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29 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Fátima – mealheiro do Vaticano

O supermercado mais lucrativo da fé católica, em Portugal, é objecto da cobiça do Vaticano.

Foi nos laboratórios da ICAR que se fabricaram os dois milagres necessários à canonização dos pastorinhos, cerimónia que está para breve, segundo confidenciaram ao Diário dos Ateus fontes bem relacionadas com a divina providência e a santa madre igreja, isto é, beatos mais fanáticos que João César das Neves.

O primeiro milagre, na área da locomoção, foi obrado na pessoa da D. Emília que morreu a seguir mas a andar na perfeição. O segundo realizou-se na área da endocrinologia – a cura de uma criança com diabetes – milagre tentado pela mãe que a trouxe a Fátima mas sem sucesso. O milagre acabou por acontecer em casa, na Suíça, graças a uma corrida de joelhos à volta do televisor, enquanto em Fátima JP2 procedia a uma bênção com a qualidade apurada em muitos anos de experiência.

Acontece que a fé não obra apenas milagres e deixa resíduos entre os quais um subproduto muito apreciado – dinheiro. É por isso que o Vaticano – segundo informações do Correio da Manhã – pretende explorar o santuário por administração directa. Assim, em vez da comissão a que tem direito, passa a dar uma percentagem reduzida ao santuário e à diocese.

Serve de pretexto às alterações na área comercial a gestão demasiado liberal do actual bispo de Leiria que deixou rezar em Fátima (sem cobrar emolumentos) o Dalai Lama, primeiro, e um sacerdote hindu, depois.

A idade avançada de Monsenhor Luciano Guerra, reitor do santuário, e a do bispo de Leiria, D. Serafim Ferreira e Silva, também servem os desígnios do Vaticano que já nomeará os novos encarregados comerciais sem os benefícios concedidos desde o tempo em que ainda não estava assegurado o êxito comercial de Fátima nem a vitória sobre o comunismo.

O fim do comunismo deve-se à consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria, uma terapêutica preconizada pela Virgem, que visitou o local várias vezes, conversou com a Lúcia e pôs milhares de portuguesas a deixarem esturrar a comida enquanto rezavam o terço a seu pedido.

29 de Setembro, 2004 André Esteves

Ayaan Hirsi Ali

Ayaan Hirsi Ali é uma deputada holandesa pelo Partido Liberal Holandês. Recentemente, promoveu a criação de um filme de 10 minutos, sobre a condição feminina no Islão, chamado de Submissão. (poderá ver excertos num documentário holandês, aqui).

O filme mostra mulheres com hijab’s transparentes, bem como versos do Corão escritos no corpo das actrizes. O filme descreve vários assuntos tabu no mundo islâmico, como o habitual abuso sexual de mulheres por membros masculinos da família, o espancamento sistemático das esposas, a excisão genital feminina, os casamentos forçados, a impossibilidade sistemática de uma mulher ter uma vida própria e independente, etc. O filme foi considerado um escândalo e uma afronta por parte da comunidade islâmica holandesa. Ayann retorquiu que o simbolismo da nudez não se destina aos homens, mas sim às mulheres muçulmanas na Arábia Saudita, Somália, Quénia e outros países onde impera a sharia (não há restrições de nudez entre elementos do mesmo sexo no Islão, onde aliás, se preservou o hábito cultural romano dos banhos públicos).

Mas os problemas de Ayaan começaram antes deste filme. Num debate televisivo com elementos da comunidade islâmica, declarou que já não praticava nem se considerava muçulmana. Passou a ser ameaçada de morte a partir desse momento, porque no Corão, deixar a fé, é ser-se automaticamente condenado com a pena de morte. Assim neste momento, Ayann vive em casas seguras e protegida pela polícia.

