02 set, 2017
«O islamismo não distingue claramente Estado e religião. Um obstáculo à democracia liberal.
Inúmeras vezes foi colocada, nos anos recentes, a questão de saber se o islão seria ou não compatível com um regime democrático liberal. Muitos esperavam uma evolução semelhante à do cristianismo. Durante séculos a Igreja e os Papas detiveram, além de poder religioso, poder temporal. Ora esse tempo foi ultrapassado há muito.
Mas parece que no islão não se esboça sequer uma evolução paralela. Claro que milhões de muçulmanos são pacíficos e decentes. Só que o problema é outro.
O problema não se restringe ao islamismo, … continue a ler
Não é contra as pessoas que têm fé. Écontra a fé que as pessoas têm.
Defendo o direito a ter fé, a mudar de crença, regressar à anterior, partir para outra e a não ter fé. Só não aceito a imposição e a violência que soe acompanhar o proselitismo.
Combato os avençados do divino que não aceitam outra fé e, sobretudo, quem a não tem. Ataco os parasitas de Deus e os charlatões místicos. Desmascaro Deus e todos os mitos.
Os deuses, tal como as pessoas, nascem, crescem e morrem, apenas o seu ciclo é mais difícil de prever e a sua existência impossível de provar. O próprio Jesus Cristo, depois de uma curta carreira de milagres e pregação, atividades em voga no seu tempo, nasceu há mais de 2020 anos. Pouco tempo para um Deus e demasiado para as vítimas que duvidaram.
À volta de Deus crescem interesses, organizam-se multidões de parasitas que precisam de multiplicar o número de devotos para manterem o poder e as prebendas. A história das religiões comparadas mostra que são todas parecidas, tendo a morte e o medo como alimento predileto.
Leão X, Papa católico (ateu, por acaso) dizia que «a fábula de Cristo é de tal modo lucrativa que seria ingénuo advertir os ignorantes do seu erro». Até Pio XII, que morreu com a consciência pesada de ser antissemita e vagamente nazi, afirmava que, para os cristãos, Cristo era do domínio da fé, não era objeto da história.
Alguns leitores acusam-me de ser, não tanto contra as religiões, mas sobretudo anticatólico. É benevolência dos católicos. Sou contra todas. Já algumas vezes afirmei que todas as religiões consideram ser a única verdadeira, donde se conclui que, na melhor das hipóteses, são todas falsas, menos uma, e, muito provavelmente, são todas.
É verdade que sou mais generoso para com o catolicismo, por ser o mais pernicioso em Portugal. Deve-se-lhe o atraso do País, por ter sido religião obrigatória. Os padres foram quase sempre caceteiros e trogloditas. Atacaram o liberalismo a favor do miguelismo, a República mancomunados com a monarquia, a democracia, aliados à ditadura.
Até na guerra colonial a posição oficial da Igreja católica portuguesa foi empenhada, com o cardeal Cerejeira a afirmar que defendíamos a civilização cristã e ocidental, depois de ter sabido pela Irmã Lúcia que Salazar fora enviado pela providência, quando os portugueses achavam que só podia ter sido pelo diabo.
Prazo dado pela ONU ao Vaticano para se pronunciar sobre filhos de padres termina esta semana.
Em 2014, o Comité dos Direitos das Crianças da ONU recomendou que o Vaticano identificasse crianças filhas de padres e tratasse de assegurar o seu direito a apoio financeiro e à identidade.
«Há três anos, na sequência dos escândalos em torno dos abusos sexuais de menores infligidos por membros da Igreja, o Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas recomendou ao Vaticano que, num prazo de três anos, fizesse um levantamento do número de crianças nascidas de membros da Igreja, as localizasse e se assegurasse que estas veriam respeitado o direito a conhecer o seu pai e a receber, deste ou da Igreja, apoio financeiro.»
Dos danos das religiões causados aos Estados há fartos exemplos e repetidas denúncias, mas fala-se pouco da nocividade da política sobre as religiões e do aproveitamento que os Estados fazem delas, num caso e noutro com sacrifício da laicidade que a democracia exige.
Quando a URSS invadiu o Afeganistão, mandou a geopolítica que os EUA treinassem e armassem os talibãs para fragilizar o império soviético. Então, os talibãs serravam vivos os soldados russos, perante o silêncio da comunicação social. Eram comunistas!
Os EUA substituíram a URSS, e os talibãs, que tinham treinado e armado, esqueceram os aliados anteriores e serraram, também vivos, soldados americanos. A comunicação social ignorou-os de igual modo. Eram imperialistas americanos!
