Loading
13 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Ma-Schambéns

Ma-Schamba

Parabéns ao Ma-Schamba pelo seu primeiro aniversário blogosférico e que continue a mostrar os encantos africanos à aldeia global.

13 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Blasfémia

Quando se julgava que a «blasfémia» era um crime medieval erradicado nas sociedades civilizadas;

quando as sociedades laicas tinham garantido o direito de aderir ou de renunciar a qualquer religião;

quando o direito de crítica e a liberdade de expressão pareciam uma conquista irreversível dos países democráticos;

quando o ateísmo passou a ser um direito equivalente ao da prática religiosa;

Eis que começa a estar ameaçado o direito de refutar a veracidade dos livros em que as religiões se fundam. Nem o facto de as verdades de uns colidirem com as verdades de outros defende alguns políticos pusilânimes de legislarem sobre o que é religião e os limites do combate intelectual contra o obscurantismo e a mentira.

Na Holanda e o no Reino Unido, países que andaram quase sempre na vanguarda da civilização e foram o garante de respeito pelas liberdades, há hoje propostas altamente perigosas para criminalizar a «blasfémia» num atentado gravíssimo às liberdades individuais, numa tentativa de aplacar a raiva do fascismo islâmico que odeia a liberdade religiosa com a mesma fúria demente com que Maomé embirrou com o toucinho.

Vital Moreira, no seu artigo «Blasfémias», publicado no «Causa Nossa» equacionou hoje o problema com a habitual lucidez, chamando a atenção para os direitos dos não crentes e para os perigos que semelhante desvario encerra para a criação literária, artística e, no fundo, para os direitos e liberdades que são apanágio das sociedades civilizadas.

Perante a cobardia que os políticos laicos parecem mostrar face à chantagem dos parasitas de Deus, devemos lembrar as vítimas que se opuseram à fúria beata e ao ódio que grassa nos templos dirigidos pelos parasitas dos vários deuses das diversas religiões.

Hoje é Salman Rushdie que se encontra condenado à morte, há dias foi Theo van Gogh assassinado, em 1739 foi António José da Silva que foi queimado em auto de fé, na presença de D. João V, amanhã é a barbárie que regressa com homens e mulheres de mãos postas, a rezarem de joelhos e a agradecerem a um Senhor a fogueira em que os queimam ou as pedras com que os lapidam.

13 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Sudão

Num país martirizado pelo genocídio que tarda em ser reconhecido, surgem agora notícias de incursões do grupo ugandês Lord’s Resistance Army (LRA), que atacou sábado passado a aldeia Rajaf, no estado Bahr el-Jebel, matando sete mulheres e crianças, ferindo oito e ainda raptando quatro aldeões.

O LRA é um grupo rebelde que opera no norte do Uganda, liderado pelo auto-proclamado profeta Joseph Kony, que deseja derrubar o governo e instituir no país um governo estritamente baseado nos dez Mandamentos bíblicos. Estes guerreiros em nome de Deus são conhecidos na área pelas atrocidades que cometem, nomeadamente o rapto de crianças para escravatura sexual ou para treinar como futuros guerrilheiros.

Entretanto na véspera do ataque à aldeia sudanesa, a primeira dama do Uganda, a senhora Museveni, juntou-se a centenas de virgens ugandeses a quem afirmou que «Foram todos criados à imagem de Deus e Deus concedeu-vos a capacidade de auto-controle.». A iniciativa, organizada por várias igrejas e movimentos como o americano «True Love Waits», destinava-se a promover a abstinência e o sexo só depois do casamento, e ostentava cartazes em que se podia ler: «Os preservativos são completamente ineficientes».

O pastor Martin Sempa, um advogado muito vocal da abstinência, afirmou que a iniciativa pretende «resistir» ao ataque das campanhas que apelam ao uso de preservativos, promovidas no âmbito de agendas de grupos de «homossexuais e peritos ocidentais que não sabem como a epidemia da SIDA se propaga em África».

13 de Dezembro, 2004 André Esteves

Os sonâmbulos pecam?

Uma das minhas memórias fortes da adolescência é a de uma fotografia de um gato. Tinham-lhe operado o cérebro para eliminar um conjunto de fibras nervosas que inibiam a comunicação do cerebellum ao sistema nervoso simpático durante o sono.

Nessa fotografia o gato saltava para apanhar uma mosca, tal como eu tinha visto a minha gata fazer tantas vezes. Um golpe de pata relâmpago para entorpecer a mosca no chão e aí mastiga-la. A única diferença, entre a minha gata e o gato da fotografia, é que o gato estava a dormir e a sonhar que caçava uma mosca.

