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1 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

A religião e os interesses nacionais

Como várias vezes foi aqui referido no Diário de uns Ateus, a obsessão do Papa JP2 por uma Croácia católica precipitou a desintegração da Jugoslávia e provocou a imensa catástrofe que se conhece.

Os interesses da Alemanha e do Vaticano conjugaram-se para fazer da Croácia, país que foram os primeiros a reconhecer, a brecha por onde emergiram as rivalidades étnicas, se acicataram os ódios religiosos e despontou o caos.

Helmut Kohl, europeísta convicto que aprecio, e João Paulo II, sem qualquer razão para admirar ou respeitar, foram os principais responsáveis pela maior tragédia europeia depois da guerra de 1939/45.

No julgamento a que está a ser submetido no Tribunal Penal Internacional, Slobodan Milosevic, criminoso de guerra que foi Presidente da Sérvia, eleito democraticamente (ao contrário do Papa), acusou o Vaticano e a Alemanha de terem formado uma «união perfeita» para destruírem os Balcãs e o Vaticano de querer «destruir a Sérvia para assegurar a sua expansão em direcção ao Leste». (1)

Independentemente dos crimes de que é acusado, e pelos quais responde, as suas acusações não são calúnias de um vencido, são verdades que a história corrobora. Infelizmente só os criminosos caídos em desgraça são julgados. Os outros dizem missas, fabricam santos, vendem indulgências, intrigam e corrompem ou gozam a reforma.

Apostila – (1) As negociatas em torno do ícone de Kazan revelam o proselitismo que devora o Papa. A devolução à igreja ortodoxa russa da imagem extorquida, tem sido acompanhada de forte movimentação diplomática do Vaticano para permitir a JP2 a realização de um comício na Rússia. O desejo tem-lhe sido sistematicamente recusado, por questões de defesa do mercado da fé cujo monopólio a Igreja ortodoxa pretende assegurar, à semelhança da sua concorrente ICAR nas regiões onde domina.

1 de Setembro, 2004 André Esteves

Cristo na Índia

Confesso que gosto de investigar o lado estranho das coisas. Encontramos nas franjas da nossa visão do universo as incoerências dessa mesma visão. E surge aí a oportunidade para a descoberta. Sou um leitor regular do «Fortean Times». A sua regularidade e qualidade das exposições são um ponto de referência.

Charles Fort era um jornalista inglês, do século XIX, que dedicou a sua vida a investigar todo o género de fenómenos estranhos que escapavam à visão contemporânea das coisas. Fantasmas, monstros, fenómenos meteorológicos estranhos, extra-terrestres, todos os mitos do nosso presente foram por ele acompanhados, quando ainda nem sequer havia arquétipos para essas «histórias».

Apesar de ser um utilisador do método científico e amante do rigor dos factos, sempre foi um grande crítico da prática corrente da ciência, por querer ignorar os fenómenos que mais se afastavam das abstracções dos académicos (que também temos de compreender, em retrospectiva, primeiro precisamos de bases sólidas antes de investigar o resto da realidade).

Um renegado numa época positivista. Por isso, hoje, ele têm a minha atenção.

Encontra-se neste momento no site do Fortean Times, um artigo deveras interessante:

Terá Cristo estado na Índia? [Inglês]

Algures, na Caxemira em guerra, existe um edifício deveras singular: o lugar onde talvez esteja enterrado Jesus Cristo…

1 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Secretaria de Estado do Turismo

O secretário de Estado deslocado para o Algarve elegeu como primeiro acto oficial uma visita ao bispo de Faro.

Desconhece-se se o beija-mão de Carlos Martins se insere num gesto de subserviência à Igreja ou integra o programa de Governo para o sector do Turismo.

Não foi o bispo que visitou o governante, mas o contrário, num acto que envergonha a República e compromete o carácter laico do Estado. Parece importar mais ao ajudante do ministro Telmo Correia a salvação da alma do que a defesa dos interesses de um sector vital para a economia nacional.

31 de Agosto, 2004 André Esteves

Obrigado

Pedimos as vossas sugestões e críticas.

A todos, obrigado.

31 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Diário de uns Ateus

Após algumas tentativas,em finais de 2003, à experiência, o Diário de uns Ateus começou o ano de 2004 com um dinamismo estimulante.

Em 31 de Agosto verificamos que ocupa o 42.º lugar em média de visitas e o 28.º em média diária de páginas visitadas, aguentando bem o período de férias.

Agradecemos afectuosamente aos numerosos amigos que nos visitam e, muito particularmente, ao devotos que nos abominam.

É com enorme satisfação que assistimos à derrota de Deus.

