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8 de Junho, 2004 Carlos Esperança

O menino Eleutério – 4.º conto piedoso (último)

Atanásio Barroso e Maria de Jesus já tinham passado os trinta anos de idade e, em conjunto, os trinta hectares de terra de semeadura e outros tantos de olival, vinhedo e pinhais, quando os amigos os empurraram para o matrimónio.

Nunca antes por ele outra se interessara nem ela a outro desejara, isto que se soubesse, que a mulher séria era vedado manifestar desejos de qualquer natureza. Daí que toda a aldeia os vissem virtuosos e talhados um para o outro. E assim foi.

Casados, e abendiçoados por um padre que a idade tornara casto e suspeito de santidade, dois anos se passaram com esforços inglórios e impertinentes perguntas dos vizinhos, sem que D. Maria de Jesus lograsse emprenhar.

Já julgava ela ser maninha, por ficar sempre forra, responsabilidade que tinha obrigação de assumir ainda que, e não era o caso, faltasse o marido ao cumprimento das obrigações matrimoniais. Moléstias de varão é que não são de admitir.

Bem sabia D. Maria de Jesus que ao marido cabiam apenas os êxitos, não devendo mulher séria pôr-lhe em dúvida os méritos ou queixar-se do desempenho como se tivesse direito, à guisa de mulher mundana, ter doutros desempenhos conhecimento que lhe permitisse comparação.

Começou a evitar o banho e a seguir melhor os conselhos de amigas que sorriam sem dentes por entre numerosa prole. Debalde. Fez então uma promessa à Senhora de Fátima. Com a reza diária do terço, em caso de sucesso, faria a pé as trinta léguas que a separavam da Cova da Iria. Assim a Virgem a ouvisse.

Eram votos formulados em Português, idioma que a Virgem mostrara dominar em confidências à Irmã Lúcia, numas deslocações que fizera a uma azinheira da Cova da Iria, e em que lhe deu conta dum atentado que um papa por nascer havia de sofrer, bem como doutras coisas excepcionais com que facilmente convenceu três crianças das virtudes terapêuticas do terço e da penitência.

Quem cedo adivinhou o mal que a Rússia espalharia pelo mundo, quem, suspendendo os hábitos dos astros na Cova da Iria, fez girar o Sol sobre si mesmo e o fez descer três vezes até à altura do horizonte, maravilhando 50.000 devotos, fácil lhe seria estimular a fertilidade duma devota.

Quem teve o poder de mostrar o Inferno e os seus horrores, destinados aos que se arredam das orações ou se baldam à penitência, não abandonaria quem cumpria as obrigações matrimoniais sem ter em vista outro fim que não fosse o da prossecução da espécie, sem laivos de lubricidade, sem sombra de pecado.

Ainda não tinha passado um mês sobre o piedoso voto e já, dia após dia, a ausência das regras prenunciava o êxito da fé. Esperou tempo suficiente antes de avisar o marido, não fosse a natureza pregar-lhe uma partida.

Depois foi esperar o que é hábito, chamar a entendida na altura própria para cortar o cordão umbilical, observar a criança e pronunciar o veredicto sobre o sexo.

Naquele Natal de 1940 aqueles pais nem se davam conta da guerra que grassava na Europa. Ouviam vagamente falar de Hitler com aquela admiração e respeito que merecem os Homens que amam a sua Pátria e se dispõem a combater judeus, ciganos, maçons e comunistas. E, graças a Deus, o Eleutério estava livre de tudo isso pelo nascimento e pelo baptismo que o Sr. Padre havia de celebrar no 30.º dia do nascimento com pompa, circunstância, muitos convidados e enorme quantidade de vitualhas.

O nome de Santo fora-lhe dado pelo Padrinho que desconhecia haver três, homónimos, sendo um Bispo, outro Papa e um terceiro, não menos virtuoso, companheiro de S. Dinis com quem partilhara o martírio.

Eleutério ficou aos cuidados da irmã da mãe, mais velha que ela dois anos, mulher austera e substancial, celibatária convicta, habituada às lides do campo, à prática religiosa e ao ensino da catequese.

A tia sabia da promessa. Isso bastou para cuidar do sobrinho enquanto a irmã e o cunhado se aventuravam nos caminhos de Fátima com bandos de peregrinos que engrossavam a cada momento. Suportaram a dureza da caminhada, resistiram sem um queixume, sem vacilação na fé, sem folga nas rezas.