Ayaan nasceu na Somália. Filha de um dissidente político somali, viveu no Quénia, Etiópia, Arábia Saudita durante os seus primeiros 20 anos de vida. Viveu profundamente a realidade diária de uma muçulmana, tendo inclusive sido excisada aos 5 anos. O seu pai, aos 15 anos, arranjou-lhe um casamento com um muçulmano canadiano, que queria que ela tivesse 6 filhos.

Foi assim que com 20 anos, Ayann se encontrou num aeroporto alemão, prestes a encontrar a sua «cara-metade», quando algo se moveu dentro de si. Fugiu, apanhando um comboio para a Holanda, onde pediu o estatuto de refugiada.

Durante os anos seguintes, Ayann subiu a pulso na vida. Trabalhando como empregada de limpeza, aprendeu o holandês, e fez a educação obrigatória holandesa em pouco tempo. Conseguiu entrar na universidade de Leiden, onde realizou estudos superiores em Ciências Políticas. Durante estes anos, Ayann conheceu o submundo holandês dos abrigos de mulheres, onde mulheres abusadas de origem muçulmana se refugiam e tentam reconstruir a sua vida.

Acabado o curso, Ayaan dedicou-se à política. Ideologicamente próxima da esquerda, Ayaan juntou-se ao Partido dos Trabalhadores Holandês (o equivalente ao nosso PS), onde lhe foi pedido que estudasse, porque é que tantos jovens muçulmanos nascidos na Holanda, estão em guerra com a sociedade que os viu nascer. A conclusão de Ayann foi brutal para o establishment holandês. O culpado, segundo o seu estudo, não era nada mais que o próprio multi-culturalismo holandês.

Na ânsia de agradar e cultivar a «tolerância», o estado holandês financiou centenas de clubes islâmicos, onde imâns radicais, aproveitando-se do dinheiro do estado holandês, construíram uma cultura à parte, pregando uma mensagem fundamentalista.

Ayann acabou por deixar o Partido dos Trabalhadores, porque este se aliou, cinicamente, com os conservadores muçulmanos fundamentalistas para alcançarem o poder. Revoltada, com tal exercício de hipocrisia política, Ayann foi encontrar no Partido Liberal Holandês uma nova casa.

O que, para Ayaan Hirsi Ali diferencia a Europa e em certa medida o mundo ocidental, do resto do mundo?

Nas suas próprias palavras:

« Eu queria compreender porque é que os países ocidentais estavam a desenvolver-se tão bem, quando o resto do mundo parecia estar em colapso. Eu estudei a história do pensamento político europeu, desde os gregos e os romanos até à Segunda grande Guerra.

Descobri que as pessoas no Ocidente valorizam o individuo autónomo. Elas compreendem a importância da ciência e do conhecimento. São capazes de se criticar a elas próprias e existe uma capacidade de registar a história, para evitar repetir os erros do passado. É exactamente, o oposto da Somália onde não há instituições que procedam a um registro histórico e as memórias da minha avó das guerras dos clãs irão morrer com ela.»

Entrevista na BBC [Inglês]

29 de Setembro, 2004 Palmira Silva

O Empenho Ecuménico da Igreja Católica

Longe vão os tempos em que a ICAR se revia na Nostra Aetate, que exortava «os seus filhos a que, com prudência e caridade, pelo diálogo e colaboração com os sequazes doutras religiões, dando testemunho da vida e fé cristãs, reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores sócio culturais que entre eles se encontram.» e na Dignitatis Humanae, que reconhecia o direito à liberdade de religião.

Não obstante o reconhecimento pelo actual Papa há escassos nove anos de que «Este sagrado Concílio (Vaticano II) exorta todos os fiéis a que, reconhecendo os sinais dos tempos, solicitamente participem do trabalho ecuménico» e a afirmação de que «Com o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica empenhou-se,de modo irreversível, a percorrer o caminho da busca ecuménica, colocando-se assim à escuta do Espírito do Senhor, que ensina a ler com atenção os “sinais dos tempos”», na praxis actual do Vaticano assiste-se a um crescendo da negação do concílio Vaticano II.