Um gato sonâmbulo, fruto da cirurgia experimental.

O sonambulismo é um fenómeno estranho. Todos nós nalguma parte da vida já provavelmente tivemos um episódio de sonambulismo. Em situações de elevado stress associado a desajustamentos do ciclo de sono com o ciclo diurno local ou a longos períodos sem sono, provocam facilmente a entrada no estado de vigília, em que nem dormimos nem estamos acordados. É um estado de aconsciência inteligente que borda o sonho e o pesadelo.

O fenómeno em si pode ser descrito como parte dos chamados «estados alterados da consciência», mas existem pessoas que por defeitos ou lesões cerebrais permanentemente sofrem de sonambulismo. Neste estado temos a peculiar característica de agirmos sem disso estarmos conscientes. Toda a «sociedade da mente» de agentes mentais que se especializam nas mais esquisitas actividades cognitivas está atenta e a funcionar, mas a consciência encontra-se ausente ou ocupada com uma ficção. É a crua maquinaria do inconsciente que passa actuar directamente na realidade, longe da atenção consciente.

Recentemente, dois casos interessantes de sonambulismo em situações extremas, vieram a público, numa delas, um homem foi inocentado por violação sonâmbula, tendo acordado quando a vítima pedia socorro e noutro, uma australiana tinha sexo com estranhos, chegando ao ponto de usar o preservativo enquanto fornicava sonâmbula

Estes dois casos são exemplos de uma situação neurológica que só recentemente chegou ao conhecimento dos médicos e cientistas da área.É certo que desde os anos 80, o livre arbítrio não têm andado em boas condições. Estes sonâmbulos pecam sem tal decidir conscientemente. Até um tribunal já inocentou um deles. Será que vão parar ao inferno por estarem a dormir?

E o livre-arbítrio católico quando encontra a biologia e as neurociências, será que usa o preservativo? Parece andar a precisar…

12 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Argentina – Na sequência de uma conferência em Buenos Aires, em que participava Rebecca Gomperts, fundadora da associação pró-legalização do aborto «Women on Waves», grupos de católicos anti-aborto foram convocados para rezar o rosário em frente do auditório onde se anunciava a chegada do denominado barco do aborto no próximo ano.

Convictos da inutilidade da oração, desconfiados da ajuda do seu Deus, os créus quiseram sabotar a conferência. Impedidos de entrar, envolveram-se em confronto com elementos pró-aborto. Na ausência de Deus, valeu a polícia federal para restabelecer a ordem.

EUA – Depois das dioceses de Portland e Tucson, que declararam falência em Setembro passado, foi agora a vez de Spokane, no Estado de Washington, a pedir a falência, onde apenas dois sacerdotes são responsáveis por mais de metade dos 120 pedidos de indemnização por abusos sexuais, processos que acarretam uma despesa de dezenas de milhões de dólares.

Por mais que o Papa JP2 apele à abstinência sexual e dê, ele próprio, um magnífico exemplo de castidade, há sempre padres que estragam a saúde financeira das dioceses.

EUA (2)JP2 acredita no futuro da ICAR nos EUA onde, no último meio século, mais de 4 mil padres foram condenados por abuso sexual a crianças, números divulgados no relatório da Empresa (Conferência episcopal dos EUA), em Fevereiro. Para JP2 os escândalos devem tornar-se uma «ocasião providencial de conversão» para os católicos dos EUA. Talvez a conversão ao agnosticismo e aos bons costumes não fosse pior.

Lisboa – O patriarca Policarpo, como já foi denunciado pelo Ricardo Alves, critica o que considera «os excessos do laicismo» e manifesta a vontade de ver os crucifixos nos edifícios públicos e que os juramentos mais solenes se façam sobre a Bíblia. Não sei se o patriarca está disposto a conceder o direito de reciprocidade e os altares passam a ter exposta a Constituição da República e as Igrejas a ostentarem um busto do presidente da República. Finalmente o sacramento da Ordem só poderá ser concedido mediante a fidelidade à República e à Democracia e a renúncia à obediência a uma potência estrangeira – o Vaticano.

