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16 de Agosto, 2004 Palmira Silva

Da sexualidade e da ICAR, I: o pecado original

Estreio-me no Diário de Uns Ateus com um artigo em duas partes que tenta contextualizar a demonização do sexo e explicar (se é que no século XXI se consegue perceber) esta obsessão da Igreja em ser juíza da libido alheia. Que tem simultaneamente a ver com a demonização e menorização da mulher pela ICAR. Dia 31 de Julho Joseph Ratzinger da Congregação para a Doutrina da Fé (ex- Santo Ofício da Inquisição) divulga a sua carta aos Bispos católicos onde condena o feminismo, a «ideologia do sexo» e reitera a proibição da ordenação de mulheres. Neste pequeno excerto pode comprovar-se que o pensamento de Agostinho continua actual:

«Nas palavras que Deus dirige à mulher a seguir ao pecado, é expressa de forma lapidar, mas não menos impressionante, o tipo de relações que passarão a instaurar-se entre o homem e a mulher: «Sentir-te-ás atraída para o teu marido e ele te dominará» (Gen 3,16).»

De facto, foi Agostinho de Hipona que moldou o ideal da «piedade» cristã mais do que qualquer teólogo antes ou após ele e para Agostinho as mulheres eram um perigo moral. A fobia da mulher que se encontra em Agostinho, apenas entendida como uma aberração particularmente grotesca, que infelizmente se consolidou de pedra e cal na Igreja pela pena fácil e erudita de Agostinho, que o colocou entre os imortais da literatura mundial, teve consequências nefastas, especialmente para as mulheres e para uma sexualidade saudável.

Uma «pérola» de Agostinho:

«Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias erecções em santos homens».

Um pouco antes de completar o penúltimo livro da suas «Confissões», aproximadamente em 400, Agostinho implorou a Deus que se fosse ele o encarregado de escrever o Génesis como anteriormente o fora Moisés, desejaria «receber de Vós uma tal arte de expressão que…até aqueles que não podem compreender como é que Deus cria… acreditassem nas minhas palavras.»

Assim, sem qualquer incumbência divina mas tentando resolver as suas torturas pessoais, com a espantosa capacidade literária que os seus escritos testemunham, após ter terminado as Confissões iniciou uma interpretação pessoal do Génesis – De Genesi ad Litteram – em que o sexualidade e a depreciação do sexo são a nota dominante.

Donde viria, indagava ele, essa miséria que nos cerca, a corrupção, as heresias e a maldade? Existia na sociedade, concluiu ele, uma mancha indelével motivada pelo pecado original proveniente do impulso sexual. Pecado original que acompanhava a humanidade desde a queda do Paraíso: a queda de uma natureza angelical, incorpórea, para uma realização do corpo, do sexo, cometido com a dentadinha na maçã da maldita Eva que levou Adão a reconhecer a nudez (e implicitamente a sexualidade).

Tentando resolver a aparente contradição entre o «crescei e multiplicai-vos» e o acto impuro subjacente à multiplicação ou seja, como permitir a reprodução sem prazer sexual, Agostinho, bispo de Hipona, criou a sua doutrina sobre o casamento, o sexo e a privação carnal. Adoptada entusiasticamente pela nossa Santa Igreja até hoje. Infelizmente…

A pena de Agostinho deu à sexualidade uma conotação de algo maligno, humilhante, de perversão e vício. Para a ICAR depois de Agostinho o sexo passou a ser associado a um discordium malum, a «prenda» do Mafarrico disfarçado de serpente à pecaminosa Eva que para sempre agrilhoou a carne à Terra e a afastou dos céus e de Deus!

E como qualquer Freud de trazer por casa pode explicar, o problema de Agostinho foi o mesmo que os ex-fumadores experienciam: não suportam sequer o «cheiro» do que renunciaram…

Isto é, a obsessão de Agostinho em denunciar a sexualidade deve-se a ele ter sido um renegado do erotismo. Como abjurado das paixões sensuais, votou intenso ódio ao que, no passado, o atraiu, lamentando ter desperdiçado tanta energia nos prazeres carnais. Ele mesmo não negou ter sido dominado na sua juventude por uma intensa volúpia, pela lascívia, ao ponto de que, em determinado momento, quando pediu a Deus que o fizesse casto, acrescentou… «mas não ainda!».