A tal ponto que hoje se pode ler no Público que o Vaticano descontente com gestão de Fátima ameaça controlar santuário. E que «a Conferência Epsicopal Portuguesa recebeu já indicações para aproveitar a reforma iminente do bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva, para alterar a gestão do santuário que honra o local onde, em 1917, a Igreja Católica indica que terão ocorrido as aparições de Fátima aos três pastorinhos.

A visita do Dalai Lama e do sacerdote hindu terá, segundo fontes citadas pelo diário, levado “longe demais” o “sentido ecuménico” do santuário.»

PS: Agradeço ao Nuno, mais um leftista na blogosfera nacional, a chamada de atenção para a notícia.

29 de Setembro, 2004 Palmira Silva

Contrastes

No rescaldo do caso Borndiep e quando é prevísivel que o tema da Interrupção Voluntária da Gravidez volte a ser notícia de destaque com o julgamento de uma jovem de 21 anos dia 28 de Outubro, por ter recorrido à pílula abortiva quando tinha 17 anos- e denunciada por um enfermeiro do hospital onde foi atendida na sequência de uma IVG que deixou sequelas- a ICAR prepara o ambiente. Para além da realização das X Jornadas de Filosofia, Espiritualidade e Cultura Hospitaleira nos primeiros dias de Outubro próximo, subordinadas ao tema «Para uma Pastoral Evangelizadora», em que parte da evangelização se prende com «Pastoral e Bioética», na Agência Ecclesia é realçada a Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa: A Família, esperança da Igreja e do mundo.

Em que se pode ler «Também faz parte da missão essencial da família cristã na sociedade, defender e promover uma autêntica cultura da vida. Isso inclui a formação para a paternidade responsável, na fidelidade ao Magistério da Igreja. Inclui, também, a formação dos filhos na afectividade e na sexualidade, de modo que eles cheguem a alcançar uma recta consciência e possam agir de acordo, não com modas ou influências exteriores, mas com os valores aprendidos do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja. Inclui, ainda, a defesa da vida em todas as circunstâncias, desde o nascimento até à morte.»

Para evitar que os adolescentes tenham acesso a uma educação sexual que previna o que aconteceu à jovem que vai agora a julgamento na dita pastoral é deixado um recado ao nosso governo, cada vez menos laico, especialmente se amanhã for ratificada a Concordata «Os pais, fiéis ao dever de acompanhar a formação integral dos filhos, devem procurar conhecer o tipo de educação sexual que a escola se propõe oferecer, bem como os objectivos que os programas de educação sexual pretendem atingir. Devem, também, ter o direito de recusar que a escola dê aos seus filhos uma educação sexual que vá contra os seus valores.»

De igual forma, considera a ICAR que a comunicação social deve estar sob os seus auspícios e que «Aos profissionais da comunicação social compete usar bem a responsabilidade que lhes é confiada e promover os valores que ajudem à consolidação da família como realidade indispensável ao bem da sociedade». Se tal não acontecer resta a censura porque é de facto censura o que se está subentendido no parágrafo que reza «Às autoridades públicas pede-se que, sem recorrer à censura, criem mecanismos de regulação para garantir que os meios de comunicação não ajam contra o bem da família.»

Esperando que nunca seja implementada a censura preconizada pela ICAR podemos entretanto apreciar artigos lúcidos sobre a IVG como o da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, no Público de hoje, um artigo que vale a pena ler na íntegra e que termina:

