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24 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Igreja Ortodoxa



Um clérigo a olear a fé para iluminar os caminhos do seu Senhor.

23 de Setembro, 2004 jvasco

Resposta ao Bispo

O texto que segue é uma resposta ao artigo de opinião que o Bispo António Marcelino publicou n’O primeiro de Janeiro. O texto é da minha autoria, mas devo dizer que tive a generosa colaboração do Carlos Esperança.

Não quero parecer ingrato. Na verdade eu deveria estar muito agradecido ao Bispo de Aveiro, D. António Marcelino, pela atenção que nos dispensou ao escrever um artigo sobre a nossa associação (a que, equivocado, chamou ARL, mas não foi culpa dele), e pela visibilidade que consequentemente nos trouxe. Depois disto, até parece de mau tom criticar o texto dele. Mas a desonestidade intelectual é tanta, que não posso deixar de o fazer.

O texto começa por referir a intenção de criar a associação de ateus, passando de seguida a congratular, e bem, a liberdade religiosa em que vivemos. Depois aborda rapidamente as origens históricas do ateísmo e a reacção do concílio Vaticano II.

O que se segue terei de citar: «Assim se justifica socialmente a associação dos ateus, as diversas associações dos homossexuais, os grupos de luta pró-aborto, a militância organizada pelos direitos dos que vivem em união de facto e tantos outros acontecimentos, uns mais recentes que outros. É curioso, porém, verificar que estes grupos e outra gente que navega em águas vizinhas, à medida que defende para si direitos de plena cidadania, os nega a outros portugueses».

Eu poderia ficar perplexo com a ausência de relação entre as associações referidas pelo Bispo, mas a relação existe: são associações que a Igreja Católica preferia que não existissem. Será que se justifica fazer uma acusação falsa e injustificada, a de que estas associações procuram roubar direitos aos outros portugueses? É que, se as associações de homossexuais (por exemplo) procuram roubar direitos aos demais portugueses, eu, como cidadão, quero saber. Será que a militância organizada pelos direitos dos que vivem em união de facto nos quer impor esse estilo de vida? Será que nos querem silenciar? O que é que o Bispo sabe que eu não sei?

Mas mais caricata do que esta acusação infundada, gratuita, desonesta e injusta a associações que existem, é fazer esta acusação grave, num órgão de comunicação social, a uma associação que nem sequer existe!

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) ainda não existe, e a reunião a que se referiu o Bispo era para lançar as bases para que fosse criada. É sintomático: para o Bispo basta que uma associação ateísta exista (se bem que nem sequer era o caso) para que ele a acuse de tentar roubar direitos aos portugueses.

A desonestidade intelectual (um eufemismo para acusações levianas, injustas e mentirosas, que é o que o Bispo faz) não acaba aqui. Impõe-se uma nova citação: «A nova associação anuncia, logo ao nascer, militância aberta em relação aos crentes, porque os ateus, eles sim, é que “valorizam a humanidade e a vida na Terra, como um bem natural”». O leitor deve notar que a expressão “eles sim, é que” subverte completamente o significado do texto que se segue. O sentido do mesmo era «eles também [valorizam …]», mas o Bispo preferiu ser «criativo» na forma como nos citou. Se era para distorcer tão descaradamente o que foi dito, bem poderia ter optado por um «não», em vez do «eles sim, é que».

Depois o Bispo fala no perigo da «tentação dos dogmatismos». Neste ponto devo dizer que ele tem todo o direito de nos chamar à atenção sobre essa matéria, e nós devemos prestar toda a atenção. Afinal ele é um destacado representante da ICAR, que tem o historial que todos lhe reconhecemos, e muita experiência na matéria.

O Bispo também diz que os fundamentalismos são «a cegueira de um raciocínio unidimensional, que já nada tem de humano e, por isso, não tem por que respeitar nem a vida própria, nem a dos outros», afirmação com a qual concordamos. Assumindo-se os membros da futura AAP como adversários do fundamentalismo, até poderíamos pensar que estas eram palavras de encorajamento por parte do Bispo.

Mas o texto que se segue é esclarecedor a esse respeito: «Sei bem que o ateísmo pode ser humanista e que assim é em muitos que se dizem ateus. Porém, quando se corre o tejadilho que impede olhar para o alto, deixa de se procurar e de contemplar o transcendente. O homem que só olha para si, vale menos e dá menos valor aos outros homens.». O Bispo acusa os ateus de valerem menos do que os outros homens. Eis uma acusação que eu nunca desejarei nem permitirei que a AAP faça a respeito dos crentes.

É caso para perguntar: onde está o fundamentalismo?



Vou enviar este texto para o jornal onde o artigo de opinião do Bispo foi publicado.