12 de Dezembro, 2004 Ricardo Alves

Resposta a Policarpo sobre os «exageros do laicismo»

O Cardeal Patriarca de Lisboa, José Policarpo, desferiu anteontem um ataque ao que qualifica de «exageros do laicismo». Policarpo está preocupado, aparentemente, com os protestos contra a utilização abusiva de escolas do Estado na iniciativa proselitista «Bíblia Manuscrita Jovem», e com a possibilidade de que os crucifixos sejam progressivamente retirados de escolas e outros edifícios públicos.

Espanta-me que José Policarpo, que reitera (presumo que sinceramente) a sua adesão ao ideal de laicidade do Estado, não compreenda que uma igreja, seja ela qual for, não pode impôr os seus símbolos ao Estado. O correcto entendimento da laicidade do Estado implica justamente que nem as igrejas devem ser forçadas a ostentar a bandeira da República, nem as escolas da República são obrigadas a exibir o instrumento de tortura que foi adoptado pelas igrejas cristãs como o seu símbolo principal.

Policarpo argumenta, em defesa da «Bíblia Manuscrita Jovem», dos crucifixos nas escolas e até em defesa dos juramentos religiosos, que «a Bíblia, como aliás a Cruz do Senhor, nos países que têm o cristianismo como matriz cultural, não são apenas símbolos religiosos, são realidades culturais». Acontece que, como Policarpo sabe perfeitamente, a cruz não está nas escolas por ser um «símbolo cultural». Se assim fosse, estaria lá acompanhada pelo galo de Barcelos e pela fatídica garrafa de vinho do Porto. Os crucifixos estão nas escolas, isso sim, como símbolo do poder político da ICAR.

Finalmente, o nosso caro concidadão Policarpo deve saber que nem todos os alunos das escolas deste país são cristãos, e que todos merecem o mesmo respeito, independentemente da sua crença ou ausência de crença. Ou será que a ICAR deseja impôr a todos (ateus, católicos, agnósticos, muçulmanos) um símbolo que apenas para alguns é sagrado? E não seria preferível que quem deseja aderir a uma fé o fizesse livremente, sem pressões proselitistas que não devem existir em espaços que são de todos?

11 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Blasfemos

Fui hoje alertada para a existência de um «post» do Blasfémias intitulado «Fundamentalismo anti-cristão e a necessidade de trabalhar as almas». Li imediatamente o artigo, em que é citado o nosso amigo Josemaría Escrivá, e fiquei encucada. Será que o colaborador do blogue queria mesmo citá-lo? Será que era mesmo a sério? Pelos comentários que li, a resposta é claramente afirmativa e, como o texto é dedicado ao Diário Ateísta, não podemos deixá-lo sem resposta.

Mas o que, concretamente, se diz? Primeiro que «os inimigos de Jesus – e alguns que se dizem seus amigos -, cobertos com a armadura da ciência humana, empunhando a espada do poder, riem-se dos cristãos como o filisteu se ria de David, desprezando-o». Não me parece que nós, cavaleiros de armadura científica matemática ou social, desprezemos os católicos. O que desprezamos, isso sim, é a instituição reguladora da sua fé. Porquê? Porque é castradora de qualquer tipo de pensamento independente que ponha em causa os seus axiomas. Na verdade, a nossa atitude não pode ser considerada de desprezo – uma vez que não desconsideramos o fenómeno ICARiano -, mas sim uma luta contra os excessos intolerantes defendidos pela hierarquia da Igreja Católica.

De seguida pode ler-se: «o gigante dessas falsas ideologias [o Golias do ódio, da falsidade, da prepotência, do laicismo, do indiferentismo] pelas armas aparentemente débeis do espírito cristão – oração, expiação, acção -, despojá-lo-emos da armadura das suas doutrinas erróneas, para revestir os homens, nossos irmãos, com a verdadeira ciência: a cultura e a prática cristãs.» Aqui estamos perante uma clara afirmação autista de que a única e verdadeira ideologia é a católica e que quaisquer outros valores estão completamente errados, especialmente aqueles que pugnam pela laicidade. Ora, a verdade e «o certo e o errado» são relativos e a laicidade que defendemos entende exactamente isto na medida em que deixa espaço para os indivíduos, de acordo com a sua livre consciência, decidam por si mesmos.

Josemaría Escrivá e a sua obra, a Opus Dei, representam os valores opostos que devem imperar numa sociedade livre e plural como deve ser a nossa. Esta organização «propõe-se promover, entre pessoas de todas as classes da sociedade, o desejo da plenitude de vida cristã no meio do mundo». Mas que vida cristã? Uma vida recheada de flagelos corporais, alienação da família e outras práticas deveras questionáveis. Uma vida pautada por indicações e interesses que vão para além do espiritual. Uma vida sem liberdade, especialmente de pensamento.