«Acho muito bem que os católicos obedeçam à Igreja e adoptem “os métodos naturais”, e até acharia ainda mais coerente que ligassem o sexo exclusivamente à procriação. Nada nem ninguém os impede. Mas já me parece intolerável que num estado laico e numa sociedade democrática pretendam estabelecer preceitos de vida para quem não partilha da sua fé, recorrendo ainda por cima a um terrorismo ideológico que não apenas inibe qualquer debate racional e sereno sobre o assunto, como cria artificial e insidiosamente um ambiente social desfavorável ao alargamento do planeamento familiar e à educação sexual. Assimilar o aborto a um infanticídio equivale a bloquear toda a discussão e conduz à negação hipócrita de uma realidade a que toda a gente, no entanto, chama uma “chaga social”. Essa chaga suportam-na as mulheres, e dentro destas sofrem sobretudo, de longe, as mais pobres. Mas aqui parece que já não chega a consciência católica dos movimentos pró-vida.»

Artigo com que estou plenamente de acordo!

28 de Setembro, 2004 André Esteves

Amor cristão enterrado no Santo Sepulcro

Da terra santa chega-nos a notícia de que a igreja do Santo Sepulcro, onde 6 das «tradições» cristãs dividem o lugar de culto, foi cenário de uma enorme cena de pancadaria.

Não é a primeira vez, em anos recentes, que este género de situação tem aparecido. Há dois anos atrás, os coptas egípcios desataram à pancada com os ortodoxos etíopes por não concordaram com a posição de uma cadeira no tecto da basílica…

Os fiéis ortodoxos gregos que estavam a realizar uma procissão, ficaram possessos por uma porta da capela ter sido deixada aberta por uns irmãos franciscanos. As acusações e pancadaria começaram aí, necessitando, a partir de certo ponto, de ser chamada a polícia israelita, que acabou por parar o tumulto, sem deixar de também ser agredida. Foram presos quatro fiéis ortodoxos.

Segundo o testemunho de um guia turístico, Aviad Sar Shalom – « havia muita gente a levar porrada… A polícia levou porrada, os monges levaram porrada… Havia pessoas com as faces ensanguentadas »

Uma autêntica bebedeira de espírito santo.

Moral da história: continua a não se vislumbrar nenhuma diferença entre os fiéis cristãos no Santo Sepulcro e um bando de chimpanzés num lugar apertado.

A notícia [Inglês]

28 de Setembro, 2004 Ricardo Alves

A Concordata

A nova Concordata, que substituirá a Concordata salazarista de 1940, será submetida à aprovação da Assembleia da República no dia 30 de Setembro de 2004. A Associação República e Laicidade reafirma a sua oposição de princípio a esta ou qualquer outra Concordata, rejeição essa que se apoia nos fundamentos seguintes:

1) Se é verdade que pelos acordos de Latrão (celebrados com Mussolini, em 11 de Fevereiro de 1929) o Vaticano se passou a assumir como uma entidade independente do Estado italiano, e que, em termos internacionais, a Santa Sé se apresenta como uma entidade equiparada a um «Estado Soberano», na verdade essa entidade (o governo central, teocrático, da comunidade católica) não reúne de todo as condições -designadamente, de território e de população- para poder ser considerada equiparável a um «Estado» com o qual a República Portuguesa deva estabelecer «tratados internacionais».

2) Sendo a Constituição portuguesa suficiente para garantir o exercício pleno da liberdade de credo e de culto dos cidadãos, uma Concordata -a nova, tal como a velha- só faz sentido para, ao arrepio do princípio republicano e constitucional da igualdade dos cidadãos, estabelecer no espaço jurídico nacional um estatuto específico que confira um tratamento diferenciado favorável à comunidade católica. Efectivamente, uma Concordata, ao tomar a forma de um «tratado internacional», e só podendo portanto ser alterada com o consentimento mútuo de ambas as partes, retira ao controlo democrático os privilégios de tal comunidade -ao contrário do que acontece com as demais igrejas e comunidades religiosas, sujeitas a uma lei geral -a Lei da Liberdade Religiosa– revogável pelas instâncias democráticas.