Viveram intensamente a chegada à Cova da Iria e comoveram-se na procissão do Adeus. No dia seguinte, após as cerimónias a que presidiu um cardeal, partiram de regresso, agora de camioneta, cheios de cansaço e santidade.

Nesses dias Eleutério esquecera completamente a teta materna pela qual, em boa verdade, nunca mostrara a avidez dos filhos dos pobres. Ficou vedado.

Eleutério era nome rebarbativo que os pais acharam adequado à sua condição, e o Padrinho ao seu futuro, mas tão pouco eufónico e propenso a diminutivo que cedo passou a ser tratado por Barrosinho.

Cresceu a ouvir rezar pelo fim da guerra e, acabada esta, com dúvidas sobre quem seriam os melhores, continuou a ouvir rezar pela conversão da Rússia, pela paz, pelo Santo Padre, pelos governantes e por intenções avulsas que variavam em cada missa de acordo com as necessidades mais prementes. Frequentou a catequese com a tia, mudou os dentes e sobreviveu ao sarampo, às bexigas, ao crisma e ao exame do 2º. Grau.

No ano seguinte, feito o exame de admissão à primeira tentativa, entrou no Liceu onde, ao fim de 10 anos, completou o 7.º ano, a tempo de ir para Mafra frequentar o curso de Oficiais Milicianos e vestir uma farda ainda mais bonita que a da Mocidade.

Em 1966, depois de ter defendido a Pátria e a civilização cristã e ocidental em Angola, passou à disponibilidade com a patente de Tenente.

A mãe, senhora muito virtuosa, falecia alguns meses depois do regresso do filho. Diabetes ? dizia o médico ? estiveram na origem de muito sofrimento e da morte prematura. Logo a seguir finava-se o pai, de desamor pela vida e cirrose hepática.

Barrosinho, agora Sr. Barroso, ficou só no mundo. Por incapacidade dos pais, falta de promessas ou desacerto com as fases da Lua, vá-se lá saber, não tivera irmãos.

Deixou a tia, catequista e intratável, as propriedades e a aldeia. Rumou a Lisboa.

Respondeu a anúncios e, em breve, encontrou emprego numa empresa de produtos químicos onde passou a ser tratado por Sr. Barroso. E casou.

Quando veio o 25 de Abril tinha sete anos de trabalho, sempre na mesma empresa. Chegara a chefe de secção, insensível às calúnias dos colegas invejosos que atribuíam o seu sucesso aos queijos de ovelha e garrafões de azeite que recebia do caseiro e com que obsequiava regularmente o Gerente suíço por mera cortesia e amizade.

Quiseram saneá-lo os outros trabalhadores. O Sr. Barroso insinuou que lutara pela democracia na clandestinidade, até era simpatizante do Partido Socialista. Foi mais feliz que o Gerente, regressado à Pátria na sequência duma greve tumultuosa.

Hoje, 30 anos depois, é Chefe de Serviços. Não se sabe o que faz. O actual gerente diz que ele é importante. Envelhece e envilece. Passa o tempo a dizer que pouco falta para os comunistas estarem todos no Governo, que os militares traíram a Pátria, que a Pátria é uma porcaria, que se fosse mais novo emigrava.

Recebe subsídios para arrancar árvores nas propriedades da sua aldeia e, com novos subsídios, de novo as plantar. E não se cansa de dizer que os Governos venderam Portugal à Europa do mesmo modo que entregaram o Ultramar ao comunismo.

Temente a Deus, quatro filhos perfeitos, todos com emprego do Estado e ordenado certo ao fim do mês, o Sr. Barroso começou a humanizar-se. Aos 60 anos, em véspera de Natal, só teme ter cada vez menos a companhia dos netos e cada vez mais a da amantíssima Esposa que suporta resignado há mais de três décadas.

Mas começa a ser um homem feliz e agradavelmente maldizente.

Uma destas noites sonhou que era Natal e ocupava um lugar no Presépio. Viu-se a rodear o Menino com S. José, a Virgem, a vaquinha e os reis magos. Acordou feliz. Nem se deu conta do animal que lhe coube ser. Milagre da fé.

