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18 de Maio, 2004 Carlos Esperança

O texto da concordata que mostraram a Durão Barroso é do mesmo autor das armas de destruição maciça do Iraque?

Soube pela comunicação social que o primeiro-ministro de Portugal rastejou até ao Vaticano e que, sofrendo de problemas de coluna, os agravou com uma vergonhosa flexão para com o papa pulhaco (desculpem os leitores a influência de Mia Couto (abençonhado = abençoado + sonhado).

Do pio bando que viajou à boleia fazem parte «o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo; as ministras dos Negócios Estrangeiros, Teresa Gouveia; e da Justiça, Celeste Cardona; o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, José Arantes; os deputados Leonor Beleza, Jaime Gama, Assunção Esteves e Vera Jardim; o embaixador Martins da Cruz, o embaixador junto da Santa Sé, Pedro Ribeiro de Menezes, e a mulher; o juiz conselheiro do Supremo Tribunal Constitucional, Gil Galvão; o chefe da Casa Civil da Presidência da República, Morais Cabral; o embaixador Eurico Paes. Ainda na comitiva, estão integrados D. Tomás da Silva Nunes, Manuel Braga da Cruz, Padre João de Sousa, Padre Agostinho J. Gonçalves, Nuno Brito, António Almeida Lima, Luís Serradas Tavares, Mário David, Pedro Costa Pereira, Leonor Ribeiro da Silva, André Dourado, António A. Machado, Ana Paula Menezes Cordeiro, João Geraldes, Vasco Ávila, Comissário Paulo Antunes, Joana Mayer, Vanessa Pessanha, Bruno Portela e o chefe António Oliveira» – lê-se no Diário de Notícias de hoje.

Isto não é uma comitiva, é uma caterva de beatos à cata de indulgências, uma multidão de pecadores em busca de indulgências, um grupo de indivíduos que, acima dos interesses de Portugal, põe os interesses de uma obscena ditadura teocrática.

Em Portugal há, e bem, total liberdade religiosa. O que foi assinado, à sorrelfa, foi a concessão de infames privilégios a uma das religiões que disputam o mercado da fé num país que o Vaticano considera feudo e que a falta de dignidade cívica dos governantes reduz à situação de protectorado.

Neste momento, o texto da Concordata continua por divulgar. Temo o pior. A Inquisição não terá sido restaurada, mas a água benta, servida às colheres, pode tornar-se no substituto do óleo de fígado de bacalhau obrigatório na escola da minha infância. Então era o raquitismo que urgia erradicar, agora é a salvação da alma que passa a ser obrigatória.

No dia em que me provarem que há uma religião verdadeira, uma só, passo a defender que nem todas são falsas.

Apostila 1 – Ontem em Coimbra a Ponte Europa passou a ser designada por Rainha Santa, por decisão ministerial e sugestão do pio edil Carlos Encarnação. Que pecados tão graves terão a pesar-lhes para entrarem nesta vergonhosa subserviência para com o divino? Hão-de morrer afogados numa pia de água benta antes de serem corridos pelo voto popular.

18 de Maio, 2004 Mariana de Oliveira

Mulheres, homossexuais e pornografia: o porquê dos abusos no Iraque

Não vale a pena esfregarem os olhos, caros leitores, há quem defenda o que disse no título e podem confirmá-lo no WorldNetDaily.com do dia 12 de Maio. No início ainda pensei que o autor estivesse a recorrer à ironia para marcar o seu ponto de vista… mas não. O resumo que lerão de seguida é a sério!

O texto diz que nenhuma das atrocidades que foram transmitidas pelos meios de comunicação de todo o mundo aconteceram por acaso. Pelo contrário, tudo isto é causa da depravação propugnada em nome do progresso e dos media sensacionalistas. Onde é que isto se manifesta? Primeiro, as mulheres são colocadas na frente de combate como sinal de uma sociedade esclarecida e progressista.

Segundo, diz-se que a pornografia é libertadora e quem acha o contrário deve ser um puritano recalcado. Onde é que os soldados arranjaram aquelas ideias sado-masoquistas e voyeuristas? Em sites porno e publicações homossexuais!

