encontram o que não precisam e os outros não sabem procurar o que lhes faz falta.

Software – Conteúdo do hardware.

Vírus – Agentes infecciosos que atacam a memória, produzem cegueira, loucura e morte dos ficheiros. Obrigam o utilizador a dizer obscenidades e a consultar o Administrator. São, no entanto, indispensáveis à manutenção dos postos de trabalho dos criadores de antivírus.

Word – Empregado da Microsoft que escreve textos e lhes dá um aspecto agradável mesmo quando só contém banalidades.

10 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Se o exótico dirigente repudiar a Europa, a África ganhará um respeitado régulo.



No dia 9 de Maio deste ano da Graça teve lugar o X Congresso do PSD/Madeira. O Diário de uns Ateus não ficou indiferente à efeméride, com o bailinho da Madeira a repetir-se e os papelinhos laranja a inundarem a cabeça dos congressistas pela 35.ª vez .

Há menos tempo no cargo do que Fidel de Castro, Alberto João Jardim sucedeu a si próprio e ameaçou: «Se Deus me der vida e saúde estou para continuar». Assim, se a opção estiver disponível, o vitalício Alberto João vai eternizar-se.

Entusiasmado, Dias Loureiro, presidente do Congresso Nacional do PSD, manifestou o desejo de que Portugal se transformasse numa imensa Madeira. Mas, o que poderia ter sido interpretado como um acto hostil a Portugal, não passou de uma amabilidade para com o anfitrião. Já quando afirmou que «é difícil encontrar no mundo outro lugar onde a mão de Deus e do homem tenham trabalhado em tanta sintonia», ficou a dúvida se foi para acusar Deus ou para desculpar o sátrapa da Madeira.

Um susto ficou a pairar sobre a Europa quando Alberto João Jardim declarou: «Em 2008 vamos ter de decidir se nos interessa continuar na União Europeia ou não, (…)». Apesar das nuvens negras que esta ameaça lança sobre o futuro da Europa fica-nos a consolação de saber que a Madeira, ainda que deixe de ser a região mais despótica da Europa pode transformar-se numa das mais liberais do continente africano e com o mais antigo e experiente governante.

Se o exótico dirigente repudiar a Europa, a África ganhará um respeitado régulo.

10 de Maio, 2004 jvasco

Fórum Renovado

O Fórum de debate do site www.ateismo.net já foi renovado! 🙂

Vejam-no aqui.

Espero que os próximos debates sejam interessantes e construtivos e se pautem por um nível elevado. Espero que a reformulação do site seja um passo nesse sentido.

8 de Maio, 2004 Carlos Esperança

O exorcismo da Celeste



Deus e o Diabo partilham os mesmos territórios. O habitat de um é o do outro. São duas faces da mesma moeda, a assegurarem o ganha-pão dos clérigos.

Ultimamente têm aparecido padres exorcistas a tirar o demo do corpo de pessoas possessas. Vejo que a técnica não evoluiu nos últimos cinquenta anos. Por isso deixo aqui uma crónica que publiquei em tempos e que mantém plena actualidade.

………………………………………………….

Em terras da Beira, depois da guerra, a gratidão para com a senhora de Fátima, pela afeição a Portugal, estendia-se ao senhor presidente do Conselho por nos ter livrado do conflito. No Cume sobrava piedade e faltava comida. Estavam no fim os anos quarenta e os portugueses longe de começarem a ser gente.

A Celeste morava ao cimo do povo, sozinha, e cismava que se matava. Via-se que não regulava bem da cabeça e adivinhava-se a fome que a apoquentava. Suspeitaram os vizinhos de mau olhado e a ti Catrina, calhada nas benzeduras para tal moléstia, já a tinha ido visitar com outras mulheres embiocadas no xaile e os rostos sumidos na copa de enormes lenços pretos. Das conversas delas nada se disse mas ouviu-se na rua a ladainha:

«Dois to deram, três to tirarão,

foi S. Pedro e S. Paulo e o apóstolo S. João

Sant’Ana pariu Maria, Maria pariu Jesus,

assim como isto é verdade,

livre este corpo de ares, olhares e todo o mal

em louvor de Sant’Ana e Santa Iria…

padre nosso, ave-maria…»

Muitos padre-nossos e ave-marias depois, sem abrandar o mal, as mulheres mais velhas concluíram que deviam ser espíritos que atenazavam a bendita alma da Celeste, tão temente a Deus que ela era, mas nestas coisas de espíritos ruins são estes que escolhem a morada e, embora a oração lhes dificulte a entrada, está provado que não é intransponível a barreira.