23 de Setembro, 2004 Mariana de Oliveira

Detergente

Encontrei esta mensagem sms pré-fabricada na página da myTMN como sendo uma frase escrita por um aluno numa prova global: «Baptismo é uma espécie de detergente do pecado original».

22 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

O crucifixo mata

A partir do séc. III, em que os peixes começaram a ser substituídos como símbolo do cristianismo, o crucifixo passou a ser mais do que um simples instrumento de tortura onde supostamente Cristo morreu, para se tornar uma ameaça a quem recusasse a conversão.

Crucifixos há-os de todos os tamanhos e feitios. Estão no cimo dos montes e nas torres dos campanários para lembrarem o poder da ICAR. Povoam os cemitérios e os sítios onde ocorreram óbitos para lugubremente aterrorizarem os vivos. Servem para espantar o demo e são o instrumento de trabalho para o laborioso clero cristão que se dedica à evangelização. Aparece em brincos como adorno ou dependurado ao pescoço a seguir as delícias de um decote. Os padres dizem que o crucifixo salva. A história mostra que oprime. A notícia que divulgo prova que mata.

Mulher morre ao ser atingida por crucifixo no sul da Itália

«Um mulher morreu nesta quarta-feira depois de ser atingida na cabeça por um crucifixo de dois metros, que caiu de um monumento que estava sendo restaurado. Maddalena Camillo, 72, caminhava no principal quarteirão do vilarejo de Sant’Onofrio, região da Calábria, a cerca de 600 km da capital Roma, quando o crucifixo se soltou e caiu sobre sua cabeça, matando-a na hora».

22 de Setembro, 2004 Mariana de Oliveira

Hermanos republicanos pela escola laica

A plataforma «Ciudadanos por la República del Campo de Gibraltar» vai empreender uma campanha por uma escola pública laica e pela abolição do ensino da religião. Esta é uma das decisões tomada pela associação de plataformas republicanas de toda a Espanha, tomada a 12 de Setembro em Madrid.

«A reivindicação da escola laica é estratégica num período em que se renegociará a inconstitucional concordata com a Santa Sé, que interfere gravemente em decisões políticas e continua canonizando mártires fascistas, enquanto ainda esperamos uma autocrítica pelo alinhamento com o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial e com a ditadura de Franco», diz o documento aprovado naquela assembleia.

Também nós, deste lado da fronteira, precisamos de nos unir e pugnar por uma República em que a laicidade não seja uma mera declaração de princípio contida na Constituição. Por isso é que a Associação República e Laicidade e uma associação de ateus são importantes, porque só num Estado que não se vergue perante uma religião é que se encontra a justiça social.

22 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Açores – Eleições Regionais.

O bispo dos Açores apelou ao voto nas eleições regionais através de uma Nota Pastoral – uma espécie de edital que os bispos elaboram para ser lido nas paróquias e distribuído à clientela -, que reflecte o pensamento do prelado.

Da prelecção de D. António Sousa Braga destaco duas afirmações:

1 – «votar é uma obrigação tão séria, como ir à Missa ao Domingo»

RE: Devia ter mais respeito pelas eleições.

2 – «uma consciência cristã bem formada não pode favorecer, com o seu voto, a realização de um programa político, em que os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos».

RE: Aqui está o veneno, servido sub-repticiamente, para encaminhar o voto para os partidos que se identifiquem com o carácter retrógrado da ICAR.

22 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Evangélico ameaça matar gays na TV

Com a tolerância cristã que se conhece, o pastor norte-americano Jimmy Swaggart, num programa transmitido pelo canal de Toronto, da televisão canadiana, ameaçou matar gays. Infelizmente para o piedoso clérigo, as leis do Canadá, feitas com o desprezo que a Bíblia merece, os discursos que incitam ao ódio são considerados crime, pelo que tanto o canal televisivo como o fogoso soldado de Deus ficam sob a alçada do Código Penal.

Mas não tenhamos dúvida, o pastor Swaggart é um crente piedoso. Segundo o Levítico os homossexuais devem ser mortos. Só é pena que as leis que criminalizam o incitamento ao ódio não se apliquem aos livros «sagrados».

A exaltação mística do pastor não faz dele uma besta perfeita, porque – segundo os ensinamentos cristãos – ninguém é perfeito. Só Cristo.

22 de Setembro, 2004 jvasco

No Irão

Justiça Iraniana Quer “Desintoxicar” Meio Cinematográfico do País

Um artigo recente do Público revela que, na última cerimónia da entrega dos prémios do festival de cinema iraniano (no passado dia 14), ocorreram “numerosos insultos proferidos contra as regras sagradas do Islão e à propagação da imoralidade” (“mulheres muito maquilhadas, com cabelos visíveis por baixo do véu islâmico, com casacos justos e calças que chegavam até meio da barriga da perna”). Resultado: a polícia dos costumes prendeu o director do festival, Abolhassam Davoudi, e outros responsáveis.

