Loading
3 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

A ICAR e o aborto

O secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da ICAR ameaça promover no próximo mês de Setembro uma Jornadas de reflexão sobre o tema «Dignidade da Vida Humana: Uma visão Global», eufemismo com que disfarça a campanha contra a despenalização do aborto.

Esta ofensiva vem na sequência da Nota Pastoral publicada em Março pela Conferência Episcopal Portuguesa e insere-se na luta ressabiada contra a lei civil que descriminalize o aborto, um tema recorrente dos celibatários que gerem os negócios da ICAR.

A lei vigente persegue as mulheres, devassa-lhes a intimidade, põe-lhes em risco a vida e a liberdade, mas a ICAR desenvolve uma agressiva operação de intimidação e chantagem para manter a iniquidade. Nem os casos vergonhosos dos julgamentos da Maia, Aveiro e Setúbal aquietaram o exército de sotainas, que não desiste de impor os seus preconceitos a toda a clientela e à sociedade em geral.

«Promover a vida é, para a Igreja, uma missão», esclarece a Nota Pastoral, sem explicar a contradição com a promoção da castidade.

Quanto à procuração divina, de que a ICAR se reclama, nunca exibiu o documento comprovativo.

2 de Agosto, 2004 André Esteves

Problemas genéticos no dogma mormon

Um dos dogmas base do livro dos Mormons, é de que as tribos que ocupavam a América do Norte eram descendentes das tribos hebraicas. Deus ter-lhes-ia dado aquela terra. Mais tarde até Cristo ressuscitado os teria visitado.

Claro que a análise textual demonstra que Joseph Smith teria simplesmente utilizado a versão inglesa da King James Bible, e não obtido qualquer inspiração divina para «traduzir» as tábuas de ouro com o texto original. Uma análise textual é sempre uma análise subjectiva e claro que os obrigatórios comentários das maravilhas da fé e do poder do espírito santo, contrariamente aos espíritos malignos e conspiradores dos académicos envolvidos foram reclamados pelos anciões de Salt Lake City.

O problema é que o livro dos mormons faz afirmações objectivas. E a suposta ascendência hebraica das tribos índias da América do Norte é taxativa no livro dos mormons.

Ora, se a fé dos santos dos últimos dias fosse verdadeira, os genes dos índios deveriam indicar a sua clara ligação à tribo de Israel.

Utilizando certas partes do genoma humano, ligadas às características étnicas podemos seguir as ligações de indivíduos a um grupo e das relações entre os grupos de populações. Por exemplo, os tipos de sangue predominantes, os elementos identificativos na superfície das células do nosso corpo perante o sistema imunitário, etc. Analisando a taxa de mutações nessas áreas do genoma podemos reconstruir o passado genético das populações.

Ora pelo estudo genómico, os índios americanos descendem da população asiática original. Algures no seu passado genético, tiveram antepassados que resolveram atravessar o estreito de Bering, a seu custo, em vez de judeus perdidos depositados numa terra prometida, pelas mãos do deus de Israel.

Claro que o Mormonismo não desaparecerá. Qualquer grupo têm a sua inércia reprodutiva e social interna. Os livros de Mormon serão reinterpretados. A interpretação literal desaparecerá.

Onde é que já vimos isto?

Será que os seres humanos não aprendem nunca?

2 de Agosto, 2004 André Esteves

Um Santo Truca-Truca

Um cena bizarra brindou os transeuntes do aeroporto internacional do Malawi.

Uma carrinha, com estores baixados, estacionada no parque de estacionamento do aeroporto parecia ter vida própria, abanando e oscilando como que possuída por um espírito maligno.

Chamada a polícia, esta procedeu à averiguação da situação.

Tossindo e batendo na carrinha, o agente da autoridade pediu aos ocupantes da viatura que se identificassem. Obedientes, os ocupantes identificaram-se enquanto vestiam os seus hábitos…

Um padre e uma freira no santo truca-truca.

O caso foi a tribunal por indecência na via pública. Os arguidos foram condenados a 6 meses de prisão com trabalhos forçados, mas com a sentença comutada por terem mostrado arrependimento…

A freira afirmou, publicamente, que tinha tido um lapso de mau julgamento. O padre afirmou que reconhecia ter caído na tentação do demónio.