Com a sua conversão ao cristianismo (Agostinho era originalmente maniqueísta), atribui as culpas do seu anterior pecaminoso comportamento a outrem. Ou seja, a culpa da sua perversidade devia-se às mulheres que o tinham seduzido. Daí todo o anátema em relação às mulheres.

Até hoje os celibatários da Igreja acreditam que o perigo tem feições femininas, as mulheres são impuras e como tal se opõem ao que é santo. Ou seja, são seres humanos de segunda classe a que muito relutante e tardiamente concederam a benesse de possuirem alma!

16 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Fim de semana em Lourdes

1 – O Papa JP2, antes de visitar a mais concorrida Agência de milagres – Lourdes -, ainda no Vaticano, mandou uma bênção para os gregos, anfitriões dos jogos olímpicos.

Embora inútil, sabe-se que a bênção é desejada pelos católicos, mas é um abuso quando se dirige a quem não a pede e despreza o benzedeiro. É o caso dos cristãos ortodoxos.

Imagine-se que, durante o Euro 2004, o Arcebispo de Cantuária, da Igreja anglicana, o Patriarca Bartholomeo, primaz dos ortodoxos em todo o mundo, o Imã da mesquita de Meca, o rabi de Jerusalém, um importante Ayatollah e outros parasitas de Deus distribuídos pelo planeta, tinham enviado a sua bênção aos portugueses! Até os ateus poderiam ter sido agredidos com um acto de prepotência e autoritarismo idêntico ao que JP2 se atreveu a protagonizar. Ridículo.

2 – JP2 esteve 31 horas em Lourdes e presidiu a uma missa em que colaboraram quinze cardeais, cem bispos e centenas de padres. Segundo a Conferência Episcopal Francesa – associação dos bispos da sucursal francesa da ICAR – assistiram à missa 300 mil peregrinos. Mesmo sem descontar o exagero habitual dos publicitários trata-se de um número modesto de clientes, longe do entusiasmo que os primeiros comícios do seu pontificado provocavam. Bom sinal.

3 – Nesta viagem – a 104.ª que realiza vestido de Papa – JP2 considerou-se um «homem doente entre os doentes», igual a todos os outros que se deslocam ao santuário, à espera de uma cura miraculosa. Sabe-se que Deus não o atendeu pois a doença mantém-se estacionária. Eis um mau sinal para os crentes que vêem o representante do único Deus verdadeiro abandonado pela entidade patronal.

16 de Agosto, 2004 pfontela

Erros, abusos e má fé

Ontem o decrépito líder católico dirigiu-se aos peregrinos em Lourdes, proferindo um discurso de «apoio à vida» onde condenou a eutanásia e o aborto. Não há nada de surpreendente nestes factos, já desde há muito que não esperamos ouvir nada de razoável dos representantes dessa corte medieval que é o Vaticano. O facto de um embrião com dias ou poucas semanas não ser vida humana por nenhum padrão aceitável cientificamente não impende a ICAR de continuar a insistir na sua versão errónea. Mas há uma história algo divertida por detrás de toda esta posição. Tudo começa com Tomás de Aquino, que defendia que o embrião não tem alma até várias semanas depois do inicio da gravidez, aceitando assim o princípio de Aristóteles que dizia que a alma é a «forma substancial» do ser humano. De forma simples este princípio implica que não existe alma até se ter um corpo distintamente humano. Ora, Tomás de Aquino sabia que um embrião não tem uma forma humana desde o momento da concepção e assim chegou à sua conclusão de que até ao fim de algumas semanas não havia alma. A ICAR aceitou este ponto de vista oficialmente em 1312 no Concílio de Viena. Durante o Séc. XVII ao observar óvulos fertilizados em microscópios primitivos vários cientistas pensaram ter observado pequenas pessoas completamente formadas (chamaram-lhes homúnculos). A ICAR, seguindo o seu ponto de vista, afirmou que visto terem forma humana desde a concepção, tinham que ser tratados como seres humanos e seguiu-se a condenação total do aborto. Ora hoje sabemos que tais homúnculos não existem, tratou-se apenas de um erro de observação. Mas enquanto a ciência progrediu a posição da Igreja manteve-se inalterada, mesmo sendo sustentada por um erro com quase 400 anos. É de notar que a posição do concílio de Viena nunca foi revogada.