Agora a justiça afirma que “enquanto o Ministério da Cultura [reformador] não faz nada para limpar o meio cultural dos seus membros indignos, o aparelho judicial tem o dever de agir para desintoxicar o espaço cultural dos elementos corruptos”.

Enfim… O Irão é a prova dada que nenhum cidadão deve deixar de batalhar pela laicidade.

21 de Setembro, 2004 Ricardo Alves

A laicidade também protege os católicos

Joseph Raymond Hanas, um cidadão dos EUA, foi condenado em Janeiro de 2003 num tribunal do Michigan por um crime não violento relacionado com o uso de drogas. O tribunal deu-lhe a escolher entre cumprir uma pena de prisão ou entrar num programa de reabilitação de toxicodependentes. Hanas escolheu a reabilitação.

Nos EUA, desde 1996 que foi decidido confiar alguns destes programas a comunidades religiosas. Após a subida ao poder de George W. Bush, o número destas faith-based initiatives subiu, enquanto o seu financiamento (federal e estadual) aumentou significativamente.

Joseph Hanas foi portanto, e à semelhança do que acontece com muitos sem-abrigo ou alcóolicos em recuperação, enviado pelo Estado para um centro de tratamento de toxicodependentes pertencente … a uma igreja, neste caso pentecostal. O seu «tratamento», conforme descobriu rapidamente, consistia em estudar a Bíblia e assistir aos serviços religiosos pentecostais. Mais, disseram-lhe que só estaria curado quando se tornasse um «cristão renascido» (born again christian)! Ora, Joseph Hanas pensava já partilhar a fé cristã: era católico. Infelizmente, as pessoas pagas pelo Estado para o «curar» não apenas lhe tiraram o seu rosário e a Bíblia católica como o impediram de ver o seu padre. Mais, explicaram-lhe que o catolicismo é uma forma de «bruxaria»…

Quando Joseph H. pediu transferência para outro programa, o juiz entendeu que havia falhado na reabilitação e enviou-o para a prisão. Joseph H. está a recorrer da decisão.

A laicidade é desrespeitada sempre que o Estado financia igrejas. O financiamento de caridades religiosas, em igualdade de circunstâncias com instituições de solidariedade social laicas, não constituiria uma afronta ao princípio de laicidade se não resultasse quase sempre (de forma exacerbada no caso aqui descrito) em proselitismo com dinheiro público. Uma das consequências da laicidade é justamente o Estado, incluindo os seus meios financeiros, não poder ser usado para propagandear uma religião, seja ela maioritária ou não, junto dos cidadãos. Neste caso, a vítima de proselitismo foi um católico. Católicos, defendei a laicidade!

(Informações recebidas do Council for Secular Humanism.)

21 de Setembro, 2004 Mariana de Oliveira

A filha pródiga do Vaticano

O Papa João Paulo II está contente com a República Portuguesa. Porquê? Porque «a assinatura da nova Concordata entre a Santa Sé e Portugal, não vem a ser mais do que a expressão viva de um consenso maturado para reforçar a presença desta alma cristã fundada nas profundas relações históricas entre a Igreja Católica e Portugal», disse JP2 ao receber o novo embaixador português junto da Santa Sé, João Alberto Bacelar Da Rocha Paris.

O Papa também agradeceu à República, na entidade do Governo, por se ter batido pela inclusão de uma referência ao Cristianismo na futura Constituição Europeia – «desejo aproveitar esta ocasião para exprimir o meu reconhecimento pela acção do seu Governo em ressaltar a identidade cristã da Europa, e faço votos por que as convicções que dela derivam possam afirmar-se tanto no âmbito nacional como internacional».

João Paulo recordou-se dos dias das suas Visitas Pastorais a Portugal, nomeadamente ao Santuário de Fátima, quando pode «pessoalmente constatar as raízes cristãs dessa Nação abençoada e protegida por Nossa Senhora».

O embaixador Rocha Paris, por seu turno, «sublinhou a ligação secular que une Portugal à Santa Sé, defendeu a língua portuguesa utilizada por milhões de católicos, recordou que Portugal deu origem a mais de um quinto das dioceses em todo o mundo e evocou as recentes posições do Governo sobre a paz no Médio Oriente e em África sobre a defesa da vida, a identidade cristã da Europa e o persistente reforço do estatuto da Santa Sé na ONU».

Ou seja, Portugal continua a ser uma das nações queridas do Vaticano por se bater por uma referência a uma específica religião numa Constituição Europeia – que deve ser uma lei fundamental que se refira a todos os povos e nações independentemente das crenças individuais de todos os cidadãos -, por continuar a perseguir e punir mulheres que fazem aborto e por manter uma convenção internacional que confere especiais vantagens a uma confissão religiosa. Bestial!