Os kamikazes japoneses, movidos pela fé, eram talibãs indiferentes ao Paraíso. Eram os soldados de um deus vivo, daquele enigmático Imperador cuja descendência permanece no poder com a tradição a impor-se à racionalidade, à decência e à modernidade.
Os kamikazes extinguiram-se, não por falta de fé, mas por falta de financiamentos e de apoio social. É esse motivo que dá esperança ao fim do recente terrorismo vaabita, à semelhança do que já aconteceu com o IRA ou os ingleses do Ulster, com o Grupo Baader-Meinhof alemão ou os neofascistas italianos, uma tradição recente de terrorismo europeu e caucasiano, com apoios e financiamentos políticos.
Esta fase horrenda do terrorismo islâmico, de que as principais vítimas são os islamitas, deve-se tanto à influência política dos Estados párias, como a Arábia Saudita ou o Catar, como à cumplicidade de países ocidentais com obscuras ditaduras teocráticas do Médio Oriente ou com a deriva totalitária turca de Erdogan.
O entusiasmo com que os novos Cruzados pretenderam levar a democracia ao Iraque e à Líbia, por exemplo, é o mesmo com que amparam as mais obscuras e sinistras ditaduras islâmicas onde a sharia comanda a vida.
Um módico de decência e de coerência nas relações internacionais e o simples respeito pela soberania de outros países é o mínimo exigível às grandes potências a favor da paz.
E quando se abdica da laicidade surge a promiscuidade entre a política e a religião.
Piazza Navona e Bernini
Palácios com aquele ar que em Roma
descasca de velhice o mais moderno prédio.
E a fonte de Bernini. Essa água toda
de que ele tinha em Roma o monopólio.
Mas noutra parte a colunata ascende.
E Santa Teresa, ante a seta do anjo,
vem-se de penetrada em voo de pintelhos
que o hábito lhe roçam esvoaçante
num pélvico bater que a estoura de infinito.
(Jorge de Sena)
Chambéry, 27/7/1971
A cerimónia de verificação da masculinidade papal, numa Igreja tão misógina como a dos outros dois monoteísmos, terminou há séculos.
O lugar de ‘apalpador’ dos testículos do candidato, antes de ser declarado Papa, foi eliminado, mas a história regista a cerimónia pia.
Vale a pena ler este artigo do blogue do jornal espanhol «País».
Naquele tempo o anjo Gabriel era o alcoviteiro de serviço. Foi ele que disse a Maria que estava grávida o que outra mulher teria percebido. Foi também ele que, seis séculos depois, se encontrou com Maomé para lhe dizer qual era a sua – dele, Maomé -, missão.
Os anjos viviam muito tempo, embora poucos conhecessem notoriedade, levando existência discreta e anódina. Gabriel distinguiu-se. Fora criado por judeus, que criavam anjos como o Papa JP2 criava santos, que criam em milagres com a mesma fé com que alguns padres rurais acreditaram na existência de Deus.
Maomé nasceu em Meca durante o ano de 571 e viria a morrer em Medina em 632. O Corão e as agências de turismo fizeram santas as duas cidades e há períodos do ano em que uma chusma de fanáticos aí acorre, apesar dos perigos que os espreitam.
Muito parecidas com as largadas de touros, um espetáculo ainda em uso no concelho do Sabugal e noutras localidades portuguesas, as peregrinações têm perigos idênticos. O apedrejamento ao Diabo, um ódio transmitido de geração em geração, salda-se sempre por várias mortes enquanto o Diabo fica incólume, à espera do próximo apedrejamento.
Maomé teve uma vida pouco recomendável, um casamento com uma menina de seis anos, coisa que a Igreja católica também não via com maus olhos, e um casamento com a rica viúva Cadija cuja fortuna lhe permitiu dedicar-se à guerra, à religião e ao plágio do cristianismo.
Depois aconteceu-lhe o mesmo que a Cristo. Começou a ser adorado, correu o boato de que tinha nascido circuncidado, de que tinha ouvido Deus, de que foi para o Paraíso em corpo e alma, enfim, aquele conjunto de coisas idiotas que se dizem dos profetas.
Hoje já ninguém pergunta se tomavam banho, se sofreram prisão de ventre ou foram vítimas das salmonelas, se urinavam virados para Meca ou para o Vaticano, que hábitos sexuais ou manifestações de lascívia tinham.
Cristo e Maomé tornaram-se cadáveres adorados e os incréus cadáveres apetecidos pelos beatos.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.