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17 de Maio, 2004 jvasco

Dicionário Céptico

Recomendo vivamente o Dicionário Céptico. É uma página de Robert T. Carroll cujo texto está traduzido para português (variante brasileira).

A página corresponde a um dicionário que nos dá informações interessantes e úteis sobre tudo o que é superstição. Alguns exemplos:

-área 51

-astrologia

-Atlântida

-biorritmos

-cristais

-face em Marte

-Loch Ness

-médiuns

-negação do Holocausto

-numerologia

-Pai Natal

-psicanálise

-raptos alienígenas

-telecinese

-Uri Geller

-Vampiros

-Yeti

E mais… muito mais. Tem textos interessantes com hiperligações muito úteis, e está excelentemente organizado. Também inclui algumas referências ao Cristianismo que é tratado como mais uma superstição.

16 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Da linha de montagem da ICAR saíram seis novos santos

O Papa João Paulo II presidiu este domingo no Vaticano à cerimónia de canonização de seis novos santos, entre os quais uma pediatra italiana símbolo da luta da Igreja Católica contra o aborto.

Na lotaria das canonizações deste domingo 5 das 6 saíram à casa – 3 padres, 1 monge e uma freira.

A única que não pertencia aos quadros da ICAR era uma pediatra que preferiu não fazer um aborto, a criar quatro crianças que deixou órfãs.

A ICAR sempre preferiu a defesa dos embriões e dos fetos à das pessoas. A estas frequentemente as purificou pelo fogo por crimes de bruxaria, apostasia, judiaria ou outros.

Em 25 anos e meio de pontificado, João Paulo II proclamou 1.330 beatos e canonizou 482 santos, segundo as estatísticas do Vaticano.

Atendendo aos emolumentos que rendem, os cofres do Vaticano devem ter-se recomposto de alguns negócios mais escuros e ruinosos do tempo do arcebispo Paul Marcinkus, presidente do Banco do Vaticano, a quem João Paulo II nunca autorizou a extradição para Itália, a fim de ser julgado.

16 de Maio, 2004 Mariana de Oliveira

Paradoxos de uma cidade

Coimbra, Queima das fitas 2004, 06h30:

Peregrinos iniciam o seu caminho em direcção a Fátima.

Estudantes peregrinam em direcção a casa.

16 de Maio, 2004 Carlos Esperança

A escola e o presépio da minha infância

Para os que nasceram em democracia e não conheceram as escolas primárias da ditadura, deixo aqui um esboço do pardieiro onde aprendi as primeiras letras, publicado no JF em 19-09-2003:

Bem crucificado e suavemente chagado, numa cruz de madeira dependurada na parede, penava um Cristo de bronze em resignada agonia, ladeado à direita por uma fotografia de um homem de bigode, fardado, conhecido por marechal Carmona, e à esquerda por um eterno seminarista, com ar de gato-pingado, que infundia terror ? o Professor Salazar. Na mesma parede, em frente dos alunos, a razoável distância e muitos fungos depois, quedava-se a Senhora de Fátima, poisada numa mísula, alheada da conversão da Rússia e da salvação do mundo. Mais abaixo, à esquerda, ficava o quadro preto e o mapa do corpo humano e, à direita, rasgados, um mapa de Portugal Continental, outro das Ilhas Adjacentes e das Colónias e o mapa-múndi.

O soalho resistia aos buracos, numerosos e amplos, que a humidade e o uso se encarregavam de alargar. As carteiras alinhavam-se em rigorosa geometria com lugares destinados a cerca de quarenta garotos de ambos os sexos distribuídos pela primeira, segunda e quarta classes. Entre quinze a vinte estavam na sala oposta a frequentar a terceira, confiados à senhora Noémia, regente escolar.

Nos dias de chuva subvertia-se a ordem, numa complexa gincana de carteiras, para evitar que os pingos de água que escorriam do tecto acertassem nos tinteiros e salpicassem de azul a roupa das crianças e os tampos de madeira.

No intervalo, meninos e meninas, em amplas correrias e direcções opostas, procuravam os quintais próximos para se aliviarem dos fluidos que os apoquentavam.