A nova Concordata -negociada secretamente, recordemo-lo- repete, em alguns aspectos, a Lei da Liberdade Religiosa -uma Lei indesejável pois discrimina os cidadãos em função das suas crenças e hierarquiza as confissões religiosas-, mas contém alguns aspectos que destacam a Igreja Católica das confissões regidas pela Lei da Liberdade Religiosa, e que também por isso nos merecem particular preocupação:

1) O artigo 1º arrisca comprometer a República Portuguesa com a Igreja Católica na «promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça e da paz», conceitos nos quais são conhecidas as divergências entre as concepções laicas e as de origem dogmática, enquanto o artigo 4º estende essa «cooperação» a organizações internacionais em que Portugal e a Santa Sé sejam partes, o que faz temer pressões para o alinhamento da nossa diplomacia por posições dogmáticas em questões como o planeamento familiar ou a bioética;

2) O artigo 7º garante a protecção estatal contra «o uso ilegítimo de práticas ou meios católicos», o que poderá implicar a intervenção do Estado nos conflitos internos da Igreja Católica ou, mais grave ainda, reinstaurar o «delito de blasfémia»;

3) O artigo 15º recomenda «aos cônjugues que contraírem o matrimónio canónico» que não se divorciem civilmente, enquanto o artigo 16º reconhece efeitos civis à nulidade canónica do casamento;

4) O artigo 19º garante o ensino da religião católica na escola pública, a expensas do Estado e sem a exigência de um número mínimo de alunos, quando a escola pública deveria limitar-se a transmitir conhecimentos e abster-se de difundir crenças;

5) O artigo 21º reconhece a «especificidade institucional» de uma universidade privada, a Universidade Católica, o que não acontecia na anterior Concordata;

6) O artigo 25º concede à Igreja Católica um direito de ingerência no planeamento territorial e urbano, em todo o território nacional;

7) O artigo 26º confere às instituições católicas um regime de isenções fiscais diferente daquele instituído para as comunidades religiosas regidas pela Lei da Liberdade Religiosa.

A Associação República e Laicidade reafirma que a Concordata é desnecessária (assim como a Lei da Liberdade Religiosa), que deve ser interpretada como não prevalecendo contra a Constituição, e que constitui um obstáculo à efectivação da desejável plena igualdade de todos os cidadãos e da necessária laicidade do Estado.

(Este texto constitui a posição da Associação República e Laicidade sobre a nova Concordata, e já foi enviado aos grupos parlamentares.)

28 de Setembro, 2004 jvasco

Na madeira…

Acabei de ler, no Público, a seguinte notícia:

O bispo do Funchal, Teodoro Faria, na homilia que proferiu domingo na inauguração da igreja dos Álamos, enalteceu o espírito criativo e construtivo do presidente do governo regional, elogiou a “política autonómica” e deu “graças a Deus” pelo apoio concedido para a construção daquele templo, o décimo quarto edificado na governação de Alberto João Jardim, apesar do decréscimo demográfico e da cada vez mais baixa participação dos fiéis madeirenses em actos litúrgicos.Também o pároco Manuel Luís destacou sua “visão do desenvolvimento global e harmonioso da região”.

[…]

Muito generosos têm sido os subsídios atribuídos à igreja católica nos anos de eleições regionais < 3,4 milhões em 1996 e quase nove milhões em 2000 < que ocupa a terceira posição (14,1 por cento do total) na tabela de subsídios que é liderada pelo desporto (30,3%), seguido pelos apoios extraordinários concedidos às câmaras (24,4%).
Apesar da quebra registada em 2003 para apenas 2,6 milhões de euros, este montante deve triplicar no corrente ano, também marcado por nova ida às urnas[…]

Queria comentar, mas a notícia fala por si…

27 de Setembro, 2004 jvasco

Não me interpretem mal

Não quero fazer campanha por ninguém.

Não quero, com este artigo, defender este ou aquele partido, nem este ou aquele candidato dentro de um partido.

