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14 de Outubro, 2004 jvasco

O que é a ICAR?

Algumas das pessoas que espreitam este blogue não sabem a que é que nos referimos quando falamos na ICAR.

A ICAR é a Igreja Católica Apostólica Romana, mais conhecida em Portugal por «Igreja Católica» (embora essa denominação seja insuficiente pois inclui a Igreja Ortodoxa).

14 de Outubro, 2004 jvasco

A importância que damos

Alguns amigos meus, uns ateus, outros agnósticos, outros crentes, têm reagido com surpresa à minha participação neste blogue. Embora eu não dedique muito tempo a escrever para aqui, aquele tempo que passo parece-lhes excessivo. Não estarei eu a dar muita importância à religião? Se eu não acredito em Deus, por que dou tanta importância a estas questões? Será que não posso «deixar em paz» as religiões e dedicar-me a outros assuntos?

O que se passa, é que a religião tem mesmo importância. Não fui eu que escolhi que tivesse sido e seja uma causa significativa de grande número de guerras; não fui eu que escolhi que estivesse na origem da inquisição e das cruzadas; não fui eu que escolhi que sistematicamente mine as políticas de planeamento familiar e sustente políticas sexistas e homofóbicas; não fui eu que escolhi que seja um importante factor na escolha do próximo presidente dos EUA; não fui eu que escolhi nada disso.

A religião tem importância no mundo em que vivemos, e a importância que lhe dou é um mero reflexo de me importar (bastante) com o que se passa à minha volta.

Tal como quem se indigna com a injustiça, a corrupção, o crime ou a miséria sabe que vários factores estão interligados, por me preocupar com o mundo que me rodeia, preocupo-me com o papel que as superstições têm no mundo actual, provocando muitas vezes guerras e ódio ou sabotando o desenvolvimento.

É importante que sejam as teocracias (como o Irão, por exemplo) a evoluir para uma sociedade laica, e não as sociedades laicas a regredirem no sentido do fundamentalismo. É por isso importante que ateus, agnósticos, e até os crentes, vigiem as religiões, os abusos, as injustiças.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

O milagre do Sol

Faz hoje 87 anos que o Sol girou sobre si mesmo e desceu três vezes à altura do horizonte num desafio às leis da gravidade celeste, suspensas na Cova da Iria para gáudio exclusivo de 50.000 devotos. A informação é idónea pois foi confirmada pelo Secretariado de Informação do Santuário de Fátima.

A ICAR vive da suspensão das leis da Física, da boa vontade dos crédulos e dos interesses comerciais e financeiros a que consegue deitar a mão, à semelhança das outras religiões. Em 1917 iniciaram-se e ampliaram-se as relações entre a Virgem, o seu divino filho e um anjo de nome e categoria indeterminada, com Portugal, através de três crianças que trocavam a escola pela pastorícia e pelas orações.

A embaixada celeste começou a funcionar numa azinheira e, em breve, a Cova da Iria transformou-se na delegação comercial do Paraíso com os negócios da fé a prosperarem a um ritmo alucinante só quebrado com o aumento da alfabetização e o advento da democracia.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Dia de festa em Balasar

Hoje, 13 de Outubro do Ano da Graça de 2004, celebra-se a primeira Festa Litúrgica de Alexandrina de Balasar. O bispo da diocese, D. Jorge Ortiga, a participar no 48º Congresso Eucarístico Internacional (México), lamentou encontrar-se ausente mas pediu que o considerassem presente em Balasar «neste dia histórico».

«Situando-me na temática do Congresso, a Eucaristia, rezo para que a Beata Alexandrina interceda por nós de modo que, na Arquidiocese, a Eucaristia seja luz e vida do novo milénio. Necessitamos de ?almas? eucarísticas que vivam da Eucaristia e para a Eucaristia» – sublinha em nota pastoral.

Convém lembrar aos mais desatentos que a beata Alexandrina, a primeira de um bando de 25 a quem a ICAR prometeu a promoção e os milagres necessários, passou numerosos anos sem comer, nem beber, em anúria e alimentando-se apenas de hóstias consagradas, facto confirmado pelo actual Papa cuja credibilidade não é posta em causa.