À entrada da escola o presépio anunciava todos os anos o Natal. Na armação de tábuas e pedras cobertas de musgos, um menino de barro, seminu e de perna alçada, jazia em decúbito dorsal sobre uma caminha de palha centeeira. Era o Menino Jesus. De um lado uma virgem colorida, moderadamente recatada e com pouco uso, substituía a que se partira, interessada na companhia do filho que herdara. Do outro, um S. José, a quem a corrosão deixara em pior estado do que o dogma da Imaculada Conceição, parecia um erro de casting, indiferente ao aspecto, perdidas as cores, diluídas as formas, conformado com os olhares e as súplicas, incapaz de operar milagres, resignado com o frio de Dezembro.

O burro e a vaca comportavam-se a preceito, facilmente se adivinhando o gosto por erva se eles e esta fossem verdadeiros.

Os reis magos, eternos almocreves com ar de ladrões de camelos, virados para uma estrela recortada em papel colorido, permaneciam imóveis na lendária caminhada, quais amoladores de tesouras, à espera de fregueses para ganharem o sustento e um presente para o Menino.

As ovelhas que placidamente decoravam a montanha eram figurantes experientes, desinteressadas da importância que acrescentavam ao quadro e do exemplo de submissão que transmitiam. Nem um só carneiro as acompanhava, talvez para lembrar que é na renúncia ao prazer que se encontra a redenção da alma. Apenas um cão e o pastor.

Reflicto hoje sobre a predilecção por musgos, muitos musgos, para cobrir o chão do presépio. Na religião tudo se deve cobrir ou, no mínimo, disfarçar. Talvez esteja na ocultação dos órgãos de reprodução, característica das plantas criptogâmicas, a razão da preferência, a funcionar como metáfora.

Ah! Já me esquecia, pintados de branco, anjos de barro, junto ao caminho de serradura que conduzia à manjedoura, voavam baixinho, com asas quebradas, incapazes de regressar ao Céu. E o algodão em rama imitava os flocos de neve que lá fora rodopiavam ao sabor do vento. Eu gostava do Presépio. Não era o catecismo a aterrorizar-me com o Inferno onde as almas que ali frigiam, em perpétua flutuação no azeite fervente, eram mergulhadas com um garfo de três dentes empunhado pelo diabo.

A minha escola caiu, pelo Natal, ficando de pé uma única parede e a fé das pessoas que atribuíram à protecção divina a ausência de aulas durante a derrocada.

15 de Maio, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

A ideia de Deus é, confesso, o único erro que não posso perdoar ao homem.

Doantien Sade, in “Histoire de Juliette”

15 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Bush e o Papa. Uma desgraça nunca vem só



O presidente Bush, figura nada recomendável, vai ter uma audiência com o papa, igualmente pouco recomendável. Beatos de todo o mundo insinuam já que JP2 o vai admoestar pela guerra do Iraque. É uma forma de dignificarem o último ditador europeu, suspeito de ser amante da paz e pessoa de bem.

JP2 gosta de passar um atestado de imbecilidade aos crentes.

Quem combate a regulação da natalidade ou qualquer forma de planeamento familiar; quem nega a igualdade de direitos entre homens e mulheres ou o simples acesso destas às tarefas dos homens, dentro ou fora da sua própria igreja; quem é supersticioso ao ponto de se julgar objecto de profecias e faz depender o prestígio da sua igreja dos milagres que adjudica a pessoas de fraco entendimento e rudimentar equilíbrio mental; quem prefere a disseminação da SIDA ao uso do preservativo; quem se conluia com o Opus Dei e cala os teólogos progressistas, só tem como único objectivo manter-se o último ditador de uma Europa onde a democracia vai progredindo.

JP2 é um apóstolo incansável do obscurantismo, que entra em êxtase com o vazio da liturgia e o barulho das multidões ululantes que disputam o espectáculo das suas actuações.

Chefe do único Estado europeu sem maternidade, regedor de um bairro de 44 hectares sem tradições democráticas, julga-se o capataz de Deus, infalível, e dono de uma multidão de parasitas da fé que dão pelo nome de padres, freiras, monsenhores, cónegos, bispos, cardeais, bandos de travestis coloridos que se dedicam à ociosidade, intriga e oração.

Combater com vigor e obstinação esta sociedade arcaica e parasitária é um serviço cívico prestado à emancipação do mundo.

Acreditar na utilidade de um encontro entre Bush e JP2 é esperar que a paz resulte de uma entrevista entre Bin Laden e Ariel Sharon.

