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1 de Junho, 2004 André Esteves

O «argumento» da existência de deus de 2 de Junho de 2004

O Argumento Cosmológico

(1) Se eu afirmar que algo tem uma causa, ele tem uma causa

(2) Eu afirmo que o sujeito da causa é o universo

(3) Logo, o universo têm uma causa

(4) Logo, deus existe!

Comentário:

Eu diria que é mais o argumento cosmotrágico…

1 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Indulgências perdidas – 3.º conto piedoso

Jerónimo Felizardo estava a aliviar do luto a que a perda da amantíssima esposa o obrigara. Não se pode dizer que lhe fora muito dedicado em vida, nem excessivamente fiel. Mas habituara-se a ela como um rafeiro ao dono que o acolhe.

Sentia-lhe agora a falta. Deolinda de Jesus dera-lhe tudo. Mesmo tudo. Até o que é obrigação e nela nunca foi devoção e, muito menos, entusiasmo. Deu-lhe independência económica, boa mesa, respeito e uma filha. Deixou-lhe uma pensão de professora, metade do ordenado do 10.º escalão, que acrescentava a outros proventos e o punham ao abrigo de sobressaltos.

Com a filha não podia contar. Fora para Lisboa frequentar a Católica a cujo curso e influência deve hoje o desafogo em que vive e o lugar importante no Ministério. Metera-se no Opus Dei e enjeitou a família. Mesmo a mãe, a quem fora muito chegada, só lhe merecera duas breves visitas nos três anos de doença prolongada com que Deus quis redimi-la do pecado original.

Era natural que substituísse as visitas por preces, que não exigiam deslocações nem hora certa, que haviam de prolongar a vida e o sofrimento, assim Deus a ouvisse. E ouvi-la-ia de certeza porque, além de omnipotente e omnisciente, vinham duma devota fiel à instituição que o Papa amava quase tanto como à bem-aventurada Virgem Maria.

A poucos meses de fazer meio século Jerónimo empanturrava-se de comida que Carolina, afilhada do crisma de D. Deolinda, se esmerava a cozinhar com um desvelo que a filha nunca revelara. Bem sabia que a gula era um pecado capital mas que a prática e o exemplo eclesiástico largamente tinham despenalizado. Nem mesmo o Prefeito para a Sagrada Congregação da Fé, tão cioso guardião da moral e dos bons costumes, o valorizava demasiado. A gula não é propriamente a luxúria que é das maiores ofensas a Deus, pecado dos maiores e, de todos, o que mais contribui para a perdição da alma.

Em tudo o mais era Jerónimo um viuvo modelo. Dera-se à tristeza e à oração. Arrependia-se das vezes em que não cumpriu o dever da desobriga, da frequência escassa à eucaristia, das missas a que faltou, em suma, das obrigações de cristão que não cumpriu com a intensidade, duração e frequência que recomendava a Santa Madre Igreja. Mas, de tudo, o objecto maior de arrependimento era o adultério que cometera e em que, sempre confessado, reincidiu.

Mas isso terminara há muitos anos. A infeliz que seduzira casara e virara fiel ao marido a quem agradecia tê-la recebido canonicamente apesar de já não ir como devia. Conformado, aceitando ficar com mulher que já não ia inteira, nunca suspeitou de ornamentos de homem casado, sempre julgou que o autor era um antigo namorado que a morte por acidente impediu de reparar a desonra.

Desse pecado se redimira Jerónimo, pela confissão, penitência e promessa de nunca mais pecar. À castidade que se impôs, ao cumprimento dos mandamentos a que se devotara, juntou a vontade forte de conquistar indulgências no ano 2000 do Grande Jubileu.

Bem sabia que as indulgências requerem sempre a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração pelas intenções do Papa, condições sine qua non para a sua obtenção. Quanto às disposições para a sua aquisição não era difícil cumpri-las. Bastava peregrinar a uma Basílica, Igreja ou Santuário designado para o efeito, e eram várias as opções na diocese, e rezar o Pai Nosso, recitar o Credo em profissão de fé e orar à bem-aventurada Virgem Maria, tarefas de que se desobrigava com prazer e entusiasmo. Mesmo a recomendável contribuição significativa para obras de carácter religioso ou social estava ao seu alcance e não deixava de fazê-lo.

Embora gozando de excelente saúde e de razoáveis análises nunca é demasiado cedo para o sincero arrependimento e cuidar da alma. Veio a calhar o ano do Grande Jubileu que Sua Santidade avisadamente instituiu nesse Ano da Graça de 2000.