O Diário Ateísta admite que a morte se deveu à falta de consagração de alguma hóstia, por distracção ou incúria, privando-a do único alimento que a mantinha.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Está aberta a audiência

Está aberto o tribunal eclesiástico para julgar os arguidos Francisco e Jacinto Marto, suspeitos de terem curado pela televisão uma criança, residente na Suíça, filha de pais portugueses, portadora de diabetes melitus tipo I, «insulino-dependente».

Segundo os autos, a mãe da criança viajava de joelhos à volta do televisor da sala de jantar e empurrava a criança contra o ecrã no dia 13 de Maio do ano 2000, enquanto João Paulo II dava a bênção em Fátima e promovia os ora arguidos à condição de beatos. Na consulta seguinte os médicos ficaram aparvalhados por verem a criança curada.

Dada a complexidade do milagre, só possível graças à invenção da televisão, o julgamento avaliará testemunhos e documentos antes de declarar milagre a cura, mais difícil do que a primeira, (a de D. Emília dos Santos, que esteve entrevada e morreu pouco tempo depois, a andar).

Os arguidos Francisco e Jacinto estão dispensados de comparecer em tribunal para evitar uma nova exumação dos dois defuntos, que gozam de enorme consideração da ICAR e que Deus foi servido de chamar à sua divina presença, respectivamente em 1918 e 1920, ambos por volta dos 10 anos de idade.

Segundo conseguiu saber o Diário Ateísta de meios beatos ligados ao negócio de Fátima, o veredicto já está confirmado, sendo o simulacro de julgamento um acto simbólico para gáudio dos devotos. Assim, em menos de um ano, os beatos serão promovidos a santos, numa acção de intensa propaganda para relançar a fé e reanimar os negócios na Cova da Iria.

O Diário Ateísta regista o milagre, inteiramente concebido, fabricado e distribuído sem recurso a tecnologia estrangeira, com um grau de autenticidade igual a todos os outros que JP2 aprovou nos países onde a ICAR enveredou pela superstição como método de alienação colectiva e caminho para a sua sobrevivência.

13 de Outubro, 2004 André Esteves

Mais um 13 de Outubro

Mais um treze de Outubro, mais um dia em que Portugal inexoravelmente se autodestroi.

Duas vezes por ano, assistimos neste país ao espectáculo deplorável das peregrinações a Fátima. As televisões fazem directos. Os programas de «conversa da chacha» enchem-se de padres, beatos e mentecaptos. As matronas na cozinha, choram e levantam o rosários, sempre variando a dose de emoção teletransmitida do espectáculo televisivo diário, das histerias, do maldizer e coscuvilhice.

Nos directos de Fátima, vemos o feio, o porco e o mau. Tornaram-se tão indispensáveis à ecologia mental católica, como os homens de uniforme eclesiástico, sempre impecável, com peles cuidadas, portes saudáveis, faces simpáticas e sedutoras.

Ouço um desses exemplares na SIC, repetir, num discurso confuso, em cada frase as palavras Fátima e Esperança. As caras aparvalhadas da plateia, batem palmas quando se cala. De seguida, um autêntico extraterrestre eclesiástico, com um uniforme sofisticado de um passado que nunca existiu, afirma em voz de barítono, que a fé é como um dia em que o sol está por detrás das nuvens, e que pela fé sabemos que o sol está lá… Nova salva de palmas…

O meme está passado, confundiu-se o facto com a hipótese.

É assim.. Já não há jornalistas a sério em Portugal, seguem todos as recomendações do Vaticano II, e do aproximar da ICAR aos meios de comunicação, por estes terem uma «vocação evangélica».

As televisões repetem o fait-diver do prof. Marcelo. Reclama-se por liberdade de expressão. Mentiras por mentirosos que mentem.

Desde a morte do bispo de Viseu que muita coisa mudou na comunicação social em Portugal.