Terceiro, defende-se que a homossexualidade é inofensiva e normal e que os soldados devem viver de acordo com uma política que não obriga os homossexuais a revelarem-se, o que faz com que eles possam conviver pacificamente nas camaratas. Isto contribuiu para que os árabes considerem a América como uma nação decadente e, assim, colocarem em risco todos os americanos especialmente os missionários cristãos que tentam levar o Evangelho aos que estão presos na escuridão há milénios.

Mas ainda há luz ao fundo do túnel! Antes de mais, os americanos devem prostrar-se e pedir a deus perdão por terem deixado que as coisas descessem tão baixo. Depois, devem pedir-lhe dicas sobre como restaurar a ordem moral. Se quiserem uma intervenção mais directa e célere devem ainda recusar patrocínios à indústria que fomente a devassidão e demandar o governo para que cesse quaisquer actividades que minem a moral. Na prática significa: tirar as mulheres da área de combate porque é bárbaro colocá-las face ao perigo, banir toda a pornografia da tropa, expulsar os homossexuais do exército, repor a censura, reforçar as leis do casamento e revogar as uniões de facto e de economia em comum e, finalmente, acabar com campanhas pró-sexo seguro.

Estou boquiaberta. Não vou fazer qualquer comentário; as barbaridades de Robert Knight – director do Culture and Family Institute e sócio das Concerned Women for America – falam por si.

18 de Maio, 2004 pfontela

As raízes do problema americano…

Agora que se fala muito nos abusos de Bush e da ligação abusiva que esta administração tem com a religião (a deles entenda-se…), achei que era boa ideia chamar a tenção para um dos grandes culpados da descriminação do ateísmo (e não só…) na América. O senador McCarthy.

“Today we are engaged in a final, all-out battle between communistic atheism and Christianity.”

— Sen. Joseph McCarthy -1950

Tradução: “Estamos hoje a travar a batalha final entre o ateísmo comunista e a cristandade”

Esta frase mostra a pesada carga negativa que foi associada ao ateísmo nos EUA (e não só…), foram muitos anos de propaganda,repressão e caça às bruxas, e tudo isto deixou marcas profundas na psique americana que podem demorar décadas a curar.

Será Bush a versão menos (ou será mais??) polida de McCarthy? É claro que Bush arranjou um inimigo diferente… Será que, como McCarthy, Bush também abusa do álcool e das drogas? Ou serão as suas medidas apenas resultado de calculismo politico misturado q.b. com interesses económicos e zelo fanático cristão?

17 de Maio, 2004 André Esteves

Hoje é assinada a concordata. Hoje é mais um dia em que Portugal me envergonha.


Até a virgem não sabe se há-de rir ou chorar…
Hoje é assinada a concordata entre Portugal e o Vaticano. Sem qualquer intervenção do processo democrático ou das instituições representativas.

Hoje é um dia em que Portugal me enche de vergonha.

A partir de hoje, sei que a república que emergiu do 25 de Abril de 1974, me considera um cidadão de segunda.

A mim, ateu, mas também aos agnósticos, aos pagãos, aos evangélicos sem denominação, aos baptistas, aos luteranos, aos adventistas do sétimo dia, aos pentecostais, aos metodistas, aos episcopalianos, aos carismáticos, aos hindus, aos mormons, aos da assembleia de deus, aos judeus seculares, aos iemenitas, aos baha’ianos, aos judeus ortodoxos, aos muçulmanos, aos budistas, aos interdenominacionais, aos tradicionalistas, aos calvinistas, aos cristadelfianos, aos taoístas, aos zoroastrianos, aos animistas, aos macumbeiros, aos falum gong, aos cristãos ortodoxos russos, eslavos e gregos, aos que mudam todos os dias de fé, aos que preferem não se exprimir e aceitar etiquetas. A todos nós, minorias ou até (quem sabe?) maiorias, nos foi dado o estatuto de cidadão de segunda.

A revés da Constituição e do príncipio da igualdade dos cidadãos perante a lei.

