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16 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Assistência Espiritual e Religiosa

O autor da prosa que os hospitais receberam hoje por correio electrónico não é um clérigo. Trata-se de um político que dispõe de uma sinecura onde tem tempo para se dedicar ao proselitismo religioso. É a pessoas assim que o Estado confia a neutralidade religiosa a que está obrigado pela Constituição.

Eis as directrizes do piedoso dirigente do Ministério da Saúde aos hospitais:

LINHA DIRECTA Nº29

Assuntos: Assistência Espiritual e Religiosa

Exmos. Senhores Presidentes dos Conselhos de Administração dos Hospitais SA

De acordo com o disposto no art. 83º do Estatuto Hospitalar previsto no Decreto – Lei n.º48 357, de 27 de Abril de 1968, a assistência aos doentes é assegurada nos termos da Concordata com a Santa Sé, decorrendo do art. 56º do invocado diploma que o pessoal religioso tem estatuto especial.

A Concordata celebrada entre a Santa Sé e a República Portuguesa em 18 de Maio de 2004, prevê que a segunda «(…) garante à Igreja Católica o livre exercício da assistência religiosa católica às pessoas que, por motivo de internamento em estabelecimento de saúde, de assistência, de educação ou similar, ou detenção em estabelecimento prisional ou similar, estejam impedidas de exercer, em condições normais, o direito de liberdade religiosa e assim o solicitem».

Nestes termos,

Considerando que as disposições invocadas se mantêm em vigor, suscitando-se apenas a sua adaptabilidade ao novo regime jurídico da gestão hospitalar aprovado pela Lei n.º27/2002;

Considerando que os hospitais sociedades anónimas de capitais exclusivamente públicos se incluem no âmbito da Concordata e integram o Serviço Nacional de Saúde;

Considerando que o doente é um sujeito de espiritualidade e que a assistência espiritual e religiosa possui um efeito terapêutico benéfico na relação com o sofrimento e a doença;

Considerando o postulado e o espírito do Decreto-Regulamentar n.º58/80, de 10 de Outubro, que se mantêm actuais; e,

Considerando que a assistência religiosa deve ser assegurada de forma integrada por capelães ou assistentes espirituais – diáconos, religiosos, religiosas, ou leigos – devidamente formados para o efeito.

Informa-se:

1. A assistência religiosa católica aos doentes e respectivas famílias deve ser assegurada no âmbito dos Hospitais SA;

2. A assistência religiosa de outras confissões ou opções espirituais, sempre que solicitada pelos doentes e respectivas famílias, deve ser assegurada no âmbito dos Hospitais SA;

3. Os capelães ou assistentes espirituais prestam a assistência religiosa nos Hospitais SA no âmbito do regime do contrato de trabalho, em termos a regulamentar.

O Encarregado de Missão,

Luís Pedroso Lima

15 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Religião e psicose

Notícias macabras de mães que mataram violentamente os filhos têm sido ultimamente fequentes no estado do Texas. No mês passado a filha de dez meses de Dena Schlosser foi a infeliz protagonista de mais um caso.

Os Schlosser são membros de uma Igreja fundamentalista, a Igreja da «Água da Vida», dirigida por auto-proclamado profeta, Doyle Davidson, que ensina serem as mulheres dominadas pelo espírito rebelde de Zezebel e que os Dez Mandamentos não se aplicam aos «justos».

Na realidade, estas mulheres têm em comum, para além de uma severa doença mental ou psicose, reclamarem que as suas acções têm uma justificação religiosa, seja no caso de Andrea Yates uma «ordem» do Demo para afogar os seus cinco filhos, de Deus para Deanna Yates apedrejar à morte os seus três filhos ou a vontade de Dena Schlosser de entregar os filhos a Deus. A recorrência do tema religião nas causas subjacentes aos assassínios levanta a questão se haverá culpa da religião nestes, pergunta que, nuns Estados Unidos em que cada vez mais esta tem um papel preponderante no quotidiano, justificou vários estudos.

Alguns peritos no campo da psiquiatria sugerem que certas doenças mentais são muito difíceis de identificar e tratar em seguidores de religiões para as quais o Diabo tem existência real, e é o culpado por comportamentos «estranhos», e que acreditam mais no poder da oração que na Ciência. Sugerem ainda que em ambientes fundamentalistas os sintomas de desordem psicológica, mesmo severa, podem parecer comportamentos normais aos fiéis: a obsessão (em relação a um líder religioso, fim do mundo, etc..) pode ser interpretada como fervor religioso e manifestações esquizofrénicas como visões religiosas.

Por exemplo, no caso de Laney, esta informou a sua congregação Pentecostal que o mundo estava a acabar e que Deus lhe tinha dito para pôr a sua casa em ordem. Nenhum membro do seu rebanho achou estranha esta afirmação, considerando-a uma expectável manifestação de devoção.