Há um cheiro podre a tirania no ar.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

A Bíblia & os preconceitos

Há muito que este texto circula pela NET. Merece uma leitura e reflexão:

«Recentemente, uma célebre animadora de rádio dos EUA afirmou que a homossexualidade era uma perversão: « É o que diz a Bíblia no livro do

Levítico, capítulo 18, versículo 22: ” Tu não te deitarás com um homem como te deitarias com uma mulher: seria uma abominação”. A Bíblia refere assim a questão. Ponto final » – afirmou ela.

Alguns dias mais tarde, um ouvinte dirigiu-lhe uma carta aberta que dizia:

«Obrigado por colocar tanto fervor na educação das pessoas pela Lei de Deus. Aprendo muito ouvindo o seu programa e procuro que as pessoas à minha volta a escutem também. No entanto, eu preciso de alguns conselhos quanto a outras leis bíblicas.

Por exemplo, eu gostaria de vender a minha filha como serva, tal como nos é indicado no Livro do Êxodo, capítulo 21, versículo 7. Na sua opinião, qual seria o melhor preço?

O Levítico também, no capítulo 25, versículo 44, ensina que posso possuir escravos, homens ou mulheres, na condição que eles sejam comprados em nações vizinhas. Um amigo meu afirma que isto é aplicável aos mexicanos, mas não aos canadianos. Poderia a senhora esclarecer-me sobre este ponto?

Por que é que eu não posso possuir escravos canadianos?

Tenho um vizinho que trabalha ao sábado. O Livro do Êxodo, capítulo 25, versículo 2, diz claramente que ele deve ser condenado à morte.

Sou obrigado a matá-lo eu mesmo? Poderia a senhora sossegar-me de alguma forma neste tipo de situação constrangedora?

Outra coisa: o Levítico, capítulo 21, versículo 18, diz que não podemos aproximar-nos do altar de Deus se tivermos problemas de visão. Eu preciso de óculos para ler. A minha acuidade visual teria de ser de 100%?

Seria possível rever esta exigência no sentido de baixarem o limite?

Um último conselho. O meu tio não respeita o que diz o Levítico, capítulo 19, versículo 19, plantando dois tipos de culturas diferentes no mesmo campo, da mesma forma que a sua esposa usa roupas feitas de diferentes tecidos: algodão e polyester. Além disso, ele passa os seus dias a maldizer e a blasfemar. Será necessário ir até ao fim do processo embaraçoso que é reunir todos os habitantes da aldeia para lapidar o meu tio e a minha tia, como prescrito no Levítico, capítulo 24, versículos 10 a 16? Não se poderia antes queimá-los vivos após uma simples reunião familiar privada, como se faz com aqueles que dormem com parentes próximos, tal como aparece indicado no livro sagrado, capítulo 20, versículo 14?

Confio plenamente na sua ajuda.»

12 de Outubro, 2004 André Esteves

Em memória: Christopher Reeve 1952-2004

Morreu Christopher Reeve. Era ateu.

No decorrer de uma vida cheia de sucessos profissionais, sofreu um acidente de cavalo que o deixou quadriplégico. Ao invés de desistir da vida, preferiu lutar pela esperança da cura.

Lenta e determinadamente conseguiu restabelecer a sensibilidade das suas mãos e pés. No entanto, o seu estado era tão grave que não conseguia respirar sem a ajuda de uma máquina.

No meio do seu combate, viu a sua esperança renovada ao entrar no conhecimento público as novas descobertas das células estaminais. Perante a oposição do Vaticano e do seu lobby anti-aborto ao forçar uma decisão presidencial americana sobre o assunto, interveio publicamente a favor da continuação da investigação na área, lembrando aos políticos da maioria dos católicos que não se revêem na posição do Vaticano e que apoiam a investigação das células estaminais.