Depois temos a posição sobre a eutanásia que além de atentar contra a mais básica liberdade do indivíduo (a de dispor da sua vida como entender) é francamente desumana. Para quando políticos com coragem para enfrentar estes MIB (Men In Black – também conhecidos por padres) e repor a dignidade e liberdade humanas?

Ao longo de uma cerimónia que durou 3 horas (zzzz…) houve ainda tempo de exortar as mulheres católicas contra o materialismo e a secularização… não vá um dia acontecer que essas duas coisas possam de facto torná-las iguais.

14 de Agosto, 2004 jvasco

Reflexões filosóficas de Schrödinger

Schrödinger deu um contributo gigantesco à Física por, entre outras coisas, ter sido o autor da equação homónima, a qual é fundamental para a mecânica quântica.

Mas a sua obra não se limitou à Física. Acabei agora de ler dois livros que vivamente aconselho: «A Natureza e os Gregos» e «Ciência e Humanismo». Fazem parte da colecção Perfil – História das Ideias e do Pensamento, que pertence às edições 70. O primeiro livro é sobre a relação entre o pensamento filosófico e científico dos Gregos, o segundo é sobre as consequências epistemológicas da mecânica quântica, sobre o impacto da Ciência na Filosofia, sobre o impacto mútuo que as ideias de um campo têm no outro.

A última das questões que aborda é, em concreto, sobre se o indeterminismo consequente da mecânica quântica vem (ou não) salvar o livre arbítrio, o qual não existiria num Universo determinista.

A questão em si é extremamente interessante e profunda e, além central no debate filosófico, também o é num debate religioso sério. Schrödinger, aliás, não foi alheio a essa questão, e também se pronunciou sobre a «crise da causalidade» que S. Agostinho, anterior à mecânica quântica, teve de enfrentar:

«Tal como se sabe, a grande dificuldade de S. Agostinho foi precisamente esta: sendo Deus Omnisciente e Todo-Poderoso, não posso fazer nada sem que Ele o saiba e o deseje – não só que o consinta, mas que o determine. Como é que, então, posso ser responsável pelo que faço? Suponho que a atitude religiosa para com esta forma da questão terá de ser a seguinte: nesta situação estamos perante um mistério profundo no qual não podemos penetrar, mas certamente não devemos tentar resolver através da negação da responsabilidade. Acho que não devemos tentar, ou será melhor que não tentemos, porque senão falharemos deploravelmente. O sentimento de responsabilidade é congénito, ninguém o pode pôr de lado.»

11 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Uns dias de ausência

É a vantagem de um Diário colectivo. Nos quatro ou cinco dias que estarei ausente não faltarão textos de combate ao obscurantismo e à superstição.

Quanto aos créus que nos visitam continuarão convencidos de que têm o reino dos céus à espera, à semelhança dos muçulmanos que contam com 70 virgens para se banquetearem após o martírio. (Para as mulheres, as religiões só lhes reservam um papel secundário e muito sofrimento).

Deixo também uma palavra para os judeus ortodoxos, com trancinhas à dama das Camélias, para que não acreditem na Tora. É tão falsa quanto a Bíblia ou o Corão.

Os crentes são sempre uma delícia. A purga está na beberagem com que os padres os envenenam. E, para vergonha, estão impedidos de dizer mal dos milagres que lhes impingem.

P.S. Volto na próxima segunda-feira.

11 de Agosto, 2004 André Esteves

Noruega: Exorcismos de «agarrão» em escola protestante

A Noruega tem na parte sul do seu território, uma zona com uma elevada densidade populacional de protestantes fundamentalistas. Uma das «bible belts» da Europa (cintura da bíblia – expressão originada nos EUA para descrever o midwest americano e a elevada religiosidade fundamentalista da sua população). Ao longo dos anos, tenho seguido vários «fait divers» vindos desta região, mas o último merece menção.