8 de Junho, 2004 Ricardo Alves

Refutando Tomás de Aquino (1)

O primeiro argumento de Tomás de Aquino a favor da existência de um «Deus» é o do movimento. Aquino nota, a partir das evidências do mundo sensível, que algumas coisas estão em movimento. Correcto.

Afirma, em seguida, que o movimento de X pode passar de «potencial» a «efectivo» através do movimento efectivo de Y (sendo X e Y objectos distintos). Ora, esta afirmação é contrariada pela ciência do século XX. Efectivamente, determinados objectos passam a um estado de movimento sem interferência de outros objectos. Sabe-se que os núcleos radioactivos decaem «espontaneamente» (n->p+(e-), por exemplo). Além disso, as partículas quânticas estão em movimento perpétuo, seja direcionado ou aleatório. (Só podemos imobilizar todas as partículas quânticas de um dado sistema à temperatura do zero absoluto.) O argumento de Aquino só convenceria portanto quem tivesse um conhecimento da natureza limitado aos objectos macroscópicos.

Concluindo, Aquino argumenta que teria que existir uma causa primeira do movimento. Como vimos, tal não é necessário. E aliás, a conclusão de Aquino enferma de uma incoerência lógica: a «causa primeira» teria que ter uma causa anterior.

Finalmente, Aquino afirma que «a esta causa primeira toda a gente chama Deus», o que se aproxima de um argumento de maioria sociológica. Tomar a opinião da maioria como sendo a verdade é, evidentemente, inválido quando se pretende justificar um argumento pretensamente lógico como o de Aquino.

8 de Junho, 2004 jvasco

Trânsito de Vénus

Não esquecer! É hoje mesmo!

Para conhecer o fenómeno e a sua importância poderão consultar a página da Associação Portuguesa para o ensino da Astronomia.

Não precisamos de cair em superstições e obscurantismos para dar resposta ao nosso sentimento de pertença a algo maior. Somos filhos das estrelas, e admirar o Universo que nos rodeia é uma resposta saudável que não envolve crendices de qualquer tipo.

8 de Junho, 2004 jvasco

O Céu é mais quente que o Inferno

É a própria Bíblia que o diz!

Atentem na seguinte passagem:

Mas aqueles que não crêem[…] as suas almas serão consumidas no fogo do Inferno contido num poço de enxofre borbulhante

Revelações 21:8

A temperatura de ebulição do enxofre é de 444,6º C. A temperatura do Inferno será igual ou inferior a esta. Mas o que é que nos diz a Bíblia sobre o Céu?

No Paraíso a Luz será tão intensa como sete vezes o brilho do Sol durante sete dias

Isaías 30:26

Agora que sabemos a relação entre a intensidade da radiação do Céu e a da Terra, podemos utilizar a Lei de Stephan (relativa à radiação do corpo negro) para saber a temperatura do Céu a partir da temperatura da terra.

Reduzindo tudo a um cálculo simples (49*Tterra^4=Tceu^4) ficamos a saber que a temperatura do Céu é de 525ºC.

Não aparenta ser um sítio agradável…

7 de Junho, 2004 André Esteves

Sobre cães abandonados, o Euro 2004 e um aviso…

Tenho um grande amor pelos animais. Neles encontro, na sua inteligência e linguagem, um mundo que a maior parte dos humanos, persiste em querer ignorar pelo medo de perder os seus deuses. Desde há cinco anos que eu e a minha esposa ajudamos cães de rua. Alimentamo-os, desparasitamo-os, tentamos arranjar-lhes lares decentes e humanos.

Acredito que temos uma responsabilidade racial para com os cães. No nosso passado genético, os cães permitiram ao homem de Cro Magnon ganhar a supremacia com os Neandertais. Deram-nos o volume frontal do nosso cérebro, ao caçar connosco, permitiram-nos diminuir a área olfactiva abaixo do cérebro (bem como outros co-efeitos mútuos), e por sua vez, nós seleccionamos os cães. Um cão bebé consegue reconhecer expressões faciais num humano, à semelhança dos bebés humanos. Na nossa mútua influência, geramos estruturas cerebrais semelhantes. Em contraste, um lobo, de bebé a adulto, mesmo domesticado, nunca aprende a distinguir expressões faciais humanas.