Mesmo assim, a decisão do Presidente Bush de só apoiar as linhas de células desenvolvidas até aquele momento, atrasou e continua a impedir o avanço mais rápido do conhecimento humano. Hoje sabe-se que as células estaminais, além de poderem ser cultivadas para se transformarem em qualquer tipo de tecido, detêm a capacidade de produzir químicos sinalizadores que incentivam a cura dos tecidos circundantes.

A cura, essa, nunca chegará a Christopher Reeve e a tantos outros que continuam a sofrer.

O poder, esse, continua na mão dos que invocam sofrimentos abstractos e mantêm os homens na guerra e na ignorância.

Christopher te saudamos!! Humano como nós.

Declarações públicas de Reeves sobre o seu ateísmo pessoal.[Inglês]

Fundação Christopher Reeve para o combate à paralisia [Inglês]

Reeve na CNN, antes da decisão do Presidente Bush [Inglês]

12 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Ateísmo nas escolas em Inglaterra?

Foi ontem publicada pelo Governo britânico uma análise estatística do censo de 2001 (complementada com informação mais recente) focada no tema religião.

Verifica-se que o cristianismo (nas suas múltiplas variantes) é dominante (71,8%) seguido dos que se declaram sem religião (15,1%) e dos que não indicam religião (7,8%). Todas as outras religiões em conjunto representam apenas 5,4% da população britânica.

Com uma população de ateístas tão representativa não se percebe porque ainda não se implementaram as recomendações do Institute for Public Policy Research, que sugere incluir o ateísmo nos programas escolares de educação religiosa e que a disciplina actual de Educação Religiosa deveria passar a ser designada por Educação Religiosa, Filosófica e Moral.

Um debate (já fechado) interessante sobre o tema pode ser encontrado no site da BBC online, Deverá o ateísmo ser ensinado nas escolas?

12 de Outubro, 2004 jvasco

Quem são os Deuses dos ateus?

Uma das críticas mais curiosas que se fazem aos ateus em geral é a de se quererem substituir aos Deuses.

Numa primeira análise, a crítica parece patética. Os ateus não acreditam em Deuses, não poderiam querer substituir-se a estes. A única justificação para uma crítica tão despropositada seria a falta de argumentos de quem se sente incomodado com a nossa posição. Estas considerações poderão ser válidas se a crítica fôr feita a certos ateus.

Mas em relação a outros ateus (nos quais me incluo), considero que a crítica faz sentido. A questão que se coloca é se deve ser ou não considerada uma crítica. Passo a explicar:

Os Deuses não existem. Tal como as outras personagens mitológicas, são fruto da imaginação humana. Os Deuses garantiriam os desejos intrinsecamente humanos: imortalidade (sim, a selecção natural criou o instinto de sobrevivência que se consubstancia num desejo de imortalidade); o Paraíso; a Justiça Final; a atenção total, absoluta, e amor de um ser Perfeito, Omnipotente.

Só que as pessoas podem inventar seres e sonhar com uma vida eterna que não existe, ou então, em vez de confundirem a realidade com os seus desejos, trabalharem para mudar a realidade de acordo com os seus desejos, construindo um mundo melhor.

Queremos o Paraíso? Construamo-lo. Construamos um mundo sem miséria, combatamos a doença com a medicina, construamos um mundo sem guerras, construamos um mundo melhor. «Brincar aos Deuses» assim é uma brincadeira mais séria e construtiva que qualquer Religião.

A estes ateus, a estes que querem construir um mundo melhor passo após passo, a estes que não querem ficar de braços cruzados, a estes que não esperam passivamente que os seus desejos se tornem realidade, trabalhando para os concretizar, a estes ateus faz sentido que lhes digam «vocês querem substituir-se aos Deuses». É caso para responder: «de alguma forma, é verdade, e ainda bem».

PS- Já tinha ouvido várias vezes esta crítica. A última vez que a li foi no sistema de comentários deste blogue, em relação ao artigo «Mitologia sim, mitomania não». Respondi de imediato à crítica, e considerei posteriormente que deveria publicar uma resposta a esta crítica como artigo do blogue (por ser uma crítica relativamente comum). Desta forma algum texto deste artigo é copiado dessa resposta.