Loading
30 de Novembro, 2004 Ricardo Alves

Refutando BSS (1)

A corrente filosófica nossa contemporânea que melhor tem servido a religião é o pós-modernismo. Não é, portanto, perda do tempo ateu compreendê-la e desmontar quer os argumentos que fornece aos religiosos, quer os novos obscurantismos que fomenta. Consideremos um caso bem português: Boaventura Sousa Santos (BSS), guru pós-modernista cuja devoção na promoção do obscurantismo só é comparável à de alguns professores da Universidade Católica. No seu célebre «Um discurso sobre as ciências», BSS resumiu assim a sua posição:

«Os pressupostos metafísicos, os sistemas de crenças, os juízos de valor não estão antes nem depois da explicação científica da natureza ou da sociedade. São parte integrante dessa mesma explicação. A ciência moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer qualquer razão científica para a considerar melhor que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão porque privilegiamos hoje uma forma de conhecimento assente na previsão e no controlo de fenómenos nada tem de científico. É um juízo de valor.»

A resposta mais óbvia que se pode dar a este arrazoado gratuito, injustificado (e injustificável) é que privilegiar a ciência como forma de conhecimento não tem efectivamente nada de científico, sendo antes uma questão de bom senso. A ciência é preferível porque efectivamente explica a realidade, ao invés de meramente a discutir (caso da metafísica), ou de a interpretar estimulando a nossa sensibilidade (caso da poesia ou da arte), ou de lhe enxertar relações e mecanismos desnecessários ou mesmo errados (caso da astrologia e da religião). Evidentemente, a ciência não será uma explicação acabada e definitiva da realidade, mas é o melhor que temos (o que é dizer muito!). Posto isto, é com certeza também um juízo de valor preferir a ciência à religião e quejandos, mas qualquer pessoa intelectualmente honesta reconhece que a ciência recupera paraplégicos, enquanto rezar pelas suas melhoras ou procurar uma cura nos astros se revela inútil.

No trecho reproduzido mais acima, vemos todo o esplendor (e tragédia) da relativização da realidade material. A acreditar em BSS, não haveria qualquer razão científica para considerar qualquer uma das quatro explicações seguintes para os acontecimentos de Fátima melhor do que a outra:

(1) «Uma galilaica morta há dois mil anos falou em Fátima no dia 13/10/1917 do seu horror por Afonso Costa e Lenine»;

(2) «Um OVNI esteve em Fátima no dia 13/10/1917 e um extra-terrestre tentou dizer-nos que os habitantes da Próxima de Centauro nos querem bem»;

(3) «Os horóscopos de Francisco e Jacinta Marto para o dia 13/10/1917 determinavam que os acontecimentos desse dia lhes poderiam ser fatais a prazo»;

(4) «No dia 13/10/1917, um grupo de padres montou em Fátima uma encenação com objectivos políticos e religiosos».

As afirmações (1), (2), (3) e (4) acima têm diferentes graus de credibilidade demonstráveis através do uso da razão e da experiência. (1) é falsa porque a morte é definitiva (e o ser humano nunca dura mais do que 115 anos aproximadamente…); (2) é presumivelmente falsa porque a existência de ET´s não está demonstrada e seria pouco provável que cá chegassem; (3) é falsa porque os alinhamentos de astros distantes não influenciam significativamente o movimento do Sol, quanto mais os nossos humores e sentidos; (4) não está provada, mas não viola lei da Física alguma, nem contradiz a nossa experiência da História do mundo e dos homens. Se seguíssemos BSS, não poderíamos decidir.

30 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

Diário Ateísta – 1.º Aniversário

Hoje, dia 30 de Novembro, o Diário Ateísta comemora o seu 1.º aniversário.

«Quem faz o que pode, faz o que deve». Miguel Torga

«Quem faz um filho, fá-lo por gosto». Ary dos Santos

29 de Novembro, 2004 André Esteves

Milagre Ateu

Aconteceu… O milagre ateu que todos estávamos à espera. Na Coreia, utilizando células estaminais extraídas de um cordão umbilical, uma mulher paralisada da coluna para baixo há 19 anos voltou a andar.

Tarde demais para Christopher Reeve, que morreu, como tantos outros, das complicações da sua condição tetraplégica. Todos os que impediram e retardaram durante todos estes anos a investigação com células estaminais têm agora sangue nas mãos.

É esta a diferença entre a ética e a moral:

A ética salva vidas. A moral destrói-as em nome de conceitos abstractos.

29 de Novembro, 2004 jvasco

O Papa é Darth Vader

Foi através do meu irmão que soube da existência deste culto.