Como podem imaginar, há mais cães abandonados do que lares decentes e humanos.

Neste espaço de tempo, eu e a minha mulher já encontramos de tudo. Animais estropiados a pedirem-me que lhes tirasse a dor (sim). Cadelas com crias, devoradas por parasitas. Cães com esgana, parvo-virose, raiva, rebentados por sevícias sexuais, esfomeados deliberadamente até ao limite, o que imaginarem.

Mas o pior, não são os sofrimentos e os horrores. Já tive que abater 5 cães, pelos quais os quais o meu tempo e dinheiro nada podiam fazer. Acompanhei-os até ao último instante. E chorei pela generosidade de me terem ensinado algo sobre a morte.

Mas o pior, o pior são os humanos.

São eles a causa de tanto sofrimento. Nestes cinco anos, aprendi a distinguir com quem é que podia contar e de quem desconfiar.

O mesmo humano que fala da vida, como valor supremo, que se insurge contra o aborto e a pílula, é o mesmo que abandona os seus cães na berma da estrada, eliminando os afectos e a responsabilidade. Ao afastá-los da sua vista e mantendo a ilusão de que irão «continuar vivos» pois não os matou, enganou-se a si próprio, religiosamente, de que nada de mal fez. Afinal, poupou-lhes a vida!

No outro extremo, temos pessoas que alimentam e protegem os animais, mas não os tiram da rua. Não esterilizam fêmeas ou machos e contribuem para o aumento do sofrimento por todo o país, ao, irracionalmente, servirem de factor de pressão nas Câmaras Municipais, para não se adoptarem medidas de eutanásia humanizadas e indolores, reclamando-se da protecção da «vida».

São as mesmas pessoas que encontro com o rosário pendurado no carro. São as mesmas pessoas que tiram férias no 13 de Maio. São as mesmas pessoas que não pensam, nem sequer acreditam pois só sentem.

Apoiadas numa ideia neolítica, católica e rural de «vida» contribuem para aumentar o número de cães abandonados, maltratados e abusados, por todo o país.

Hoje, através da minha rede de informações, chegou-me a notícia que na zona de Aveiro, um canil Municipal foi assaltado. Foram levados mais de 30 cães. Durante a manhã, chegaram-me também notícias de vários raptos de cães na zona de Estarreja, tanto abandonados, como de moradias. Os cães que foram roubados são os utilizados para treinamento de Pit Bulls e Rottweillers em combates até à morte.

O boato que corre, é que alguém recebeu encomendas de combates pelas claques que vêm ao Euro 2004. As mesmas claques de onde surgiram partidos como o PNR,o BNP britânico ou a Frente Nacional Francesa, pela «vida» e contra o aborto.

Peço-lhe: Cuide e proteja o seu cão, durante o Euro 2004.

É um elemento da sua família expandida.

E não só durante o Euro 2004, porque vivemos num país de monstros.

7 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Tentativa de suborno no Euro – 2004

A selecção espanhola foi a Santiago de Compostela implorar a bênção divina para influenciar os resultados desportivos a seu favor. A tentativa de corrupção teve lugar na própria catedral, junto do apóstolo Santiago, por intermédio do Deão. O crime foi detectado por uma operação denominada «Apito Abençoado», mas os dois investigadores principais foram transferidos para outras localidades por ordem do Anjo da Guarda, sensível às preces dos créus:

«Santa Celeste, S. Valentim, S. Gilberto, todos os santos, rogai por nós…»

Já se sabe que as análises não acusam dopping e que, no caso de serem encontradas doses excessivas de superstição, o médico da selecção garantirá que faz parte de um tratamento prescrito para a asma.

Apesar da gravidade das notícias há quem argumente que, embora seja nítida a tentativa de suborno, não afectará os resultados. E dão como prova um pedido recente feito no mesmo local, ao mesmo apóstolo e santo, pelo cardeal de Santiago, a favor dos militares que foram para o Iraque e que teve efeitos contraproducentes.

De qualquer modo, a tentativa de fraude saltou para a comunicação social, com o nome dos cúmplices, como se pode ver no Diário de Notícias: « Tu iluminas e dás forças a quem de ti se acerca. Por isso estamos aqui. Somos a selecção espanhola de futebol, quer dizer, representamos de alguma maneira todos os povos da Espanha unida por uma paixão comum: o futebol», dizia o Deão da Catedral de Compostela, Manuel Calvo, na visita da equipa de Iñaki Saéz ao apóstolo Santiago.