Iniciou-se há aproximadamente um ano, uma polémica à volta de uma escola privada fundamentalista desta região, que se recusava a mudar o nome do director da escola. Razão: O director da escola seria, nada mais, nada menos que Jesus Cristo…

Ora, apesar destas pequenas manifestações burocráticas de fidelidade aos céus, há uma razão muito simples para que o director de uma escola seja um mero pecador. Em última análise, alguém tem que tomar responsabilidades. E essa pessoa é o director da escola.

Corrigida a situação, depois de muita gargalhada, vociferação e ameaças divinas nos meios de comunicação noruegueses, chega-nos a notícia que a última auditoria ao colégio pelo ministério da educação norueguês, revelou que o verdadeiro director tem algumas práticas inovadoras para lidar com o pessoal docente.

Quando lhe dá na cabeça, resolve exorcizar os professores. Pior, fá-lo de uma maneira nada tradicional: agarra-os pela cintura, quase como a manobra de Heimlich e sacode-os no ar enquanto procede ao exorcismo. Um dos professores do colégio, comentou que quando enfrentou pela primeira vez um dos exorcismos do reitor, desabafou para si próprio «que não há limites para o que se vai experimentar nesta vida…»

A escola replicou publicamente que o relatório do ministério é unilateral, tendencioso e mentiroso. Em privado, devem afirmar que o ministério da educação norueguês está todo possuído por espíritos malignos e que os tempos do fim do mundo se aproximam.

A notícia do Fait Divers. [Em inglês]

Comentário: As desculpas que as pessoas arranjam para se esfregarem nos outros! Possessão pelo demónio? Porque é que não se metem num autocarro cheio de gente, na hora de ponta?! Ou precisam de afirmar, de uma forma animal, a sua dominância sobre os outros, como aqueles cãozinhos de peluche que saltam para as pernas das visitas?

11 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

O novo milagre dos pastorinhos está bem encaminhado

O cardeal D. José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, ameaçou que, se a saúde do Papa o permitir, JP2 voltará a Portugal para canonizar os Beatos Francisco e Jacinta Marto, um excelente golpe publicitário.

O cardeal português, denodado promotor de milagres, arranjou uma criança de quatro anos, filha de emigrantes portugueses, residentes na Suíça, para os «pastorinhos» curarem de uma doença que não consta habitualmente do cardápio dos milagres – diabetes.

O facto de estar conluiado com o padre Luís Kondor, «vice-postulador para a causa da canonização dos pastorinhos» e com o próprio Papa, não coloca nenhum deles sob a alçada dos tribunais portugueses, pois o Vaticano é um bairro com o estatuto de Estado.

Até hoje, por mais grosseiro que tenha sido o milagre, por mais obsceno que seja o embuste, ninguém processou os autores pelo crime de burla. Não há, aliás, na União Europeia, legislação que preveja este tipo de crime, o que inviabiliza o recurso aos tribunais. Resta um apelo às associações para a defesa do consumidor.

E, atendendo aos benefícios financeiros para o turismo religioso, seria difícil provar a intenção fraudulenta e, mais difícil ainda, a associação criminosa.

Assim, resta aos crédulos esportular o óbolo e aos incréus corar de vergonha.

11 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

A ICAR despreza as mulheres

Por muito reaccionário que seja um papa, por mais misógino que o desvario místico o tenha feito, por maior que seja o seu preconceito contra as mulheres, haverá sempre lacaios piedosos prontos a incensar a sua bondade e a bajular os seus lugares comuns. Quem aprecia este papa fará o panegírico do próximo e dos que vierem depois. Julgam conquistar a bem-aventurança eterna com a falta de espírito crítico ou os piedosos embustes para maior glória da ICAR.

Tenho pelos crentes a simpatia que me merecem os bem intencionados mas nutro pela fé a animosidade que à mentira é devida. Não desprezo os que crêem, recrimino os charlatães que fazem do embuste a profissão.

Nunca recriminei os drogados, apenas condeno os passadores de droga.