Porque é que os machos atiram sempre as culpas para os outros?

A notícia do fait divers [Em inglês]

2 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Meia década a servir ateus

Em comemoração de meia década de funcionamento, o Ateísmo.net, aderiu às tendências e fez uma plástica. Para além do novo visual, os leitores poderão contibuir com as suas notícias e críticas literárias.

Espero que gostem!

1 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Violência religiosa no Iraque

Pela primeira vez, após a invasão dos EUA, verificou-se neste primeiro domingo de Agosto uma onda de ataques a templos cristãos.

Carros armadilhados explodiram junto de igrejas católicas de Bagdade e Mossul, durante os actos de culto, produzindo pelo menos 14 mortos e vários feridos.

Os crimes perpetrados por bandos de fanáticos muçulmanos merecem o maior repúdio e a mais firme das condenações.

Os ateus, ao manifestarem a sua indignação pelos assassínios, solidarizam-se com as vítimas indefesas que praticavam a sua religião, um direito que as tropas ocupantes tinham obrigação de garantir.

O ateísmo não compreende o ódio que os fanáticos de um deus desenvolvem pelos crentes de um deus concorrente e exigem que o direito de praticar qualquer culto e o de não praticar, sejam defendidas pelo Estado na mais absoluta neutralidade perante a concorrência religiosa.

A ICAR, apesar da benevolência com que tradicionalmente encara as atrocidades perpetradas por católicos contra crentes de outras religiões reagiu com a firmeza que a caracteriza quando as vítimas são católicas.

“É terrível e preocupante porque é a primeira vez que igrejas católicas estão a ser atingidas no Iraque (…) parece estar a haver uma tentativa de intensificar as tensões procurando afectar todos os grupos sociais, incluindo igrejas” – declarou o porta-voz do Vaticano, segundo a SIC online.

A religião é uma epidemia que produz numerosas mortes e profundo sofrimento.

1 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Mais um milagre nacional

Com grande celeridade, capaz de fazer inveja ao sistema judicial português, seguiu para o Tribunal eclesiástico o milagre que a diocese de Leiria e o Vaticano tinham combinado para elevar a santos os pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta.

O milagre com que se iniciaram no ramo, e que lhes valeu a beatificação, foi obrado na pessoa da D. Emília dos Santos, uma entrevada que começou a andar depois de lhes meter uma cunha com uma oração. Que isto foi verdade confirmaram-no três médicos de Leiria – o Dr. Felizardo Prezado dos Santos, a esposa e a filha de ambos. Como é que o Vaticano podia duvidar de três médicos tão devotos? A D. Emília morreu pouco depois, completamente curada.

Agora os pastorinhos mudaram de ramo. Viraram-se para a área da endocrinologia e curaram um rapaz de quatro anos, filho de pais portugueses emigrados na Suíça, o que torna o milagre ainda mais difícil por ser feito para o estrangeiro, com a dificuldade suplementar de a Suíça não pertencer à comunidade europeia. A criança curou-se de uma doença incurável – diabetes mellitus I.

O padre Kondor, um húngaro naturalizado português, entusiasta de Fátima e promotor dos milagres, explicou que os pais já tinham tentado o milagre junto à campa dos pastorinhos, mas que essa tentativa falhou. Finalmente, quando o Papa beatificou os videntes, «a mãe estava em casa, na Suiça, com a criança em frente da televisão que transmitia em directo a cerimónia de Fátima e pediu de novo».

D. Serafim, responsável pelo bazar dos milagres de Fátima, afirma-se disponível para constituir o tribunal eclesiástico para julgar o processo. O povo português reza para que o bispo da diocese onde reside o menino miraculado não estrague o milagre. O padre Kondor diz que ignora a posição desse bispo, para estimular a ansiedade entre os crentes.

Apostila – A Irmã Lúcia está impedida de patrocinar o milagre por se encontrar viva.