6 de Junho, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

Aparentemente alguém tem a ideia que este conjunto que vêem à vossa esquerda é uma boa companhia para uma reunião de amigos á volta de uns cocktails… Não imagino quem será suficientemente fanático para apanhar uma carraspana das antigas, tendo por companhia este João Paulo II sorridente.

Isto de copos e polacos, fez-me lembrar umas histórias… Alguém já ouviu falar dos prémios Darwin?

Bem… Há uns anos atrás, o agricultor polaco Krystof Azninski resolveu tomar uns copos com os amigos… o nível de álcool aumentou de tal modo no grupo, que a partir de certa altura, alguém sugeriu que se despissem, fossem para o meio da neve e jogassem “jogos de homens de barba rija”. E assim aconteceu… Primeiro, começaram por bater com nabos congelados nas cabeças uns dos outros, e nas próprias cabeças, para demonstrar o quanto conseguiam aguentar de dor, ao mesmo tempo que gritavam:

– Estão a ver!! Estão a ver!! Não há ninguém mais macho do que eu!!!

Sendo um “jogo de homens de barba rija” a coisa entrou logo em escalada… Um dos membros do grupo, no meio desta orgia de álcool e testosterona, ligou uma moto-serra e cortou os dedos de um pé, exclamando:

– Não há ninguém mais macho do que eu!!

Krystof Azninski não esteve com meias medidas, pegou na moto-serra, olhou nos olhos do seu amigo e disse:

– Então olha isto!!! Não há ninguém mais macho do que eu!! – E cortou, num só golpe o próprio pescoço.

Posteriormente, os amigos, já no meio da ressaca, afirmaram que, sim.. Krystof tinha morrido como um homem de barba rija, apesar de quando era pequeno gostar de vestir as roupas da irmã (?).

Imagino que se na Polónia os bares domésticos, tivessem uma instalação como a que vemos na imagem, não ouviríamos falar de cenas deste género… Claro que haverá sempre a eterna discussão que «a culpa era do materialismo comunista» que esteve na tão católica terra da Polónia, ou se o machismo será um valor espiritual (as famílias crentes do latino sul da Europa, assim parecem pensar…).

De resto… Qual é a semiótica da coisa? Muito simples. Para o público feminino, dá-lhe mais descanso. Afinal com todo o uso que das imagens, o catolicismo faz, imagino que as esposas fiquem a pensar que os seus maridos ficarão em boa companhia.

Quanto aos homens? A partir da segunda garrafa, pouco importa…

Quanto a mim.. Na presença de uma tal instalação, só me apetecia fazer uma coisa: apanhar uma valente bebedeira. Desopilava o fígado quando começasse a falar com o mural…

6 de Junho, 2004 André Esteves

Mil veses a morte



Esta imagem é um cartaz do início do século XX, de uma empresa portuguesa de revenda de tripas secas e salgadas. A classe burguesa era constítuida por muitos livre-pensadores e anti-clericais, que vieram a empenhar-se na revolução republicana. Embora os valores expostos, com humor, neste cartaz, sejam o estoicismo com um certo grau de niilismo, não deveriam deixar de chamar a atenção e chocar os pobres consumidores de tripas.

Como alguém já disse: «Não há boa ou má publicidade – só há publicidade.»

Se não podemos gozar com a morte, com o que poderemos?

6 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Peregrinos atropelados a caminho de Fátima

«Dois peregrinos morreram e quatro ficaram feridos, dois em estado grave, atropelados por um automóvel às 03:30, perto de Pombal, quando se dirigiam para Fátima» – informa o Portugal Diário.

Os resultados preliminares desta peregrinação apontam para 2 mortos, 4 feridos e 0 ressuscitados. Há muito que o número de mortos bate claramente o dos miraculados. E de ressuscitados não há qualquer registo.

Não se sabe a graça que imploravam ou as promessas que cumpriam. Sabe-se apenas como Deus os atendeu. Tudo o que Deus faz é bem feito – dizem os padres.

Quanto a estes mortos e feridos, o Santuário ainda não reconheceu o milagre.