A partir de agora, uma comissão controlada por figuras sombrias, todos de 1ªclasse irá decidir quem é ou não religião. E quem é que poderá aceder a um estatuto de excepção. Negociatas serão feitas. Acordos de não-proselitismo firmados. Muito provavelmente, bolsos individuais e institucionais encher-se-ão. O mercado de almas abre-se sobre o patrocínio do estado.

Os ultimos passos da armadilha, que a Igreja Católica Apostólica Romana e os seus católicos de elite conspiraram, estão dados.

A excepção está institucionalizada, legalizada sem quaisquer hipóteses de redenção.

E a culpa é vossa. Porque pondes miopicamente a vossa fé primeiro, em vez do bem comum.

Quebrastes o mandamento: Amai os outros, como a vós próprios.

E assim será até ao dia, em que o estado renegue a concordata e elimine a lei da opressão religiosa.

17 de Maio, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Deus estava satisfeito com a sua obra, e isso é um erro fatal.

Samuel Butler

17 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Portugal está em vias de se tornar um novo protectorado do Vaticano?

Cresci a ouvir acusar a 1.ª República de anti-clericalismo pelo iniquidade das leis cujo repúdio atingia particularmente a do Registo Civil obrigatório e a do Divórcio. Lamentando a intolerância recíproca, vejo como se tornaram consensuais os motivos da indignação e não se abandonou a calúnia.

Foi Salgado Zenha quem impôs ao Vaticano a eliminação da crueldade que obrigou Sá Carneiro e milhares de outros portugueses a uniões de facto numa altura em que eram jurídica e socialmente condenadas. Sem o 25 de Abril ainda hoje vigoraria a impossibilidade do divórcio para casais que celebrassem casamentos católicos. E, para os outros, não faltaram tentativas subtis. A mais desastrada foi a carta de 24/02/1971 da Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, vidente de Fátima, a apelar ao Prof. Marcelo Caetano para que a lei do divórcio fosse abolida do Código Civil.

Em Junho de 2002, ao querer impor aos advogados católicos a objecção de consciência em relação ao divórcio, JP2 reincidiu na tentativa de subversão do ordenamento jurídico, numa tentativa de esvaziar de consequências um importante instrumento legal, num país democrático.

JP2, também conhecido pela alcunha de Santo Padre (usa o mesmo adjectivo que era apanágio da Inquisição), tem a Santidade como profissão e esmera-se, entre outras patifarias, a sabotar o ordenamento jurídico dos países laicos, para o que conta com o reacionarismo militante do seu clero.

É por isso que estou apreensivo com a Concordata que amanhã vai ser assinada entre Portugal e o Vaticano. Negociada em segredo, teme-se o pior. Sendo inútil para garantir a liberdade religiosa, que é total, só pode destinar-se a garantir privilégios, o que é uma infâmia. Voltarei a este assunto quando conhecer o texto.

Apostila 1 – Se, como defende o primeiro-ministro português, devemos criar uma diplomacia económica talvez se consiga, como compensação pelo texto concordatário, uma larga exportação de vinhos portugueses das Adegas Cooperativas para celebração das missas, grandes encomendas de alfaias litúrgicas para dinamizar a ourivesaria de Gondomar, alguns barcos de farinha para hóstias, a partir do trigo alentejano e, finalmente, algumas toneladas de oliveiras envelhecidas para fazer relíquias do santo lenho.

Apostila 2 – Se Deus criou a ICAR, é demasiado desleixo seu não ter procedido a um único melhoramento.

Apostila 3 – Se amanhã vir JP2 a rir das orelhas à tiara é um mau prenúncio para Portugal.

17 de Maio, 2004 André Esteves

Querem filhos? Experimentem fazer sexo…

Era uma vez um casal alemão. 8 anos de amor, respeito e dedicação.

Ambos tinham tido educações religiosas esmeradas, nada podiam esperar de mal um do outro.

O futuro abria-se eternamente na instituição do casamento.

Mas eis que com o passar dos anos, as crianças não queriam aparecer.

Um rebento que lhes alegrasse a casa… O cumprimento do mandamento: Crescei e multiplicai-vos!