1 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

JP2, o anti-feminista e anti-homossexual

O papa criticou, ontem, numa carta enviada aos bispos da ICAR, intitulada Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração de homens e mulheres na Igreja e no mundo, o feminismo radical, a luta entre os sexos e a defesa da homossexualidade.

João Paulo II (JP2)começa por criticar «a tendência para sublinhar fortemente a condição de subordinação da mulher, com vista a suscitar uma atitude de contestação», manifestada por alguns grupos norte-americanos que pretendem justificar novas formas de sexualidade. A consequência disto é a seguinte: «a mulher, para ser ela própria, porta-se como rival do homem. Aos abusos do poder, responde com uma estratégia de busca do poder e esse processo conduz a uma rivalidade entre os sexos».

O papa também censura uma outra consequência do feminismo exacerbado: «a ideia de que a libertação da mulher implica uma crítica às Sagradas Escrituras, que veiculariam uma concepção patriarcal de Deus, vista como uma cultura essencialmente machista».

Mantendo a tendência da ICAR dos últimos tempos, JP2 afirma que «isso tem inspirado ideologias que promovem o questionamento da família, por natureza biparental e composta de uma mãe e um pai, colocando num mesmo plano a homossexualidade e heterossexualidade».

No entanto, este documento centra o seu ataque no movimento feminista radical americano liderado por Judith Butler. A carta foi elaborada pela Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora do Tribunal do Santo Ofício e chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger, cuja actividade principal é condenar e bloquear qualquer ideia ou teoria que contradiga o Vaticano.

Para lutar contra os movimentos que promovem a luta dos sexos, o papa reitera a necessidade da «presença das mulheres no mundo do trabalho e nas instância da sociedade».

«É necessário que as mulheres tenham acesso a postos de responsabilidade que lhes dêem a possibilidade de inspirarem os políticos e de promoverem soluções novas para os problemas económicos e sociais», refere ainda JP2 no texto.

1 de Agosto, 2004 jvasco

Entrevista recente a Dawkins

Num inquérito de uma revista britânica sobre os “100 maiores intelectuais”, Dawkins, biolólogo de referência e ateu incontornável, atingiu recentemente o topo. Em si a notícia não tem grande interesse: estas classificações de “100 maiores intelectuais” (tal como outras do género) estão mais relacionadas com a projecção mediática do que com o trabalho desenvolvido.

O que há de interessante nesta notícia, é que a BBC aproveitou para fazer, a propósito, mais uma entrevista a Dawkins. Tal como os restantes textos dele, vale a pena ler esta entrevista.

31 de Julho, 2004 Ricardo Alves

Não, «Jesus Cristo» não existiu!

Ao discutir a crença na existência histórica de Jesus Cristo, devemos definir previamente de que «Jesus Cristo» estamos a falar.

É óbvio que não existiu o «Jesus Cristo» milagreiro que fora concebido por uma pomba, teria ressuscitado, multiplicado pães, transformado água em vinho e sido protagonista de outros acontecimentos sobrenaturais que contradizem todo o nosso conhecimento, científico ou empírico, sobre o mundo material. Mesmo alguns católicos (os mais esclarecidos) concordarão que essas alegações são falsas, e defender-se-ão reclamando que são meras metáforas ilustrativas, com valor estritamente poético.

Porém, quase todos os seguidores das várias seitas cristãs se recusam a aceitar que não existiu historicamente um homem real que tivesse fundado uma nova religião, fornecendo algumas palavras e gestos posteriormente retomados e difundidos, e que tivesse inspirado os autores dos Evangelhos (canónicos e apócrifos). É este mito, o mito do Jesus Cristo histórico, que deve ser refutado.