Jerónimo, tomou como bênção do Céu ter ficado Carolina a cuidar dele. Antes de recolher-se ao quarto rezavam os dois, todos os dias, por D. Deolinda, Esposa e Madrinha, respectivamente, para que a sua alma mais rápido entrasse no Paraíso, aliviada das penas do Purgatório.

Passava os meses dedicado à oração, à penitência e à agricultura, outra forma de penitência que alguns teólogos interpretam como a mensagem do anjo do 3º. ex – segredo de Fátima. Disse-me padre amigo, e não incréu militante, que a penitência que o anjo três vezes pediu era uma forma de exigir dedicação à agricultura, modo de empobrecer e salvar a alma, vacina contra os sectores secundário e terciário onde os homens perdem a fé e a Igreja os devotos.

No primeiro dia de Maio, a seguir ao jantar, horas depois de os comunistas ateus se terem manifestado nas ruas de Lisboa e Porto, enquanto Carolina ficou a arrumar a cozinha, foi Jerónimo ao mês de Maria, acto litúrgico que na sua cidade de província sobreviveu à conversão da Rússia e à consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria.

À saída da igreja entrou no carro, dirigiu-se à quinta que distava duas léguas da cidade, deu umas ordens ao caseiro e uma olhadela às vitelas, distribuiu-lhes ele próprio um pouco de ração, mandou verificar a pedra que tapava o buraco das galinhas, para protegê-las da raposa, deu a bênção aos afilhados, filhos do caseiro, e regressou à cidade onde morou em vida de D. Deolinda, por vontade dela que detestava a lavoura e o campo, e agora por hábito e fidelidade à memória da falecida.

Ao regressar a casa admirou-se de ver todas as luzes acesas, excepção para o seu quarto que a luz do corredor iluminava discretamente.

Ia entrar em busca da santa Bíblia quando, sobre uma colcha de seda, na cama, deparou com o corpo esbelto de Carolina, esplendorosa escultura de 20 anos à espera de ser percorrida, vestida apenas de penumbra e longos cabelos castanhos, esparsos sobre o peito, donde brotavam túmidos mamilos à espera de afago.

O quarto parecia iluminar-se progressivamente. Já uns lábios carnudos se ofereciam sequiosos, já um corpo arfava em pulsações rápidas, num incontido furor de ser possuído, numa ânsia insuportável de ser saciado, primícias ávidas à procura de ser saboreadas.

Jerónimo sentiu sobrar-lhe roupa e minguar-lhe a resistência.

Foram-se as indulgências.

1 de Junho, 2004 André Esteves

Um correio estranho…

Alguém gostou tanto da minha paródia às sessões fotográficas do monsenhor josemaria escrivá que me enviou isto…

Estranho! Muito estranho… Alguém me quer explicar?

1 de Junho, 2004 Mariana de Oliveira

Anjos na América

Começou ontem, n’ A Dois, uma mini série que dá pelo nome de Anjos na América, adaptada da peça de Tony Kushner, estreada na Broadway há onze anos, e que é um retrato dos Estados Unidos dos anos 80.

A peça é sobre a América de há 20 anos, sobre Reagan e a sua administração, sobre uma nova doença que então tinha aparecido – a SIDA -, os mormons, o amor, a depressão e a família. Para além disto, o autor descreveu-a como uma fantasia gay sobre temas nacionais.

Por trás de todo o escândalo social e religioso que trouxe a Sida, está um desejo de saber como lidar com a questão da vida e da morte num mundo que não quer saber o valor de uma vida humana. Kushner também nos abre os olhos para a forma como os líderes políticos da altura, nomeadamente Reagan, lidaram com o que se tornou num dos flagelos da humanidade.

Entre as angústias individuais que cada personagem combate, encontramos “limiares de revelação” onde elas podem descobrir algo sobre si próprias, algo que provém dessa mesma luta e são essas revelações que as podem libertar.

Anjos na América foca também o papel da religião na intimidade de uma pessoa, como factor que condiciona as relações sociais e as relações pessoais, podendo levar à solidão e ao desespero.

O realizador é Mike Nichols que comanda um leque de actores invejável: Merryl Streep, Al Pacino e Emma Thompson.

A série pode ser vista às segundas-feiras, às 22.30.