Desesperados, seguindo o conselho de uns amigos profanos, foram a uma consulta numa clínica de fertilidade. O médico que os atendeu, ao ver as suas análises, ficou mistificado, aparvalhado, confundido…

Quando foi a última vez que tiveram relações? – perguntou.

Ahhhhnnn?? O que é isso? – responderam.

A notícia do Fait diver no Ananova.com

17 de Maio, 2004 Mariana de Oliveira

Ser padre ou não ser

Ontem deparei-me no Público com uma interessante notícia sobre um cavalheiro que, encarnando a personagem de padre, burlou, roubou e assaltou um ror de gente. Antes que os senhores crentes pensem em acusar-me de tentar estabelecer um nexo de causalidade entre as características deste e as dos sacerdotes, esclareço já que não é esse o meu propósito (é a velha máxima de «quaisquer semelhanças com a realidade são pura coincidência»).

Manuel Martins, baixinho, gordinho, sem cabelo, [que] parece mesmo um padre (Avelino Pinto, uma vítima, dixit) foi detido pela Guarda Civil espanhola na semana passada na Galiza.Este falso sacerdote tem um longo registo criminal onde se contam mais de 30 processos pendentes (e apenas estes) em várias comarcas nortenhas. Um psicólogo, seu velho conhecido, diz que padece de mitomania: inclinação patológica para a mentira e para a criação de universos imaginários… muito ao estilo de vários videntes, beatos e santos.

Este falso padre tem um longo currículo: um funeral em Valença, uma missa em Santiago de Compostela, uma missa numa garagem situada em Ermesinde devidamente paramentado em frente a três dezenas de pessoas (quando foi levado para a esquadra da PSP disse que visões e aparições tinham-lhe conferido poderes para celebrar missa). Quando cumpria segunda pena, fizeram-se diligências para apurar a veracidade do seu voto junto da igreja católica, o que não foi possível já que seria padre da igreja ortodoxa.

No que toca aos seus feitos criminosos, Manuel Martins é um especialista em burlas, mantendo o seu modus operandi: identificava-se como padre, fazia as suas compras, passava cheques sem cobertura ou roubados ou adiava o seu pagamento indefinidamente. Avelino Pinto, uma das vítimas, relata: a 20 de Dezembro de 2003, mais dia menos dia, veio cá. Encomendou sofás, cadeiras, secretária, tudo! Até fiz a minha mulher ir à feira comprar tapetes. Aquando do pagamento, Manuel Martins terá dito que ficara sem cheques, que iria ao banco logo na segunda-feira de manhã, pediria novo livro e saldaria a dívida. O que é que eu ia dizer? Um homem vestido de padre! Claro que acreditei.

Foi pedida a extradição de Manuel Martins, que aguarda decisão dos tribunais competentes em Espanha.

Como é possível que seja tão fácil alguém passar-se por padre?

Quando alguém é ordenado padre, não há qualquer averbamento no registo civil. De acordo com as regras da Igreja Católica, os sacerdotes são obrigados a ter uma carta de recomendação, que é um documento identificativo, renovável anualmente, assinado pelo bispo da diocese a que pertencem. Parece que na prática este documento nunca é utilizado, uma vez que os padres, mesmo não se conhecendo, confiam uns nos outros… E o mesmo se passa com o resto da população que, ingénua, ainda pensa que os homens da batina são todos pessoas de bem .

17 de Maio, 2004 Carlos Esperança

DURÃO na Procissão do Santo Cristo, nos Açores

Tendo em vista a campanha eleitoral para as eleições europeias, Durão Barroso integrou ontem a procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres que percorreu as principais ruas de Ponta Delgada.

Convidado da entidade responsável pela organização dos maiores festejos

religiosos dos Açores, o 1.º ministro foi o primeiro chefe do governo

central a integrar tal cortejo o que o levou a dizer «admira-me que tenha sido o primeiro chefe de Governo a estar presente».

Apesar da promiscuidade entre a Igreja e o Estado português não há grande mal na presença de Durão Barroso na procissão do Sr. Santo Cristo, nos Açores. Grave seria que o Sr. Santo Cristo participasse no Conselho de Ministros, em Lisboa.