14 de Maio, 2004 André Esteves

O Ataque do Emplastro, a defesa da beata e a santa paciência dos jornalistas…

Anteontem, durante o tradicional enésimo não-sei-quantos directo do recinto de Fátima da RTP1:

Pergunta a jornalista:

– Então minha senhora, costuma vir ao 13 de maio?

– Sim! Venho todos os anos… Sinto uma grande paz… É muito bom… Venho sempre a Fátima para aliviar a culpa de desviar tanto dinheiro lá na secretaria da escola…

(não imaginava ela, que o emplastro se preparava para atacar…)

A jornalista afastou-se procurando evitar a situação e aborda duas senhoras da província:

– Então minha senhora, costuma vir ao 13 de Maio?

– Sim! Hi!Hi! Sim!! Hi!Hi!Hi!Hi!Hi!Hi! Sim!!! Hi!Hi!Hi!Hi!Hi!

– E o que a traz à Cova de Iria?

– Gosto muito da Nossa Senhora! Vim pagar a promessa depois do meu marido ter perdido as pernas num acidente de carro…

– E a sua mãe veio consigo…

– Sim… Ela também vêm pagar uma promessa, pela urticária.

– Pela Urticária??

– Sim. A do meu marido.

(E eis que ataca o emplastro…)

– Seu badalhoooco!!! Deixe a minha filha falar para a televisão!!

O tempo de antena é defendido com uma estalada…

Entretanto a jornalista afastou-se, falando sobre as defesas ao «ataque terrorista» na Cova de Santa Iria e entusiasmada, refere-se ao tamanho ENORME da futura basílica… Quando…

(o emplastro ataca outra vez…)

O ataque inicia-se…

Mas eis que a defensora da moral e dos bons costumes volta a defender a ordem natural das coisas…

– Seu Badalhoooco!!! Deixe a Nossa Senhora aparecer na televisão!!!

Sem resultados práticos… Os emplastros estão aí, para ficar!!

Nas franjas dos milagres prometidos existe uma mercado de esperanças…

Meia vida numa igreja evangélica pôde-me proporcionar algumas experiências esclarecedoras. Lembro-me de como todos os meses surgia pela igreja, o que chamávamos a «alminha do mês». O desespero da doença combina-se com a esperança da cura e acredita-se…

Esquizofrénicos, maníacos, deficientes mentais, espíritos simples… A procissão prolongou-se pelos anos.

Ajudei pretensos possessos que caiam no chão em convulsões de ataques epilépticos. Ouvi paranóias. Suportei as necessidades desesperadas de atenção de tantas pessoas… Jovens, velhos, mulheres, crianças. Humanos todos eles…

Sabem o que aprendi?

A distância entre a normalidade e a loucura, muitas vezes, não passa de uma mera convenção social…

Ás vezes, parecem mais loucos os que têm todas as faculdades mas dão a sua fé a coisas que são, pelas evidências, negativas – como o fenómeno de Fátima e o de todas as religiões.

O site do emplastro http://emplastro.no.sapo.pt/ e a conta bancária onde podem ajudar o Fernando Vamos ajudar o Fernando.

(O quê? achavam que o emplastro não tinha nome? Humano como nós!)

14 de Maio, 2004 Carlos Esperança

O ministro José Luís Arnaut foi a Fátima rezar na procissão das velas

Fé de ministro

«José Luís Arnaut foi a Fátima rezar na procissão das velas. Acompanhado por familiares e pelo governador civil de Santarém, Mário Albuquerque. Ocupavam a primeira fila na colunata sul do santuário, de vela na mão como qualquer peregrino. Tem muito por que rezar o ministro adjunto do primeiro-ministro. Por um Euro 2004 sem problemas e uma boa classificação da equipa nacional? Pela vitória nas europeias? Não foi possível saber. O ministro também tem direito ao recato nas suas manifestações de fé». Transcrição integral do Diário de Notícias de hoje (site indisponível).

Comentários:

1 – Fora melhor que um ministro não ocupasse a primeira fila. A ICAR sempre respeitou a hierarquia;

2 – «de vela na mão como qualquer peregrino». Onde é que a ia levar?

3 – Suspeito que foi pedir ajuda para melhorar o português periclitante que tem usado (sobretudo em relação ao verbo haver). Rezar não prejudica mas a gramática também faz falta.

13 de Maio, 2004 Carlos Esperança

A fé está em alta



À medida que se perdem os valores aumenta a fé.

A ociosidade e a oração dão-se as mãos.