1 de Junho, 2004 André Esteves

Ahn?! Isto merece um comentário ácido…

Na imagem, Xanana encontra-se com o general Wiranto. Podemos ver que o presidente de Timor Leste andou a ter aulas de tolerância com o Monsenhor Belo.

Andem lá! Já agora dêem um beijinho…

1 de Junho, 2004 André Esteves

O «argumento» de 1 de Junho de 2004 da existência de deus

O Argumento transcendente

(1) Se a razão existe, então deus tem que existir

(2) A razão existe

(3) Logo, deus existe.

Comentário:

A Razão é um nome, ou é algo que se aprende usando?

De qualquer maneira, este argumento transcende-me…

1 de Junho, 2004 André Esteves

Exorcismo em fórum na net…

Pois é! Sim, senhor… Julgava eu que já tinha visto tudo o que os fundamentalistas são capazes para adaptarem a ortodoxia ao mundo moderno.

Para a minha surpresa e delícia, através do fórum da Sociedade da Terra Redonda deparei-me com um exorcismo registado num fórum evangélico…

O Exorcismo…

por outras palavras: Vade rectro, Satanis!!!

ou em hexadecimal:

0000:0000 56 61 64 65 20 72 65 63 74 72 6F 2C 20 53 61 74

0000:0010 61 6E 69 73 21 21 21

Será que o demo sabe a diferença?

Bem.. Nos tempos que correm até o Bill Gates aparece no Livro das revelações, o Apocalipse, utilizando o método cabalístico de análise textual descrito no «Código da Bíblia».

31 de Maio, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

Estava eu a passear por um bric-a-brac chinês, quando encontrei as últimas tentativas chinesas de entrada no mercado português da memorabilia religiosa católica, como podem ver à vossa esquerda. Na base deste engraçado boneco, encontramos o nome de Santo Exposito (não creio que haja um santo com esse nome, mas que se trata de um dos mártires antes da época de Constantino, dado o fato militar romano).

Para quem olhar de relance, aparenta que estamos a ver um brinquedo.

Quem olhar com mais cuidado, vê o santo despido do peso da percepção e código estético do catolicismo.

O traço e desenho seguem os códigos do Manga japonês, que hoje influencia várias gerações de artistas na Ásia.

As marcas da santidade na iconografia religiosa além de um valor cultural seguem códigos e regras estéticas que são definidas na ortodoxia. Os fiéis encontram aí a familiaridade e reconhecimento da sua revelação, que julgam especial, particular e pessoal. Fá-los, através do condicionamento, invocar os estados de espírito que associam ao sagrado: paz, união mística com algo maior, medo, culpa, contrição, etc.

Mas quando os mesmos são vistos e revistos pelos «óculos coloridos» de outra cultura, nada de sagrado encontramos na volta.

Só ficam os heróis de banda desenhada.

O que fariam os autores deste kitsch se por exemplo, se inspirassem nas visões de Fátima de 1917? Em que a nossa senhora aparecia a Lúcia de saia acima dos joelhos e sem sapatos? Algum Shunga ou Hentai? Confesso que fico curioso…

Glossário de termos de Manga e Anime (em inglês)

31 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Ponte Europa foi aberta ao trânsito

Com a presença do Dr. Durão Barroso, único especialista português vivo a rubricar concordatas e do pio edil Carlos Encarnação, danado para missas, hóstias e alcunhas (crismou a ponte de Rainha Santa Isabel), teve lugar ontem a inauguração da ponte Europa, em Coimbra.

Houve bandeiras, possíveis bandalhos, força pública, público à força, numerosos figurantes, alguns figurões e um bispo contratado para benzer a obra de arte.

O bispo, D. Albino Cleto, farol da diocese de Coimbra, exorcista, especialista em bênçãos, utilizador experiente do hissope, habituado a aspergir imóveis, envergou vestes talares para dar mais vigor à benzedura e brilho à festa, não esquecendo uma enorme cruz para que quase lhe faltava o peito.

Os engenheiros da obra desconhecem a eficácia da água benta no reforço das fundações e os bombeiros não se pronunciaram sobre a prevenção de acidentes graças à divina guarda cuja protecção D. Albino foi contratado para intermediar.

As pessoas de Coimbra ficaram muito contentes com a alcunha da ponte Europa, mas as promessas de percorrer de joelhos a nova ligação do Mondego estão desaconselhadas por causa da circulação automóvel.

Um sexagenário com ar jacobino avisou uma devota, que se preparava para percorrer a nova ponte de joelhos, que aquilo era uma rodovia e não um piedoso joelhódromo.