O problema não deve ser comparado com o de provar a existência de outros fundadores de novas religiões, como Lutero ou Maomé. O segundo é referido sobejamente em vários relatos históricos, conduziu exércitos e deixou descendência. O primeiro é referido por um número significativo de fontes coevas. Quanto a «Jesus Cristo», a verdade é que os historiadores e cronistas do 1º século da nossa era não o referiram. Cerca de quarenta historiadores romanos e judeus, que escreveram sobre os acontecimentos políticos, sociais e religiosos da Palestina do século I, não registaram nada quer sobre os acontecimentos que os Evangelhos supostamente relatam, quer sobre o hipotético fundador da seita cristã, «Jesus Cristo». Os Evangelhos são portanto, quando muito, relatos teológicos e não jornalísticos sobre a evolução de uma nova religião a partir de um ramo do judaísmo (há razões para pensar que esse ramo coincidiria originalmente com a seita essénia). Deve notar-se que os Evangelhos segundo Mateus, Marcos e Lucas são referidos pela primeira vez por Irenaeus, em 190 n.e., e o Evangelho segundo João em 180 n.e., por Teófilo de Antioquia. São portanto, presumivelmente, muito posteriores aos acontecimentos que pretendem relatar.

Existem, no entanto, algumas referências que os cristãos costumam alinhar em defesa do suposto carácter histórico de «Jesus Cristo». Referem com insistência, por exemplo, uma passagem das «Antiguidades dos Judeus» de Flávio Josefo, um Fariseu que nasceu no ano 37 da n.e. (e que portanto não poderia ter sido testemunha ocular de um «JC» hipotético que tivesse sido crucificado por volta do ano 30). A referida passagem diria o seguinte:

«Por volta deste tempo, viveu um homem chamado Jesus, se lhe podemos chamar um homem.(…) Ele era o Messias. Quando Pilatos (…) o condenou a ser crucificado (…) ele ressuscitou ao terceiro dia (…) e a tribo dos Cristãos, assim chamada a partir dele, não desapareceu até hoje».

Na realidade, esta passagem só pode ser uma interpolação cristã. Josefo era um Fariseu, e não se referiria a um «Messias» a menos que se tivesse convertido ao cristianismo, o que sabemos que não aconteceu porque Orígenes, um cristão do segundo século n.e. que conhecia os escritos de Josefo, afirmou que este não era Cristão. E Clemente de Alexandria, um dos primeiros polemistas cristãos, nunca usou esta passagem na sua propaganda, tendo a primeira referência ao «testemunho» de Josefo sido feita pelo cristão Eusébio em 324 n.e. Pode portanto concluir-se que esta passagem é falsa. Trata-se de uma interpolação (tal parece óbvio aos especialistas, também do ponto de vista estilístico), sem dúvida feita por cristãos para efeitos de propaganda.

Outra passagem muito citada é de Tácito, nos seus «Anais», escritos por volta do ano 120:

«Nero (…) puniu (…) uma classe de homens odiados pelos seus vícios, a quem chamavam Cristãos. Christus, o seu fundador, sofrera a pena capital durante o reinado de Tibério, por sentença do procurador Pôncio Pilatos.»

Esta passagem é também, muito provavelmente, uma interpolação posterior, uma vez que é referida pela primeira vez no século XV da nossa era! Nenhum propagandista cristão anterior a essa data lhe fez referência, nem à mítica perseguição de Nero aos cristãos, mesmo aqueles que conheciam os escritos de Tácito!

Finalmente, no século I n.e. Paulo de Tarso (possivelmente o homem mais importante na invenção do cristianismo) nas poucas epístolas que podem ser atribuídas, sem margem para dúvidas, a um mesmo autor, jamais se refere a um Cristo histórico. Aliás, não refere alguns dos mitos mais importantes do cristianismo, como o nascimento a partir de uma virgem ou os milagres que lhe concederiam os foros de «divindade». Estas lendas devem portanto ser posteriores ao século I. Deve ainda acrescentar-se que a maioria dos aspectos relevantes da pseudo-biografia de «Jesus Cristo», longe de serem originais, são comuns a outros mitos religiosos da bacia mediterrânica. É esse o caso do nascimento a partir de uma virgem (um elemento recolhido no culto de Mitras). «Jesus Cristo» é portanto um mito, inventado por uma religião nascente.

Nota final: este texto beneficiou grandemente com a leitura de «Did Jesus Christ really live?» de Marshall J. Gauvin, «Did Jesus Exist?» de Frank R. Zindler e «Christ a fiction» de Robert M. Price. Uma descrição da génese do mito cristão, de um ponto de vista judaico, é dada em «O mito do Jesus Histórico», de Hayym ben Yehoshua.