Mas quando vi o teste (bússola) que o público fez aos diferentes candidatos à liderança do PS, achei que uma das secções tinha algum relevo para este blogue. Vou portanto reproduzir essa secção:

27 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

O erro de J. César das Neves

João César das Neves (JCN) regressou às homilias da segunda-feira, no Diário de Notícias. Deixa o Domingo para os padres, muito mais cépticos quanto à existência de Deus, e reserva o dia seguinte para a sua catequização. Que pecados o atormentam ou que misticismo o devora para se dedicar ao proselitismo e querer convencer os incréus da existência do seu Deus?

Que JCN acredite em Deus e na Senhora de Fátima, que exulte com as aparições e se exalte com os milagres, que se comova com o martírio do seu Deus e acredite na virtude da sua Igreja é um direito que encontra em mim um denodado defensor. Mas que queira converter os outros à sua fé, sujeitá-los aos humores do seu Deus, amarrá-los às imposições da sua Igreja, assustá-los com o Inferno, convencê-los das superstições e condená-los à moral importada da Cúria Romana, é um exagero que se desculpa num devoto mas um despautério que arrepia num universitário.

JCN amofinou-se com a afirmação do cientista António Damásio que considera as religiões criações dos homens. Já Dante, na Divina Comédia, quando os homens se queixaram aos deuses, com voz triste, por tê-los criado, pôs os deuses, com voz ainda mais triste, a responderem: «homens para que nos criastes»?

Para contestar o Prof. Damásio, JCN argumenta com o facto de metade da população mundial acreditar numa das três religiões do livro e, se lhe juntar os crentes das outras religiões, apenas 20% não são crentes. E conclui em êxtase místico: «Mostrar com toda a certeza científica, que 80% da Humanidade está errada seria um feito sublime na história do conhecimento». Nem se lembrou de que esse feito foi cometido por Galileu para quase 100% da Humanidade, embora com os dissabores conhecidos.

Tempos houve que mais de 80% acreditavam que o Sol girava à volta da Terra e que esta era plana. Estou de acordo com JCN que foi um feito sublime – e perigoso – provar (nestes casos com percentagem bem maior) que 80% da Humanidade estava errada. E era Deus quem revelava uma atroz ignorância.

Com o seu argumento JCN concluiu – e bem – que a ignorância é a melhor prova da existência de Deus, embora não fosse essa a sua piedosa intenção.

26 de Setembro, 2004 jvasco

1984



Imagem gentilmente cedida pelo Francisco Burnay, da lista de discussão

Ocorreu-me há minutos

Faz cerca de dois anos que li a excelente obra de George Orwell: 1984 – o livro que nos fala sobre o totalitarismo do regime do grande irmão (big brother), falando-nos sobre todos os totalitarismos e sobre toda a opressão.

Mas o livro não se limita a contar a história de um regime tão opressor e esmagador que vigia com câmaras e microfones omnipresentes os movimentos dos membros do partido que mantém o poder. O regime é descrito como implacável e cruel, mas a genialidade do livro (na minha opinião) não está aí.

A genialidade do livro está em descrever a força do regime: refazer a história, manipular a informação e a realidade e, num nível mais avançado, destruir a racionalidade, a lógica e a coerência do pensamento.

Creio que isto é muito verdade: uma sociedade de pessoas incoerentes, de pessoas que respondem apenas às emoções irreflectidas e estímulos do momento, é uma sociedade onde a propaganda pode controlá-las, onde a informação pode ser manipulada, e a realidade das pessoas pode ser “criada”.

Eu, além de me identificar com o ateísmo, identifico-me com o Racionalismo (que é um sistema ateísta). Como uma das grandes qualidades deste sistema, vejo essa: numa sociedade onde ele tem uma aceitação significativa, a ditadura e a opressão são muito mais difíceis, a propaganda é muito menos eficaz, a informação é mais séria a honesta, e a Democracia funciona melhor.