O Dr. Phillip Resnick, testemunha no caso Laney manifestou a sua estupefacção sobre a reacção do respectivo pastor sobre o que este faria se detectasse indicações de perturbação mental num dos seus fiéis. O pio pastor recomendaria tal pessoa aos cuidados de um religioso e não a um psiquiatra.

Outro perito considera que, não obstante a religião não provocar distúrbios mentais per se, predisposições para este tipo de disfunções podem ser agravadas em ambientes religiosos em que os lideres religiosos reclamam falar em nome de Deus e exigem a obediência absoluta dos créus .

15 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

A nádega

Eis uma notícia deveras interessante que me foi enviada. Palavras para quê?

14 de Dezembro, 2004 pfontela

Prometeu

Rocco Buttiglione, o mártir do momento, dá-nos esta pérola de entrevista.

O homem tem um descaramento e um à vontade com a manipulação da verdade e dos factos que eu só posso dizer: Ratzinger, meu velho, cuida-te porque já estão a preparar o teu sucessor (ou será que ele vai engrossar as listas dos santos?). Jura a pés juntos que não é a favor da discriminação e no entanto afirma que não poderia propor medidas contra a sua fé…o que ele pensava é que conseguia passar as suas atitudes discriminatórias através das legalidades bizantinas que caracterizam todo o funcionamento interno da UE, mas enganou-se, os ventos mudaram e os senhores de Roma não gostaram.

Até aqui nada de novo, mas depois disso a coisa fica mais interessante. Segundo Buttiglione existe uma malévola conspiração com o objectivo de destruir os valores cristãos, mais, os mestres (invisíveis?) desta conspiração querem que todos possam ser como quiserem. Para quem ainda não percebeu, este senhor reclama como direito universal, dentro da liberdade religiosa, vincular uma sociedade inteira às suas crenças, e de discriminar aqueles que não obedeçam – o direito de discriminar. Uma coisa que eu ainda não percebi é como é que se cria uma ortodoxia opressiva e violenta dando liberdade aos cidadãos europeus, mas deve ser mais um mistério como o 3º segredo de Fátima.

Outra curiosidade é como é que nesta sociedade opressiva, em que os cristãos são verdadeiros mártires a lutar contra a gigantesca besta, que são os defensores da liberdade individual, é que ninguém o proibiu de pensar ou de falar (senão não estaria a dar a entrevista).

Termina com uma verdadeira diatribe sobre a sua defesa heróica dos valores europeus (ainda me estou a rir desta) e em que se intitula como defensor do liberalismo e da liberdade de expressão. Agora é que ele me confundiu. O que é que o catolicismo romano tem a haver com o liberalismo? É que eu não estou mesmo a ver…liberdade de pensar? Não. O Vaticano faz isso pelos seus crentes. De agir? Não. O Vaticano trata de criar, através de pressões políticas, medidas discriminatórias contra os que não dobram os joelhos. Se não têm nem permitem liberdade de pensar ou agir qual é a relação com o liberalismo? Ah, já percebi!

São opostos.

14 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

O fim de Beckham e Victoria

O polémico presépio exibido no Museu de Cera de Madame Tussaud, em Londres, onde o casal Beckham representava S. José e a Virgem Maria, foi destruído por um desconhecido de 20 anos.

O ataque ocorreu depois de várias Igrejas cristãs terem criticado a obra, que coloca como os três reis magos o primeiro ministro britânico, Tony Blair, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o duque de Edimburgo, marido da rainha Isabel II.

O primaz da Igreja Católica em Inglaterra e Gales, Cormac Murphy-O’Connor, qualificou o presépio como «desrespeitoso» não só para os cristãos, mas também para o património cultural do Reino Unido.

Numa época festiva em que, supostamente, os cristãos devem mostrar-se mais tolerantes, mais compreensivos e mais prestáveis para com o próximo, vemos estas reacções exacerbadas e descabidas em relação a nada mais do que uma piada. Isto só demonstra, uma vez mais, a dificuldade que as Igrejas Cristãs, especialmente a ICAR, a lidar com o humor.

14 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Também é com vocês, agnósticos

As Igrejas cristãs devem unir-se contra o secularismo e o agnosticismo europeus. Quem o afirma é o cardeal Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura.

«A fé cristã é um valor essencial da Europa e na nossa época as Igrejas devem enfrentar os desafios do secularismo, a indiferença e o ateísmo entre os europeus para assegurar que o continente continue a ser uma comunidade assente em valores verdadeiros», afirmou Poupard. Descodificando, os únicos valores verdadeiros sobre os quais deve assentar a comunidade são os valores cristãos. Tudo aquilo que os ateus e agnósticos defendem são inúteis, inválidos e devem ser completamente ignorados.

«Para lutar contra o relativismo, o secularismo e a indiferença, aquilo que produz graves problemas sociais e nega os valores da verdade, a dignidade do ser humano e a inspiração da beleza, é necessário prestar a devida atenção à relação entre o Evangelho e as culturas», acrescentou o cardeal. Que eu saiba – e não é necessário fazer grandes estudos histórico-sociológicos – o secularismo releva exactamente aqueles valores já que deixa o espaço necessário ao indivíduo para que ele próprio os procure sem ter de obedecer a quaisquer dogmas impostos.