Não, nós não lutamos contra crentes. Nós lutamos para que todos, crentes ou não, tenham a oportunidade de seguir o seu caminho livres e esclarecidos. Se lutar pela Liberdade é fundamentalismo, então, de facto, somos fundamentalistas… orgulhosamente fundamentalistas.

11 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Não à chantagem religiosa

A intolerância religiosa que aflora um pouco por toda a Europa é um vírus que urge ser debelado. Não se trata de um epifenómeno exclusivo de grupos minoritários ou de uma única religião, começa a ser uma pandemia que alastra a todos os credos e compromete largas camadas de crentes.

Diariamente chegam ecos de violência religiosa, de comportamentos perversos oriundos de guetos «comunitaristas» onde, a coberto da cultura e da tradição, se cometem os mais infames atropelos aos direitos humanos, especialmente contra mulheres. Desde a excisão aos assassinatos em nome da honra, conceitos tribais fazem escola numa Europa cuja secularização parecia ter vencido os preconceitos medievais.

A própria ICAR, que desde 1961 deixou de actualizar o Índex (catálogo de livros cuja leitura interdita), voltou a recorrer à obsessão demente de influenciar a legislação dos países onde tem expressão, tentando impor a crentes e não crentes os seus preconceitos.

No Reino Unido um grupo islâmico ordenou a morte de Terrence McNally, autor da peça «Corpus Christi», por apresentar Cristo como homossexual e alcoólico. Acresce tratar-se do fundador de uma seita concorrente que, para os muçulmanos, não passa de um profeta de segunda categoria. Aos ateus pouco interessa a vida sexual de Cristo e, muito menos, a quantidade de copos que ingeria, mesmo que algumas das suas máximas se afigurem proferidas sob o efeito do álcool.

Na peça, Cristo aparece seduzido por Judas e crucificado por ser homossexual. Se esta versão correspondesse à verdade só havia que respeitar a orientação sexual do «divino mestre» e repudiar a crueldade e injustiça do castigo, desse ou doutro qualquer. Permitir ameaças de morte a quem exerce a liberdade de expressão, por quem defende a pena de morte para o adultério e a blasfémia, é resignarmo-nos ao regresso à barbárie, ao retrocesso da civilização, à renúncia aos direitos, liberdades e garantias que a democracia conferiu aos homens e mulheres dos países civilizados.

11 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Parabéns renófilos

Renas e Veados

O Renas e Veados festeja hoje o seu aniversário. O Diário Ateísta felicita toda a equipa renófila pela sua obra que muito tem contribuído para uma maior iluminação da sociedade portuguesa.

11 de Dezembro, 2004 pfontela

«Cristianovitimização»

Desde há uns tempos para cá o Vaticano anda a fazer pressões mais ou menos discretas para conseguir aprovar dentro das instituições internacionais, como a ONU, um novo termo: a «cristianofobia».

Achando que o facto de o judaísmo e o islamismo terem referências específicas na lista da ONU era uma espécie de tratamento preferencial, o Vaticano exige a igualdade com as outras religiões do livro.

Há vários aspectos interessantes nesta exigência:

– O Vaticano não consultou nem os ortodoxos nem os protestantes sobre esta medida, sendo que está a fazer a campanha por conta própria, falando por todos os cristãos do mundo (como nos bons velhos tempos) – mas apesar de não terem sido consultados os protestantes americanos mostram-se muito satisfeitos pois, como bem sabemos, o meio rural americano é intrinsecamente agressivo ao cristianismo.

– Ao mesmo tempo que quer negar direitos a outros (o caso mais escandaloso é o das minorias sexuais), fazendo pressões e acordos (com o diabo?) para que as votações vão no sentido que lhe interessa, exige os mesmos direitos para si mesmo, arrogando-se de minoria em vias de extinção.

Eu sou pela liberdade da e de religião, acho que todos devem poder adorar quem e o que quiserem, e entendo que em certos países (como a Índia ou a China) ser cristão não é fazer parte do status quo e que tais medidas podiam ter um efeito positivo, mas o que eu acho revoltante, e não posso de forma alguma tolerar, é que um grupo que discrimina e promove o abuso de outros tenha o descaramento de vir propor tal medida. Antes de reclamarem protecção internacional se calhar era boa ideia deixar a hipocrisia de lado e olhar para o próprio umbigo.