Não sei ao certo qual a dimensão do mesmo, mas sei que ultrapassa a mera «brincadeira de internet», havendo verdadeiros devotos e crentes.

A ideia geral é a seguinte: Jah, o fundador, é na verdade Jesus Cristo, reencarnado. Veio novamente à terra para espalhar a palavra de Deus e redimir os pecadores, espalhando os 12 mandamentos. Vem revelar-nos a Verdade: Hitler era o anti-cristo; Colombo não descobriu a América; o Papa é Darth Vader, líder do império do mal (pois a saga “A Guerra das Estrelas” não foi escrita por George Lucas, mas telepaticamente transmitida para que este preparasse a humanidade para a segunda vinda de Cristo); o desrespeito aos sábios ensinamentos do Corão é responsável pelo flagelo das drogas, criminalidade e depressões; os extraterrestres visitam-nos regularmente, e o próprio Jesus é extraterrestre; os Celtas são na verdade um povo Israelita; os rituais pagãos são mágicos e sagrados; a reencarnação é um facto; e os Iluminatti andam aí a querer criar a nova ordem mundial, onde o sofrimento e a injustiça são a palavra de ordem.

Repito: não é uma brincadeira.

É realmente um sistema de crença que consegue unificar quase todo o fenómeno religioso, nas suas mais diferentes vertentes e manifestações.

Aqui se pode analisar o fenómeno da crença e do crente, de uma forma autêntica, pura.

29 de Novembro, 2004 Carlos Esperança

Diário Ateísta

Amanhã, dia 30 de Novembro, o Diário Ateísta comemora o seu 1.º aniversário.

«Quem faz o que pode, faz o que deve». Miguel Torga
«Quem faz um filho, fá-lo por gosto». Ary dos Santos

O actual endereço do Diário Ateísta é http://www.ateismo.net

28 de Novembro, 2004 Mariana de Oliveira

Inscrições para o ENA III

Como prometido, aqui estão as instruções para a inscrição no III Encontro Nacional de Ateus, que irá decorrer em Coimbra, no dia 19 de Dezembro.

1. O e-mail a ser usado para as inscrições é [email protected].

2. O tópico do e-mail deve ser: «Inscricao Ena 3»

Caso levem acompanhantes o tópico pode ser «Inscricao Ena 3 ( +Y )» em que Y é o número de acompanhantes.

3. O corpo do e-mail deve ser:

Nome: Nome do Participante

Email: Email_do_participante@blah

Telefone: 666 666 666

Se houver acompanhantes:

Nome: Nome do Acompanhante 1

Email: Email_do_Acompanhante 1@blah

Telefone: 666 666 666

Nome: Nome do Acompanhante 2

Email: Email_do_Acompanhante 1@blah

Telefone: 666 666 666

4. O formato dos emails para as inscrições TEM que respeitar as regras mencionadas. Existe um filtro e os e-mails que não seguirem este formato arriscam-se a ser automaticamente apagados pelo sistema. Inscrições para a lista assoc_ateista, despertar ou ateismo.net também NÃO SERÃO consideradas.

5. A inscrição é considerada como definitiva, mas pode ser cancelada. Uma semana antes do evento será enviada uma mensagem a todos os inscritos a confirmar a inscrição.

28 de Novembro, 2004 Mariana de Oliveira

Santa Tosta

Duas semanas atrás, o André relatou a venda deste objecto, no site de leilões eBay, cuja base de licitação era de 10 dólares. Na passada segunda-feira e um milhão e seiscentas mil consultas depois, o casino «on-line» GoldenPalace.com adquiriu, pela módica quantia de 28 000 dólares, uma tosta de queijo, parcialmente comida e com dez anos de idade, onde está embutida uma imagem da suposta Virgem Maria.

Steve Baker, presidente do Cyber World Group, empresa a que pertence o casino adquirente, afirmou que a tosta «representa algo que acreditamos ser um fragmento da cultura pop americana».

Santa TostaA antiga proprietária, Diana Duyser, desenhadora de jóias com 52 anos, acredita ter cozinhado para o pequeno-almoço uma imagem da mãe de Jesus, há uma década atrás. Quando deu a primeira dentada, contou, «cuspiu-a». «Estava chocada. Aquilo assustou-me, realmente».

O GoldenPalace.com promove a tosta como sendo um «ícone religioso» com uma «imagem mistificadora» e vai enviar a iguaria numa «tournée» mundial.

Diana Duyser vai ter saudades da tosta «porque era um conforto quando os tempos não eram fáceis», apesar de nunca ter tido uma intervenção milagrosa na cura do marido que sofre de enfisema.