A adensar a suspeita ouvia-se na habitação, durante a noite, o barulho de máquina de costura, que não havia, a trabalhar, a perturbar o sono e a aumentar a angústia. À porta juntavam-se pessoas vindas da igreja a ouvir o som que os espíritos produziam. Os poucos que não ouviram, apesar da atenção e do silêncio, conformaram-se com a deficiência auditiva e renderam-se à maioria.

O senhor padre pode ter desconfiado do diagnóstico, o sr. António Bernardo dizia que ela não batia bem da bola, podia até ser dos espíritos, a senhora professora aconselhou um médico, que disparate, o que sabe um médico destas coisas e onde é que o há, mas o povo na sua infinita sabedoria já tinha o veredicto, eram espíritos, só podia ser, falava-se de uma avó falecida há muitos anos, a voz tinha sido reconhecida, faltaram-lhe algumas missas ao trintário na encomendação da alma, não se perde nada em benzer a casa e deixar algum latim – conformou-se, acossado, o padre Pires –, dizem-se as missas em dívida e logo se verá.

A Celeste é mulher e o destino das mulheres serem possuídas, os espíritos malignos aproveitam e, depois de entrarem, são difíceis de expulsar. É um combate para senhores párocos, ou mesmo para um reverendíssimo bispo se as posses da vítima e a malignidade o aconselham. Pouco avezado a tais pelejas, mas com habilitações canónicas e compleição adequada à luta, bem se esforça o padre a desalojá-los. Quem julgue que a força da cruz e do divino devem bastar não conhece os espíritos e o furor que transmitem às mulheres possuídas, levando à exaustão o exorcista que não raro precisa de várias tentativas para se fazer obedecer. Fracassa e fica extenuado, à primeira, o padre Pires, valendo-lhe a gemada que o aguarda com vinho e açúcar, enquanto a ceia e o breviário lhe não retemperam as forças e devolvem a serenidade.

A Celeste não melhora. Continua a ouvir vozes que desconhece, definha. Alguns dias após, no regresso do Carapito, onde tinha ido levar o viático a um moribundo, volta o padre Pires à peleja com o maligno. Pode ser que na vez anterior se tenha entupido o hissope, avariado o crucifixo ou faltado à água a bendição, quem sabe, o senhor prior não costuma partilhar as dúvidas, se dúvidas assaltam o ministro de Deus, isto é um incréu a pensar, a força da fé move montanhas, sempre ouvi dizer, a Celeste pode ter perdido a fé com a fraqueza, e sem fé não adianta, é um esforço inglório, o certo é que o senhor padre volta a entrar naquela casa, se pode chamar-se assim ao sítio, mal nunca faz, senhor eu não sou digna de que entreis na minha morada, isto é uma forma de dizer, a Celeste refere-se a Deus que está em toda a parte, mas quando vem acompanhado do seu representante há-de infundir maior respeito, as pessoas humildes dizem estas coisas, o senhor padre mergulha bem o hissope, asperge-o com vigor, desenha cruzes, vai-se ao demo com o latim e as mãos, põe as pessoas a rezar o terço que a irmã Lúcia recomenda contra o comunismo, que também resulta com os espíritos, tudo obra do demo, deixa a reza para os paroquianos e sai da refrega exausto à procura da gemada com vinho, açúcar e nódoas para a batina, sem saber se os espíritos encurralados no corpo frágil obedeceram à ordem de expulsão, onde resistiam acossados à parafernália de alfaias sagradas e pias intimações.

As pessoas esperam na rua alheias ao perigo de serem apanhadas para refúgio dos espíritos em fuga. Nessa noite a máquina de costura inexistente permanece silenciosa e quieta, calam-se as vozes das almas penadas, a Celeste dorme bem pela primeira vez em muitos dias, depois da canja que lhe levaram. Se os espíritos não saíram estão debilitados.

A Celeste, com pouco alento, é certo, volta à horta e à igreja, o exorcismo resulta. Finou-se algumas semanas depois, completamente curada e liberta de espíritos malignos.