31 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

O bispo, o cardeal e o barco

D. Jacinto Botelho, bispo de Lamego e presidente da Comissão Episcopal da Família, sobre o «barco do aborto», afirmou que «o problema fundamental não é o barco mas o aborto» demonstrando uma grande capacidade para captar os problemas da sociedade.

Não se ficando por esta constatação óbvia, o bispo disse que tal intervenção provocada num barco ou numa clínica «não muda a natureza da perversidade». Mais uma vez, vemos alguém da hierarquia católica, com as suas noções de moralidade que pretendem ser todas-poderosas, a demonizar uma forma de melhoria das condições de vida das mulheres. Sim, porque as mulheres querem-se submissas e parideiras!

Relativamente ao tratamento da chegada do «barco do aborto» a águas territoriais portuguesas (ao seu limite exterior, leia-se), Jacinto Botelho disse que o assunto é um «exagero» visto que promove «um atentado contra a vida». Portanto, o senhor bispo também deve ser contra os noticiários que relatam genocídios, guerras, assaltos e homicídios.

O barco «só pode causar polémica», afirma, uma vez que «não há ninguém bem intencionada que possa concordar com esta exibição» e adianta que a iniciativa não passa de «uma forma de exibicionismo». Claro que o barco das «Women on Waves» é uma exibição, como aliás é uma exibição toda e qualquer manifestação! Quanto às boas intenções, seria interessante que o senhor bispo explicasse onde estão elas quando milhares de mulheres se submetem a redes de aborto clandestino pagando, não raramente, com a ousadia de quererem ser donas do seu destino.

Em jeito de remate, o presidente da Comissão Episcopal da Família considera que é «contraditório» que as mesmas pessoas que «fazem manifestações contra a guerra sejam apologistas do aborto»… como se ambas as coisas fossem comparáveis.

O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, considerou a iniciativa da organização holandesa «uma provocação». Apesar de considerar importantes o debate e a liberdade de expressão e de vivermos numa sociedade livre, «os países têm a sua dignidade», mas não esclareceu se essa dignidade inclui a condenação judicial e a estigmatização de mulheres que decidiram abortar.

Aos cristão, o cardeal pediu que não se encolham sempre uma questão seja colocada de forma mais agressiva, reiterando a «clareza da posição da Igreja Católica em relação a esta matéria», ou seja, a manutenção de redes clandestinas de abortos, de viagens a Espanha e de mortes, de muitas mortes.

31 de Agosto, 2004 André Esteves

A lambona da vaca sagrada

Através da newsletter semanal News Of The Weird/agência de notícias France Presse, chega-nos a notícia de que no Cambodja assiste-se a uma autêntica romaria para visitar uma recém-aparecida vaca sagrada.

A mística vaca nasceu na aldeia de Phum Trapeang Chum, ela também um lugar sagrado.

Mais de 400 peregrinos amontoam-se à porta do dono da vaca, para por ela serem lambidos.

Tudo começou com a notícia, dada pela mulher do dono da vaca, de que teria ficado curada de uma doença crónica pelas lambidelas da vaca. Depois de aparecerem várias histórias semelhantes no Cambodja começou a peregrinação à vaca.

Sobre as capacidades curativas da vaca nada podemos afirmar. No entanto, parece ser realmente uma santa vaca, com enormes atributos de santidade. Segundo o seu dono, ela só lambe o peregrino depois de ter visto o dono receber o equivalente a 13 cêntimos americanos que permitem 4 lambidelas.

A noticia – News of the Weird [Inglês]

30 de Agosto, 2004 André Esteves

O bem mais precioso de um homem livre

Para um crente fechado no seu mundo de Deuses e Demónios, os pecados, as proibições, as obrigações (até o amor se transforma numa obrigação!), as necessidades que lhe foram impostas ou induzidas, são as fronteiras de um mundo que o prendem à sua crença.

Sabem qual é o bem mais precioso de um homem livre?

Os seus erros.

Porque ele é livre para aprender com eles.

30 de Agosto, 2004 Palmira Silva

Ética, livre arbítrio e pecado original

Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais,

Pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência,

Salvo o ter criado tudo, e o ter criado tudo ainda é inconsciência,

Porque é preciso existir para se criar tudo,

E existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser,

E ser possível haver ser é maior que todos os deuses


Fernando Pessoa

Deve-se a Dario Hystapis, um dos grandes reis aqueménidas (538-330 a.C.), um fenómeno que perdura até ao século XXI, a atribuição ao governante da defesa do Bem e da Verdade, projectando sobre seus adversários, quaisquer que sejam, a pecha de serem os defensores da mentira e do mal. Integrado na civilização ocidental, constitui, de facto, a essência da Ideologia, essa «religião civil» da nossa época ou meme comum aos vários memeplexos políticos actuais.