De tempos a tempos, aparecem estes fenómenos intrigantes pela forma como se tornam expressão da crendice popular e do aproveitamento da ingenuidade de um sem número de pessoas mais susceptíveis de caírem no «conto do vigário». No entanto, tais fenómenos não estão assim tão distantes como à primeira vista poderia parecer dos milagres e das aparições de Virgens Marias um pouco por toda a Europa e do subsequente aproveitamento económico que as religiões organizadas fazem deles.

Caso se tenha tornado fã do pedaço de pão com queijo tostado, e pensando já no Natal, poderá adquirir t-shirts, tapetes para o rato, canecas, sacos ou aventais com a imagem santa tosta, criar a sua própria tosta abençoada e ver tostas com caras de famosos. Numa nota menos mercantilista, é possível seguir a viagem, através dos Estados Unidos, até Las Vegas, pelo do blogue oficial, «Follow the Cheese».

28 de Novembro, 2004 jvasco

Conselhos de leitura

A propósito da questão do criacionismo, pertinentemente trazida pela Palmira, aproveito para aconselhar um artigo curioso da autoria de um membro do fórum (Leonardo Vasconcelos), que aborda algumas questões relativas aos novos desenvolvimentos na gereralização da teoria da selecção natural.

E já que aconselho leituras, não será de mais sugerir uma espreitadela ao blogue do Banqueiro Anarquista, onde o Francisco Burnay (co-autor, comigo, desse blogue) escreveu um artigo interessante chamado (des)Apologia teológica.

Quanto à actualidade, sugiro dois artigos do público: Confrarias e Madrassas disputam a fé dos Moçambicanos, sobre o aumento da influência do islamismo em Moçambique, e Os Fundamentalistas Semeiam o Fruto nos Jovens, uma entrevista sobre esse mesmo assunto.

Ainda sobre o islamismo, vale a pena ler o artigo de opinião no Diário de Notícias, de M. Youssuf Adamgy, que fala sobre o assassinato de Theo Van Gogh.

Boas leituras!

28 de Novembro, 2004 Palmira Silva

Os dinossauros de Deus

«Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei o entendimento dos entendidos.» Coríntios 1:18-27.

«A Tradição é a personalidade dos imbecis» Albert Einstein

As religiões mais antigas reverenciavam o Sol e a Lua como deuses: a ciência provou que são apenas corpos celestes. Durante muito tempo acreditou-se que a Terra era plana. Depois, acreditou-se que o centro da criação era o homem na Terra. A ciência provou que o próprio Sol se move no universo, bem como todo o sistema solar. Existem inúmeros pontos semelhantes: cada vez que a religião coloca algum tipo de santidade no plano do concreto, a ciência vem contradizê-la, o que é feito naturalmente, sem perseguições. Alguém conhece perseguições promovidas pela ciência? Mas todos conhecem perseguições religiosas de todas as espécies e especialmente perseguições a cientistas que pagaram com a vida ou a liberdade a ousadia de afirmar que os ensinamentos supostos científicos da santa Igreja eram apenas um chorrilho de disparates.

Agora que as fogueiras inquisitoriais estão fora de moda, as pretensões tridentinas de mistificação da ciência assumem novos contornos. Especialmente no que diz respeito ao evolucionismo, visto por alguns como o maior «inimigo» do teísmo. Assim, existem várias versões de negação do evolucionismo, algumas completamente rídiculas e acéfalas, como seja o criacionismo puro e duro, que advoga uma leitura literal do Genesis.

O expoente máximo do oxímoro Criacionismo Científico, é o primeiro presidente do Institute for Creation Research, Henry Morris, um engenheiro hidráulico arregimentado por John C. Whitcomb, Jr., um teólogo com interesse na geologia do Dilúvio e no criacionismo, cuja Tese de doutoramento (em Teologia, claro) tinha o título sugestivo «O Dilúvio do Genesis».

Que debitava «pérolas» como:

«A evidência final e conclusiva contra a evolução é o facto de a Bíblia a negar. A Bíblia é a Palavra de Deus, absolutamente inerrante e verbalmente inspirada.»

«O cristão instruído sabe que as evidências para uma completa inspiração divina das Escrituras têm muito mais peso do que as evidências para qualquer facto da ciência. Quando confrontado com o testemunho bíblico consistente sobre um Dilúvio universal, o crente certamente tem de aceitá-lo como sendo inquestionavelmente verdadeiro.»