Com esta intervenção do senhor cardeal, podemos constatar que a hierarquia da Igreja Católica, seguindo a sua habitual política de tolerância e de respeito, continua a perseguir os ideais que não se coadunam com os ditames dos seus iluminados membros.

14 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Presença corporal

Estamos a cinco dias do III Encontro Nacional de Ateus, que se realizará, no dia 19 de Dezembro, na mui bela cidade de Coimbra, no hotel D. Luís. A Comissão Organizadora foi corporalmente, há umas horas, confirmar a realização do encontro naquela instituição.

Estátua de Joaquim António de Aguiar, Largo da Portagem, Coimbra

O encontro constará de um lauto almoço e, posteriormente, da discussão dos últimos pormenores da formalização da Associação Ateísta Portuguesa – AAP.

Increvam-se, inscrevam os vossos amigos, os vossos familiares e os párocos das vossas paróquias.

13 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Ma-Schambéns

Ma-Schamba

Parabéns ao Ma-Schamba pelo seu primeiro aniversário blogosférico e que continue a mostrar os encantos africanos à aldeia global.

13 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Blasfémia

Quando se julgava que a «blasfémia» era um crime medieval erradicado nas sociedades civilizadas;

quando as sociedades laicas tinham garantido o direito de aderir ou de renunciar a qualquer religião;

quando o direito de crítica e a liberdade de expressão pareciam uma conquista irreversível dos países democráticos;

quando o ateísmo passou a ser um direito equivalente ao da prática religiosa;

Eis que começa a estar ameaçado o direito de refutar a veracidade dos livros em que as religiões se fundam. Nem o facto de as verdades de uns colidirem com as verdades de outros defende alguns políticos pusilânimes de legislarem sobre o que é religião e os limites do combate intelectual contra o obscurantismo e a mentira.

Na Holanda e o no Reino Unido, países que andaram quase sempre na vanguarda da civilização e foram o garante de respeito pelas liberdades, há hoje propostas altamente perigosas para criminalizar a «blasfémia» num atentado gravíssimo às liberdades individuais, numa tentativa de aplacar a raiva do fascismo islâmico que odeia a liberdade religiosa com a mesma fúria demente com que Maomé embirrou com o toucinho.

Vital Moreira, no seu artigo «Blasfémias», publicado no «Causa Nossa» equacionou hoje o problema com a habitual lucidez, chamando a atenção para os direitos dos não crentes e para os perigos que semelhante desvario encerra para a criação literária, artística e, no fundo, para os direitos e liberdades que são apanágio das sociedades civilizadas.

Perante a cobardia que os políticos laicos parecem mostrar face à chantagem dos parasitas de Deus, devemos lembrar as vítimas que se opuseram à fúria beata e ao ódio que grassa nos templos dirigidos pelos parasitas dos vários deuses das diversas religiões.

Hoje é Salman Rushdie que se encontra condenado à morte, há dias foi Theo van Gogh assassinado, em 1739 foi António José da Silva que foi queimado em auto de fé, na presença de D. João V, amanhã é a barbárie que regressa com homens e mulheres de mãos postas, a rezarem de joelhos e a agradecerem a um Senhor a fogueira em que os queimam ou as pedras com que os lapidam.

13 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Sudão

Num país martirizado pelo genocídio que tarda em ser reconhecido, surgem agora notícias de incursões do grupo ugandês Lord’s Resistance Army (LRA), que atacou sábado passado a aldeia Rajaf, no estado Bahr el-Jebel, matando sete mulheres e crianças, ferindo oito e ainda raptando quatro aldeões.

O LRA é um grupo rebelde que opera no norte do Uganda, liderado pelo auto-proclamado profeta Joseph Kony, que deseja derrubar o governo e instituir no país um governo estritamente baseado nos dez Mandamentos bíblicos. Estes guerreiros em nome de Deus são conhecidos na área pelas atrocidades que cometem, nomeadamente o rapto de crianças para escravatura sexual ou para treinar como futuros guerrilheiros.

Entretanto na véspera do ataque à aldeia sudanesa, a primeira dama do Uganda, a senhora Museveni, juntou-se a centenas de virgens ugandeses a quem afirmou que «Foram todos criados à imagem de Deus e Deus concedeu-vos a capacidade de auto-controle.». A iniciativa, organizada por várias igrejas e movimentos como o americano «True Love Waits», destinava-se a promover a abstinência e o sexo só depois do casamento, e ostentava cartazes em que se podia ler: «Os preservativos são completamente ineficientes».

O pastor Martin Sempa, um advogado muito vocal da abstinência, afirmou que a iniciativa pretende «resistir» ao ataque das campanhas que apelam ao uso de preservativos, promovidas no âmbito de agendas de grupos de «homossexuais e peritos ocidentais que não sabem como a epidemia da SIDA se propaga em África».