O origem dessa dicotomia ética aplicada à política encontra-se no dualismo original da religião persa, codificada por Zarathushtra ou Zoroastro, em que Ormudz ou Ahura Mazda é o detentor da bondade e veracidade, em oposição a Arihman, o «grande satã», deus do mal e da mentira.

Continuada por Mani ou Manes (séc. III), que criou uma religião que pretendia ser ecuménica, o maniqueísmo, em que são integrados elementos do hinduismo, zoroastrismo e cristianismo. O maniqueísmo é fundamentalmente uma versão de gnosticismo, para o qual a salvação depende do conhecimento (gnose) da verdade espiritual. Como todas as formas de gnosticismo, prega que a vida terrena é dolorosa e inevitavelmente perversa. Essencialmente para o maniqueísmo há uma eterna guerra entre dois princípios primários que seriam o Bem e o Mal. E, como o artigo da Mariana demonstra, bases maniqueístas permeiam ainda hoje a ética da ICAR.

Na realidade, a maior parte dos sistemas éticos absolutos associados às religiões do livro está baseada numa dualidade simplística de recompensa e castigo, céu e inferno, em que as religiões reveladas e seus legítimos representantes são os árbitros finais da verdade. Decidindo quem são os bons e quem são os maus. Mas que levanta a questão: se Deus é omnipotente e todos os restantes omni, qual a origem do mal? Para ver como a ICAR resolveu a aparente contradição dogmática nada melhor que as palavras do grande teólogo do cristianismo, Agostinho de Hipona.

«Peço que me digas se Deus não é o autor do Mal.»

Assim é aberto por Evódio o diálogo «O Livre Arbítrio», evidenciando que a suspeita de que o Mal possa ser atribuído a Deus era algo comum à época, e especialmente desafiador para alguém, como Agostinho, que fora um maniqueísta. Se, para o Cristianismo, existe apenas uma entidade suprema e eterna, Deus, e se dele tudo provem, também seria ele a fonte do Mal. Para responder a essas interrogações Agostinho elabora este diálogo.

Sugere ser o livre arbítrio a origem do Mal, uma fardo incómodo que só pode ser alijado por sujeição à vontade divina, expressa nas regras reveladas e respectiva interpretação por quem representa o Bem na Terra . Pode-se notar também uma correlação com a doutrina socrática de que a ignorância é a raiz do Mal, uma vez que o mal decorreria da falta de instrução. Para Agostinho a ignorância de Deus e da vontade divina resultam necessariamente no Mal devido ao pecado original (de notar a obsessão de Agostinho, pelas razões que apontei num post anterior, pela lascívia, um pecado especialmente abominável).

«Homens maldizentes rosnam entre si, pecando e acusando a todos menos a si mesmos, a seguinte questão: Se foram Adão e Eva que pecaram, porquê nós, que nada fizemos, nascemos com a cegueira da Ignorância e os tormentos da Penosidade?

– Basta responder que existem aqueles que vencem a lascívia. Uma vez que Deus está em toda a parte, a ninguém foi tirada a capacidade de saber e indagar vantajosamente o que desvantajosamente se ignora.

– Aquilo que se pratica por ignorância ou por fraqueza, denominam-se pecados porque retiram sua origem do Pecado Original.
» [Capítulo XIX -A Negligência é culpável]

Assim, uma característica da doutrina cristã é negar a capacidade intrínseca humana para agir bem sem intervenção da divindade. Ou como afirma Feuerbach, em «A Origem do Cristianismo», é uma projecção de todas as boas qualidades humanas no exterior, no Deus do Cristianismo, deixando ao homem apenas o reprovável. Tema que será retomado num próximo post já que a negação do comportamente ético, da existência de uma moral fora da religião, é frequentemente utilizado como arma de arremesso contra os ateus. Porque temos quasi dois milénios de condicionamento social e alguns dogmas religiosos foram secularizados, este quiçá o mais pernicioso, urge efectivar a separação Moral-Religião!

30 de Agosto, 2004 André Esteves

Ataque na maratona de Atenas

Ontem, durante a maratona masculina um individuo, com uma farda estranha, atacou o líder da corrida, o brasileiro Vanderlei de Lima. O indivíduo em questão é um ex-padre católico que procurou desta forma, obter publicidade para o fim do mundo, como se pode ler no cartaz que ele mostra na imagem. O atleta brasileiro acabou em terceiro. Já depois de passada a meta, acabou por se benzer e agradecer a Deus por ter terminado a corrida.

Continua toda a gente a correr em modo automático…

Ninguém pára para pensar um bocadinho que seja?

A notícia [Inglês]

Mais pormenores sobre o maluco [Inglês]