Mas por que não se rendem aos factos os dinossauros em nome de Deus e aceitam que a Evolução Biológica é inquestionável? E porque têm sucesso em algumas faixas da população? A grande maioria da população não tem acesso à ciência, e as suas descobertas são passíveis de deturpação em nome do proseletismo religioso. A grande preocupação dos prosélitos do criacionismo reside no facto de que se Deus não criou a vida, então todo o mito do cristianismo cai por terra. Muitos cristãos já não acreditam no conto da criação de Adão e Eva, mas não se aperceberam (por enquanto) das suas implicações. Ao desabar a crença na criação do homem, todos os fundamentos desta religião desabam qual castelo de cartas. E uma das cartas fundamentais consiste no mito do pecado original. Se o pecado original é uma fábula, então toda a expiação desse pecado não tem sentido. Assim como a lenda associada ao criador do cristianismo que supostamente se sacrificou para redenção do mítico pecado original.

Para os cristãos cientificamente mais esclarecidos existem versões aparentemente mais sofisticadas e apresentadas como imbatíveis e irrefutáveis. Uma delas é designada por «Princípio Antrópico», ou princípio da natureza do homem, que, baseada na verdade de Monsieur de La Palice que se as constantes da natureza (como por exemplo, a carga e a massa do electrão, a constante de Planck, a velocidade da luz, a permitividade no vácuo, enfim todas as constantes que governam as leis da Física ) fossem diferentes, o Universo como nós o conhecemos não seria possível.

O princípio antrópico recusa que sejamos o que é subjacente ao evolucionismo, ou seja, o produto do acaso e propõe que o Universo e as leis da Física foram «desenhadas» para a existência do Homem. Existem essencialmente três versões do princípio antrópico, desmistificadas aqui ou aqui e ainda aqui:

Princípio Antrópico Fraco (WAP): Os valores das constantes físicas e cosmológicas estão restritas pela exigência que existam locais onde a vida baseada no carbono possa evoluir e pela exigência de que o universo é velho o suficiente para esta já ter evoluído;

Princípio Antrópico Forte (SAP): O universo deve apresentar as propriedades que permitem o desenvolvimento da vida. Ou seja, mais um raciocínio circular, ou Circulus In Demonstrando, a vida existe, logo as constantes fundamentais e as leis de natureza devem ser tais que vida possa existir. Os valores das constantes físicas fundamentais incompatíveis com a vida (e vida inteligente) são proibidos;

Princípio Antrópico Final (FAP). Esta versão diz que o processamento de informação inteligente tem que entrar em existência no universo, e, uma vez entrado em existência, nunca desaparecerá. O FAP tem em Frank Tipler o seu principal advogado de defesa, nomeadamente no livro pomposamente chamado «A Física da Imortalidade».

Este tratado da arrogância pseudo-científica contem um «apêndice para cientistas» de 110 páginas, cheio de operadores, derivadas parciais e integrais, um amontoado de equações matemáticas complexas, confusas e desconexas, que não têm rigorosamente nada a ver com a tese que o autor quer sustentar: a inevitabilidade da existência de Deus. Claro que qualquer cientista que inspeccione as páginas ficará perplexo sobre o que estes apêndices estão lá a fazer… mas o leitor leigo em ciência ficará certamente impressionado com os supostos argumentos científicos do autor. Olhando para os apêndices da minha área de especialização, por exemplo, o apêndice D, «A lei das accções da massa requer indistinguibilidade quântica», só vejo uma forma rebuscada e propositadamente confusa de apresentar a 2ª lei da termodinâmica (com algumas incorrecções formais) que não tem rigorosamente nada a ver com nada que seja apresentado no livro.

Pessoalmente só acredito no CRAP (Princípio Antrópico Completamente Ridículo), como é denonimado o princípio antrópico pelo céptico Martin Gardner.

27 de Novembro, 2004 Palmira Silva

Newsweek proíbida no Paquistão

Um magistrado paquistanês ordenou que todas as cópias do número da Newsweek de 22 de Novembro fossem destruídas sob a alegação de que continham material ofensivo para o Islão.

Em causa está um artigo sobre o assassinato de Theo van Gogh, «Choque de Civilizações» que o magistrado Tariq Mahmood Pirzada afirmou «conter algumas afirmações questionáveis que correspondem à profanação do Corão».

As autoridades paquistanesas estão ainda a considerar uma acção legal contra a publicação, embora não tenham adiantado pormenores sobre a mesma.

Sob a lei paquistanesa da blasfémia, alguém culpado de insultar o Islão, o profeta Maomé ou o Corão, é condenado à morte. O diário em língua inglesa de maior circulação no Paquistão, News, classificou ontem o artigo ofensivo como «blasfemo e altamente provocativo».