O Diário de Notícias de hoje lembra que no Chile o divórcio só será autorizado a partir de Novembro, permanentemente impedido pela influência da ICAR. Igualmente lembra a encíclica Humanae Vitae onde, em 1968, Paulo VI interdita a pílula às mulheres.

Paulo VI desprezava as mulheres, sentimento compensado pelo afecto que nutria pelos homens.

11 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

O custo de uma peregrinação

O papa vai a Lourdes, dia 14 e 15 deste mês, por alturas da festa da Assunção e da comemoração dos 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, por Pio IX.

Quanto custa esta peregrinação? Uns meros 1,5 milhões de euros! De acordo com informações do santuário, os gastos serão divididos entre os participantes da visita do papa, sendo pedida uma taxa aos jornalistas que viagem no avião papal. Uma vez que não serão pedidas ofertas durante os ritos presididos por JP2, os peregrinos receberão uma proposta (e apenas uma proposta, notem bem) para contribuirem ao chegarem ao recinto. Na verdade, a organização sugere uma soma mínima de 10?, uma vez que não se trata de uma entrada.

Se se questionarem sobre o destino do dinheiro, os peregrinos, jornalistas e outros contribuintes poderão consultar o orçamento previsto para aqueles dois dias. Por exemplo, sanitários: 114 218?; segurança (inclui t-shirts e crachás): 181 005?.

Pergunto: a ICAR não ajudaria mais desfavorecidos se investisse aqueles 1,5 milhões de euros, sei lá, em educação? Ou na implementação de estruturas criadoras de emprego? Ou em programas de reflorestação?

10 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

A castidade é um voto à espera de ser violado

Faz pior à Fé o cio dos seus padres do que as mentiras da sua religião. A onda de relaxação que tem atingido o clero católico, um pouco por todo o lado, em especial nos Estados Unidos, não pode deixar de suscitar perplexidade em Portugal onde a irrepreensível conduta e acendrado amor à castidade têm sido apanágio constante dos seus virtuosos bispos, padres e freiras.

Mas, quem tenha lido «La vida sexual del clero» de Pepe Rodriguez verifica que se repete nos EUA o que se passou em Espanha, só com clérigos cujas sentenças judiciais transitaram em julgado.

Doloroso para a ICAR foi certamente o caso relatado em 2001 de padres que violaram sistematicamente freiras com medo da SIDA. Mais dramático foi seguramente a resignação a que foi obrigado o velho cardeal de Viena Hans Herman Groer pela sua propensão pedófila ou do polaco Monsenhor Juliusz Paetz, arcebispo de Poznan, de 67 anos, antigo colaborador de João Paulo II, que lhe aceitou a demissão por abusar de padres e seminaristas ou vice-versa.

No ano de 964 o Papa João XII foi morto com uma marretada na cabeça por um marido que não tolerou encontrá-lo na cama com a sua mulher. A um antigo e prestigiado cardeal de Paris Jean Danielou foi Deus servido de chamá-lo à Sua divina presença quando se encontrava nos braços de uma espectacular bailarina de strip-tease de 24 anos, Mimi Santoni.

As alcovas do Vaticano deram origem a milhares de páginas de sórdidas condutas com destaque para Alexandre VI. Contudo o que é verdadeiramente novo é a aplicação do Código Penal americano que responsabiliza as dioceses pelos procedimentos impróprios dos seus padres. Assim, independentemente das tentativas de encobrimento que revelam baixeza ética e cumplicidade, o que agora está em causa é a falência das dioceses que poderão ver-se impedidas de prosseguir a sua missão espiritual por falta de verbas. A generosidade dos crentes passou a ser inferior ao rigor dos tribunais.

Estes escândalos alertam para a prudência que as sotainas devem merecer aos pais. O clero da ICAR não tem um cio mais escaldante que os profanos ou uma maior diversidade de hábitos sexuais. Naturalmente que a condenação ao celibato lhes há-de criar mais inibições e recalcamentos. Por isso nos devem merecer maior compreensão e benevolência.

A condenação vai sobretudo para a Cúria romana cuja hipocrisia e crueldade condenam ao celibato os jovens que escolhem como modo de vida servir o corpo e o sangue de Cristo às rodelas durante a missa.